UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ- CAMPUS CAMPO MOURÃO CURSO DE HISTÓRIA DISCIPLINA: METEP PROF. FRANK ANTONIO MEZZOMO

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Transcrição:

RESENHA: O MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO ATRAVÉS DO TEMPO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ- CAMPUS CAMPO MOURÃO CURSO DE HISTÓRIA DISCIPLINA: METEP PROF. FRANK ANTONIO MEZZOMO JOSÉ LUCAS BENEVIDES CARDOSO, Ciro Flamarion S. Sociedades do Antigo Oriente Próximo: Palácios, templos e aldeias:o "modo de produção asiático". São Paulo, SP. Ática Didático, 1995, p.05-28 Ciro Flamarion Santana Cardoso (Goiânia, 20 de agosto de 1942 Rio de Janeiro, 29 de junho de 2013), foi professor de história antiga e medieval da Universidade Federal Fluminense, onde atuava no curso de história (graduação) e no programa de pós-graduação em história; foi membro do Centro de Estudos Interdisciplinares da Antiguidade (CEIA-UFF) e publicou vários livros e artigos sobre história antiga, história da América (escravidão negra) e teoria e metodologia da história. Foi o vencedor do Prêmio Delavignette (França) em 2000. Dentre outros, O Egito antigo, O trabalho compulsório na Antiguidade, A cidade-estado antiga e O trabalho na América Latina colonial (na Série Princípios), além daquele que trataremos nesta resenha: Palácios, templos e aldeias: o modo de produção asiático". Trata-se de um autor que se manteve fiel desde o inicio de sua trajetória como pesquisador aos conceitos do materialismo histórico dialético, muito embora gradativamente tenha mudado sua linha de análise, de um materialismo riígido e doutrinário, que marca sua produção historiográfica no princípio de sua carreira (culminando esta primeira fase com os Ensaios racionalistas) para uma abordagem mais flexível, voltada para interações interdisciplinares diversas. Apesar de sua linha teórica marxista, Cardoso, principalmente a partir da sua "segunda fase", mais flexível quanto a doutrina marxista o autor faz objeção a alguns postulados de sua própria corrente, mais especificamente

no que diz respeito à visão linear da história ligada as ideologias de partidos políticos e estudiosos de esquerda. No decorrer da obra, Cardoso aborda aspectos sobre a economia e a sociedade egípcia. Na economia, aponta características referentes à agricultura, a criação e a atividade artesanal desenvolvida, bem como o comércio. O autor foca-se no II milênio (Reino Novo), devido este apresentar o auge da riqueza e do refinamento da civilização faraônica, pretendendo mostrar que o país mudou muito ao longo da história. O autor analisa também aspectos da vida intelectual, a religião (politeísta), a escrita, língua, literatura e as artes plásticas. No primeiro capítulo do livro, Palácios, templos e aldeias: o modo de produção asiático, foco de análise desta resenha, Cardoso objetiva perpetrar uma concisa discussão historiográfica sobre o tema. Inicialmente traça um perfil dos antecedentes do surgimento deste conceito (M.P.A.); da sua elaboração na obra de Marx; e do seu complexo destino posterior. Em seguida, expõe a versão específica do mencionado conceito, usando-o como base para interrogar os exemplos escolhidos (Egito e mesopotâmia) Nos antecedentes do conceito de "modo de produção asiático", elabora a idéia de que no período compreendido entre os séculos XVI ao XVIII, os escritores europeus, se referiam ao Oriente, Ásia, partindo de um contexto de pensamento relativo ao social como existia em sua época. Ou seja, manifestando interesse prioritário pelos aspectos políticos, uma vez que a concepção de que a política não passa de uma parte do todo social, sendo só o princípio condutor, surge pouco antes do século XIX. Desta forma situações denominadas como "despotismo oriental" eram tratadas de forma autônoma, com análise própria usando-se materiais originados da Bíblia e de escritores antigos. Ainda no século XVI, descreve uma Europa mergulhada nas necessidades emergenciais das nações-estado e das monarquias absolutistas, dentre as quais, exércitos e burocracias permanentes, sistemas de finanças

nacionalmente integrados, impostos e leis. As primeiras civilizações teriam surgido na Ásia, mais particularmente no Oriente Médio, e tinham características determinadas por uma monarquia teocrática, e a população, por sua vez, prestava serviços compulsórios ao Estado e este o único detentor dos meios de produção à época, assim, o espaço e características deste povo foram adotadas por estudiosos como modo de produção asiático. Durante este período, na China e na Índia, a agricultura era o principal elemento para a economia dos países, para a manufatura não era dada alta importância, isto porque o Estado detinha todo o solo, e, por isso, o interesse na manutenção dos canais de irrigação. A dialética materialista de Marx foi contestada por volta de 1920, a atenção era voltada para a China, embora Varga e Riazanov sustentassem a ideia de que a sociedade chinesa era formada por dois modos de produção sendo o asiático e o capitalista, outros líderes e pensadores acreditavam que a ideia estática dos modos de produção presentes nos textos de Marx fariam concluir que o Oriente estaria permanentemente inviabilizado para uma revolução socialista. Em outros tempos na Baixa Mesopotâmia no Egito acontecera outra mudança que Childe chamou de "revolução urbana" tal movimento foi caracterizado pelo surgimento de cidades, a formação do Estado, ou o que hoje chamamos civilização, com maior diferenciação entre as classes. Assim, Liverani, por sua vez, se ocupou de entender o quadro posterior à "revolução urbana", e determina dois modos de produção sendo o "modo de produção doméstico (ou aldeão)" e o "modo de produção palatino". Os dois conceitos fazem referência às teorias apontadas por Childe, portanto, Liverani conceitua o primeiro com base nas características da "revolução neolítica" questões que tocam especialmente à economia e a inexistência de classes sociais diferentes, mesmo porque não havia também a divisão e especialização das tarefas do ofício. Enquanto isso, o "modo de produção palatino" estaria ligado à

"revolução urbana" como é explicado pelo autor da obra resenhada: (...) passara a basear-se na concentração, transformação e redistribuição dos excedentes extraídos por templos e palácios dos produtores diretos - em sua maioria ainda membros de comunidades aldeãs -, mediante coação fiscal, configurando tributos in natura e "corvéias", ou trabalhos forçados por tempo limitado, para atividades civis (trabalhos diversos) e militares; isto manifestava divisão e especialização do trabalho, com o surgimento de especialistas de tempo integral (artesãos, sacerdotes e burocratas dependentes dos templos e palácios), uma diferenciação fortemente hierárquica da sociedade, um sistema já complexo de propriedade que incluía, entre outras formas, as propriedades dos palácios e dos templos. (CARDOSO, 1995, p. 24-25) Portanto, acredita-se que as relações entre o "modo de produção palatino" e as estruturas "aldeãs" subordinadas constituem o "modo de produção asiático" ocorrido no antigo Oriente Próximo, na verdade, essa ideia é sustentada por Zaccagnini. E a diferenciação das classes, certamente, surgiu ao passo que os grupos e famílias se dividiram entre aqueles que prestavam serviços, ou seja, operários, e aqueles que coordenavam os trabalhos, acredita-se ainda que tais privilégios tivessem sido alcançados inicialmente por famílias mais numerosas, pois essas detinham maior poder sobre as terras, e seus objetivos consistiam em garantir aos sucessores tal poder. Portanto, desta ramificação é possível observar as relações que são estabelecidas com total força entre os humanos, hoje, a classe de operários e classe elitista com títulos e diplomas que lhe garante privilégios intelectual e financeiro sobre as massas de classe pobre. A ideologia enraizada nas sociedades tenta a qualquer custo manter a falsa ideia de que a diferenciação de classes é justa e natural, quando na verdade, especialmente na concepção de Marx, o "modo de produção asiático" é o modo mais obsoleto de produção, e, por isso, impede o crescimento e desenvolvimento social, é a questão que define o capitalismo que, por sua vez, não permite que a sociedade sofra transformações capazes de igualar os indivíduos de um mesmo grupo, tornando mais justa as relações entre as classes minoritárias e as classes majoritárias. Com base no exposto, é possível se afirmar que um modo de produção segundo a proposta marxista, aquela de uma sociedade organizada em comunas, comunidades nas quais a sociedade produziria seus bens e serviços de acordo com sua estrita utilização/necessidade, distribuindo-os

igualitariamente, seria uma utopia. REFERÊNCIAS: MARX, K. & ENGELS, F. Sobre el modo de producción asiático. Barcelona:Martinez Roca. Organização e apresentação de Maurice GODELIER, 1969. HEITLINGER, Paulo. Antas, menires e cromeleques Um guia para o Mesolítico e Neolítico em Portugal. Mega litismo. Arqueo.org Edições de Arqueologia: 1 ed. p. 2-19, 2011.