MONITORAMENTO CARTOGRÁFICO DA LINHA DE COSTA AO SUL DA ILHA DE ITAMARACÁ



Documentos relacionados
EVOLUÇÃO DA VULNERABILIDADE À EROSÃO DAS PRAIAS DA ILHA DE ITAMARACÁ PE, COMO SUBSÍDIO PARA UM MONITORAMENTO DA MORFOLOGIA PRAIAL.

Geotecnologia aplicadas à análise histórica humana /intervenções urbanas e evolução da linha de costa

MAPEAMENTO DIGITAL DE AMBIENTES COSTEIROS COM APOIO DE IMAGENS DE SATÉLITES E DADOS GNSS

O Enfrentamento à Vulnerabilidade Costeira de Pernambuco

METODOLOGIA PARA O GEORREFERENCIAMENTO DE ILHAS COSTEIRAS COMO SUBSÍDIO AO MONITORAMENTO AMBIENTAL

VARIABILIDADE DA LINHA DE COSTA E VULNERABILIDADE À EROSÃO DA PRAIA DE SÃO JOSÉ DA COROA GRANDE, LITORAL SUL DE PERNAMBUCO, BRASIL.

Uso do gvsig aplicado no estudo da erosão marginal na Foz do Rio Ribeira de Iguape/SP/Brasil

15- Representação Cartográfica - Estudos Temáticos a partir de imagens de Sensoriamento Remoto

ANÁLISE COMPARATIVA DAS DERIVAÇÕES ANTROPOGÊNICAS EM ÁREAS DE MANGUEZAIS EM ARACAJU-SE. Geisedrielly Castro dos Santos¹

FICHA PROJETO - nº 172 MA

OS ESTUÁRIOS NA MARGEM CONTINENTAL SUL dialética do acontecimento sedimentar

LAUDO TÉCNICO DA PRAIA DA PONTA NEGRA MANAUS - AM

Mudança da Linha de Costa à Médio Prazo das Praias do Pina e da Boa Viagem (Recife PE)

Case Costa Brasileira: Gerenciamento Costeiro de Pernambuco RECIFE, NOVEMBRO 2014

CARACTERIZAÇÃO VOLUMÉTRICA DAS PRAIAS DO PINA E DA BOA VIAGEM, RECIFE (PE) BRASIL

Geomorfologia e Planejamento. Rosangela do Amaral Geógrafa, Pesquisadora Científica Instituto Geológico - SMA

DETECÇÃO DE MUDANÇAS ANTRÓPICAS NO AMBIENTE PRAIAL EM BOA VIAGEM RECIFE - PE

I Seminário SIGCidades: Cadastro Territorial Multifinalitário. Fundamentos de Cartografia aplicados aos SIGs

Anderson Gomes de Almeida 1, Alberto Garcia de Figueiredo Jr. 2, Gilberto Pessanha Ribeiro 3

ANALISE TEMPORAL DA EVOLUÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE NITERÓI RJ, USANDO O PROGRAMA SPRING.

INVENTÁRIO DAS FONTES POLUIDORAS/CONTAMINANTES DOS RECURSOS VIVOS MARINHOS DO BRASIL

Bruno Rafael de Barros Pereira 1 Venerando Eustáquio Amaro 1,2 Arnóbio Silva de Souza 1 André Giskard Aquino 1 Dalton Rosemberg Valentim da Silva 1

45 mm INDICADORES DE PALEOLINHAS DE COSTA E VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR NA PLATAFORMA CONTINENTAL SUL DE ALAGOAS

DINÂMICA DA PAISAGEM NA FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO A PARTIR DE IMAGENS LANDSAT E CBERS. ALMEIDA, J. A. P. de 1 ; GOMES, L. J. 2

CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL COM BASE NOS PARÂMETROS CURRICULARES DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Mapeamento digital da área urbana na frente erosiva em Atafona e progradacional em Grussaí, São João da Barra (RJ): impactos urbanos e ambientais

45 mm. Palavras-chave: Erosão costeira, Georreferenciamento, Transporte de sedimentos.

IMPACTOS AMBIENTAIS EM ÁREA DE RIO SÃO FRANCISCO, PETROLINA PE.

GEONFORMAÇÃO PARA NÃO ESPECIALISTAS

DECRETO Nº , DE 17 DE OUTUBRO DE 2008

ORIENTAÇÃO PARA A PRODUÇÃO DE MATERIAL CARTOGRÁFICO PARA AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL - AIA

Bloqueio atmosférico provoca enchentes no Estado de Santa Catarina(SC)


MÉTODO DE ANÁLISE DA VULNERABILIDADE COSTEIRA À EROSÃO

; leilanecabofrio@hotmail.com. brunolopescosta@gmail.com ;

P L A N I F I C A Ç Ã O A M É D I O P R A Z O

IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO: EFEITOS DA ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR

MORFODINÂMICA DA ZONA DE ARREBENTAÇÃO NA PRAIA DO CASSINO EM EVENTOS DE MARÉ METEOROLÓGICA

Colégio Estadual do Campo Professora Maria de Jesus Pacheco Guimarães E. F. e M. Uma História de Amor ao Guará

A importância das dunas frontais na avaliação da evolução da linha de costa- O caso da Praia da Manta Rota

Projeto Cidade da Copa : influência na mobilidade da Zona da Mata Norte do Estado de Pernambuco

SISTEMAS DE COORDENADAS E PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS. Prof. M.Sc. César Vinícius Mendes Nery vinicius.nery@ifnmg.edu.br Skipe: vinicius_nery

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO Secretaria de Habitação e Meio Ambiente Diretoria de Licenciamento e Avaliação Ambiental

O CENSO 2010: BREVE APRESENTAÇÃO E RELEVÂNCIA PARA A GEOGRAFIA

Figura 1: Localização da Praia de Panaquatira. Fonte: ZEE, Adaptado Souza, 2006.

11.1. INFORMAÇÕES GERAIS

Introdução à Geodésia

MESA 4 - Acidentes e desastres naturais

ANEXO CHAMADA III DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES PARA GESTÃO E AVALIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS

VARIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE E VULNERABILIDADE À AÇÃO DE PERIGOS COSTEIROS NA PRAIA DOS INGLESES (FLORIANÓPOLIS-SC) ENTRE 1957 E 2009

MONITORAMENTO MORFOLÓGICO DAS PRAIAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO BRASIL: ANÁLISE TEMPORAL E ESPACIAL RESUMO

Universidade do Vale do Rio dos Sinos Programa de Pós-Graduação em Geologia Laboratório de Sensoriamento Remoto e Cartografia Digital

Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014 Aracaju, Brasil, novembro 2014

2.2 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

MAPEAMENTO COSTEIRO. DINÂMICA COSTEIRA E MONITORAMENTO GEODÉSICO DA LINHA DE COSTA.

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RURAL NOS MUNICÍPIOS DO CENTRO- SUL PARANAENSE NO PERÍODO DE 2000 A 2010

2.1. Projeto de Monitoramento Batimétrico. Revisão 00 NOV/2013. PCH Senhora do Porto Plano de Controle Ambiental - PCA PROGRAMAS AMBIENTAIS

praiais estuarino manguezais

MATÉRIA 6º 2º Dez/13 NOTA

Pagamentos por Serviços Ambientais no Corredor das Onças - Remuneração pela conservação de Puma concolor

O LUGAR PERFEITO PARA SUA FAMÍLIA RESIDENCIAL

Análise da rede de monitoramento hidrometeorológico do estado de Sergipe

RECUO DA LINHA DE COSTA/DEFENDER OU RETIRAR?

Evolução da paisagem costeira da Coroa do Meio e Atalaia, Aracaju-SE

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO / DIURNO PROGRAMA DE DISCIPLINA

ESPÍRITO SANTO: projetos e obras. hidráulica -DER-ES -

OS VENTOS, AS ONDAS E AS MARÉS COMO AGENTES GEOLÓGICOS DE SUPERFÍCIE MODELADORES DAS FAIXAS LITORÂNEAS ARTIGO 9. Pelo Geólogo Josué Barroso

ANÁLISE MULTITEMPORAL DO PADRÃO DE CHUVAS DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO NO ÂMBITO DOS ESTUDOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

AVALIAÇÃO DA BALNEABILIDADE DAS PRAIAS DO MUNICÍPIO DE SANTOS/SP NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

EXPANSÃO DA SOJA PARA A PORÇÃO NORTE DO BIOMA CERRADO NO ESTADO DO PIAUÍ

MAPEAMENTO DE PRECISÃO DA DINÂMICA COSTEIRA DE CURTA DURAÇÃO EM ÁREAS DE ALTA TAXA DE EROSÃO NO NORDESTE DO BRASIL.

Município de Colíder MT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS CCHN DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DEFESA DE MONOGRAFIA

GEOPROCESSAMENTO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE NOS IMPACTOS AMBIENTAIS: MINERADORA CAMPO GRANDE TERENOS/MS.

MAPEAMENTO DE FRAGILIDADE DE DIFERENTES CLASSES DE SOLOS DA BACIA DO RIBEIRÃO DA PICADA EM JATAÍ, GO

Laboratório de Oceanografia Geológica

Definiu-se como área de estudo a sub-bacia do Ribeirão Fortaleza na área urbana de Blumenau e um trecho urbano do rio Itajaí-açú (Figura 01).

Sensoriamento Remoto. Características das Imagens Orbitais

Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini Novembro 2014

2 ASPECTOS DEMOGRÁFICOS

04 a 06 de Novembro de 2015 Cuiabá - MT

EROSÃO E PROGRADAÇÃO DO LITORAL BRASILEIRO

PADRONIZAÇÃO DE MAPAS AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA FAUNA BRASILEIRA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS UNICAMP.

UMA ANÁLISE DO ESTADO DA ARTE RESULTANTE DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL

Colégio Estadual do Campo Professora Maria de Jesus Pacheco Guimarães E. F. e M. Uma História de Amor ao Guará

7ºano 2º período vespertino 25 de abril de 2014

LEVANTAMENTO DEMOGRÁFICO E ESTUDO DA QUALIDADE DE VIDA COMO SUBSIDIO A GESTÃO TERRITORIAL EM FRANCISCO BELTRÃO ESTADO DO PARANÁ BRASIL

SEMINÁRIO NACIONAL de GERENCIAMENTO COSTEIRO Brasília, 04 de novembro de 2014.

Relatório Técnico-Executivo Referente aos Serviços Prestados pela UNESP/FEG através Empresa JR. ENG

16- Representação Cartográfica - Estudos Temáticos a Partir de Cartas Topográficas

4. ÁREA DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO

Projeto da Rede Coletora de Esgoto Sanitário. Profª Gersina Nobre

PRAIA DO SACO EM ESTÂNCIA/SE: análise dos processos de uso e ocupação do solo costeiro

45 mm VARIAÇÕES NA LINHA DE COSTA EM PRAIAS URBANAS: O CASO DO LITORAL OESTE DE FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL.

CLASSIFICAÇÃO HEMERÓBICA DAS UNIDADES DE PAISAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CARÁ-CARÁ, PONTA GROSSA PR

Variação da Linha de Costa da Praia do Janga/Paulista-PE, através da Técnica de Fusão de Imagens Orbitais CBERS HRC/CCD

GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO PLANEJAMENTO URBANO UM OLHAR SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM URBANA OCORRIDAS NO BAIRRO JABOTIANA, ARACAJU/SE.

TRILHA DO CONHECIMENTO SANEAMENTO. ARCGIS - AÇÕES COMERCIAIS NO DMAE Fernando André Neuwald

Transcrição:

MONITORAMENTO CARTOGRÁFICO DA LINHA DE COSTA AO SUL DA ILHA DE ITAMARACÁ MARCIA CRISTINA DE SOUZA MATOS CARNEIRO 1 MARIA DAS NEVES GREGÓRIO 2 JOSILENE PEREIRA LIMA 3 CARLOS ALBERTO PESSOA DE MELLO GALDINO 4 1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Unidade Estadual de Pernambuco, Recife, PE 2 Instituto de Tecnologia de Pernambuco ITEP 3,4 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Centro de Tecnologia e Geociências - CTG Departamento de Engenharia Cartográfica, Recife, PE carmarcia@gmail.com, nevesgregorio@hotmail.com, josilenelima2003@yahoo.com.br, carlosapmg@hotmail.com RESUMO - A representação do espaço físico pela Cartografia fornece excelentes contribuições para diversas pesquisas, entre eles o monitoramento do litoral para subsidiar os planos de Gestão Costeira Sustentável. O objetivo da pesquisa é mapear a linha de costa (LC) do litoral ao sul da Ilha de Itamaracá, no estado de Pernambuco - Brasil, com base em imagens e documentos cartográficos existentes, compondo série histórica de sua posição dinâmica espacial. Para tanto, foi elaborado um estudo de monitoramento cartográfico utilizando fotografias aéreas 1974 e imagens de satélite Quickbird de 2005 e Wordview 2 2014. Nestes documentos cartográficos foram traçadas a LC para cada ano, utilizando-se a linha de 1974 para comparação da variação dos demais anos. No cálculo da variação da LC constata-se que, no período de 40 anos esta zona costeira experimentou média de deslocamento: no setor 1, de 1975-2014 de até 1,268metros de progradação (acresção); enquanto que, no Setor 2 no período entre 2005-2014 de até -7 metros de retração (erosão). Além disso, foi realizado o monitoramento do deslocamento do spit o qual experimentou progradação 32.740,584m², entre 1974 a 2014. O estudo comprova que é possível quantificar estatisticamente a dinâmica praial fornecendo subsídios para quantificar cenários atuais e futuros dos impactos costeiros. ABSTRACT - The physical space representation made by cartography provides outstanding contributions to several surveys, including monitoring coastal zone to subsidize Sustainable Coastal Management plans. The research objective is to map the coastline (LC) of coast south of Itamaracá in the state of Pernambuco - Brazil, based on existing cartographic documents and images, composing his historical series of dynamic spatial positiont. To this end, a cartographic monitoring study using aerial photographs 1974 and satellite images QuickBird from 2005 and Wordview 2014 was prepared. In these cartographic documents were drawn a LC for each year, using the line from 1974 to compared to variation in other years. The LC variation calculus exhibit that in over 40 years this coastal zone experienced an average shift: in sector 1 in the timeframe between 1975 until 2014 up to 1.268 meters of progradation (accretion); while in Section 2 between 2005 to 2014 meters up to - 7 retraction (erosion). Moreover, the spit displacement monitoring which experienced progradation of 32740.584 m² from 1974 to 2014 was performed. The study proves that it is possible to statistically quantify the beach dynamics providing subsidies to quantify current and future coastal impacts scenarios. 1. INTRODUÇÃO A ocupação do espaço litorâneo é uma tendência mundial. Segundo a Agenda 21 Internacional, BRASIL (1998), no Item 17.3, cerca de 75% da população do planeta vive na faixa de 70km da orla. Esta tendência foi intensificada no início do século passado devido à modernização e a ampliação das áreas portuárias e pela valorização das atividades de turismo e lazer 271

A franja costeira possui uma das feições mais dinâmicas do planeta e sua posição varia em inúmeras escalas temporais, afetadas por grande número de fatores de origem natural intrinsecamente interligado, e outros, provocados por intervenções humanas em suas proximidades, como dragagens, portos, represas, entre outras obras de engenharia. As praias são depósitos de sedimentos não consolidados, constituídos geralmente por areias, cascalhos, conchas, entre outros, acumulados predominantemente pela ação das ondas que, por apresentarem mobilidade, se ajustam às condições hidrodinâmicas (Suguio, 1992). Considera-se um importante elemento de proteção costeira, ao mesmo tempo em que são amplamente usadas para o turismo e o lazer. O ambiente praial, na realidade, é um pouco mais amplo do que o termo praia. Estende-se de pontos permanentemente submersos, situados além da zona de arrebentação, onde as ondas de maior altura já não selecionam nem mobilizam materiais, até a faixa de dunas e/ou escarpas que fica à retaguarda do ambiente (Bird, 1996). As tecnologias empregadas na cartografia possibilita excelente apoio no monitoramento cartográfico. Permitindo que sejam obtidos resultados mais consistentes e mais abrangentes, uma vez que os mapas ou imagens entre outras fontes mostram toda a área de interesse em uma escala compatível, tornando compreensíveis áreas em que o acesso terrestre é impraticável. Através das imagens de satélite ou fotografias aéreas podem ser obtidos produtos com diversos enfoques, como: planejamento do uso espaço geográfico costeiro sustentável, identificação e análise de aspectos de crescimento populacional do meio físico a partir dos ambientes costeiros, e da ocupação humana na zona litorânea estudada. Além disso, fornece excelentes contribuições para diversas pesquisas, trabalhos técnico-científicos, entre eles os planos de Gestão Costeira Sustentável, principalmente em áreas que sofrem diversas alterações na sua morfologia causadas por mudanças naturais, mudanças climáticas ou ações antrópicas a partir da ocupação humana, como por exemplo, a zona costeira, área de estudo desta pesquisa. O município da Ilha de Itamaracá, área selecionada para o estudo, esta situada a 50 km da cidade do Recife, no litoral norte do estado de Pernambuco, integra a Região Metropolitana do Recife e, tem no turismo de segunda residência a sua principal fonte de atividade econômica. Diversos estudos (Costa, 2002; Lima, 2001; CPRH, 2001; Morais, 2000; Lira, 1997; Martins, 1997) apontam que a zona costeira da Ilha apresenta problemas ambientais, tais como: a intensificação da erosão costeira, a destruição de atrativos naturais e a perda da balneabilidade das praias; e consideram que a ocupação antrópica das praias s é a principal causa do cenário atual. Destacam também, que esta ocupação tem gerado conflitos entre o uso urbano e o turismo de lazer, e como consequência destas construções nas praias ocorre à destruição dos atrativos naturais e a perda da balneabilidade devido ao grande número de medidas de contenção presentes (CPRH, 2001) O objetivo da pesquisa foi comprovar a utilização de documentos cartográficos utilizando séries históricas, para analisar, avaliar e identificar a dinâmica da linha de costa da praia do Forte Orange, localizada ao sul da Ilha de Itamaracá, no estado de Pernambuco - Brasil. Para tanto, foram elaborados dois recortes nesta praia, sendo o primeiro mais ao sul do Forte Orange, denominado de setor 1, e o segundo, mais ao norte do Forte, chamado de setor 2. No monitoramento cartográfico foram analisados documentos dos 1974, 2005 e 2014. 2. ÁREA DE ESTUDO A Ilha de Itamaracá localiza-se no estado de Pernambuco, com coordenadas geográficas latitude 07 o 44 52,80 S e longitude 34 o 49 33,60 W.Gr., e sua área territorial é de 66,70km². Segundo Censo 2010 (IBGE,2010) possui uma população de 21.884 habitantes. De acordo com Rodrigues (1983, In: Moraes, 2000), a Ilha deve ter se separado do continente após a deposição dos sedimentos da Formação Barreiras, já que os mesmos podem ser encontrados tanto na Ilha como no continente. A parte oceânica da Ilha tem aproximadamente 16 km de extensão, formada pelas seguintes praias no sentido de sul para norte: Forte Orange, São Paulo, Forno da Cal, Pilar, Jaguaribe, Sossego, Enseada dos Golfinhos e Fortim. Conforme a Figura 2 observa-se mapa com as fotografias georreferenciadas ilustrando o complexo estuarino de Itamaracá, que compreende ilhas, praias, dunas, reentrâncias, baías, spit e manguezais, que recebem água de uma representativa rede hídrica, onde dois rios nascem na própria Ilha, o Jaguaribe que deságua no oceano Atlântico e o Paripe, que deságua no canal de Santa Cruz. Esta Ilha possui uma área estuarina rica em recursos naturais e beleza paisagística. 272

Figura 1 Mapa de Localização ilha de Itamaracá- PE 3 METODOLOGIA Diferentes documentos cartográficos podem ser adotados para o monitoramento cartográfico. Os documentos mais usuais são fotografias aéreas, imagens de satélites, mapas e ortofotocartas. 3.1 Monitoramento Cartográfico da Linha de Costa A metodologia utilizada nesta pesquisa fundamentou-se na aplicação dos documentos cartográficos aliada aos levantamentos bibliográficos e trabalho em campo, permitindo a compreensão e a análise da linha de costa e a dinâmica do litoral elegido no estudo. Para a validação do estudo, foi selecionado um recorte dividido em dois setores da praia do Forte, tendo sido geradas séries temporais dos anos de 1974, 2005 e 2014, visando monitorar, mensura e analisar a evolução na linha de costa, assim como estudar as mudanças do spit formado na parte mais ao sul do litoral. A análise da linha de costa ao sul da Ilha foi determinada através da utilização fotografia aérea de 1974, pancromática (voo na escala 1:6.000), aliado a imagens de satélite: colorida QuickBird de 2005 e WorldView 2colorida de 2014, perfazendo um período de monitoramento de 40 anos. As imagens foram obtidas junto ao Departamento de Cartografia da Universidade Federal de Pernambuco (DECART-UFPE) - LABOGEO, enquanto que a fotografia aérea foi disponibilizada pela Agencia CONDEPE/FIDEM. As imagens foram geoprocessadas através do software ArcGIS 10.1, no sistema UTM (Universal Transversal Mercator) e South American Datum SIRGAS 2000. Sendo definida como linha de costa, a linha da última maré, identificada através da linha de deixa, para o delineamento e comparação entre as variações espaciais e temporais. Foi traçada uma linha de Costa (LC) para cada ano, utilizando-se a linha de 1975 para comparação da variação dos demais anos. O calculo da variação da linha de costa de retração e progradação foi realizado no modo automático da extensão DSAS (software ArcGIS 10.1), através das distancias dos transectos entre a linha de 1975/2014 e 2005/2014, 273

equidistante entre si 5 metros. Aliado a este estudo, foi realizado o deslocamento do spit ao Sul da Ilha no mesmo programa e um caminhamento ao longo da área se estudo. Figura 2 Mapa ilustrando recorte costeiro do estudo - Ilha de Itamaracá- PE, com fotografias georreferenciadas. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados do caminhamento e do deslocamento da linha de costa se encontram representados nas figuras de 1 a 16 e Tabelas 1 e 2. 4.1 Caracterização da linha de costa ao Sul da Ilha de Itamaracá O trecho estudado localizado ao sul da ilha foi dividido em dois setores, assim distribuído: O Setor 1 está localizado ao sul da ilha, entre o Forte Orange e a desembocadura do canal do Santa Cruz (figuras 3, 5 e 10), apresentou 274

um ambiente sem obras de contenção e com um pontal arenoso próximo a ao canal do Santa Cruz - Spit (Figura 3). O Setor 2, está localizado ao Norte do Forte Orange. Em frente ao mesmo se encontram vestígios da antiga construção do forte, sendo esta exposta, pelas ações das ondas (Figura 4). Ao lado Norte do Forte se encontra ambiente praial que se caracteriza pela presença de vegetação natural sobre dunas incipientes, porém a linha de deixa se encontra no limite da linha de vegetação, não apresentando assim um ambiente praial desenvolvido (Figura 5). Ao norte do forte foi observado à retroação da linha de costa (erosão), com a presença de escarpas erosivas próxima ao Projeto Peixe Boi (Figura 6), também ao norte da área de estudo se encontra uma construção de contenção a erosão marinha, do tipo muro de arrimo (figuras 7 e 8), onde o mesmo é cortado pela linha de deixa, no muro de contenção pôde-se observar a presença de bivalves, representando um bioindicador da interface da maré (figuras 9 e 10). Figura 3 - Desembocadura do canal do santa Cruz ao da Ilha de Itamaracá. Figura 4 - Vestígios de antiga construção do Forte Orange Figura 5 - Linha de vegetação e linha de deixa ao norte do Forte Orange. Figura 6 - Escarpas erosivas próximas ao projeto Peixe Boi. 275

Figura 7 - Muro de contenção obstruindo a linha de preamar máxima durante a maré baixa. Figura 8 - Visão da linha da preamar máxima durante a maré alta. Figura 9 - Muro de contenção com uma linha de indicador biológico da interface da maré. Figura 10 - Incrustação de bivalves no muro de arrimo, indicando a altura da interface da maré 4.2 Deslocamento da Linha de Costa As Linhas de Costas de 1974, 2005 e 2014 foram traçadas nos documentos cartográficos georreferenciados, conforme ilustras as figuras 11, 12 e 13. No setor 1 os resultados do deslocamento da linha de costa entre os anos de 1974 a 2014 apresentou uma média positiva (tabela 1), com uma taxa média no valor de 1,268 m/ano e entre os anos de 2005 e 2014, também foi positivo, 0,796 m/ano. Portanto, calcula-se que deslocamento médio durante 40 anos (1974 2014) foi de 50,72 metros. Enquanto que, o deslocamento médio entre 2005 e 2014 (9 anos) foi de 7,164 metros. Constata-se neste setor que a praia esta experimentando uma progradação. O setor 2 os valores médios das taxas de deslocamento LC foram negativas para os dois períodos, nos valores de -1,107 e -7,000 m respectivamente. Assim sendo, encontra-se um deslocamento médio da LC durante 40 anos (1974 2014) de - 44,28metros. Em quanto que, o deslocamento médio da LC entre 2005 e 2014 (9 anos) foi de -63metros. Demonstrando assim retroação da linha de costa continuo durante o período analisado ao norte do forte Orange. Porém o maior valor de desvio padrão foi observado entre os anos de 2005 a 2014, onde também se encontra o maior valor negativo (Tabela 1 e Figura 2). Pode-se afirmar então, que a praia neste setor esta experimentando erosão. Tabela 1- Resultado Estatístico das Taxas de Deslocamento da Linha de Costa nos Setores 1 e 2. SETORES SETOR 1 (m) SETOR 2 (m) ANO 1975-2014 2005-2014 1975-2014 2005-2014 MÉDIA 1,268 0,796-1,107-7,000 DES. PAD. 0,610 1,401 0,383 4,855 276

Figura 11. Fotografia aérea pancromática georreferenciada (CONDEPE/FIDEM, 1974) da parte sul da Ilha de Itamaracá, na escala 1:5.000, onde encontra-se posicionamento da linha de costa de 1974 em amarela. Figura 12. Imagem de satélite Quickbird (2005) da parte sul da Ilha de Itamaracá, na escala 1:5.000, linha verde posicionada representa a linha de costa de 2005. Figura 13. Imagem de satélite Worldview (UFPE - LACCOST, 2014) da parte sul da Ilha de Itamaracá, na escala 1:5.000, linha vermelha posicionada representa a linha de costa de 2014. 277

Na Figura 14, mostra a imagem de satélite Worldview 2 (LACCOST, 2014) da parte sul da Ilha de Itamaracá, na escala 1:5.000, onde foi traçado : (1) linha de costa 1975 em amarelo; (2) linha de costa 2005 em verde; (3) linha de costa 2014, em vermelho; (4) a área posicionada em azul mostra a praia experimentando progradação, de 6.755,59 m², ou seja, acresção da praia da linha de costa de 2005 em relação à linha de costa 2014; e (4) a área em vermelho mostra a praia experimentando retração de 27.312,29m², ou seja, erosão da linha de costa de praia 2005 em relação à linha de costa 2014. O setor 1 além de apresentar valores positivos nas taxas de deslocamento, foi observado também um crescimento pontal arenoso (Spit) ao sul da ilha (Figura 15) entre os anos de 1974 a 2014 e 2005 a 2014, conforme ilustra a tabela 2 e as figuras 15 e 16. Tabela 2 - Resultado cálculo da área do pontal arenoso (Spit) do Setor 1. ÁREAS DO SPITS ( m² ) 1975 2005 2014 6.588,606 3.219,685 11.275,227 Na Imagem de satélite Worldview 2 (2014) da parte sul da Ilha de Itamaracá, Figura 15, delineia temporalmente a formação e deslocamento do spit, resulta-se que: (1) Spit em 1975, em amarelo possui uma área de 6588,606m² ; (2) Spit em 2005, em verde tem uma área de 3219,685m²; e (3) Spit em 2014, em rosa apresenta uma área de 11275,227m². Na figura 16, na imagem de satélite Worldview 2 (2014) da parte sul da Ilha de Itamaracá mostra em rosa à área total do Spit 39.329,19m², no período de 1974 a 2014. Maranhão et al. (2012) analisou o deslocamento da linha de costa de Itamaracá nos anos de 1974, 1989 e 2005, e verificou que dinâmica costeira não teve a mesma intensidade em toda linha de costa, alternando entre avanços e recuos. Além disso, foi constatado que ao sul da ilha apresentou um recuo de 80 metros entre 1974 a 1989, e 160metros entre 1989 e 2005, ou seja, um deslocamento de 8 metros por ano. Entretanto, foi observado na mesma pesquisa que o avanço do pontal (Spit) foi no valor de 159,1306m Figura 14. Imagem de satélite Worldview 2 (LACCOST, 2014) da parte sul da Ilha de Itamaracá, na escala 1:5.000, onde esta posicionada : (1) linha de costa 1975 em amarelo; (2) linha de costa 2005 em verde; (3) linha de costa 2014, em vermelho; (4) a área em azul mostra a praia experimentando progradação, de 6.755,59 m; e (5) a área em vermelho mostra a praia experimentando retrogradação de 27.312,29m², entre 2005 e 2014. 278

Figura 15. Imagem de satélite Worldview 2 (2014) da parte sul da Ilha de Itamaracá, na escala 1:2.000, onde esta encontra-se posicionada a formação e deslocamento do: (1) Spit em 1975 amarelo (área= 6588,606m² ); (2) Spit em 2005 verde (área= 3219,685m² ); (3) Spit em 2014 rosa (área= 11275,227m² ). Figura 16 Imagem de satélite Worldview 2 (2014) da parte sul da Ilha de Itamaracá, na escala 1:2.000, onde em rosa esta mostrando à área total do Spit 39.329,19m² (1974 a 2014) 4 CONCLUSÕES O objetivo da pesquisa foi alcançado e permitiu mostrar que o monitoramento cartográfico utilizando séries históricas, possibilita analisar e quantificar a dinâmica da linha de costa (LC) litoral ao sul da Ilha de Itamaracá. No cálculo da variação da LC constata-se que, no período de 40 anos esta zona costeira experimentou média de deslocamento: no setor 1, de até 50,72 metros de progradação (acresção). Enquanto que, o deslocamento médio entre 2005 e 2014 (9 anos) foi de 7,164 metros pode-se então afirmar que este trecho do litoral é caracterizado por uma praia com tendência à progradação, com estirâncio e ausência de obras de contenção. Conclui-se também que, no Setor 2 279

encontra-se um deslocamento médio da LC durante 40 anos (1974 2014) de - 44,28metros; e o deslocamento médio da LC entre 2005 e 2014 (9 anos) foi de -63metros. Demonstrando assim retroação da linha de costa neste setor 2 continuo durante o período analisado ao norte do forte Orange. Nesta parte da praia esta caracterizada pela ausência de pós-praia, por uma intensa ocupação e por um grande número de obras de contenção (muros e enroscamentos), que ocupam áreas consideráveis do estirâncio e atingem mais de dois metros de altura. Além da perda do valor cênico, estas estruturas rígidas ainda aceleram o processo erosivo na área, em especial pela ocorrência de bares junto às dunas frontais, representando a retirada da vegetação, o nivelamento da superfície sedimentar e, consequentemente, um aumento do risco potencial de erosão costeira, confirmando assim a tendência de erosão. Além disso, conclui-se também que o monitoramento do deslocamento do spit foi de 32.740,584m², entre 1974 a 2014, o qual experimentou progradação. O estudo comprova que é possível quantificar estatisticamente a dinâmica praial fornecendo subsídios para quantificar cenários atuais e futuros dos impactos costeiros. O cenário almejado para essa franja costeira é de um ordenamento costeiro urbano racionalmente sustentável, que permita que as próximas gerações experimentem as belezas naturais da ilha de Itamaracá, em especial : as praias de águas mornas, a coroa do avião, canal de Santa Cruz, manguezais, spit, os monumentos históricos (em especial o Forte Orange Século XVI), e o projeto Peixe-boi entre outros. E a vocação turística da Ilha será preservada. AGRADECIMENTOS Ao prof. Dr. Rodrigo Mikosz Gonçalves, Agencia CONDEPE/FIDEM e LACCOST (Laboratório de Cartografia Costeira), por ter disponibilizado documentos cartográficos e viabilizado a pesquisa. E a chamada Universal/CNPq14/2012 - Nº do Processo: 482224/2012-6 "Modelagem da dinâmica costeira na Ilha de Itamaracá/PE através de informações temporais da posição da linha de costa". REFERÊNCIAS BIRD, E. C. F., 1996. Beach Management. Chi-chester, J. Wiley & Sons. 281p. COSTA, J.A., 2002. Sedimentologia, hidrodinâmica e vulnerabilidade das praias no trecho entre a foz do Rio Mamucaba (Tamandaré PE) e a foz do Rio Persinunga (São José da Coroa Grande PE). Recife. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. 79p. CPRH COMPANHIA PERNAMBUCANA DO MEIO AMBIENTE, 2001. Diagnóstico Socioambiental do Litoral Norte. Recife. 254p. IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Censo Demográfico 2010. Rio de janeiro, 2010. LIMA, D. C. C., 2001. Delimitação da linha de costa atual e zoneamento da faixa litorânea como contribuição à gestão ambiental costeira do município de Tamandaré, Pernambuco Brasil. Recife. Monografia para conclusão de curso de especialização. Universidade Federal de Pernambuco. 54p. LIRA, A. R. A., 1997. Caracterização morfológica e vulnerabilidade do litoral entre as praias de Enseadinha e Maria Farinha, Paulista PE. Recife. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. 106p. MARANHÃO, V.C., SILVA, G. P., ADMILSON DA PENHA PACHÊCO, A. P., GONÇALVES, R. M., 2012.Sensoriamento Remoto Multitemporal no Estudo da Dinâmica Costeira de Itamaracá/PE. IV Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, p. 001 008. MARTINS, M. H. de A., 1997, Caracterização morfológica e vulnerabilidade do litoral da Ilha de Itamaracá PE. Recife. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. 108p. MORAIS, M. Z. C., 2000. Utilização do grau de desenvolvimento urbano (GDU) como instrumento de gestão ambiental: o uso e ocupação da zona costeira da Ilha de Itamaracá. Recife. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. 113p. SUGUIO, K., 1992. Dicionário de Geologia Marinha. T.A. Queiroz, Editor, 171p., São Paulo 280