INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INTEGRANDO SEUS PRINCÍPIOS NECESSÁRIOS



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Transcrição:

INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INTEGRANDO SEUS PRINCÍPIOS NECESSÁRIOS Audrey de Souza Coimbra * Resumo O presente artigo, partindo das definições sobre Interdisciplinaridade e Educação Ambiental, reafirma a importância da integração no conhecimento e da ação ambiental no campo da educação. O texto aborda as diferentes apostas metodológicas no campo da Interdisciplinaridade e a Educação Ambiental como objeto de estudo. Palavras-chave Interdisciplinaridade Educação Ambiental Conhecimento. Abstract The present article, leaving of the definitions about Interdisciplinaridade and Environmental Education, it reaffirms the importance of integration in the knowledge and of the environmental action in the fiels of the education. The text appraches the diferent methodological bets in the field of Interdisciplinaridade and the Environmental Education as study object. Keywords Interdisciplinaridade Environmental Education Knowledge. * Pós-Graduando em Educação Ambiental CESPEA Núcleo de Educação em Ciência, Matemática e Tecnologia NEC Faculdade de Educação FACED Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF.

A Interdisciplinaridade constitui-se quando cada profissional faz uma leitura do ambiente de acordo com o seu saber específico, contribuindo para desvendar o real e apontando para outras leituras realizadas pelos seus pares. O tema comum, extraído do cotidiano, integra e promove a interação de pessoas, áreas, disciplinas, produzindo um conhecimento mais amplo e coletivizado. As leituras, descrições, interpretações e análises diferentes do mesmo objeto de trabalho permitem a elaboração de um outro saber, que busca um entendimento e uma compreensão do ambiente por inteiro. O termo Interdisciplinaridade não possui ainda um sentido único e estável, pois se trata de novas acepções cuja significação nem sempre é a mesma e cujo papel nem sempre é compreendido da mesma forma. Embora as distinções terminológicas sejam inúmeras, o princípio delas é sempre o mesmo. Conforme Japiassú (apud FAZENDA, 2002, p. 25), a Interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa. Intenciona-se então, a elucidação de seu significado, não questionando certos significados ou procurando um significado particular, mas visualizando numa análise geral, algumas vertentes conceituais, para se chegar a um posicionamento pessoal. A ação interdisciplinar estabelecerá, junto das práticas ambientais e do desenvolvimento do trabalho didático-pedagógico, a transmissão e reconstrução dos conteúdos disciplinares, experimentando a transformação do diferente em relação ao outro. A interdisciplinaridade não se trata de simples cruzamento de coisas parecidas, trata-se, de Constituir e Construir diálogos fundamentados na diferença, amalgamando concretamente a riqueza da diversidade. Partindo desse pressuposto, apresentaremos resumidamente alguns fundamentos, segundo Fazenda ( 1995, p. 81-89 ): MOVIMENTO DIALÉTICO Exercício de dialogar com nossas próprias produções, com o propósito de extrair desse diálogo novos indicadores, novos pressupostos. RECURSO DE MEMÓRIA Memória-registro escrita e realizada em livros, artigos, resenhas, anotações, cursos, palestras e a memória vivida e refeita no diálogo com todos esses trabalhos registrados.

PARCERIA Tentativa de incitar o diálogo com outras formas de conhecimento a que não estamos habituados, e nessa tentativa a possibilidade de interpretação dessas formas. SALA DE AULA INTERDISCIPLINAR A sala de aula onde a Interdisciplinaridade habita, verificamos que os elementos que diferenciam uma sala de aula interdisciplinar de outra não-interdisciplinar são a ordem e o rigor travestidos de uma nova ordem e de um novo rigor. A avaliação numa sala de aula interdisciplinar acaba por transgredir todas as regras de controle costumeiro utilizadas. RESPEITO AO MODO DE SER DE CADA UM A Interdisciplinaridade decorre mais do encontro de indivíduos do que de disciplinas. PROJETO DE VIDA Um projeto interdisciplinar pressupõe a presença de projetos pessoais de vida e o processo de desvelamento de um projeto pessoal de vida é lento, exigindo uma espera adequada. BUSCA DE TOTALIDADE - O conhecimento interdisciplinar busca a totalidade do conhecimento, respeitando-se a especificidade das disciplinas; a escolha de uma bibliografia é sempre provisória, nunca definitiva. Para nos aproximarmos da condição de efetivação da Interdisciplinaridade, devemos desenvolver alguns sentidos, pressupondo um treino na arte de entender, sentir e esperar, um desenvolvimento no sentido de criação e imaginação que são eles: Fronteira, Atitude, Identidade, Olhar, Humildade, Mudança, Ponte, Contextualização e Coerência. Sentidos esses, que se refere a vários aspectos formais e não formais da Interdisciplinaridade, sendo então uma decorrência natural da própria origem do ato de conhecer, necessária se faz num plano mais concreto para sua formalização, e assim interagir esses conceitos para sua efetivação. Porém, essa interação não deve ser buscada apenas em nível de integração de conteúdos, mas sim em nível de integração de conhecimentos parciais, específicos como os acima, buscando sempre uma visão de conhecimento local e global. A Interdisciplinaridade pressupõe basicamente:

(...) uma intersubjetividade, não pretende a construção de uma superciência, mas uma mudança de atitude frente ao problema do conhecimento, uma substituição da concepção fragmentária para a unitária do ser humano. (FAZENDA, 2002, p. 40). A Interdisciplinaridade é um termo utilizado para: (...) caracterizar a colaboração existente entre disciplinas diversas ou entre setores heterogêneos de uma mesma ciência (Exemplo: Psicologia e seus diferentes setores: Personalidade, Desenvolvimento Social etc.). Caracteriza-se por uma intensa reciprocidade nas trocas, visando um enriquecimento mútuo. (FAZENDA, 2002, p. 41). A abordagem interdisciplinar pretende superar a fragmentação do conhecimento. Entretanto, esse é um importante viés a ser perseguido pelos educadores ambientais, onde se permite, pela compreensão mais globalizada do ambiente, trabalhar a interação em equilíbrio dos seres humanos com a natureza. Concordando com Cascino (2000), lutar por uma Educação Ambiental que considere comunidade, política e transformação, preservação dos meios naturais, aspirações dos grupos, que consolidem lutas efetivas na direção da diversidade, em todos os níveis e em todos os tipos de vida do planeta, é, indiscutivelmente, a luta por uma nova Educação (Ambiental). Dentro da generalização do discurso educacional presente na sociedade, escolher a concepção de educação que referenciará a prática educativa e interdisciplinar é uma decisão eminentemente política a ser tomada pelos educadores: (...) a educação ambiental deve ser uma concepção totalizadora de educação e que é possível quando resulta de um projeto políticopedagogico orgânico, construído coletivamente na interação escola e comunidade, e articulado com os movimentos populares organizados comprometidos com a preservação da vida em seu sentido mais profundo. Garcia (apud GUIMARÃES, 2000, p. 68). Em Educação Ambiental, sempre se disse que o fundamento para o desenvolvimento de toda prática é sua característica interdisciplinar. Tal afirmação correta, está fundada na análise de seu percurso histórico, inclusive como um poderoso instrumento para rever as práticas educacionais mais tradicionais.

As práticas em Educação Ambiental requerem de maneira muito cuidadosa, fundamentação conceitual, para isso é preciso dar extensão às análises conceituais, para que as práticas, guiadas pelos mesmos conceitos, sejam efetivamente amplas, profundas e sofisticadas, tornando seus objetivos, e possíveis resultados, eventos sólidos, capazes de fazer frente a antigas leituras e conceitos, bem como transformá-los. Historicamente, o marco oficial de preocupação com o meio ambiente, se deu em 1972, em Estocolmo, na Suécia, onde se realizou a Primeira Conferência sobre Meio Ambiente Humano e Desenvolvimento, constituindo assim, o primeiro pronunciamento solene sobre a necessidade da Educação Ambiental, onde, adotou mediante a Declaração de Estocolmo: (...) um conjunto de princípios para o manejo ecologicamente racional do meio ambiente. Além de incorporar as questões ambientais na agenda internacional, esta Declaração representou o início de um diálogo entre países industrializados e países em desenvolvimento, a respeito da vinculação que existe entre o crescimento econômico, a poluição dos bens globais (ar, água e oceanos) e o bem estar dos povos de todo mundo. Reigota (apud COIMBRA, 2004, p. 35). Como destaca a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em 1977, em Tbilisi, na Georgia, até hoje seus princípios e definições servem como base para a moderna Educação Ambiental, transpondo a Interdisciplinaridade no seguinte patamar: (...) ao adotar um enfoque global, sustentado em uma ampla base Interdisciplinar, a EA cria uma expectativa dentro da qual se reconhece a existência do meio natural com o meio artificial, demonstrando a continuidade dos vínculos dos atos do presente com as conseqüências do futuro, bem como a interdependência das comunidades nacionais e a solidariedade necessária entre os povos. Dias (apud COIMBRA, 2004, p. 36). As definições acerca da Educação Ambiental são muitas, mas é importante ressaltar que a Educação Ambiental caracteriza-se por apresentar uma abordagem integradora e inter-relacionada das questões ambientais e humanas. Destacam-se as seguintes características acerca da Interdisciplinaridade relacionada à Educação Ambiental, segundo Dias (1992):

a) Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global. b) Destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência, a necessidade de desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias para resolver tais problemas. O principal público-alvo da Educação Ambiental é o público em geral. Neste contexto, as principais categorias são as seguintes de acordo com Telles (2002): 1 O setor da Educação Formal: alunos de pré-escola, primeiro e segundo graus e universitários, bem como professores e profissionais de treinamento em meio ambiente. 2 O setor de Educação Não Formal: jovens e adultos, individual e coletivamente, de todos os segmentos da população, tais como família, trabalhadores, administradores e todos aqueles que dispõem de poder nas áreas ambientais ou não. As diretrizes metodológicas existentes na Educação Ambiental são muito diversificadas e estão muitas vezes distantes das reais necessidades das comunidades com as quais se pretende desenvolver um projeto de caráter interdisciplinar. As tendências existentes em Educação Ambiental no Brasil podem ser distinguidas em cinco categorias básicas, que são elas: Educação Ambiental Conservacionista, Educação Ambiental Biológica, Educação Ambiental Comemorativa, Educação Ambiental Política e a Educação Ambiental Crítica para Sociedades Sustentáveis, que segundo Telles (2002): é o entendimento das origens, causas e conseqüências da degradação ambiental, por meio de uma metodologia interdisciplinar, visando a uma nova forma de vida coletiva. A Educação Ambiental tem como objetivo contribuir para a construção de sociedades sustentáveis e eqüitativas ou socialmente justas e ecologicamente equilibradas, gerando mudança na qualidade de vida e maior consciência de conduta pessoal, assim como harmonia entre os seres humanos e destes com outras formas de vida. Diante dessas considerações:

(...) a partir de um enfoque crítico, a Educação Ambiental poderá contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para se decidirem a atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global. (ZACARIAS, 2000, p. 34). A Educação Ambiental é uma das mais importantes exigências educacionais da atualidade, não só no Brasil, mas também no mundo. Por isso, analisar suas finalidades e objetivos são fatores de destaque, segundo Dias (1992): FINALIDADES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL a) Ajudar a fazer compreender, claramente, a existência e a importância da interdependência econômica, social, política e ecológica nas zonas urbanas e rurais. b) Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente. c) Induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade, em seu conjunto, a respeito do meio ambiente. OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL a) Consciência ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem consciência do meio ambiente global e ajudar-lhes a sensibilizarem-se por essas questões. b) Conhecimento ajudar os grupos sociais e os indivíduo a adquirirem diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio ambiente e dos problemas anexos. c) Comportamento ajudar os grupos sociais e os indivíduos a comprometerem-se com uma série de valores e a sentirem interesse e preocupação pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente da melhoria e da proteção do meio ambiente.

d) Habilidades ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem as habilidades necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais. e) Participação proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a possibilidade de participarem ativamente das tarefas que tem por objetivo resolver problemas ambientais. A Educação Ambiental está empenhada em realizar seu projeto Teórico/Prático e estabelecer uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Torna-se necessário pensar a Educação Ambiental/Interdisciplinaridade, em termos de processo de formação total do homem como agente ambiental, onde é preciso sempre partir de um referencial seguro, galgado no suporte Teórico/Prático. A Educação Ambiental está também interligada ao método interdisciplinar, entretanto esse método está compreendido e aplicado numa perspectiva educativa: (...) a Educação Ambiental, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural, e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificidades. (REIGOTA, 2001, p. 25). A este respeito a Educação Ambiental e a Interdisciplinaridade, pode e deve realmente Constituir/Construir um motor de Transformação/Libertação pedagógica, onde, neste sentido, venham a agir como um integrador de criatividade, girando em torno desses vetores que questionam, sobretudo e criticam uma realidade existente no processo educacional. A Educação Ambiental como disciplina integradora nos vários segmentos educacionais, pode ser um enriquecedor exercício que antecede a inclusão dessa perspectiva nas outras disciplinas clássicas do enfoque curricular.

Considerações Finais Ao elaborar este artigo, assumo a importância que a Educação Ambiental e a Interdisciplinaridade tem em formar uma prática educacional sincronizada e sintonizada com a vida na sociedade. Com uma percepção mais totalizadora, a Educação Ambiental/Interdisciplinaridade, busca através de apostas metodológicas, informar e estimular a percepção dos educadores ambientais, profissionais e pessoas, de modo a sensibilizá-los para participar de ações das quais, num exercício pleno de cidadania, possam encontrar soluções sustentáveis que assegurem a manutenção e elevação da qualidade de vida e da qualidade que o ser humano tem de se integrar. Referencias Bibliográficas CASCINO, F. Educação ambiental: princípios, história, formação de professores. São Paulo: SENAC São Paulo, 2000. COIMBRA,A. S; SILVA, M. C. Educação Ambiental: uma concepção na terceira idade Pró-Idoso Juiz de Fora Minas Gerais. Juiz de Fora: UFJF, 2004. DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992. FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologias. 5.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002. GUIMARÃES, M. Educação ambiental: no consenso um embate?. Campinas, São Paulo: Papirus, 2000. JAPIASSÚ, H. Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. REIGOTA, M. O que é educação ambiental. 1.ed. São Paulo: Brasiliense, 2001.

SILVA. J. M. SILVEIRA. E. S. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas. Juiz de Fora: Templo, 2004. TELLES, M. Q, et. al. Vivências integradas com o meio ambiente. São Paulo: Sá Editora, 2002. ZACARIAS, R. Consumo, lixo e educação ambiental: uma abordagem crítica. Juiz de Fora: FEME, 2000.