Agricultura Sustentável é Possível: Estudos de Casos de Sistemas Produtivos na Região de Londrina Pr.

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Transcrição:

Agricultura Sustentável é Possível: Estudos de Casos de Sistemas Produtivos na Região de Londrina Pr. CARVALHO, Nilson Ladeia. Emater PR, nilsonladeia@gmail.com Resumo Verificamos que o setor agrícola tem como base principal a análise econômica, porém esta em pauta hoje, é agricultura sustentável. Por isso, é importante voltar os olhares para os agricultores conscientes que procuram a valorização econômica, porém buscam preservar o meio ambiente e colher produtos saudáveis. Isto nos motivou a conhecer experiências de sucesso, as quais são relatadas nestes dois estudos de casos realizados no Norte do Paraná. O primeiro refere-se à produção orgânica de soja, frutas e algumas olerícolas, onde é descrito algumas dificuldades no processo de conversão e também os benefícios, como, por exemplo, vender a soja orgânica com valor 55 % a mais que a convencional. O segundo estudo de caso retrata o cultivo da mandioca de mesa como uma alternativa viável para a agricultura familiar, devido a baixa dependência de insumos externos e por propiciar ganhos econômicos, ambientais e sociais, como foi observado na Comunidade da Usina Três Bocas - Londrina Pr. Palavras Chaves: Meio Ambiente, Agricultura Orgânica e Mandioca de Mesa. Contexto Os estudos de casos descritos neste trabalho foram realizados no ano de 2007 como partes das atividades do curso de mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Estadual de Londrina Pr., sendo o estudo de caso número um o resultado da visita na propriedade rural do Sr. Roberto Doi, a qual esta localizada no Município de Uraí Pr, onde se pratica a agricultura orgânica. O segundo trata-se do estudo de caso de um grupo de agricultores familiares residentes na Comunidade Rural da Usina Três Bocas no Município de Londrina Pr., onde se observou a estabilidade destes agricultores e a tendência de manutenção da pequena propriedade, baseada na agricultura familiar, onde a atividade principal é o cultivo da mandioca de mesa. A análise que se segue objetiva refletir sobre a questão da agricultura sustentável sob o viés econômico e ambiental e, no contexto, averiguar os desdobramentos da agricultura orgânica e sistemas produtivos alternativos, a partir de estudos de casos, buscando identificar os principais agentes envolvidos, as características fundamentais das atividades e as repercussões econômicas e sócio-ambientais. Descrição da Experiência 1: Agricultura Orgânica. A propriedade analisada trata-se de uma ilha em meio à agricultura tradicional empreendida por grandes proprietários, especificamente as culturas de soja, milho e trigo, o que de certa forma dificulta a adoção de novos parceiros na prática da agricultura orgânica. A APOL Associação de Produtores Orgânicos de Londrina e a Emater são as responsáveis pela divulgação da agricultura orgânica na região, além do suporte técnico que contribui significativamente no processo de cultivo e comercialização da produção, garantindo de certa forma, o retorno financeiro. O imóvel rural de 96,80 ha localizado no Município de Uraí Pr., na Seção Barbosa, cujo proprietário é o Sr. Roberto Dói, possui uma área cultivada no sistema orgânico de 24,0 ha sendo 15,74 ha ocupados com a cultura da soja e no restante dos 8,26 ha com fruticultura: manga, Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 4185

limão, mexerica e lixia, além do cultivo de olerícolas como tomate, sob estufa plástica e também a céu aberto, além da abobrinha italiana. A produção possui certificação do IBD Instituto Biodinâmico a mais de seis anos, propiciando assim a exportação dos produtos para qualquer parte do mundo. De acordo com as normas internacionais de certificação da produção orgânica, somente a partir do 3º ano de conversão do sistema convencional para o orgânico é que o produto pode ser comercializado em qualquer região do Brasil, enquanto que para a exportação o selo somente é obtido à partir do 5º ano de cultivo. A área de 24,0 ha é cercada com capim napier, formando uma barreira natural a fim de protegerse da deriva de agroquímicos advindos de áreas vizinhas. O manejo do solo é realizado com o uso de compostos orgânicos e capina manual das ervas daninha, garantindo assim um solo equilibrado a fim de disponibilizar os nutrientes necessários ao bom desenvolvimento das plantas. O manejo integrado de pragas e doenças tem importante papel no sistema, sendo necessárias visitas diárias nas lavouras para análise dos índices de ataque de insetos ou outras enfermidades e quando necessário o controle é realizado a base de compostos contendo, por exemplo: açúcar, leite, fumo de corda, micronutrientes, urina de vaca e outros produtos não tóxicos, os quais são preparados pelo próprio agricultor e são aplicados preventivamente no sentido de manter a planta mais resistente, afim de evitar ou suportar o aparecimento de moléstias que possam prejudicar o seu desenvolvimento. Segundo o Sr. Roberto Dói, o início do processo é muito difícil, pois nos primeiros dois anos durante a fase de conversão do convencional para o orgânico é muito desgastante onde há uma forte pressão externa, desde as revendas de agroquímicos até de vizinhos e conhecidos que procuram desestimular a continuidade do processo, alegando a ocorrência de perdas econômicas com relação o sistema convencional. A comercialização é realizada através da APOL e os produtos são destinados principalmente para Curitiba onde se obtém os melhores preços e já há um canal de escoamento tanto para o mercado nacional como para exportação. No caso da soja é exportada para o Japão e o agricultor recebe um valor 55% a mais do que a soja convencional vendida no Brasil com o preço baseado na região de Ponta Grossa Pr. O agricultor afirma que compensa realizar o cultivo orgânico, pois vem obtendo uma remuneração satisfatória, porém o que determinou e continua presente na sua vida é a questão cultural e a consciência preservacionista, demonstrando com os membros de sua família a satisfação de estar contribuindo para a preservação do meio ambiente e produzindo alimentos saudáveis para a sociedade. Resultados - 1 A agricultura orgânica não é uma volta ao passado ou o uso de tecnologias primitivas para a produção. Necessita sim de pesquisa e orientação técnica para que os agricultores possam ter sucesso, pois não há pacotes tecnológicos prontos para serem usados em quaisquer circunstâncias. As técnicas devem ser adaptadas de acordo com cada realidade. Não é uma atividade exclusiva de mini ou pequenos agricultores, ou apenas de subsistência, havendo possibilidade de produção em escala e que atenda os padrões de qualidade exigidos pelos consumidores, pois é possível conciliar os tipos de lavouras, conforme as condições edafoclimáticas de cada região, assim como a disponibilidade de mão-de-obra, insumos naturais 4186 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2

e o gerenciamento das atividades. Resumos do VI CBA e II CLAA É uma prática importante e considerada estratégica para conservação da natureza, porém é preciso estar sempre atento as possibilidades de possíveis impactos ambientais, já que a produção orgânica aproveita também elementos disponíveis de forma natural no ambiente. Os produtos orgânicos têm um diferencial de preço acima daqueles produzidos de forma convencional, oferecendo ganhos econômicos aos agricultores, porém os principais valores são: a melhoria das condições ambientais e a saúde dos agricultores e consumidores. Descrição da Experiência 2 : O processo produtivo da mandioca de mesa na Comunidade Usina Três Bocas. A Comunidade da Usina Três Bocas esta localizada no Distrito Sede, na região sudeste do Município de Londrina Pr, distando a 15 km do centro da cidade e possui aproximadamente 90 propriedades rurais. É formada principalmente por pequenas propriedades, onde predomina a agricultura familiar, a qual é descrita por Abramovay et al. (1998), como sendo o setor da agricultura em que os gerentes ou administradores dos estabelecimentos rurais são também os próprios trabalhadores rurais e encaixando-se também na definição apresentada por Lamarche (1998), referindo-se a agricultura familiar moderna como sendo uma unidade de produção que procura conservar nela mesma todas as potencialidades necessárias, tanto de ordem técnico-econômico quanto social e cultural. Esta Comunidade é conhecida pela população da cidade de Londrina, devido à presença na localidade de uma Usina Hidroelétrica que funcionou até 1983 e também pelo cultivo da mandioca de mesa, realizado por inúmeros agricultores familiares em um processo de diversificação e rotação de culturas com batata-doce, amendoim, milho, inhame, cará e abóbora. A cultura da mandioca de mesa tem sua marca registrada e consolidada com a realização anual da Festa da Mandioca, que já chegou à sua nona edição. Para realização deste estudo de caso, foi delimitado uma área dentro desta comunidade á partir de um trecho de estrada denominado Periquitos, onde residem 32 famílias em 16 lotes e onde predomina o cultivo da mandioca de mesa. Foram entrevistadas 8 famílias. As propriedades rurais pesquisadas têm áreas entre 7,0 há e 15,73 há, com uma média de 12,29 há, sendo que um dos entrevistados, o qual ainda é agricultor, possui uma agroindústria de processamento, visando descascar e embalar a mandioca para sua comercialização. Este possui diversas áreas arrendadas onde são cultivados cerca de 48,4 há. De agricultor para empresário do ramo da mandioca, o Dito da Mandioca, como é conhecido, iniciou suas atividades a cerca de dez anos e hoje faz o processamento da mandioca dentro do seu próprio sítio, com 32 funcionários registrados e carteira assinada. A Idade dos entrevistados, que são proprietários dos lotes, variou de 35 a 59 anos, sendo que 80% tem entre 35 e 41 anos, demonstrando assim que é uma geração que permaneceu na terra mesmo passando pelo período conhecido como da revolução verde da década de 60 70, pois constatamos também que 80% reside nesta comunidade a mais de 30 anos. De acordo com os entrevistados os principais produtos agrícolas cultivados são: mandioca, batata-doce, milho e cará. Além destes também é cultivado em menores escalas o amendoim, inhame; abóbora, cebolinha, brócolis e inhame. Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 4187

No sistema de produção adotado pelos agricultores o preparo do solo é realizado com uso de tração mecânica; é realizado o sistema de rotação de culturas nos solos cultivados. Os tratos culturais, principalmente o controle de ervas daninhas efetua-se com o uso de tração animal e manual, enquanto a colheita é efetuada de forma manual. O plantio é realizada no espaçamento de 1,0 m x 0,60 m, com 16.666 plantas por hectare evitando-se a mistura de cultivares, pois estas apresentam desenvolvimento diferenciado, podendo comprometer o sucesso da lavoura. Por isso seguem algumas regras para seleção dos materiais destinado ao plantio,ou seja,utilizam apenas manivas maduras, provenientes de hastes de plantas com idade acima de doze meses; retiram o material para o plantio do terço médio das hastes das plantas e cortam as manivas com 20 cm de comprimento com diâmetro de mais ou menos 2,5 cm, tendo assim no mínimo sete gemas perfeitas. Com relação à adubação, 80% utilizam apenas adubo orgânico (cama de frango) e 20% nenhuma adubação. A cada três anos utilizam calcário para correção da acidez do solo. Quanto ao uso de agrotóxico 80% não utiliza nenhum tipo de defensivo agrícola e 20% utiliza eventualmente para o controle de pragas ou doenças. Não é utilizado sistema de irrigação para produção da mandioca, pois as precipitações são suficientes para o ciclo da cultura que é plantada principalmente entre os meses de julho e agosto. A época da colheita é variável, sendo que 20% colhe de Fevereiro a Junho, 40% de Maio a Agosto, 20% de Outubro a Dezembro e 20% o ano todo. Praticamente o ano todo e depende do mercado e da solicitação dos compradores. A produção total por ano e por família, sem considerar o Dito da Mandioca tem um máximo de 3.000 caixas de 22 Kg e mínimo de 400 caixas, sendo que é comercializado 70% para Curitiba, a qual é transportada por intermediários,. Os outros 30% são vendidos em Londrina através da Ceasa ou entregue descascada em supermercados da cidade. Do total cerca de 80% são comercializadas in natura e 20% já descascada. Os preços recebidos pela mandioca in natura varia de R$ 12,00 a R$ 2,00 por caixa, sendo o valor de R$ 4,00 o preço médio recebido. Quanto à mandioca já descascada, chega a ser comercializada em Curitiba no valor de R$ 40,00 por caixa. O custo médio, segundo os entrevistados gira em torno de R$ 1,50 por caixa de 22 quilos. Resultados - 2 A cultura da mandioca de mesa apresenta uma grande vantagem sobre a maioria das culturas, pois o agricultor aproveita as próprias manivas da lavoura anterior para realizar novo plantio, não necessitando assim ter gastos com sementes ou mudas. Os impactos ambientais são mínimos, pois a maioria dos agricultores não utiliza agrotóxico, nem adubação química, apenas adubação orgânica, com o uso da cama de frango, enquanto a mecanização é apenas para preparar o solo destinado ao plantio, enquanto o uso da tração animal e manual são utilizadas nas capinas. O sistema adotado é baseado na diversificação de lavouras, tendo a mandioca de mesa como principal produto e na rotação culturas o cultivo de batata-doce, cará, milho, inhame, amendoim e abóbora, as quais têm um baixo custo de produção e não utilizam agroquímicos. Contribuem para melhoria das condições física, química e biológicas do solo, utilizam basicamente a mão-de-obra familiar, apresentam uma margem de lucro satisfatória e tem comercialização garantida,ou seja, 4188 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2

o modelo observado tem estabilidade e viabiliza a agricultura familiar social e economicamente, preservando o meio ambiente. Referências ABRAMOVAY, R. (Coord.). Juventude e agricultura familiar: desejos dos novos padrões sucessórios, Brasília: UNESCO; 1998. LAMARCHE H.(Coord.). A agricultura familiar: comparação internacional. Campinas: UNICAMP; 1998. Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 4189