Rev. Bras. Reprod. Animal, v.27, n.2, p , Abr/Jun, 2003

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O MANEJO DA REPRODUÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL E SUA IMPORTÂNCIA NA PRODUÇÃO DE PEIXES NO BRASIL (NATURAL AND ARTIFICIAL BREEDING MANAGEMENT AND ITS IMPORTANCE IN FISH PRODUCTION IN BRAZIL) ANDRADE, Dalcio Ricardo; YASUI, George Shigueki Universidade Estadual do Norte Fluminense - Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal dalcio@uenf.br Resumo. Impulsionada pelo constante incremento da população mundial, associado à crescente demanda por alimentos mais saudáveis, a piscicultura vêm apresentando um vertiginoso avanço na produção aquícola em todo o mundo. Um dos principais aspectos para a intensificação da produção piscícola, acompanhada da sustentabilidade tanto econômica quanto ambiental, é a utilização de técnicas de propagação artificial. Este trabalho aborda a reprodução de peixes no Brasil, descrevendo as principais técnicas utilizadas para a obtenção de alevinos por meio de reprodução induzida ou natural, e discute o papel da reprodução na produção comercial de peixes para alimentação. Palavras-chave: piscicultura; indução hormonal; alevinos. Summary. Stimulated by the constant increment of world population, associated with the crescent demand for healthy food, natural fish supply started to decrease, and cultured fish is becoming a great solution to compensate this realness. One of the main aspects to intensify the fishery production allied with economical and environmental sustainability are fish artificial propagation techniques. This article approaches brazillian fish reproduction, describing with this article make a overview about brazillian fish breeding, decribing the main techniques used to obtain fingerlings, such as induced and natural reproduction and its importance on fish production. Key words: Fish culture; hormonal induction; fingerlings. INTRODUÇÃO A demanda pelo pescado vêm aumentando nos últimos anos, impulsionada principalmente pelo crescimento da população e pela tendência mundial em busca de alimentos saudáveis e indicados para a saúde humana, como o pescado. Na contínua busca pela captura de um numero maior de peixes, a pesca extrativa aliada a degradação ambiental, aos poucos, afetou o equilíbrio de populações e desse modo os estoques naturais de águas continentais e dos mares que se constituíam na principal fonte de pescado tiveram sua capacidade de produção drasticamente limitada. Atualmente, a tendência é que a captura extrativa, que não tem mais como crescer, continue diminuindo, conforme pode ser observado em dados da FAO (2002), que revela que a produção de pescado com base extrativista vêm alcançando os mesmos índices de produção encontrados no início da década de 90. Seguindo as mesmas estatísticas, no ano de 1996, a produção global de pescado capturado era de 93,5 milhões de toneladas, passando para 91,3 milhões de toneladas no ano de 2001. Paralelamente, o pescado cultivado passou de 26,7 para 37,5 milhões de toneladas, no mesmo período, sendo a atividade agropecuária mais crescente em todo o globo. Este crescimento será fundamental para atender as previsões de demanda mundial por pescado pois segundo estimativas da FAO em 2025 haverá uma demanda de 162 milhões de toneladas e como a pesca extrativa está estacionada em torno de 85 milhões de toneladas a diferença terá que ser suprida pela aquicultura. Outro aspecto a ser considerado como estimulador do crescimento da demanda de pescado é o provável aumento no consumo por pessoa pois ele ainda é muito baixo em vários países entre eles o Brasil onde se consome de 5 a 10 quilos de peixe por pessoa enquanto que no Japão o consumo é de mais de 60 quilos por pessoa ao ano. Devido à crescente demanda por alimento se fez necessário e mesmo imperativo que se encontrasse alternativas para formas de cultivo de peixes que complementassem a produção natural e que tivessem capacidade de saciar a demanda mundial de pescado, buscando também a sustentabilidade econômica e ambiental. Neste caso, foi necessário desenvolver tecnologia para produção em grande escala de peixes cultivados em águas interiores e no mar. Assim, hoje no mundo todo, um grande número de espécies de água doce e salgada são cultivadas em diferentes sistemas de produção e níveis tecnológicos. No Brasil desde poucas décadas a piscicultura se intensificou e hoje já partimos para uma escala industrial de produção de pescado cultivado. Para que o cultivo de peixes se desenvolvesse no Brasil, como também em todo lugar, foi fundamental que houvesse disponibilidade de sementes, ou seja, alevinos para serem engordados e comercializados. A piscicultura, no nosso país, 166

somente teve possibilidade de se expandir no momento em que as técnicas de reprodução natural e artificial de peixes em cativeiro se consolidaram. Estas técnicas já vinham se desenvolvendo desde a década de 30 com a criação, no Brasil, do processo de desova artificial de peixes com o uso de hipofisação. A partir do domínio do processo reprodutivo em peixes cultivados ficou patente a importância da escolha de espécies condizentes com as características físicas do ambiente, bem como a adoção do manejo adequado para cada espécie. Outro aspecto importante é a capacidade de domesticação, através da adaptação da espécie ao cativeiro e ao manejo reprodutivo. Obviamente foi também relevante o domínio do manejo da larvicultura das diferentes espécies cultivadas bem como o conhecimento dos aspectos nutricionais e sanitários das espécies cultivadas, o que no caso de várias espécies ainda existem deficiências que necessitam ser contornadas. Fica evidente, portanto, que a produção, em cativeiro, de formas jovens de peixes (larvas, póslarvas e alevinos) é a característica principal para que haja produção de pescado. Um exemplo desta importância são as criações intensivas de enguias no continente asiático e europeu (Anguilla japonica e Anguilla anguilla). Para estes peixes não há tecnologia desenvolvida de reprodução artificial e os criadores portanto dependem totalmente de juvenis procedentes do meio ambiente, o qual está sujeito a diferentes adversidades trazendo assim, para os piscicultores permanente incerteza com relação ao repovoamento anual dos tanques de cultivo (SHEPHERD e BROMAGE, 1988; PILLAY, 1995). O Brasil despertou para o seu potencial em termos de produção aqüícola e atravessa um período de profissionalização desta atividade voltada agora para a industrialização. Este momento ressalta a importância da organização da produção em função do volume necessário para comercialização e exportação em grande escala. Isto nos leva a necessidade de cada vez mais produzir alevinos e aprimorar nossa tecnologia de reprodução natural e artificial de peixes. Muitas das técnicas reprodutivas ainda estão sendo descobertas para diversas espécies em cultivo no país, fazendo com que os principais pacotes tecnológicos voltados para a reprodução de peixes ainda sejam aqueles encontrados em espécies exóticas. PRINCÍPIOS DA REPRODUÇÃO DE PEIXES CULTIVADOS Os peixes pertencem à classe de vertebrados que possuem o maior número de representantes, com mais de 22.000 espécies catalogadas, entre peixes de água doce e salgada. Isto confere à piscicultura uma imensa gama de espécies com potencial zootécnico, diferindo de outras atividades mais tradicionais, como é o caso da suinocultura e a avicultura, onde o cultivo fundamenta-se em um número reduzido de espécies. Entretanto, o elevado número de espécies no cultivo piscícola implica em uma grande plasticidade de características reprodutivas, o que pode fazer com que uma técnica de propagação bem sucedida em determinada espécie possa ter rendimento diferenciado em outra. Dessa maneira, se faz necessário o conhecimento das características da espécie de peixe a ser propagado (época e local de desova, características físico-químicas do ambiente, fisiologia reprodutiva), para que se possa manipular adequadamente a reprodução desses animais. Entre as principais técnicas de reprodução artificial, se destaca, de modo geral, a indução reprodutiva de peixes que habitam águas correntes, (reofílicos), grupo onde se enquadram os peixes que realizam migração reprodutiva (piracema). Pelo fato dos sistemas aquaculturais apresentarem ambientes lênticos, esses animais deixam de receber certos estímulos externos, fazendo com que não haja uma resposta endócrina apropriada para a indução da maturação gonadal final, e dessa forma os ovários se desenvolvem apenas parcialmente (estágio de vitelogênese completa). Por outro lado, a reprodução pode ser obtida fazendo-se uma simulação da resposta endócrina natural, através da manipulação ambiental ou aplicação de substâncias análogas aos estímulos hormonais intrínsecos. Tabela 1. Local de atuação e os principais indutores de reprodução utilizados LOCAL DE ATUAÇÃO Hipotálamo Hipófise Gônadas PRINCIPAIS FORMAS DE INDUÇÃO Manipulação do ambiente (fotoperíodo, temperatura, salinidade, etc.), anti-estrógenos, stress, presença de machos e fêmeas conjuntamente Antagonistas de dopamina (domperidona, pimozida, metoclopramida), análogos de GnRH Hipófises desidratadas, gonadotropinas de peixes, gonadotropina coriônica humana (hcg) As formas de indução hormonal podem atuar através da aplicação de substâncias que irão desencadear estímulos na hipófise desses animais, como é o caso de análogos de GnRH, inibidores de dopamina, domperidona, pimozida e metoclopramida. A indução pode ainda atuar em nível gonadal, como é o caso de gonadotropinas de peixes, macerado de hipófises desidratadas e gonadotropina coriônica humana. As induções químicas, podem ainda ser utilizadas para aumentar a produção seminal, antecipar o período reprodutivo, restringi-lo ou mesmo sincronizar a reprodução de um lote de matrizes, o que permite ao produtor obter alevinos em períodos onde a lucratividade seja maior, ou que 167

o cultivo seja finalizado em período onde a comercialização seja otimizada (VENTURIERI e BERNARDINO, 1999), como por exemplo durante a Semana Santa. A manipulação ambiental em sistemas indoor, reproduzem as condições exógenas propícias para o desenvolvimento gonadal e processo de desova e dessa forma estimulam nos reprodutores a produção hormonal necessária para propiciar a reprodução em cativeiro. Em outra vertente, estão os peixes que se reproduzem em ambientes de água não correntosa ou lêntica (lagos, lagoas, tanques, etc), conhecidos como peixes lênticos, os quais não realizam migração reprodutiva (piracema) e neste caso pode-se dispensar a indução hormonal para obtenção da reprodução em cativeiro. Nesses peixes, cuja resposta fisiológica aos estímulos ambientais reprodutivos não está baseada na piracema, a manipulação da reprodução em cativeiro, se faz principalmente por alterações no manejo, buscando reproduzir as condições naturais para a desova destes peixes. Assim, em algumas espécies, a reprodução pode ser estimulada pela presença de abrigos e ninhos, como por exemplo no caso do trairão e do catfish, e estruturas de fixação de ovos que são utilizadas na desova da carpa comum. Para esta última espécie, assim como para os lambarís, é comum se adotar propositadamente estratégias de manejo estressantes que induzem a desova. A reprodução dos peixes não reofílicos apresenta baixo custo para a obtenção de alevinos, pois dispensa o uso de hormônios, instalações e mão-de-obra especializada que oneram a reprodução em cativeiro dos peixes reofílicos. Por outro lado, com a reprodução natural o produtor tem pouco controle do processo reprodutivo dos animais, devido à dificuldade em implantar um programa de acompanhamento do desenvolvimento dos gametas, e da qualidade dos reprodutores BREVE HISTÓRICO DA REPRODUÇÃO DE PEIXES A obtenção de alevinos de peixes cultivados que pudessem ser utilizados para a engorda foi um dos primeiros passos para que a piscicultura passasse do extrativismo para as atuais formas de cultivo. O processo do manejo da reprodução de peixes em cativeiro é bastante antigo, pois já em 1795 se conhecia a técnica de reprodução artificial da truta, peixe reofílico que não necessita de indução hormonal, sendo apenas feita a extrusão dos gametas e a fecundação externa e posterior incubação. Podemos chamar este processo de reprodução assistida. Segundo DONALDSON (1996), as técnicas reprodutivas mediante indução hormonal podem ser divididas em três gerações. Pertencentes à primeira geração, os êxitos iniciais na reprodução artificial datam da década de 30, quando peixes foram induzidos a desovar mediante aplicação de extrato hipofisário bruto homólogo, oriundo de hipófises frescas, extraídas de peixes com gônadas em estádio de maturação avançada. Na segunda geração, essa técnica foi aprimorada, mediante a utilização de hipófise, homóloga ou não, desidratada em acetona e conservadas em ambiente isento de umidade. Além disto passou-se também a utilizar gonadotropina humana (hcg) e de peixes para a desova em cativeiro. A terceira geração engloba as técnicas de indução mediante o uso de substâncias mais processadas como análogos de gonadotropinas associados ou não com antagonistas de dopamina, domperidona, pimozida, metoclopramida e antiestrógenos, bem como processos de controle e manipulação ambiental. Na década de 80, as técnicas de reprodução, induzida ou não, foram modificadas e/ou aprimoradas no Brasil, com a vinda de tecnologias trazidas por pesquisadores estrangeiros, principalmente os húngaros, pois o Brasil tinha um programa de cooperação com a Hungria. Na década de 90, a explosão de pesquepagues, criou uma grande demanda por alevinos para serem engordados para futura comercialização neste setor. Isto provocou grande avanço na piscicultura, estimulou o surgimento de piscicultores especializados na produção de alevinos, e desse modo, disseminou pelo Brasil, a técnica e prática da reprodução induzida bem como o seu aperfeiçoamento para diversas espécies de peixes, principalmente as nativas. Para as espécies exóticas já haviam protocolos operacionais os quais, inclusive serviram de base para as técnicas de reprodução artificial utilizadas para as espécies brasileiras. Atualmente, para a reprodução induzida de peixes em cativeiro, a maioria dos piscicultores utiliza a hipófise desidratada de carpa, pela facilidade de obtenção do produto, bem como pela simplicidade desta metodologia, apesar do seu custo ser elevado, aproximadamente 400 dólares o grama. Apesar dos custos fixos na produção de alevinos por indução serem elevados, o custo final por unidade produzida é baixo devido a alta fecundidade das espécies utilizadas (uma fêmea de 1 Kg pode produzir mais de cem mil ovócitos) e o controle do processo produtivo que permite um maior aproveitamento dos ovos, tornando esta atividade uma das mais rentáveis na aqüicultura. O valor de mercado dos alevinos de peixes reproduzidos em cativeiro é muito varia em função da dificuldade de obtenção dos mesmos, devido aos diferentes estágios em que se encontram o domínio da técnica reprodutiva. Assim, por exemplo, um milheiro de alevinos de pacu, tambaqui ou tilápia custa em média 50 reais (ou cinco centavos a unidade), este baixo valor é devido ao total domínio da técnica de reprodução e alevinagem destas espécies. Entretanto em alguns peixes, geralmente carnívoros, como o dourado e o surubim, apesar da reprodução ser obtida com facilidade o processo de alevinagem é ainda problemático principalmente por causa do alto canibalismo intraespecífico que impede uma produção em massa de alevinos. Esta dificuldade restringe o processo a poucos produtores especializados e gera uma produção muito menor que a demanda o que faz com que cada alevino seja comercializado na faixa de um real e cinquenta centavos até dois reais (de mil e quinhentos a até 168

dois mil reais o milheiro). É importante ressaltar que nos dois casos a produção de alevinos é lucrativa. PRINCIPAIS ESPÉCIES REPRODUZIDAS E CULTIVADAS NO BRASIL No Brasil, dentre espécies nativas e exóticas, são reproduzidas e cultivadas mais de 50 espécies de peixes. Várias são as razões desta diversidade. Muitas vezes as características climáticas regionais levam o produtor a buscar espécies mais adaptadas ao local de cultivo, outras vezes a disponibilidade de alevinos e insumos tem provocado a escolha do peixe a ser trabalhado. A demanda do mercado também pode ter forte influência na escolha de uma determinada espécie, como se tem observado ultimamente com as tilápias. Entretanto muitas dessas espécies são freqüentemente selecionadas de forma errônea quando o piscicultor, motivado principalmente pela propaganda, deixa de considerar a adequação de uma espécie às características ambientais de sua região ou à forma de comercialização que ele dispõe. No quadro abaixo são citadas os principais peixes reproduzidos em cativeiro em nosso país. Tabela 2. Principais espécies cultivadas no Brasil, técnicas de propagação artificial e principais entraves Nome comum Espécie Técnica reprodutiva mais utilizada comercialmente Principal entrave Bagre africano Clarias sp. Indução hormonal Coleta de sêmen Bagre de canal Ictalurus punctatus Desova em ninhos artificiais e incubação artificial/indução Temperatura hormonal Matrinchã Brycon sp. Indução hormonal Canibalismo nas fases iniciais, agressividade Carpa cabeça grande Aristichtys nobilis Indução hormonal Sincronia de reprodutores Carpa capim Ctenopharyngodon idella Indução hormonal Mortalidade de matrizes Carpa comum Cyprinus carpio Desova natural em Adesividade dos ovos substrato/indução hormonal quando incubados Carpa prateada Hypophthalmichtys sp. Indução hormonal Curimatã Prochilodus sp. Indução hormonal sucedida de extrusão ou desova natural - Dourado Salmo maxillosus Indução hormonal Tilápia Lambaris Lambari bocarra Oreochromis sp. Astyanax sp. Oligosarcus argenteus Desova natural seguida ou não de incubação artificial e inversão sexual Reprodução natural e coleta dos alevinos /Indução hormonal Reprodução natural e coleta dos alevinos/indução hormonal Canibalismo nas fases iniciais Manejo da desova Canibalismo (baixo) nas fases iniciais/baixo volume seminal Canibalismo (baixo) nas fases iniciais/baixo volume seminal Piaus Leporinus sp. Indução hormonal sucedida de extrusão ou desova natural Agressividade dos machos Pirarucú Arapaima gigas Reprodução natural e coleta dos Ausência de protocolo de alevinos/induzida em fase de testes reprodução. Surubim Pseudoplatystoma sp. Indução hormonal Alimentação das póslarvas, canibalismo Tambaqui e pacu Colossoma e Piaractus Indução hormonal - Traíra e trairão Hoplias sp. Canibalismo nas fases Desova natural com incubação iniciais. Agressividade dos artificial reprodutores Truta arco-íris Tucunaré Oncorhynchus mykiss Cichla sp. Indução hormonal / desova artificial induzida pelo fotoperíodo Reprodução natural e coleta dos alevinos Alta mortalidade nas fases iniciais - Nos últimos anos, a piscicultura nacional têm demonstrado interesse por espécies nativas de silurídeos e algumas outras espécies carnívoras, como é o caso dos piraíbas (filhotes), jundiás, pintados, surubins, dourados e pirarucus. Apesar de alguns destes peixes apresentarem características como carne branca e saborosa, sem espinhos intramusculares (espinhas) aliadas a um porte avantajado, características estas que provavelmente farão deles os principais peixes comerciais cultivados no Brasil, a inexistência de um pacote tecnológico de produção de alevinos destas espécies restringe a expansão do seu cultivo. Uma atividade piscícola que ultimamente vêm sendo amplamente difundida é a tilapicultura, principalmente com a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), suas linhagens e híbridos. Essa atividade conta com um bom pacote biotecnológico trazido do 169

exterior, e que foi aperfeiçoado principalmente na região Sul do país, onde se intensificaram as técnicas de incubação artificial e inversão sexual. Também merece destaque a crescente demanda por peixes do gênero Brycon (matrinchã, piraputanga, picanjuba, piabanha etc), e também algumas espécies do gênero Leporinus (piaus e piauçu). A demanda por alevinos estimulou o desenvolvimento da aquicultura que por sua vez ao produzir uma maior oferta de peixes estimulou o consumo e aumentou a demanda. Este desenvolvimento da atividade aqüícola trouxe consigo todo o acompanhamento representado pelos insumos, equipamentos, e vias de comercialização gerando renda e produzindo empregos. Figuras que surgiram em consequência deste desenvolvimento foram o transportador de alevinos e peixes, o intermediário e o vendedor de alevinos e insumos bem como o pessoal especializado no apoio técnico em suas diferentes áreas. Hoje o mercado se abre e força à especialização, o profissionalismo e a organização da atividade aqüícola em sistemas de produção e comercialização compatíveis com as exigências do mercado interno e externo. Com relação aos peixes marinhos nossa piscicultura ainda é incipiente havendo entretanto grande demanda por algumas espécies mais nobres dentre as quais já se pode contar com algumas experiências de produção de alevinos em cativeiro como é o caso dos robalos, peixe-rei, e tainhas entre outros. PRINCIPAIS TÉCNICAS REPRODUTIVAS Desova natural (espécies de águas lênticas) Neste aspecto, duas espécies exóticas encontradas na piscicultura nacional merecem destaque, como é o caso das carpas-comuns (Cyprinus carpio) e das tilápias, principalmente a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). A criação da carpa-comum é bastante difundida, pela simplicidade de seu cultivo e tradição de seu consumo entre populações de origem asiática e nos estados do sul de nosso país. Além disto dessa espécie se obtém a hipófise utilizada na maioria das reproduções induzidas. As tilápias possuem um grande potencial zootécnico, além de características desejáveis para a industrialização e sua criação vem sendo estimulada inclusive pelo governo do Brasil, que pretende fazer dela um substituto da merluza importada. A produção de alevinos de carpa não costuma apresentar dificuldades e o processo de engorda não tem sido afetado pela disponibilidade de alevinos. Em alguns locais do Brasil a dificuldade tem sido a aceitação da carne deste peixe que pode apresentar sabor indesejado (sabor de terra) oriundo geralmente de criação com manejo alimentar inadequado. As tilápias se reproduzem em temperatura acima dos 22 o C e sua desova ocorre naturalmente nos tanques. A larvicultura destes peixes costuma ser controlada, fazendo-se a masculinização das póslarvas através da veiculação de hormônios esteróides masculinizantes (testosterona) na alimentação (POPMA e GREEN, 1990), isto é possível pois em peixes a diferenciação gonadal ocorre após a fase de pós-larva. Isto se justifica pois os machos de tilápia apresentam maior rendimento de carcaça e a criação monosexo evita a reprodução que é completamente indesejada no processo de engorda. Hoje no Brasil existe uma demanda crescente por alevinos produzidos mediante este processo de inversão sexual. Os lotes produzidos sob rigorosa observância do protocolo apresentam índices de inversão próximos à 100%, quando a taxa inversão é baixa o objetivo deste procedimento não é atingido e a consequente ocorrência de desovas durante a engorda inviabiliza o cultivo comercial deste peixe. A reprodução das carpas-comuns é influenciada pela temperatura, e a desova ocorre em plantas submersas ou nas raízes de macrófitas aquáticas flutuantes, ou em substratos (kakabans), onde os ovos aderem-se a estas estruturas. Após ocorrer a desova, estas estruturas com os ovos são encaminhadas para um tanque isolado para que ocorra a eclosão, evitando a predação dos ovos por parte das matrizes. Reprodução semelhante ocorre com lambaris (Astyanax sp. e Oligosarcus sp.) entretanto, os ovos podem eclodir no tanque de reprodução, e quando atingem o estágio de alevinos, os peixes são coletados e passam para tanques de engorda (ANDRADE e VIDAL JR., 1994). As espécies traíra (Hoplias malabaricus) e trairão (Hoplias lacerdae) desovam em ninhos escavados nas partes mais rasas dos tanques, e ficam oxigenando e protegendo os ovos contra eventuais predadores, chegando a atacar animais de maior porte. O manejo da reprodução destas espécies inclui a coleta da desova e seu transporte, ao abrigo da luz solar, para o laboratório, onde são incubados em caixas com temperatura constante (26 a 28 o C) e aeração. A larvicultura geralmente é realizada em tanques escavados. Apesar desse grupo de peixes lênticos dispensarem a indução hormonal para que ocorra a desova, as técnicas de reprodução artificial podem ser utilizadas para sincronizar a reprodução, ter maior controle sobre os reprodutores e a desova, bem como manipular o período reprodutivo. Os alevinos de carpa e tilápia cuja tecnica de reprodução é totalmente dominada e o número de produtores é elevado, são comercializados por valores mais baixos, geralmente ao redor de 50 reais o milheiro, já no caso dos lambaris e trairões, em que a demanda, apesar de ainda pequena, não é suprida pelos produtores de alevinos, os valores de comercialização são mais elevados, atingindo aproximadamente 250 reais o milheiro. Desova artificial ou induzida (espécies reofílicas) Existem diversas alternativas para a indução reprodutiva em peixes, sendo que a maioria das técnicas se baseia em aplicações intramusculares/intrabdominal, principalmente na base das nadadeiras peitorais e pélvicas. Diversas substâncias indutoras tem apresentado bons resultados para algumas espécies. Entretanto para a 170

maioria das espécies comercias poucos indutores de desova foram testados. Técnicas inovadoras e ainda em fase de pesquisa tem apresentado bons resultados, como é o caso dos implantes subcutâneos, que liberam as substâncias indutoras gradativamente. Entretanto, muitas desses procedimentos apresentam custos elevados, mas poderão ser viabilizados economicamente em futuro próximo com o avanço nas pesquisas e difusão destas tecnologias. Na tabela 3, são apresentadas e comentadas as principais substâncias indutoras utilizadas comercialmente para a desova artificial de peixes. As dosagens apresentadas são valores de referência e podem variar dependendo da metodologia utilizada, da espécie e do estado fisiológico de maturação gonadal. Tabela 3. Caracterização dos principais indutores de reprodução utilizados comercialmente INDUTOR MODO DE ATUAÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS DOSAGEM Hipófise GnRHs: sgnrh, LHRH e LHRHa Antagonist as de Dopamina GtHs: HCG, LH Atua diretamente nas gônadas; induzindo a maturação através de gonadotropinas Formas de GnRHs que atuam indiretamente nas gônadas, induzindo a produção intrínseca de gonadotropinas, na hipófise Bloqueia o mecanismo de inibição efetuado pela dopamina, aumentando a produção intrínseca de GnRH. Gonadotropina humana, que atua diretamente nas gônadas, induzindo a maturação Facilidade de dosagem e aplicação; fácil estocagem; metodologia estabelecida em diversas espécies; pode ser produzida pelo piscicultor; possuem outras substâncias de efeito sinérgico às gonadotropinas Menor resposta imune; padronização qualitativa; custo reduzido Pode ser ministrado com gonadotropinas com atuação sinérgica; menor resposta imune; Padronização qualitativa, facilidade de aquisição; estocagem por longos períodos; Falta de padronização qualitativa; propagação de doenças; reação imune das matrizes; custo elevado relativamente Dificuldade na dosagem; metodologia não definida em muitas espécies; estocagem sob refrigeração Dificuldade na dosagem, metodologia não definida em muitas espécies Reação imune; metodologia não definida em muitas espécies; custo elevado 0,5 mg/kg na 1 ª dose e 5,0 mg/kg na 2 ª dose para fêmeas e 0,5 a 1,0 mg/kg em dose única para os machos. 10 a 15 mg/kg para as fêmea s e 3 a 5 mg/kg para machos. os 5 mg/kg associado ao GnRH utilizado. 1000 UI/Kg Na maioria das criações comerciais, a indução reprodutiva é feita mediante o uso de hipófise desidratada de carpa, que é aplicada na forma de extrato bruto, diluída em solução fisiológica. Esta técnica pode ser considerada padrão na indução reprodutiva, pelas facilidade em se obter informações pertinentes na literatura e pela facilidade de execução, tornando-se uma prática bastante difundida. O extrato hipofisário é aplicado em fêmeas cujas gônadas apresentem ovócitos em vitelogênese completa. O momento de aplicação é um dos principais aspectos na reprodução induzida, visto que tanto uma aplicação precipitada quanto tardia tendem a comprometer o processo de maturação das gônadas, e para estimar esse momento ideal de aplicação cabe ao produtor fazer observações como a época de reprodução verificada na região, comportamento, abaulamento e consistência da região abdominal e aspectos da papila genital (entumecimento, hiperimiação). Deve-se ressaltar também a importância de uma alimentação adequada das matrizes, visto que na maturação das gônadas, cada ovócito incorpora vitelo, que fornecerá nutrientes e energia para o desenvolvimento larval (NIKOLSKII, 1969). Desse modo, matrizes mal nutridas podem gerar ovos e larvas com quantidades de vitelo insuficiente, podendo comprometer o processo reprodutivo, originando animais com menores chances de sobrevivência, ou ainda com potencial zootécnico aquém do seu potencial genético (GUNASEKERA et al., 1996; WOOTON, 1995). A ovulação em peixes ocorre em média 10 a 14 horas (dependendo da temperatura) após completado o processo de indução hormonal. Algumas espécies desovam imediatamente após a ovulação e outras retem os ovócitos por mais tempo, entretanto não é aconselhado o uso de ovócitos que foram ovulados a mais de uma hora pois a viabilidade dos mesmos já se encontra bastante reduzida. Para determinar o momento da ovulação o produtor observa sinais comportamentais como a natação em carrossel, ruídos, espasmos musculares etc. Outro aspecto que deve ser observado para evitar a perda da viabilidade dos gametas e o contato com a água. Os óvulos dos peixes possuem uma abertura denominada micrópila, local por onde o espermatozóide deverá fecunda-lo pois na grande maioria das espécies de peixes os espermatozóides não apresentam acrossoma. Em contato com a água o óvulo hidrata e sua micrópila fecha gradativamente, 171

em aproximadamente um minuto já é inviável a fecundação também porque os espermatozóides ativados inicialmente pelo contato com a água tem tempo de vida e motilidade aproximadamente igual. A obtenção dos ovócitos e espermatozóides é feita por extrusão mediante compressão abdominal. A fecundação é externa e após um período de hidratação dos ovos, estes são levados para incubadoras onde se desenvolvem, podendo permanecer até a eclosão ou mesmo até a fase de pós-larva (WOYNAROVICH e HORVATH, 1989). Apesar da metodologia de indução reprodutiva ser bastante similar para a maioria das espécies, os efeitos podem ser diferenciados, em função das características intrínsecas dos animais. CONCLUSÕES A procura por alimentos saudáveis como a carne de peixe aliada a estagnação da pesca extrativa, tanto em ambiente marinho quanto em ambiente dulcícola, impõe à piscicultura a tarefa de suprir o abastecimento de pescado, em um cenário de demanda crescente no Brasil e no exterior. Devido as características climáticas, hídricas e sociais nosso país reúne condições que o capacitam a ser um grande produtor de pescado, o que implicará em aumento significativo na produção de alevinos para atender a engorda. Na última década do século XX ocorreu a profissionalização do setor aqüicola brasileiro, devido a formação de mão-de-obra especializada, disponibilidade de insumos e equipamentos compatíveis com as mais modernas tecnologias de produção de peixes. O produtor de alevinos poderá vir a ser um dos elos mais rentáveis da cadeia produtiva de pescado, no entanto deverá estar capacitado tecnicamente para atender a demanda por alevinos de boa qualidade genética e sanitária a um preço adequado para que o produto final seja competitivo. GUNASEKERA, R. M.; SHIM, K. F.; LAM, T. J..1996. Influence of protein content of broodstock diets on larval quality and performance in Nile tilapia, Oreochromis niloticus (L.), Aquaculture, v. 146, p.245-259 NIKOLSKII, G.V. 1969. Theory of fish population dynamics as the biological background for rational exploitation and management of fishery resources. Edinburgh: Oliver & Boyd. 320p. PILLAY, T.V.R..1995. Aquaculture: principles and practices.oxford: Fishing New Books. 575p. POPMA, T. J., GREEN, B. W. Sex reversal of tilapia in earthen ponds. International Center for Aquaculture and Aquatic Enviornments, Department of Fisheries and Allied Aquacultures. Auburn University, Alabama, 1990, 15p. SHEPHERD, C.J., BROMAGE, N.R., Intensive fish farming BSP. Professional Books Blackwell Scientific Publications Ltda.Osney Mead, Oxford, 1988, 404 p. VAZZOLER, A.E.A.M.. 1996. Biologia da reprodução de peixes teleósteos: teoria e prática. Maringá-PR: EDUEM. 169p. VENTURIERI, R.; BERNARDINO, G.. 1999. Hormônios na reprodução artificial de peixes. Panorama da Aqüicultura, v.09, n.55. p.39-48. WOOTON, R.J..1995. Ecology of teleost fishes. Chapman & Hall Co. Wales. 396p. WOYNAROVICH, E.; HORVATH, L..1989. A propagação artificial de peixes de águas tropicais. Tradução de Vera Lúcia Mixtro Chama. Brasília: FAO/CODEVASF/CNPq. 225p. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, D.R. & VIDAL JR., M.V. 1994.Criação de peixe: lambari-bocarra (Oligosarcus argenteus). Informe Técnico, ed. Imprensa Universitária, Viçosa, 15(71):1-15. ANDRADE, D. R.; VIDAL JR, M. V.; SHIMODA. E. 1998. Criação de trairão Hoplias lacerdae. UENF. Campos dos Goytacases. Boletim técnico, v. 3, n. 4. 23p. DONALDSON, E.M..1996. Manipulation of reproduction in farmed fish. Animal Reproduction Science, v.42, p.381-392. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS - FAO. 2002. The State of World Fisheries and Aquaculture. 148p. 172