Trabalho de Conclusão do Curso de Direito Sanitário



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Transcrição:

201 Trabalho de Conclusão do Curso de Direito Sanitário Débora Maria Barbosa Sarmento 1 Apesar de o homem desde a Antiguidade reconhecer a importância da saúde, o Estado Moderno, na consagração das declarações de direitos, limitouse a garantir aqueles direitos relacionados à noção de liberdade e igualdade formal, representando a saúde, neste contexto, apenas a preservação da vida. Com o surgimento do Estado Social, foram incorporados pelo di- blico bem como a prestação de serviços públicos que viabilizassem a fruição dos direitos sociais, como a saúde. medidas a serem adotadas pelos Estados para assegurarem tal direito. - e integralidade. Estabelece o art. 196 da Constituição da República: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de do-

202 ença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. ta, não dependendo da edição de outras normas para que produza efeitos. - da Constituição, nem pela via de emenda constitucional, o que exige do Tanto o Poder Legislativo como o Executivo devem atuar de modo a - nas hipóteses em que o Legislativo e Executivo forem omissos. Universalidade blicas de saúde, a prestação de serviço público de saúde deve alcançar a todos caput da CF/88). e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (CF/88, artigo 194, da Carta Magna, que dispõe sobre a universalidade da cobertura e do atendimento pela seguridade social. No direito brasileiro, à universalidade se relaciona a gratuidade no - e o atendimento, inclusive assistência farmacêutica.

203 Igualdade importa respeitar e observar as diferentes situações experimentadas pelos Numa sociedade plural, para se cumprir a obrigação de propiciar aces- - fornecimento de bens e serviços pertinentes à saúde, capaz de atendê-los, de modo a garantir igualdade material e não meramente formal. Integralidade - sistema. Em razão da integralidade, os serviços de saúde pública devem ofe- art. 198 da CF, que determina: Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:...ii - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; A integralidade da assistência à saúde foi expressamente consagrada, ainda, no recente Decreto 7.508/11, que regulamentou a Lei 8.080/90, o que demonstra sua relevância na prestação eficaz do serviço de saúde.

204 CONCEITO DE DIREITO SANITÁRIO - veio a ser regulamentado pelas Leis 8.080/90 e 8.042/90 e por diversas Portarias, Decretos e Resoluções. gerou o aprofundamento do estudo do tema, fazendo surgir um novo - promoção e recuperação tanto da saúde individual como da pública. Direito Sanitá-, ressalta que: O direito sanitário se interessa tanto pelo direito à saúde, enquanto reivindicação de um direito humano, quanto pelo direito da saúde pública: um conjunto de normas jurídicas que têm por objeto a promoção, prevenção e recuperação da saúde de todos os indivíduos que compõe o povo de determinado Estado, compreendendo, portanto, ambos os ramos tradicionais em que se convencionou dividir o direito: o público e o privado. 2 O novo ramo do Direito tem como escopo garantir a efetivação do e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. CASO CONCRETO - - 2 Sueli Dallari, Direito Sanitário

205 Ministro Celso de Mello, ao interpretar o conteúdo do art. 196 da CF, ma infraconstitucional. A despeito da necessidade do cauteloso exame do caso concreto e de ter o constituinte conferido prioridade prima facie à concretização do direito à por relator o Ministro Celso de Mello, em que se reconheceu o direito à AG.REG. NA SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPA- DA 175 CEARÁ EMENTA. Suspensão de Segurança. Agravo Regional. Saúde Regimental. Saúde pública.direitos fundamentais sociais. Art. 96 da Constituição. Audiência Pública. Sistema Único de Saúde SUS. Políticas Públicas. Judicialização do direito à saúde. Separação dos Poderes. Parâmetros para solução judicial dos casos concretos que envolvem direito à saúde; Responsabilidade solidária dos entes da Federação em material de saúde. Fornecimento de medicamento : Zavesca (miglustat). Fármaco registrado na ANVISA. Não comprovação de grave lesão à ordem, à economia, à saúde e à segurança pública. Possibilidade

206 de ocorrência de dano inverso. Agravo regimental a que se nega provimento. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 12.401/2011 Em uma clara tentativa do Governo Federal de reduzir a intervenção da Saúde, foi editada a Lei no. 12.401/11, que introduziu modificações na Lei 8.080/90. - agravo à saúde a ser tratado ou, na falta de protocolo, em conformidade com o disposto no art. 19-P. cos, privilegia o custo como condição para inclusão de novos medicamentos, produtos e procedimentos na lista do SUS, importando inobservância cessos de aquisição de insumos. A regra de dispensação de medicamentos e produtos constantes na tabela do SUS só poderia ser considerada constitucional se não eximisse o Poder Público de fornecer outros medicamentos não listados, quando não - vislumbra qualquer ilegitimidade na observância de tais protocolos. pública apenas nas hipóteses em que existam tabelas e prescrição de acor-

207 pelo gestor do SUS. - - que verificar ofensa ou inobservância de direito social. STA 175, antes da edição de tal norma, a inexistência de Protocolo Clínico no SUS não pode significar violação do princípio da integralidade do sistema, nem justificar a diferença entre (...) rede pública e (...) rede privada. Nesses casos, a omissão administrativa no tratamento de determinada patologia poderá ser objeto de impugnação judicial, tanto por ações individuais, como coletivas. Ressalta, ainda, o Ministro que o alto custo do medicamento não é, por si só, motivo para o seu não fornecimento, visto que a Política de Dispensação de Medicamentos Excepcionais visa a contemplar justamente o acesso da população acometida por enfermidades raras aos tratamentos disponíveis (STA 371). As normas contidas na Lei 12.401/2011 representam verdadeira limitação ao direito de saúde, importando inobservância da regra fixada no art. 196 da CF. CONCLUSÃO A Constituição de 1988 não se contentou em definir um estatuto de

208 - para o Estado e toda a sociedade, que devem se orientar pela busca dos - ações e serviços de saúde, buscando construir a nova ordem. Nas ações em que se busca o fornecimento de medicamentos, o pro- - nas listas oficiais de medicamentos. - legislação e à administração, o que não pode ser admitido em um Estado Ressalte-se, por fim, que grande parte dos medicamentos solicitados do dinheiro público, tornando efetivos seus programas, sendo tal atuação proporcional à ineficiência do sistema de saúde pública.