Da teoria do risco integral e o danos nucleares

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Transcrição:

Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá e Escola da Magistratura Mato-Grossense, v. 4, p. 283-292, jan./dez. 2016 Da teoria do risco integral e o danos nucleares Victor Hugo Senhorini de Aquino 1 Orivaldo Peres Bergas 2 Resumo Neste artigo pretende-se informar acerca do instituto da teoria do risco integral, que consideramos uma importante teoria, que abraça um grande nicho do ordenamento jurídico, ora que com a promulgação da Constituição da Republica de 1988, houve a instituição de casos onde independentemente da existência de dolo ou culpa do agente, a união arcará com a responsabilidade e terá de certo o dever de indenizar. Dessa forma, quais as hipóteses incluídas com a CF/88, bem como o entendimento esposado pelos doutrinadores sob tão importante matéria? Ainda, a sua aplicabilidade especifica nos casos predominantemente ambientais, abordando ainda, a possibilidade de existência de excludentes de responsabilidade e suas reais aplicabilidades valendo-se do método comparativo, confrontando os entendimentos dos doutrinadores referentes ao tema. Palavras-chave: Teoria do risco integral. Meio ambiente. Dano ambiental. Responsabilidade civil objetiva. Dano Nuclear. Introdução No ordenamento jurídico brasileiro rege a responsabilidade civil e vigora como padrão a teoria da responsabilidade subjetiva, onde se impõe a necessidade de o agente causador do dano ressarcir aquele que tiver sido prejudicado pelo seu ato, havendo como regra a necessidade de preenchimento dos requisitos basilares da 1 Bacharel em Direito, Advogado, Pós graduando em Direito Processual Civil do Curso de Pós Graduação da Universidade de Cuiabá, email: victorsenhorini@hotmail.com. 2 Doutorando em Educação WIU-EUA. Mestrado pela UFMT (2001). Graduação em Direito pela Faculdade Afirmativo/UNEMAT (2010). Graduação em Ciências Sociais (1989) e Geografia (1990), pela Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí. Professor no Curso de Direito da Universidade de Cuiabá-UNIC. Professor de pós-graduação UNIPÓS. Consultor Político e em Segurança Pública. Consultor em Educação. Gestor Tributário E-mail: bergas@bol.com.br

Da teoria do risco integral e o danos nucleares responsabilidade civil, quais sejam, dano, nexo causal e culpa. Ocorre que com o avanço social e jurídico, averiguou-se a existência de situações onde não há como se provar a culpa do agente causador, dessa forma, forçosamente nascia desses casos, a hoje conhecida como Teoria do Risco Integral que pode ser considerada como a máxima da reponsabilidade objetiva, visto que na teoria do risco integral, pouco importa se existem culpados ou se o agente teve dolo no ato danoso, pois não é necessário o questionamento sobre de quem é a culpa, muito menos quanto à forma de execução do ato, até mesmo não existe a necessidade de ser agente público no exercício de suas atividades. O intuito de estudar sobre respectivo tema é o fato de ter existido no Brasil, o maior acidente radiológico do mundo, denominado césio-137, com centenas de pessoas mortas e outras tantas com sequelas irreversíveis, tal fato faz criar a necessidade de se atentar sobre a responsabilidade do Estado em casos desta magnitude, a sua responsabilidade e o cabimento da teoria do risco integral. Divergindo das teorias de reponsabilidade, onde se verifica a existência de dolo, bem como a intenção do agente na realização do ato danoso para daí se verificar de quem é obrigação de indenizar, na teoria do Risco integral tudo que se conhece no que concerne a responsabilidade civil é colocada de lado e toda a reponsabilidade é colocada em outros termos nas costas do Estado que em razão da peculiaridade do ato é responsável por indenizar integralmente os danos causados, dessa forma, importante observar o que diz a Constituição da Republica sobre tão importante tema, bem como sua aplicabilidade no caso concreto, utilizando-se do método comparativo para tal análise. Teoria do risco integral Trata-se de uma teoria que até pouco tempo não havia aplicabilidade, a teoria do risco integral é aquela que dispensa a necessidade do preenchimento de requisitos para a existência da reponsabilidade e o respectivo dever de indenizar. 284 Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá e Escola da Magistratura Mato-Grossense

Victor Hugo Senhorini de Aquino Orivaldo Peres Bergas A doutrina bastante divergente quanto a sua aplicação, visto que pouco importa quem fez o dano, nesta teoria, deve se indenizar apenas com a comprovação da existência do fato. Assim sendo, ensina de forma brilhante o professor Jose Cretella em sua didática obra, dizendo: A teoria do risco integral, pondo de lado a investigação do elemento pessoal, intencional ou não, preconiza o pagamento pelos danos causados, mesmo tratando-se de atos regulares, praticados por agentes no exercício regular de suas funções. 3 Assim, suscitar uma teoria que da margem para indenizações independentemente da existência dos requisitos basilares da responsabilidade civil levanta uma discussão enérgica. A Professora Helly, ressalta que tal teoria não entrou em uso em determinadas áreas por provocar o abuso de direito, conforme diz: Teoria do risco integral é a modalidade extremada da doutrina do risco administrativo, abandonada na prática, por conduzir ao abuso e à iniquidade social. Para essa fórmula radical, a Administração ficaria obrigada a indenizar todo e qualquer dano suportado por terceiros, ainda que resultante de culpa ou dolo da vítima. 4 Conforme o conceito acima, se observa que a teoria do risco integral, visa sem duvidas, endurecer as penalidades em determinados casos, visto a desnecessidade dos requisitos ensejadores da responsabilidade civil, bastando a comprovação da existência do fato. Em alguns casos, como os relacionados ao meio ambiente, tal aplicabilidade deve ser de grande valia e ser certamente mais um instrumento no combate a atual e feroz degradação a natureza. Hipóteses de aplicabilidade risco integral A teoria do risco integral é considerada na doutrina brasileira como uma variante extrema de outra teoria, a do risco, onde existe a 3 CRETELLA JÚNIOR, José. Comentário à constituição brasileira de 1988. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1992. p. 69. 4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed São Paulo: Malheiros, 2012. p 586. volume 4, p. 283-292, janeiro/dezembro de 2016 285

Da teoria do risco integral e o danos nucleares obrigatoriedade do dever de reparar mesmo onde não exista o nexo de causalidade, assim, afirma o Professor Venosa: A teoria do risco integral é uma modalidade extremada que justifica o dever de indenizar até mesmo quando não existir nexo causal. O dever de indenizar estará presente tão-só perante o dano, ainda que com culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, coso fortuito ou força maior. 5 Diferentemente da teoria do risco, a teoria do risco integral a nosso ver é uma evolução, da teoria do risco. Conforme a doutrinaria, são hipóteses para a aplicação da teoria do risco integral, conforme se extrai do texto da própria Constituição da República, elencadas três possibilidades, sendo elas: Dano ambiental; Seguro Obrigatório DPVAT e Danos Nucleares. Dano ambiental O meio ambiente é direito difuso e em razão disto, todo e qualquer dano causado a ele irá refletir diretamente na coletividade, seja de forma patrimonial ou extrapatrimonial. Desta forma, o artigo 225, 3º da Constituição da República em vigor c/c com a Lei 6.938/81, dita a obrigação na reparação quando o dano recair em desfavor do meio ambiente, independentemente de culpa ou qualquer regra para caracterização da responsabilidade. Assim sendo, é fácil observar que os artigos dão margem à devida aplicação da teoria do risco integral. Assim diz a Carta Magna: Art.225, 3º, CRFB/88 - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 6 5 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 15. v. 4. 6 BRASIL, República Federativa do. Constituição da Republica Federativa do Brasil 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015. 286 Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá e Escola da Magistratura Mato-Grossense

Victor Hugo Senhorini de Aquino Orivaldo Peres Bergas A Lei 6.938/81 diz: Art. 14, Lei 6.938/81 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...] 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 7 Assim, observa-se perfeitamente a aplicação da teoria do Risco integral de forma ampla e bem colocada, em casos ambientais, conforme fácil leitura dos artigos supracitados. Entendemos que com a aplicação deste principio no cotidiano junto ao combate a poluição e degradação do meio ambiente em relação as grandes empresas/industrias, fazendoas indenizar independentemente de culpa, ajudará a coibir o crescente desmatamento que vem ocorrendo nas principais florestas brasileiras, afirmando o próprio STJ sob a aplicação majoritária da teoria do risco integral. Seguro obrigatório DPVAT Quando a Lei 8.441/92 alterou a Lei 6.194/74 e ditou que existe o dever de indenizar com fulcro no Seguro DPVAT, mesmo em situações em que não se pode identificar quem tenha provocado o acidente, e ainda, quando tenha existido a excludente culpa exclusiva da vítima, conforme redação do artigo 5ª da Lei 6.194/74 que diz: 7 BRASIL, República Federativa do. Lei 6.938 de 31 Agosto de 1981. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015. volume 4, p. 283-292, janeiro/dezembro de 2016 287

Da teoria do risco integral e o danos nucleares Art. 5º, Lei 6.194/74 - O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado. 8 Em outras palavras, o próprio artigo é capaz de demonstrar facilmente que é dever de indenizar mesmo existindo excludente de responsabilidade, e apenas com a prova do acidente, não precisando identificar o causador. Tal aplicação existe e serve como uma forma do Estado amenizar a dor/sofrimento de quem acidente com veículos automotores. Assim, comprovada a existência do acidente, obrigado estará o Estado a prestar indenização. Danos nucleares O trato com questões nucleares é ato exclusivo da união, assim sendo, em virtude do grande perigo para a sociedade do uso e exploração deste tipo de atividade, ou seja, a nuclear, abriu-se prontamente margem para a aplicabilidade da teoria do risco integral. Inicialmente, é necessário observar que neste caso, existe ainda em vigor uma Lei com caráter especial que regulamenta a utilização da energia nuclear no Brasil, e neste Lei em seu oitavo artigo, existe uma forte excludente de responsabilidade, senão, vejamos: Art. 8º, Lei 6.453/77 - O operador não responde pela reparação do dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza. 9 Ocorre que esta Lei é datada de do ano de 1977, anterior a promulgação da Constituição cidadã que também trouxe de forma 8 BRASIL, República Federativa do. Lei 6.194 de 19 dezembro de 1974. Disponível em < http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6194.htm>. Acesso em: 05 abr. 2015. 9 BRASIL, República Federativa do. Lei 6.453 de 17 de outubro de 1977. Disponível em < http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6453.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015. 288 Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá e Escola da Magistratura Mato-Grossense

Victor Hugo Senhorini de Aquino Orivaldo Peres Bergas clara, um artigo especificando sob a questão da responsabilidade quanto a utilização da energia nuclear. A Carta Magna em seu art. 21, XXIII, d determina que a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa, ou seja, em existindo acidente proveniente da exploração nuclear, o Estado deverá indenizar integralmente por quaisquer danos causados a sociedade ou quem quer que seja, não citando absolutamente nada com relação a suporta excludente trazida na redação do Lei 6.453/77, conforme diz a Carta Magna, in albis: Art. 21, CRFB/88 - Compete à União: [...] XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: [...] d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; 10 Com essas considerações o Douto Professor Celso Antonio Fiorillo confirma que a Constituição Cidadã não deu margens para excludentes de responsabilidade em casos envolvendo respectiva matéria, conforme ensina: Em relação à responsabilidade civil pelos danos causados por atividades nucleares, será aferida pelo sistema da responsabilidade objetiva, conforme preceitua o art. 21, XXlll, c, da Constituição Federal. Com isso, consagraram-se a inexistência de qualquer tipo de exclusão da responsabilidade (incluindo caso fortuito ou força maior), a ausência de limitação no tocante ao valor da indenização e 10 BRASIL, República Federativa do. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015. volume 4, p. 283-292, janeiro/dezembro de 2016 289

Da teoria do risco integral e o danos nucleares a solidariedade da responsabilidade. 11 Assim, sendo, conforme verificado no tópico 3 deste artigo, a teoria do risco integral é medida extremada do ordenamento jurídico e verificando a matéria nuclear, está se insere perfeitamente nesta matéria, cabendo integralmente sua aplicação não havendo que se falar em limitação de responsabilidade. Pelo entendido, pode-se afirmar que a Carta magna não recepcionou a citada Lei especial para assuntos nucleares, e de forma tácita retirou a excludente antes existente, aplicando-se desta forma, a teoria do risco integral em todos os casos relacionados aos acidentes de cunho nuclear, puxando para si a responsabilidade total sobre os assuntos radiológicos. Considerações finais A teoria do risco integral não admite excludentes de responsabilidade civil, ou seja, é a teoria macro, que cabe a responsabilização simples pela existência do fato. Por esta razão não é uma teoria que está ganhando espaço no ordenamento jurídico, e sim, perdendo, conforme pode-se verificar na elaboração deste artigo, a possibilidade de um instituto não admitir excludentes no ordenamento jurídico, é algo que incomoda os doutrinadores, e são aceitos forçosamente apenas em situações onde o dano está relacionado de alguma forma com os direitos difusos, ou seja, quando se trata de questões relacionados ao meio ambiente, a teoria do risco integral ganhou força, e é este hoje o entendimento do próprio STJ no que concerne a responsabilização de empresas e industrias quando existir depredação ao meio ambiente. Verificou ainda neste trabalho, que mais precisamente em três casos são apreciados o uso da teoria do Risco integral, ora que são casos específicos, e em suma situações que atingem de certa forma, grande quantidade de pessoas. 11 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 204. 290 Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá e Escola da Magistratura Mato-Grossense

Victor Hugo Senhorini de Aquino Orivaldo Peres Bergas Observamos que por se tratar de medida extrema, está teoria quando utilizada em casos particulares pode acarretar um forte abuso de direito por parte da agente lesado, ora que a não necessidade da comprovação dos nexos de causalidade, bastando a simples comprovação do dano/fato, geraria uma situação de desigualdade no caso fático. A doutrina da reponsabilidade civil, é certa no sentido de que entre o evento danoso, deve existe a ação ativa e passiva, ainda, mais que isso, deve existir uma ligação entre a conduta e o resultado, ou seja, o nexo causal. A teoria do risco integral em suma, dispensa tais requisitos e por esta razão, é visto como uma teoria arriscada e sua aplicação, passa a ser pelo doutrinadores não recomendada. Cientificamente, acreditamos que a teoria do risco integral pode e deve ser utilizada em alguns casos, conforme exposto neste trabalho, e conforme já vem sendo o entendimento majoritário do STJ que diz que em casos ambientais, deverá ser aplicado tal teoria. Por fim, ressaltamos que esta teoria requer cautela quanto a sua aplicabilidade em casos envolvendo demais situações, inclusive em casos da energia nuclear, ora que sendo a União única detentora da exploração da energia nuclear, por obvio, qualquer acidente relacionado a tal fato, deverá ser imputado a culpa do Estado, cabendo a este o dever de indenizar, sem necessariamente existir a necessidade ser adotar para estes casos a teoria do risco integral. Referências BRASIL, República Federativa do. Lei 6.453 de 17 de outubro de 1977. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6453.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015.. Constituição da Republica Federativa do Brasil 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 03 fev. 2015. volume 4, p. 283-292, janeiro/dezembro de 2016 291

Da teoria do risco integral e o danos nucleares. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015.. Lei 6.194 de 19 dezembro de 1974. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6194.htm>. Acesso em: 05 abr. 2015.. Lei 6.938 de 31 agosto de 1981. Disponível em < http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015. CRETELLA JÚNIOR, José. Comentário à constituição brasileira de 1988. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1992. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2004. v. 4. 292 Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá e Escola da Magistratura Mato-Grossense