DESIGN PARA COMPLEXO UM MUNDO. Os propósitos do design no cenário atual. [ RAFAEL CARDOSO São Paulo: Cosac Naify, 2012

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Transcrição:

DESIGN PARA UM MUNDO COMPLEXO Os propósitos do design no cenário atual [ RAFAEL CARDOSO São Paulo: Cosac Naify, 2012 > Profa. Julie Pires Teorias do Design 1 [BAV105] EBA-UFRJ

Do mundo real ao mundo complexo O design nasceu com o firme propósito de pôr ordem na bagunça do mundo industrial. (Cardoso, p.15) séc XVIII surgimento do sistema de fábricas na Europa e nos EUA MUDANÇAS: séc XIX ORGANIZAÇÃO E TECNOLOGIAS PRODUTIVAS SISTEMAS DE TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO aumento da oferta de bens de consumo queda do custo desses bens > a infância da sociedade de consumo

Declínio preocupante da qualidade e da beleza dos produtos EM AÇÃO: arystas e arquitetos, reformadores e burocratas, governos, industriais, associações comerciais e profissionais, museus e insytuições de ensino. séc XIX entre 1850 e 1930 designers dedicaram seus esforços a imensa tarefa de conformar a estrutura e a aparência dos artefatos de modo que ficassem mais atraentes e eficientes. RECONFIGURAR O MUNDO: CONFORTO E BEM- ESTAR PARA TODOS fitness for purpose Zweckmässigkeit séc XX qual propósito se quer cumprir? a forma segue a função (Louis Sullivan)

Victor Papanek Design for the Real World (1971) funcionalidade > função social Esse livro :nha por intenção conclamar os designers a sair do ar condicionado de seus escritórios envidraçados e olhar à sua volta, projetando soluções para o mundo real, que se desintegrava em fome e miséria, conflitos raciais e protestos polí:cos, guerras civis e lutas de independência, guerras quentes e Guerra Fria, uma corrida armamen:sta nuclear que ameaçava destruir a todos, e uma crise ambiental que se anunciava pela primeira vez por dados oficiais da ONU. (CARDOSO, p.18)

a máquina de morar 1. Walter Gropius 2.Villa Savoy, Le Corbusier 3. Masterhouse 4,5.Weissenhof, Le Corbusier 6. Cadeira Barcelona

Hoje: explosão do meio digital > transformações políycas, sociais e culturais (...) o imaterial passou a ser o fator decisivo em quase todos os domínios, mormente numa área como o design. (CARDOSO, p. 20) questões aparentemente simples mais complexas do que se imaginava exs: medicina, indústria de tabaco, garrafas retornáveis No mundo complexo em que vivemos, as melhores soluções costumam vir do trabalho em equipe e em redes. (CARDOSO, p. 23)

excesso de informação DESIGN globalização (...) longo processo histórico, que vem ocorrendo com progressiva aceleração desde a época dos chamados descobrimentos (...) (CARDOSO, p. 24)...integração de redes de comércio, transportes e comunicação, assim como dos sistemas financeiro e jurídico que regulam o funcionamento das mesmas. complexidade (...) entende- se aqui um sistema composto de muitos elementos, camadas e estruturas cujas inter- relações condicionam e redefinem conznuamente o funcionamento do todo. (CARDOSO, p. 25) unificação desde meados do séc XIX: sistemas de fabricação distribuição consumo

Adequação e forma Pode algo ser belo para qualquer outro propósito a não ser aquele para o qual é belo que seja usado? (Sócrates, c. 400 a.c.) uma fala um costume um comportamento uma condição Zweckmässigkeit mässig = moderado, módico Zweck = propósito, fim, finalidade = adequação, conveniência, funcionalidade conformidade a fins O termo tem sua origem no livro de Immanuel Kant, CríYca da Faculdade do Juízo, 1790 adequação ao propósito

Para [Karl Friedrich] Schinkel, adequação ao propósito era o princípio básico de toda a construção e o grau de sua expressão material definia o valor arcszco de um edidcio. (CARDOSO, p. 27) ornamento x funcionalidade conceitos < > expressão material De que maneira é possível olhar para um artefato e afirmar que ele é adequado ao propósito? Isso não seria um juízo que depende, necessariamente, de usar o objeto, de testá- lo em diversas situações ao longo do tempo? Como se opera esse processo de transpor qualidades percepyveis visualmente para juízos conceituais de valor? De que modo as formas expressam significados?

1aparência o aspecto percepnvel por uma visada ou olhar 2configuração no senydo composicional, de arranjo das partes FORMA 3estrutura referente à dimensão construyva ou consytuyva

Essa compreensão complexa da forma, como algo de dimensões múlzplas e interdependentes, torna possível uma discussão mais precisa de como uma forma poderia traduzir o conceito de adequação ao propósito. (CARDOSO, p. 32) Karl Friedrich Schinkel Neoclássicos > inspiração na AnVguidade greco- romana enxergavam nas formas de suas construções qualidades de força, harmonia e beleza Para eles era evidente que a questão girava em torno da relação entre a aparência externa com a estrutura interna. (CARDOSO, p. 33) > tectônica externar o significado interior (concebidas, mas não vistas)

tectônica Kernform forma essencial do edidcio Karl Bövcher dialézca Kunsworm aparência externa Goxried Semper Werkform forma operacional dialézca Kunsworm forma arcszca Forma não é um quantum estável, eterno e inalterável desde sempre, mas o fruto de uma transformação. (CARDOSO, p. 35)

As formas dos artefatos não possuem um significado fixo, mas antes são expressivas de um processo de significação - ou seja, a troca entre aquilo que está embuzdo em sua materialidade e aquilo que pode ser depreendido delas por nossa experiência. (CARDOSO, p. 35) concepção conceitos da criação lógica construzva uylização sujeito a mudança de percepção pelo juízo O olhar é também sujeito a transformações no tempo, e aquilo que depreendemos do objeto visto é necessariamente condicionado pelas premissas de quem enxerga e de como se dá a situação do ato de ver. ((CARDOSO, p. 37) (

compressão e complexidade David Harvey (1989) compressão do tempo- espaço (...) estaria afetando as percepções culturais desde os anos 1960, consztuindo a base daquilo que ele bazzou de condição pós- moderna (CARDOSO, p. 38) desestabilização de significados estáveis h{p://joyyll.com.br/harvey/harvey.htm HARVEY, David. Condição pós- moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo, Ed. Loyola, 2003, 12ª ed, p. 257-276 (resumo do capítulo 17, com comentários em hipertexto, desenvolvido por Joy Till, Julie Pires e Stela Kaz para a disciplina Teoria e CríVca do Design 2003.2).

Qual o impacto dessas transformações múlzplas e rápidas sobre um campo como o design, tradicionalmente pautado pela fabricação de artefatos materiais? (CARDOSO, p. 40) materialidade (coisa) imaterialidade (não- coisa) Não são determinados esquemas de cores, fontes, proporções e diagramas, e muito menos encantações como a forma segue a função, que resolverão imensos desafios do mundo complexo em que estamos inseridos. (CARDOSO, p. 41)

1º abdicar da premissa de que os problemas são simples. Se você tem uma resposta pronta, é provável que não tenha entendido direito a pergunta. da premissa de que os 2ºabdicar problemas são insolúveis. (...) compreender que todas as partes são interligadas. Não é responsabilidade dos designers salvar o mundo (...) A parte de cada um é entender a sua parte no todo. (CARDOSO, p. 44)

TESTE1 >>> Profa. Julie Pires Teorias do Design 1 [BAV105] EBA-UFRJ

George W. Adams Chawner & Co. Garfo para peixe, 1850-1851 Londres 1) Comente as imagens apresentadas neste slide a paryr dos textos trabalhados em sala. Considere, p.e., o nascimento do design e a apropriação do lema a forma segue a função.

2) Comente a seguinte críyca de Victor Papanek, acerca do pensamento que envolveu o ensino do design moderno. A concepção de que aquilo que funciona bem terá necessariamente uma boa aparência serviu de desculpa débil para todo o mobiliário e os utensílios estéreis, com cara hospitalar, dos anos 1920 e 1930. Villa Savoye, 1929, e Residência emweissenhof, 1927, Le Corbusier Cadeira Barcelona, 1929 Mies Van der Rohe