UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS ECONÓMICAS EMPRESARIAIS DETERMINANTES DO RATING SOBERANO

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Transcrição:

UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS ECONÓMICAS E EMPRESARIAIS DETERMINANTES DO RATING SOBERANO Manuel Bettencourt Soares Ferreira Orientador: Professor Doutor João Carlos Aguiar Teixeira Ponta Delgada, março de 2015

ii RESUMO Palavras-chave: rating soberano; agências de rating; crise financeira internacional; rating por regiões Esta dissertação avalia quais os fatores macroeconómicos, externos, governamentais e qualitativos que determinam o rating soberano atribuído pelas agências de notação Moody s, Fitch e Standard & Poor s, utilizando dados de painel de uma amostra de 86 países, agrupados em 7 regiões geográficas, entre os anos de 1993 e 2013. Investigamos, igualmente, se existem diferenças significativas nestas notações em função da região geográfica e do período anterior ou posterior ao início da crise financeira internacional, aprofundando mais detalhadamente a situação na Zona Euro, dado ser a região que inclui Portugal. Da estimação de um modelo típico de rating soberano resultou que existe uma relação estatisticamente significativa entre o rating soberano e variáveis como o PIB per capita, a taxa de crescimento real do PIB, o desemprego, a inflação, o investimento, a dívida externa, a conta corrente, o risco de liquidez, a dívida pública, o incumprimento, o índice de corrupção e a estabilidade política. Pelo contrário, as variáveis reservas/importações, termos de troca e saldo fiscal não têm um efeito estatisticamente significativo sobre o rating. Adicionalmente, verificamos que o rating soberano depende da região geográfica de cada país, além de que a crise financeira internacional, que se iniciou em 2008, tem um efeito negativo sobre o rating.

iii ABSTRACT Keywords: sovereign rating; rating agencies; international financial crisis; rating by regions This paper evaluates which macroeconomic, external, government and qualitative factors determines the sovereign credit rating assigned by rating agencies like Moody's, Fitch and Standard & Poor's, using a sample of panel data of 86 countries, grouped by 7 geographic regions, between 1993 and 2013. We also investigated whether there are significant differences in these ratings according to its geographical region and the period before or after the beginning of the international financial crisis, deepening in more detail the situation in the Eurozone, as it is the region that includes Portugal. From the estimation of a typical sovereign credit rating model resulted that there is a statistically significant relationship between the sovereign rating and variables such as the GDP per capita, the real growth rate of GDP, the unemployment, the inflation, the investment, the external debt, the current account balance, the liquidity risk, the government debt, the default history, the level of corruption and the political stability. On the contrary, the variables reserves/imports, terms of trade and fiscal balance have no statistically significant effect on the rating. Additionally, we find that the sovereign rating depends on the geographical region of each country, and that the international financial crisis, which began in 2008, has a negative effect on the rating.

iv AGRADECIMENTOS Um especial agradecimento ao meu orientador, Professor Doutor João Carlos Aguiar Teixeira, pelo apoio, dedicação, disponibilidade, ajuda e interesse que sempre demonstrou desde o início e ao longo da elaboração deste trabalho. À Direção Regional do Emprego e Qualificação Profissional, pelo suporte financeiro prestado no pagamento de propinas durante os dois anos que constituem o mestrado. À minha mulher Isabel Soares Ferreira, pelo incentivo e apoio que sempre demonstrou durante o período em que estive a estudar, quer na licenciatura, quer no Mestrado. Ao meu filho João Soares Ferreira, pela força que me transmite, mesmo nos momentos mais difíceis. A todos os meus colegas e amigos, quer de licenciatura e mestrado, quer pessoais, por terem contribuído para o meu crescimento e pelo incentivo. A todos o meu muito obrigado. A todos os professores que tive ao longo da vida, desde que iniciei o meu percurso escolar, por terem contribuído para a formação que tenho hoje. Aos meus pais, Antonieta Bettencourt e Albano Soares Ferreira, por terem contribuído muito para que eu seja a pessoa que sou hoje, sem eles não teria chegado tão longe. A todos os que não enunciei aqui, mas que não ficaram esquecidos os meus sinceros agradecimentos.

v ÍNDICE RESUMO... ii ABSTRACT... iii AGRADECIMENTOS... iv ÍNDICE... v LISTA DE TABELAS... vi LISTA DE FIGURAS... vii CAPÍTULO I INTRODUÇÃO... 1 CAPÍTULO II O MODELO DE RATING SOBERANO... 6 CAPÍTULO III DADOS E ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS... 15 3.1. Estatísticas descritivas da amostra completa... 17 3.2. Rating soberano e os efeitos de região e crise... 23 3.3. Rating soberano: o caso particular da Zona Euro... 25 CAPÍTULO IV RESULTADOS... 27 4.1. Determinantes do rating soberano... 27 4.2. Determinantes do rating soberano e os efeitos de região e crise... 32 CAPÍTULO V CONCLUSÕES... 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 41

vi LISTA DE TABELAS Tabela 1. Sumário das variáveis incorporadas no modelo de rating soberano.... 9 Tabela 2. Hipóteses testáveis do modelo de rating soberano... 10 Tabela 3. Escala de conversão do rating soberano.... 10 Tabela 4. Número de países e observações por cada país e região.... 16 Tabela 5. Estatísticas descritivas.... 18 Tabela 6. Incumprimento.... 21 Tabela 7. Correlações.... 22 Tabela 8. Estatísticas descritivas do rating soberano por região geográfica e por período temporal.... 24 Tabela 9. Resultados da estimação do modelo 1 de rating soberano.... 28 Tabela 10. Resultados da estimação do modelo 2 de rating soberano: efeito de região e crise.... 34 Tabela 11. Resultados da estimação do modelo 3 de rating soberano: efeito da crise para cada região.... 36

vii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Distribuição do rating soberano.... 19 Figura 2. Rating dos países da Zona Euro em 2007 e 2013.... 25 Figura 3. Evolução média do rating por região.... 37

1 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Mellios e Paget-Blanc (2006) e Petter (2002) definem o rating soberano como uma avaliação da capacidade de um governo fazer o pagamento atempado da sua dívida (capital e juros) aos seus credores/investidores. O rating soberano é, por isso, um indicador de potencial ocorrência de incumprimento por parte do pagamento da dívida de um governo, porém, diz respeito apenas à dívida soberana, não significando um risco de crédito de qualquer outro emitente de dívida que pertença àquele país. As notações de rating são atribuídas por agências de rating especializadas, com base em variáveis quantitativas que englobam dados económicos e financeiros e variáveis qualitativas respeitantes a aspetos políticos que estas agências consideram ser confiáveis para a avaliação da probabilidade de incumprimento. Cada agência de rating atribui uma classificação ao país, de acordo com o seu grau de solvabilidade, que poderá variar de AAA (Fitch e Standard & Poor s) ou Aaa (Moody s), notação mais elevada, até D e Caa, respetivamente, notação mais reduzida. Um rating de crédito entre AAA e BBB- é utilizado para designar uma dívida de Investment Grade (Grau de Investimento), enquanto a dívida classificado BB+ a D é considerada como Speculative ou High Yield (Especulativa ou de Alto Rendimento). Embora as três agências utilizem símbolos diferentes nas suas classificações, há uma correspondência entre os diferentes sistemas de classificação. As notações de rating soberano deixaram de ser estáveis, passando a ter maiores e mais frequentes oscilações, em muito devido à recente crise financeira internacional que tem vindo a criar dificuldades acrescidas para a economia mundial. Este efeito é visível mesmo em países que detinham o nível máximo de rating, como a Áustria, a Espanha, os Estados Unidos da América, a França e a Irlanda, os quais viram a sua notação

2 descer, embora em um ou em poucos níveis, desde o início da referida crise. De igual modo, Portugal, que vinha mantendo a sua notação em níveis considerados como dívida de investimento desde 1998, viu o seu rating cair a partir de 2010 para níveis considerados como dívida especulativa ou lixo. Neste sentido, torna-se fundamental o estudo dos determinantes do rating soberano, em particular se este estudo for transversal aos países mais desenvolvidos e aos países em vias de desenvolvimento, e se também incluir os anos mais recentes em que foram afetados pela crise financeira internacional. Além disso, este tópico é muito relevante porque as decisões de investimento dos investidores de dívida soberana são em grande parte determinadas pelo rating soberano atribuído pelas principais agências, com implicação direta nas taxas de juro implícitas. São vários os estudos empíricos que analisaram o impacto de fatores económicos nos ratings soberanos e na dificuldade de cada país em solver os seus compromissos no pagamento de dívida externa, destacando-se os estudos de Feder e Uy (1985), Cantor e Packer (1996), Haque, Kumar, Mark e Mathieson (1996), Larrain, Helmut e Maltzan (1997), Jüttner e McCarthy (2000), Monfort e Mulder (2000), Mulder e Perrelli (2001), Afonso (2003), Pellegrini e Gerlagh (2004), Mellios e Paget-Blanc (2006), Depken (2006), Hilscher e Nosbusch (2007), Afonso, Gomes e Rother (2007) e Afonso, Gomes e Rother (2009). O principal objetivo desta dissertação consiste precisamente em avaliar que fatores económicos ou que outros fatores determinam o rating soberano. Em particular, pretende-se desenvolver um modelo de determinantes do rating soberano, utilizando dados de painel de uma amostra de 86 países, em que a variável dependente consiste na média do rating atribuído pelas agências de rating Moody s, Fitch e Standard & Poor s para cada ano e as variáveis explicativas consistem num conjunto de

3 variáveis macroeconómicas, externas, governamentais e qualitativas, seguindo de perto os estudos de Mellios e Paget-Blanc (2006) e de Afonso et al. (2007) e abrangendo o período de 1993 a 2013. A análise dos determinantes do rating soberano segue a seguinte estrutura. Em primeiro lugar, procede-se à estimação de um modelo base, típico de rating, que assume como variável dependente a média do rating soberano, para cada ano, do rating atribuído pelas agências de rating Moody s, Fitch e Standard & Poor s e quatro vetores de variáveis explicativas. O primeiro vetor diz respeito a variáveis macroeconómicas e inclui o PIB per capita, a taxa de crescimento real do PIB, o desemprego, a inflação e o investimento. O segundo vetor incorpora variáveis externas, tais como a dívida externa, as reservas/importações, a conta corrente, os termos de troca e o risco de liquidez. O terceiro vetor compreende as variáveis governamentais, como a dívida pública e o saldo fiscal. Por fim, o quarto vetor, o qual designamos por variáveis qualitativas, incorpora variáveis como o incumprimento, a estabilidade política e o índice de corrupção. Com esta estimação pretende-se comparar os resultados obtidos com os estudos empíricos já existentes e perceber o impacto destas variáveis no rating soberano. Em segundo lugar, expandimos o modelo original no sentido de analisar a existência de um efeito de região geográfica e de crise financeira no rating soberano. Em particular, tentamos perceber se existem diferenças significativas no rating atribuído aos países das regiões de África, América do Norte, América Latina, Ásia, Oceania, Zona Euro e Resto da Europa (onde não se incluem os países da Zona Euro). Procuramos também avaliar o efeito da recente crise financeira internacional sobre o rating soberano, não só transversalmente a toda a amostra, mas também por região geográfica.

4 Esta dissertação contribui para a literatura sobre os determinantes do rating soberano em três aspetos fundamentais. Em primeiro lugar, incorpora um vetor de variáveis qualitativas (não económicas), que abrange variáveis como o histórico de incumprimento, a estabilidade política e o nível de corrupção, o que possibilita perceber o impacto dessas variáveis qualitativas na notação de rating atribuída pelas agências de rating. Em segundo lugar, o período amostral contempla as duas últimas décadas, englobando um período anterior à crise financeira que teve início em 2008 e os anos mais recentes, permitindo examinar o efeito da crise sobre o rating. Por fim, avalia também um efeito de região geográfica sobre o rating, conjugado com o efeito de crise. Os resultados da estimação do modelo de rating demonstram que países com maior estabilidade política e menor nível de corrupção tendem a ter notações de rating mais elevadas, bem como países com taxas de desemprego mais reduzidas. Além disso, verifica-se, por um lado, que os países com níveis mais elevados de investimento e de PIB per capita tendem em ter melhores classificações de rating e, por outro lado, que os países com maior proporção de dívida pública têm, em média, piores classificações de rating soberano. Adicionalmente, demonstramos existir uma relação estatisticamente significativa entre o rating soberano e o crescimento real do PIB, a inflação, a dívida externa, a conta corrente, o risco de liquidez e o incumprimento. Da estimação resultou não existir uma relação estatisticamente significativa entre o rating soberano e as variáveis reservas/importações, termos de troca e saldo fiscal. Verifica-se que o rating soberano tende a ser superior nos países da Zona Euro e nos países da América do Norte, seguindo-se o Resto da Europa, a Oceania, a Ásia, a África e por fim a América Latina. Estes resultados evidenciam existir um efeito de região geográfica sobre o rating.

5 Os resultados apontam também para a existência do efeito de crise transversal à amostra e para cada região isoladamente, no sentido em que as regiões como a África, a América do Norte, a América Latina, a Oceania, a Zona Euro e o Resto da Europa tendem a ter um rating inferior no período de crise, por comparação com o período anterior à crise, sendo a Zona Euro a região em que a crise tem um maior impacto na queda do rating soberano. Pelo contrário, na Ásia o rating tende a ser superior no período de crise, por comparação com o período anterior à crise. O remanescente da dissertação está organizado da seguinte forma. No capítulo II, apresenta-se o enquadramento teórico e empírico do modelo de rating soberano, seguindo-se, no capítulo III, a descrição dos dados e a interpretação das estatísticas descritivas. No capítulo IV, discutem-se os resultados da estimação do modelo de rating soberano, com destaque para os efeitos de região e de crise. Por fim, no capítulo V, expõem-se as conclusões do estudo.