Equador atrai narcotráfico e crime organizado Os equatorianos que, durante anos, achavam que estavam imunes à violência relacionada às drogas e ao crime organizado que assola seus vizinhos andinos, começam a perceber que o país pode ser o próximo. Jamie Dettmer 11 June 2012
Um outdoor em espanhol no porto de Manta, no litoral do Pacífico do Equador, alerta os possíveis contrabandistas de drogas: A lei está de olho em você. Não entre com drogas no porto. [Larry Luxner] Os equatorianos que, durante anos, achavam que estavam imunes à violência relacionada às drogas e ao crime organizado que assola seus vizinhos andinos, começam a perceber que o país pode ser o próximo. Nos últimos meses, sinais de alerta surgiram em toda parte. Em 13 de maio, uma aeronave de pequeno porte com US$ 1,3 milhão (R$ 2,6 milhões) em espécie caiu na província de Manabí, no noroeste do país, matando o piloto e o copiloto mexicanos. Não havia plano de voo oficial cadastrado para o avião registrado
no México, que voava baixo, supostamente para iludir os radares. As luzes estavam apagadas, uma operação ilegal, declarou o ministro do Interior, José Serrano, a um programa de TV de Quito. Acreditamos que o dinheiro iria ser lavado ou usado para pagar pelas drogas que transportaria de volta ao México. A Direção Geral da Aviação Civil do Equador afirmou em nota que iria pedir ajuda a seus colegas mexicanos para verificar a origem do avião e identificar os tripulantes mortos. Alguns dias depois da queda do avião, soldados encontraram um laboratório de processamento de drogas próximo ao local do acidente, onde apreenderam meia tonelada de pasta-base e detiveram três pessoas. Já que no Equador não se cultiva a coca, esses laboratórios são difíceis de serem encontrados. Este é o quarto descoberto este ano um possível testemunho do impacto que as autoridades da vizinha Colômbia estão causando com sua repressão aos laboratórios de drogas no próprio país. Em entrevista concedida ao jornal El Universo, de Quito, Serrano declarou que as organizações do crime transnacional não estão necessariamente localizadas no Equador, mas que seu país está crescendo em importância como ponto de trânsito para os cartéis colombianos e mexicanos. Relatório denuncia que a situação pode ficar fora de controle Isso preocupa em muito os equatorianos comuns, que correram aos cinemas para ver Pescador o novo filme do diretor Sebastian Cordero, cujo enredo é a descoberta por um pescador local de pacotes com cocaína que vieram dar na praia de um pequeno vilarejo. Altos estrategistas militares do país também estão atentos. Em março, eles chamaram a atenção para a ameaça que representam para seu país grupos criminosos poderosos como o colombiano Los Rastrojos e o mexicano Cartel de Sinaloa. O alerta veio em forma de um relatório de 225 páginas. Se não forem tomadas as medidas certas, a situação facilmente sairá do controle do governo em curto ou médio prazo e níveis de violência extrema serão atingidos, avisa o relatório. O tráfico de drogas e o crime organizado podem, em breve, dominar o Equador e os militares podem não ter os recursos adequados se tiverem que enfrentar o problema, conclui o documento. Rapidamente, o presidente Rafael Correa revelou um plano para treinar 4.000 militares para combater os cartéis que estão se instalando. Autoridades governamentais dizem que querem aproveitar um acordo assinado em outubro último com o vizinho Peru para combater o tráfico em sua fronteira conjunta. As drogas estão sendo contrabandeadas pela fronteira para as cidades de Macara, Tulcan, San Lorenzo e Nueva Loja, afirmaram autoridades. Os narcóticos são, então, enviados às cidades portuárias do Pacífico; dali, os contrabandistas usam de tudo, de lanchas a pequenos semissubmersíveis, para levar as cargas para embarcações maiores para serem transportadas para a América Central para posterior transporte ao México e aos Estados Unidos. Consumo de drogas cresce 300% Em julho último, a polícia equatoriana aprendeu um submarino de 70 pés com capacidade para transportar até sete toneladas de cocaína. Lanchas transportando drogas que percorrem longas distâncias no litoral do Pacífico também estão reabastecendo nas Ilhas Galápagos. A cocaína também atravessa a fronteira com a Colômbia. Segundo um estudo dos militares, três dos quatro
principais pontos de entrada das drogas estão na região. Em 2008, a polícia equatoriana apreendeu em uma única operação 4,7 t de cocaína e no início do ano, Correa enviou 7.000 soldados e 3.000 policiais à fronteira em um esforço para interromper o fluxo de drogas. Desde o início de 2012, autoridades apreenderam mais de 1,6 t de narcóticos somente em Quito um sinal que, segundo o analista de segurança Ricardo Camacho, indica um aumento de 300% no consumo interno de drogas desde 2007. Cerca de 98% do volume das drogas apreendidas até o momento este ano consiste de maconha e a maior parte do restante é cocaína, segundo a consultoria InSight Crime, de Bogotá. Juntas, as drogas valem US$ 1,53 milhão (R$ 3,06 milhões). Foram também detidas 327 pessoas 305 das quais equatorianas em operações antidrogas, informou o chefe da Polícia Nacional, Patricio Franco. Semissubmersíveis e drogas clandestinas As recentes prisões e apreensões de drogas destacam o enorme desafio que o Equador tem pela frente, enquanto o país que, historicamente, apresentava uma das mais baixas taxas de consumo interno de drogas da América Latina cresce em importância para o narcotráfico. Em fevereiro, como consequência de uma denúncia de autoridades colombianas, a polícia da cidade portuária de Guayaquil capturou Heriberto Fernández Ramírez, um importante elo entre o traficante colombiano Daniel Barrera Barrera, vulgo El Loco, e o cartel mexicano de Sinaloa, segundo as polícias antidrogas dos dois países. Alguns dias antes da captura de Ramírez, o chefe antidrogas equatoriano, Nelson Villegas, anunciou a apreensão de 1,3 t de cocaína, além de um semissubmersível utilizado no contrabando de drogas para o Golfo de Guayaquil. A carga com 1.177 pacotes estava armazenada na ilha de Puna, enquanto a embarcação foi descoberta na ilha de Santa Clara, 40 km ao sul de Puna. No início de janeiro, a marinha equatoriana detectou outro semissubmersível a 95 km do litoral de Puna, mas os três tripulantes afundaram a embarcação antes de serem presos. Essas embarcações são difíceis de serem detectadas do ar e do mar, afirma o comandante da Guarda Costeira, Mauritius Alvear. Estudo: Equador faz parte de um esquema de tráfico Sinais da presença do cartel mexicano de Sinaloa aumentaram, com nove integrantes da organização presos no ano passado. O grupo criminoso vem mostrando nos últimos anos que está disposto a expandir seu alcance dentro da cadeia de fornecimento de drogas equatoriana e a organizar seus próprios carregamentos de drogas. A prisão de Ramírez não parece ter afastado os colombianos. Em abril, a polícia de Quito prendeu Juan Carlos Calle Serna, irmão de um dos líderes da gangue Los Rastrojos. Para dois acadêmicos, Douglas Farah e Glenn R. Simpson, do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia, com sede na capital americana, essas tendências são cada vez mais preocupantes. Em um estudo recente, a dupla alertou para a crescente presença no Equador das organizações do narcotráfico mexicanas e o crescente papel do país andino como centro de lavagem de dinheiro para diversas organizações do crime transnacional. Segundo os estudiosos, o Equador está se tornando uma peça importante no esquema que transporta não só cocaína, mas seres humanos, armas, precursores químicos e centenas de milhões de dólares por ano.
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