DEPRESSÃO EM ADOLESCENTES DE ESCOLAS PÚBLICAS

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Transcrição:

DEPRESSÃO EM ADOLESCENTES DE ESCOLAS PÚBLICAS Adriele Vieira de Lima Pinto (1); Jaqueline Gomes Cavalcanti (2); Ana Flávia de Oliveira Borba Coutinho (3); Márcio de Lima Coutinho (4); Maria da Penha de Lima Coutinho (5) (1) Universidade Federal da Paraíba - adrielevieira_8@hotmail.com (2) Universidade Federal da Paraíba - gomes.jaqueline@gmail.com (3) Instituto de Educação Superior da Paraíba - anaflaviabc@gmail.com (4) Universidade Federal da Paraíba - coutinholmarcio@gmail.com (5) Universidade Federal da Paraíba - mplcputinho@gmail.com Resumo: A depressão tem sido considerada uma das doenças mais nocivas e incapacitante em todo o mundo, atingindo um contingente cada vez maior de crianças e adolescente. O estudo objetivou identificar a prevalência da depressão e analisar o perfil sociodemográfico dos adolescentes com indicativos de sintomatologia depressiva. Participaram 443 estudantes, com idades de 12 a 18 anos (M= 14,88; SD= 1,66), maioria do sexo feminino (57,3%), de escolas públicas de João Pessoa, os quais responderam ao Inventário de Depressão Infantil (CDI) e um questionário sociodemográfico. Os dados foram submetidos a estatísticas descritivas. Os resultados demonstraram que 9,3 % dos adolescentes apresentaram indicativos de sintomatologia depressiva, constituído majoritariamente pelo sexo feminino, as adolescentes também apresentaram resultados elevados em aspectos referentes a satisfação com o corpo, indicando diferenças nas manifestações depressivas entre o sexo feminino e masculino. As questões sobre relacionamentos com colegas e professores, indicaram que adolescentes com sintomatologia depressiva tendem a diminuir o contato com seu grupo social. Quanto ao sentimento de segurança na escola, em sua maioria, os resultados foram negativos, sugerindo que esta população vivencia frequentemente sentimentos de medo e insegurança. Unidos a isto, questões econômicas, culturais e regionais influenciam, de maneira geral para o crescimento da insegurança. Dessa forma, espera-se ter contribuído para a compreensão da depressão no contexto da adolescência e ter fornecido informações para elaboração de políticas públicas de promoção da saúde, e ações nas áreas social e educacional. Palavras-chave: depressão; sintomatologia depressiva; adolescência; contexto escolar. A depressão se constitui como um fenômeno complexo, multidimensional que afeta diretamente a saúde mental, a qualidade de vida e a vida social como um todo. Esse fenômeno se configura como um dos problemas de saúde mental mais comum em todo o mundo, causando crescentes afastamentos no trabalho, isolamento social e suicídios (BAHLS; BAHLS, 2002; 2010; CRUWYS et al., 2014). COUTINHO; VIEIRA, D e acordo com a Organização Mundial de Saúde, nos últimos anos, a depressão vem ganhando uma posição de destaque no âmbito dos problemas de saúde pública e já é considerada uma das doenças mais incapacitantes, nocivas e que causam mais custos sociais em todo o mundo (ARAÚJO et al. 2009; BAHLS; BAHLS, 2003). De modo geral, parece ser consensual que a depressão seja caracterizada como um transtorno de humor, que abrange fatores cognitivos, fisiológicos, comportamentais, sociais

econômicos, religiosos, estando presente em diversos distúrbios emocionais, como transtornos de ansiedade, distimia, déficit de atenção, entre outros (BAHLS; BAHLS, 2003; DAMIÃO et al., 2011; GOMES et al, 2013; MIRANDA, 2012). Neste sentido, tal condição poderá acometer pessoas em qualquer idade ou fase da vida com indicativos de aumento significativos do transtorno durante a adolescência e no início da vida adulta, sendo mais comum no sexo feminino (BAHLS; BAHLS, 2002; DELL AGLIO; HUTZ, 2004; FONSECA et al., 2005; GAVIN et al., 2015; MONTEIRO et al., 2007; NETO, 2010). VICENTE De acordo com os apontamentos da pesquisa realizada por Bahls e Bahls (2003), a prevalência-ano da depressão maior em adolescentes pode variar de 3,3% a 12,4%, com predomínio do sexo feminino. Na região Nordeste do Brasil, estudos de Coutinho e colaboradores, nas capitais São Luís, João Pessoa, Recife, Teresina e Natal (2012, 2011, 2008, 2005) indicaram índices de sintomatologia depressiva em crianças e adolescentes de até 12,5%. Nesse mesmo sentido, na região sul do Brasil, Lopez et al. (2011) realizaram uma pesquisa transversal com 1560 jovens de 18 a 24 anos no intuito de verificar a associação entre depressão e qualidade de vida, do total, cerca de 12% dos participantes apresentaram indicativos de depressão. Diante desses resultados se faz mister compreender que a adolescência é marcada pelo desenvolvimento da autoestima e do autoconceito, caracterizada também por uma fase de mudanças físicas, cognitivas e sexuais. Ao mesmo tempo, esses sujeitos se deparam com situações novas que aumentam as pressões sociais, ocasionando em um maior número de fatores estressores em seu dia-a-dia. Essas condições acabam propiciando experiências de vulnerabilidade, fazendo com que os adolescentes vivenciem mudanças emocionais e comportamentais expressivas, podendo ocasionar mudanças na qualidade de vida, consequentemente em sua saúde mental ( CAROLINA et al. 2010; DAMIÃO et al., 2011; JATOBÁ; BASTOS, 2007; SOARES et al. 2011; DAVIM et al., 2009). Associado a isto, estudos indicam que a prevalência da depressão no contexto da adolescência estaria relacionada com alguns fatores biopsicossociais, dentre eles, a socialização, apoio social e familiar, ocorrência de sintomas psicossomáticos, aspectos ligados a satisfação com a vida e ao bem-estar emocional, físico e psicológico ( ARAGÃO et al., 2009; ARAÚJO; COSTA; BLANK, 2009;

BAHLS; BHALS, 2002; 2003; FEITOSA, 2014; SCHWAN; RAMIRES, 2011). Portanto é essencial a detecção precoce de sintomas depressivos nessa população, uma vez que esta ação poderá vir a evitar o desenvolvimento de quadros graves, com prejuízos no convívio social e no ambiente escolar e familiar, além de evitar que o grupo social no qual a criança e/ou adolescente esteja inserido também seja afetado ( MIRANDA, 2012; WATHIER; DELL AGLIO; BANDEIRA, 2008). Diante de tais constatações, o presente artigo teve como objetivo identificar a prevalência da depressão e analisar o perfil sociodemográfico dos adolescentes escolares que apresentaram indicativos de sintomatologia depressiva. Metodologia A pesquisa contou inicialmente com 443 estudantes, desses, 57, 3% do sexo feminino, de escolas públicas que cursavam o Ensino Fundamental II (N= 180) ou o Ensino Médio (N= 267) na cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Participaram da pesquisa alunos entre 12 a 18 anos de idade (M= 14,88; DP= 1,66). Material Questionário sociodemográfico. Este instrumento foi utilizado com o objetivo de obter informações acerca dos participantes, dispondo as variáveis sóciodemográficas (idade, sexo, série, relacionamento com os colegas e professores, satisfação com o corpo...) para fins de criar um perfil dos adolescentes. Inventário de depressão infantil (CDI - 20) elaborado por Kovacs (1992) e adaptado à população brasileira por Gouveia et al. (1995). Este instrumento é utilizado para o rastreamento da sintomatologia depressiva em crianças e adolescentes na faixa etária de sete a dezessete anos. Como ponto de corte para o indicativo de sintomatologia depressiva, utiliza-se a pontuação igual ou superior a 17 pontos. O instrumento é composto por 20 itens que compreendem três opções de respostas com a seguinte pontuação: a = 0 pontos; b = 1 ponto e c = 2 pontos. Analise dos dados Os instrumentos foram processados e analisados com o auxílio do IBM SPSS (versão 21), sendo utilizada a estatística descritiva. Procedimentos Foram atendidos todos os preceitos éticos preconizados pela Resolução 466/2012, do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. Foram explicitados os objetivos referentes ao estudo, além de garantido o sigilo das respostas dadas pelos

participantes. A aplicação da pesquisa foi realizada de forma coletiva, nas dependências da instituição escolar. Os adolescentes participaram da pesquisa após a assinatura do termo de consentimento pelos pais e/ou responsáveis, e da sua autorização, através da assinatura do termo de assentimento do menor. Resultados e discussão A partir da análise do CDI, considerando os participantes com pontuação igual ou superior ao ponto de corte (17), observou-se que 42 (9,3%) dos adolescentes apresentaram indicativo de sintomatologia depressiva. Esse resultado corrobora de forma geral, a evidência científica sobre a prevalência de sintomas depressivos expressivos identificados em crianças e adolescentes, mostrando-se compatível com diversos estudos (BAHLS; BAHLS, 2003; GOMES et al., 2013; LOPEZ et al. 2011; COUTINHO et al. 2012; 2011; 2008; 2005). Entre eles, o estudo de Monteiro e colaboradores, em 2007, envolvendo 210 alunos adolescentes de escolas públicas e privadas, desses, 60 apresentaram sintomatologia depressiva. A prevalência determinada por Fonseca et al. (2005) de 13,7% entre escolares de 7 a 13 anos no estado de Minas Gerais. A prevalência de 10,7% determinada pelos estudos de Vicente Neto (2010) com 483 crianças, entre 10 e 12 anos, das cidades de João Pessoa e Natal. Após a identificação da prevalência, analisou-se o perfil sociodemográfico do grupo de adolescentes com sintomatologia depressiva. Para tanto, utilizou-se variáveis como sexo e escolaridade, e foram criadas questões referentes a satisfação com o corpo, relacionamentos com colegas/professores e segurança na escola. Neste sentido, os dados da pesquisa apontaram para o índice de prevalência de sintomatologia depressiva mais acentuada no sexo feminino (n=30), o que corrobora estudos recorrentes no âmbito da literatura (ARAGÃO et al., 2009; BAHLS; BAHLS, 2002; 2003; COUTINHO, 2005; DELL AGLIO; HUTZ, 2004; GOMES et al., 2013). Esses autores apontam diferenças entre as manifestações depressivas de adolescentes do sexo feminino e masculino, sugerindo que as meninas tendem a apresentar sintomas subjetivos ( tristeza, melancolia, solidão, angústia, raiva, culpa), menos satisfação com o corpo e baixa autoestima. Enquanto que os meninos apresentam mais problemas de conduta, abuso de substâncias e sentimentos de repulsa. Na variável satisfação com o próprio corpo, 33 (80,5%) dos 42 alunos com sintomatologia depressiva, em sua

maioria adolescentes do sexo feminino, não se sentiram satisfeitos com o seu corpo, confirmando a percepção mais negativa que as meninas possuem em relação a aparência e imagem corporal, do que quando comparados com os meninos. Quanto aos relacionamentos com colegas e professores, de acordo a prevalência de respostas (bem, razoável ou mal), cerca de 28 adolescentes classificaram como razoável sua relação com os demais colegas e, 21 classificaram como razoável sua relação com os professores. De fato, tais resultados corroboram estudos que apontam que adolescentes com indicativos de depressão apresentam redução significativa em suas interações sociais, apresentam menos suporte social familiar, prejuízos na aprendizagem e tendem a se isolar mais (ARAGÃO et al., 2009; BAHLS; BAHLS, 2002; FEITOSA, 2014; LOPEZ et al., 2011). Na variável se sente seguro na escola?, 28 (66,7%) dos alunos com sintomatologia depressiva, responderam que não se sentem seguros. Este dado sugere que adolescentes acometidos da depressão vivenciam com mais intensidade sentimentos de medo e insegurança. Unidos a esses sintomas, um ambiente escolar hostil, com forte presença da vio lência provoca maior vulnerabilidade, consequentemente a diminuição da percepção de controle pessoal sobre as ameaças e sobre os próprios acontecimentos que são vivenciados no dia-a-dia ( COUTINHO, 2005; JATOBÁ; BASTOS, 2007; MALTA et al., 2010). Não houve diferenças entre o número de adolescentes com sintomatologia matriculados no ensino fundamental ou médio. Conclusão Os resultados dessa pesquisa corroboram, de modo geral, a evidência científica quanto a expressiva prevalência de sintomas depressivos em adolescentes, apontando um índice de 9,3%. Além disso, as análises dos dados sociodemográficos, forneceram informações pertinentes para caracterizar o perfil dos estudantes que apresentaram sintomatologia depressiva. Neste sentido, os objetivos delineados para o estudo foram alcançados. Os resultados apontam que a prevalência da depressão foi constituída majoritariamente pelo sexo feminino, este público também apresentou resultados mais altos relacionados a insatisfação com o corpo e aparência. Aspectos relativos a relacionamentos com colegas e professores demonstraram parcela importante dos resultados,

indicando que adolescentes depressivos tendem a diminuir seus contatos com o grupo social no qual estão inseridos. Ainda neste sentido, o sentimento de insegurança na escola por parte dos adolescentes com indicativos de depressão, sugere que esta parcela vivencia com mais frequência sentimentos de medo e insegurança. Associados a isto, questões de ordem econômica, cultural, regional devem ser levadas em consideração, pois é notório o aumento da violência e a exposição dos adolescentes, acometidos ou não pela depressão, a fatores estressores e tensões do dia-a-dia, influenciando de forma geral para o crescimento da insegurança. No tocante, entende-se que o próprio conceito de depressão revela diferentes perspectivas e requer ser compreendido em sua complexidade. Neste sentido, outros estudos deverão ser realizados, utilizando abordagem multimétodos, amostras mais robustas, levando em consideração diferentes contextos construtos. e sua relação com demais Portanto, ao final desta pesquisa, espera-se ter contribuído para a compreensão da depressão no contexto da adolescência e de igual modo ter fornecido informações pertinentes para elaboração de políticas públicas de promoção da saúde, e ela boração de estratégias de ação nas áreas social e educacional. Agradecimentos Este estudo faz parte de um projeto maior, financiado pelo CNPq, que vem sendo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa Aspectos Psicossociais de Prevenção e Saúde Coletiva (NPASPPSC) da UFPB. Referências ARAGÃO, Thais Araújo; COUTINHO, Maria da Penha de Lima; ARAÚJO, Ludgleydson Fernandes; CASTANHA, Alessandra Ramos. Uma perspectiva psicossocial da sintomatologia depressiva na adolescência. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 395-405, 2009. ARAÚJO, Eliane Denise da Silveira; COSTA, André Justino dos Santos; BLANK, Nelson. Aspectos psicossociais de adolescentes de escolas públicas de Florianópolis/SC.Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento humano, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 219-225, 2009. BAHLS, Saint-Clair; BAHLS, Flávia Rocha Campos. Psicoterapias da depressão na infância e na adolescência. Revista estudos de Psicologia, v. 20, n. 2, p. 25-34, 2003. BAHLS, Saint-Clair; BAHLS, Flávia Rocha Campos. Depressão na adolescência: características clínicas. Interação em Psicologia, v. 6, n. 1, p. 49-57, 2002.

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