Compartilhe conhecimento: Saiba quais são os efeitos da exposição ao Bisfenol A, à soja e a outros desreguladores endócrinos.

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Compartilhe conhecimento: Saiba quais são os efeitos da exposição ao Bisfenol A, à soja e a outros desreguladores endócrinos. Como mencionamos em nosso artigo anterior, os desreguladores endócrinos são substâncias químicas naturais ou produzidas pelo homem que podem ser encontradas em nosso cotidiano e têm diversos efeitos no ambiente. No artigo de hoje, vamos saber quais são os possíveis efeitos da exposição a essas substâncias. Os desreguladores endócrinos podem ter efeitos particularmente significativos nos processos de desenvolvimento neurológico, pois muitos deles se acumulam nos tecidos gordurosos dos indivíduos expostos, sendo facilmente transferidos através da placenta e expressos no leite materno. Seguem abaixo alguns exemplos de seus efeitos: Veja também: Desreguladores Endócrinos: Você sabe o que são e onde encontrá-los? Bisfenol A (BPA) Tem efeitos sobre o cérebro, comportamento e próstata em fetos, bebês e crianças. A exposição pré-natal ao BPA já foi associada a comportamentos atípicos na infância, como comunicação social comprometida.

Homens Redução na fertilidade e anormalidades nos órgãos reprodutivo masculinos (desenvolvimento anormal do testículo fetal, produzindo disgenesia testicular que pode se manifestar como um aumento do risco de anormalidades urogenitais, bem como qualidade alterada do sêmen e câncer testicular da linhagem germinativa). Disfunção pré-natal das células de Sertoli e Leydig, com consequente insuficiência androgênica e comprometimento do desenvolvimento de células germinativas. Diminuição no número de homens nascidos. Aumento nos riscos de câncer de próstata. Mulheres Problemas de fertilidade, puberdade e menopausa precoces, síndrome de ovários policísticos (descrito em ovelhas). Interferência na migração de células germinativas ou formação de folículos, podendo resultar em funcionamento anormal deste tecido, com consequências reprodutivas significativas [oócito está preso em fase diplótena (prófase) até divisões meióticas acontecerem na puberdade e fertilização; anormalidades nestes processos podem ter um efeito profundo sobre desfechos reprodutivos, como: aneuploidia, falência ovariana, prematura e aborto]. Aumento nos cânceres de mama e ovário. Para o primeiro, a exposição a estrogênios ao longo da vida, incluindo o período de desenvolvimento intra-uterino, é um fator de risco, Geral Aumento de doenças imunes e auto-imunes. Aumento de algumas doenças neurodegenerativas. Provocam neurotoxicidade noradrenérgica, serotoninérgica, dopaminérgica e de outros neurotransmissores, o que explica seus efeitos sobre a cognição, aprendizagem, memória e outros comportamentos não reprodutivos. Bifenilas policlorinadas (PCBs), fitoestrógenos, fungicidas, pesticidas e outros xenobióticos podem perturbar a diferenciação sexual do cérebro. Parece haver efeitos relacionados à obesidade e ao diabetes, porém esses resultados são preliminares e em modelos animais. Uma pesquisa da NIEHS (National Institute of Enviromental Health Sciences NIH) demonstrou que os efeitos adversos em ratos podem ser transmitidos para as gerações seguintes (eventos epigenéticos), isto é, os efeitos

podem ser transmitidos não devido a uma mutação da sequência de DNA, mas sim por meio de modificações de fatores que regulam a expressão do gene, tal como a metilação do DNA e a acetilação de histonas. Soja Embora não tenham sido documentados problemas específicos na saúde de bebês humanos que receberam fórmula de soja, reconhece-se que as crianças passam por fases de desenvolvimento nas quais são sensíveis aos estrógenos, estando mais propensas do que os adultos aos efeitos estrógeno-like. Isso pode não ser aparente até anos mais tarde da vida. Além disso, os lactentes seriam afetados de forma diferente dos adultos/crianças que consomem soja, pois sua dieta é praticamente 100% de leite e/ou fórmula (com níveis muito mais elevados, portanto). Um estudo recente relatou que as concentrações urinárias de genisteína, daidzeína e fitoestrógenos foram cerca de 500 vezes maiores em bebês alimentados com fórmula à base de soja em comparação com aquelas alimentadas com fórmula à base de leite de vaca.

Algumas alterações que podem estar relacionadas ao seu consumo são: puberdade precoce feminina e alterações no desenvolvimento do tecido mamário. Tireóide Sabe-se que alguns produtos químicos que interferem no NIS (co-transportador Na/I) podem interferir, também, na síntese hormonal ou exacerbar problemas de deficiência de iodo. Um bom exemplo disto é o perclorato (agente oxidante de combustível de foguetes, munições, fogos de artifício, sistemas de airbag, etc.). Devido à sua estabilidade ambiental, tornou-se um contaminante de água potável e da irrigação de alimentos. Estudos experimentais em humanos indicam que a sua meia-vida no soro é de cerca de 8h e que uma dose de cerca de 5,2g /kg é suficiente para reduzir a captação de iodo na glândula tireóide. Crianças são mais vulneráveis aos efeitos de deficiência de hormônios tireoidianos e o perclorato é encontrado em níveis elevados no LM. Várias substâncias podem interferir na captação de iodeto pela NIS como: cloreto, tiocianato (presente no cigarro) e nitrato.

Isoflavonas, especialmente as encontradas na proteína de soja, podem inibir a tireoperoxidase (TPO), responsável pela oxidação da tirosina. Nos seres humanos, tem sido relatada a ocorrência de bócio em bebês alimentados com fórmula de soja. Curiosidades Arsênico: efeitos carcinogênicos conhecidos, porém têm sido documentado também efeitos receptores estrogênicos-ligantes. Filtros solares: recentes estudos têm demonstrado que os filtros de luz UV usados para proteger contra o sol têm atividade estrogênica; em particular, 4-metilbenzilideno cânfora e 3-benzilideno cânfora se ligam a receptores estrogênicos. Embora não existam estudos sobre esses filtros UV e câncer de próstata humano, dois relatórios indicam que a exposição na vida precoce para estes compostos pode alterar o desenvolvimento da glândula prostática, assim como seu crescimento. Assim, é possível que a próstata fetal em seres humanos também possa ser afetada após o uso materno destes compostos. PCBs, dioxinas, lindano: podem afetar a síntese de esteróides adrenais, mas os efeitos específicos sobre o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal ainda não são compreendidos. A exposição embrionária tardia e/ou pós-natal precoce a doses baixas de PCBs/soja afetou de forma significativa e negativa o comportamento de acasalamento em ratos fêmeas. Há sugestões de que doses baixas de disruptores endócrinos podem perturbar a fisiologia do pâncreas, afetando ambas as células α e β (glucagon/insulina), levando a mudanças na regulação do metabolismo da glicose e de lipídios. Fitoestrogênios têm demonstrado exercer efeito cardioprotetor. Ratas alimentadas com uma dieta rica em fitoestrógenos exibem cardioproteção contra remodelação ventricular esquerda, redução da necrose miocárdica, aumento da contratilidade do miocárdio e diminuição da ocorrência de arritmias ventriculares. Também foram associados com níveis reduzidos de TNF-α. Além disso, foi demonstrado que em pessoas com alto risco de eventos cardiovasculares, uma maior ingestão de isoflavona está associada a uma melhor função endotelial vascular e menos formações ateroscleróticas em carótidas.

Referências Bibliográficas Endocrine-Disrupting Chemicals: An Endocrine Society Scientific Statement, Endocrine Reviews, June 2009, 30(4):293 342 http://www.niehs.nih.gov/health/topics/agents/endocrine/ Endocrine disrupters: a review of some surces, effects and mechanisms of actions on behavior and neuroendocrine systems. J Neuroendocrinol. 2012 January ; 24(1): 144 159. doi:10.1111/j.1365-2826.2011.02229.x.