Interbio v.2 n.1 2008 - ISSN 1981-3775 A HISTÉRICA E A OUTRA: HOMOSSEXUALISMO? THE HYSTERICS AND THE OTHER WOMAN: HOMOSEXUALISM?



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Transcrição:

35 A HISTÉRICA E A OUTRA: HOMOSSEXUALISMO? THE HYSTERICS AND THE OTHER WOMAN: HOMOSEXUALISM? 1 Resumo O presente trabalho é resultado de uma pesquisa bibliográfica acerca da possibilidade de ocorrência do homossexualismo feminino na estrutura histérica baseado em princípios psicanalíticos à luz da teoria de Jacques Lacan. Palavras-chaves: Histeria. Homossexualismo. Lacan. Psicanálise. Abstract This paper is a result of a bibliographic research about the possibility of the occurrence of feminine homosexualism in the hysterics system based in psychoanalysis principles pointed in lacan s theory. Key-words: Hysteria. Homosexualism. Lacn. Psychoanalysis. 1 Graduada em Administração de Empresas pela SOCIGRAN Dourados/MS; graduada em Psicologia pela UNIGRAN Dourados/MS; atualmente em programa de Pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior pela UNIGRAN-MS. Telefone para contato: 67 3422-3436 / 67 9971-8113; Endereço eletrônico: luciana@skoldourados.com.br; lucianamariano_psic@hotmail.com. Introdução O presente trabalho é uma proposta de pesquisa bibliográfica acerca da possibilidade de ocorrência do homossexualismo feminino na estrutura histérica. Optou-se por esse tema em virtude de se considerar a histeria como ponto de partida para a construção da teoria psicanalítica e também pelo fato do conceito de histeria estar equivocadamente ligado ao conceito de feminilidade. Do ponto de vista da psicanálise a histeria traz, basicamente, a representação de um corpo-escritura. Isso significa que o corpo é o local de manifestação dos fenômenos histéricos. A histeria moderna, muitas vezes, não cria sintomas corporais visíveis, como na época de Freud (1896/1976). No entanto, a atenção estética excessiva que as mulheres dedicam ao próprio corpo e a busca desenfreada pelo sucesso profissional, entre outras coisas, parecem ser tentativas de responder à mesma questão: O que é uma mulher?. Segundo Lacan, essa pergunta é decorrente da falta de um significante que represente o ser feminino. Sabendo que a fantasia da Outra mulher acompanha a estrutura histérica, a proposta contida neste artigo será uma tentativa de responder o que significa essa Outra mulher nessa estrutura. Para atingir os objetivos propostos, usamos o método da pesquisa bibliográfica, descrevendo as teorias clássicas sobre o tema, informando descobertas através das pesquisas de estudos mais recentes sobre o assunto. O material adotado para a execução da pesquisa faz parte do acervo da autora da pesquisa e também da biblioteca da UNIGRAN, além de artigos da Internet. Foi utilizada a interpretação qualitativa que se dá por interpretações e reflexões acerca dos estudos.

36 A Histérica e a Outra A histeria constitui o ponto de partida da teoria psicanalítica. Foi também a partir da histeria que se constituíram posteriormente as grandes linhas que servem de modelo geral do funcionamento psíquico. Porém, é sabido que a histeria era pensada antes de Freud, pode-se remontar a observação dos seus fenômenos a Hipócrates que já se ocupava da questão no século IV antes de Cristo. Qual seria o motivo de um interesse que persiste por séculos? Pode-se supor que esse interesse se dá pelo fato da histeria resistir a qualquer saber constituído, não se deixando capturar por aqueles que a estudam. A singularidade da teoria freudiana emergiu em um contexto histórico que propiciou uma nova leitura dessa patologia no final do século XIX. Em 1870, Jean Martin Charcot, então médico da Salpêtrière, passou a se dedicar exclusivamente ao estudo da histeria. Foi o primeiro investigador que separou a histeria do feminino e a abordou cientificamente. O progresso alcançado por Freud em relação à Charcot se deve, em especial, a três importantes acontecimentos da história da psicanálise. O primeiro foi uma mudança de postura no tratamento da histeria da primazia do olhar para a primazia da escuta; a descoberta da natureza sexual da outra cena; e, o Complexo de Édipo (RIBEIRO, 2005) 1. Ao longo da história é possível perceber a complexidade da sexualidade humana. De acordo com Freud e Lacan a fantasia da Outra 2 mulher acompanha a histérica, por conta disso o trabalho pretende perseguir as dúvidas teóricas existentes quanto à possibilidade de ocorrência de homossexualidade feminina 3 na estrutura histérica. Sucintamente pode-se relatar da seguinte forma o percurso que leva uma menina a se tornar mulher: a menina, ainda bebê, deseja inicialmente a mãe. É neste período que irá ocorres a primeira experiência de castração 4 da criança, pois ela irá perceber de alguma forma que aquela mulher deseja algo para além de dela, ou seja, eu não a completo, há algo que ela deseja e que eu não posso dar. O segundo momento em que a criança se depara com a falta é através da visão da castração do Outro materno. Seu desejo de possuir um pênis a encaminha para ligar-se de maneira desmedida ao pai. A partir daí, o desejo que leva a menina a voltar-se para seu pai é, sem dúvida, originalmente o desejo de possuir o pênis que a mãe lhe recusou e que agora espera obter de seu pai. A feminilidade é, definitivamente, um constante devir, tecido por uma multiplicidade de trocas, todas destinadas a encontrar para o pênis o melhor equivalente (NÁSIO, 1991, p. 21-22). Em seu texto A dissolução do complexo de Édipo Freud irá postular o Complexo de Édipo como fenômeno central do período sexual da primeira infância. Em um primeiro momento de vida da criança todas as pessoas são vistas como possuidoras de um pênis, esse período não corresponde a uma idade cronológica, mas antes a um período lógico. [...] o desenvolvimento sexual de uma criança avança até determinada fase, na qual o órgão genital já assumiu o papel principal. Esse órgão genital é apenas o masculino, ou, mais corretamente, o pênis (FREUD, 1924 [1976], p. 217). Quando o menino se depara pela primeira vez com a visão do órgão genital diferente do seu ele demonstra falta de interesse, rejeita o que viu ou procura recursos para adequá-lo às suas expectativas. Somente mais tarde, quando persuadido por alguma ameaça de castração, é que a observação se torna importante para ele. A partir de então, surge nessa criança uma terrível agitação que o obriga a acreditar na realidade que até então provocava nele apenas risos ou indiferença. No texto Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos (1923 [1976], p. 273-288 passim), Freud observa que a menina tem um

37 problema a mais que o menino na passagem pelo Édipo, pois em ambos os casos a mãe é o objeto original. Isso quer dizer que a primeira relação de prazer de uma menina é homossexual. Inicialmente o clitóris na menina é capaz de exercer a função de pênis, porém, quando ela efetua uma comparação com outra criança de sexo oposto, percebe que foi injustiçada e sente-se inferior. Por algum tempo a criança acredita que quando for mais velha poderá ter um pênis. Porém, é importante salientar que a criança não entende a falta do pênis como sendo uma diferença de caráter sexual, explica-a presumindo que, em alguma época anterior, já tivera um órgão como aquele e o perdera. O mais interessante é que ela parece não estender essa inferência de si própria para outras mulheres adultas e sim encarálas como possuindo grandes e completos órgãos genitais, isto é, todas as Outras devem ter um pênis. Porém, já sabemos que a realidade do sexo está para além do real anatômico do sexo. Segundo Morel em seu artigo Anatomia Analítica (2004), o percurso que vai do complexo de Édipo ao complexo de castração, para o menino, e o inverso para a menina, a anatomia permanece essencial, embora ela não seja fator de definição. De início, para aquele que tem um pênis, a percepção de sua ausência na menina dará seu peso de real à ameaça de castração do adulto; para aquela que não tem pênis, é diante de sua visão que ela sucumbirá ao Penisneid 5. Sem contar a importância decisiva da anatomia materna, de uma parte, para a estrutura neurótica, perversa ou psicótica 6 de outra parte, para o processo de diferenciação sexual. É necessário frisar que Lacan aborda o sexo pelo viés do gozo e da linguagem, e não em termos de desenvolvimento. (MOREL, 2004). Jacques Lacan radicalizou a tensão entre a diferença dita natural dos sexos e suas conseqüências no sujeito. A isso, anos 70, ele chamou de sexuação 7, para marcar, por um lado, uma escolha do sujeito (opção), e por outro, com o termo identificação, a intervenção do significante. De forma bastante resumida a sexuação depende de uma lógica em três tempos: da diferença anatômica que é assinalada no momento do nascimento, mas que será definida realmente a posteriori; do discurso sexual onde o que vale é o discurso do Outro, ou seja, é o médico, o pai, ou a enfermeira que irão definir através da sua palavra se será menino ou menina; da escolha do sexo ou da sexuação propriamente dita. (LACAN, 1972-73 [1995]). Com certeza, essas últimas formulações são aproximadas, mas elas dão a idéia da maneira, que não é única, ou do modo de gozar com relação a essa função. Sabe-se que Freud resolvia a aporia pela inversão temporal, no desenvolvimento dos dois complexos de castração e de Édipo. Por que Lacan recorre a uma escritura lógica? Porque sua definição do real do sexo é o impossível de escrever a relação sexual. Ele supõe, então, que as lógicas existentes testemunham uma formalização do impossível, que inventa uma escritura da não-relação sexual, haja vista a impossibilidade de dois seres diferentes fazerem um. (LACAN, 1972-73 [1995], p. 17) Lacan (LACAN, 1975-76 [1995], p. 20) afirma que um homem, para uma mulher, é uma devastação 8 mesmo termo que utiliza para caracterizar a relação da mãe com sua filha. Em relatos de casos de homossexualidade feminina, se reconhecem mães que, por estrutura de personalidade, acentuam sua posição devastadora, que é aquela de ser o primeiro objeto de demanda de uma criança. Como essa demanda, é impossível de ser plenamente satisfeita, essa mãe devastadora ao extremo, inconformada em ver seu filho falo se desprender apelará para o seguinte discurso: é assim que eu quero que você seja para que eu te ame. Isso quer dizer que na maioria dos casos de homossexualidade feminina expostos, se observa figuras maternas marcadas pela tirania 9. Como conseqüência

38 é possível o sujeito ficar identificado a esse Outro tirânico, que é claro, é também seu objeto de gozo, e ir ao longo do seu destino fazendo escolhas amorosas pautadas nesse modelo, no qual o tema predominante será viver um gozo masoquista ou a frigidez. Em outros casos vemos tentativas de conquista de mulheres mais velhas como estratégia de reviver a relação tida com a figura materna. Em seu texto A Psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher, também conhecido como o Caso da Jovem homossexual (1920 [1976] passim), Freud diz que a amada era uma substituta de sua mãe. As primeiras mulheres pela qual se interessou eram mães, posteriormente essa condição foi se tornando inviável por ser incompatível com outra que se tornou mais importante. Isso porque Freud percebeu algumas características em sua dama que o faziam lembrar do irmão mais velho da jovem. Assim, sua última escolha correspondia não só ao ideal feminino, como também ao masculino; combinava a satisfação da tendência homossexual com a da tendência heterossexual, segundo Freud. Obviamente, quando a figura materna é devastadora, observamos figuras paternas fracas, decepcionantes, incapazes de se colocarem como objeto de desejo dessas filhas. Através de Dora, Freud pode perceber que ao contrário do que ele julgava na histeria o pivô não é o pai, mas o pai referido à outra mulher. Lacan conseguiu, de maneira notável, extrair da teoria freudiana que a invalidez do pai da histérica é a fonte de seu amor por ele. Isso quer dizer que a histérica ama o pai Sra. K A questão enquanto impotente, ferido, diminuído... O histérico ama o pai pelo que ele não dá... e encontra assim seu lugar junto dele assumindo a vocação de ampará-lo em sua incapacidade assinalada, marcada, e por isso supostamente sabida (KAUFMANN, 1996, p. 249). Acaso não foi isso que fez Dora 10? A fantasia sexual que sustentava a tosse de Dora era que a Senhora K ficava com seu pai porque ele era impotente. O sintoma se relaciona com o fato de que na infância Dora chupava o dedo, a partir disso, esta supunha que a Senhora K realizava sexo oral no seu pai. Dora se comportava como uma esposa ciumenta quanto a sua exigência ao pai (deixar a Senhora K); quanto ao sintoma tosse se colocava no lugar da Senhora K. As duas mulheres da vida de seu pai. A lenda de Édipo e uma elaboração poética do que há de típico nessas relações (FREUD, 1905 [1976], p. 52-61). Observando o Caso Dora, percebese que o seu desejo é um desejo que se encontra na vacilação, entre o ser e o ter. O ser ou não objeto de desejo e o ter ou não o pênis, ou melhor, o falo. Ela mantinha a situação em um equilíbrio delicado: O Senhor K deseja Dora e ama a Senhora K; o pai deseja a Senhora K e ama Dora; dessa forma, se a Senhora K não significa nada para o Senhor K, então Dora não significa nada para o pai. Utilizando o Esquema L 11 de Lacan do Seminário Livro 4 (1956-57 [1995] p. 146), podemos explicar esse quadrilátero da seguinte forma: Sr. K Com quem Dora se identifica Dora Pai Permanece o Outro por excelência Ilustração 1: Esquema L

39 Na histeria o sujeito interroga o mistério da feminilidade. Na falta de um significante que a represente a dúvida da mulher histérica é: Sou homem ou sou mulher? (RIBEIRO, 2006) 12. O equívoco de Freud foi achar que Dora amava o Senhor K quando, na verdade, ela só queria estar ao seu lado para descobrir os segredos da Senhora K. Isto é, qual o mistério da sua feminilidade. Ao denunciar o Senhor K, Dora foi acusada pela Sra. K de não ser inocente, pois já andara lendo a enciclopédia de sexo (livro de anatomia que Dora e a Sra. K liam juntas e às escondidas). Por conta desse acontecimento Dora rompeu o equilíbrio que sustentava a situação entre ela, o pai e os K. A Senhora K a traiu! Ela contou ao Senhor K o segredo das duas. A escolha entre ser homem ou mulher está a cargo do próprio sujeito, é de sua responsabilidade qual posição de gozo 13 irá assumir e, conseqüentemente, qual será a sua escolha de parceria sexual. Segundo a linguagem só existe uma modalidade de gozo: o fálico. Lacan fala da existência de um Outro 14 gozo, mas esse está fora da linguagem. Os homens estão todos inscritos na ordem fálica, outros seres humanos poderão inscrever-se na ordem do não todo fálico, do lado da castração, e poderemos falar da posição feminina. Então existe uma duplicidade feminina, pois ela apresenta uma divisão interna: parte inserese do lado fálico condição necessária para que pertença à cultura e parte pertence ao gozo Outro onde reina a ausência do simbólico. (LACAN, 1975-76 [1995], p. 56). Segundo Morel (2004), a diferença sexual é dada pela existência de um significante fálico e duas maneiras de inscrição: ter o falo ou não ter o falo; ser castrado ou não ser castrado. A escolha de uma dessas posições determinará se a modalidade de gozo do sujeito está do lado homem ou do lado mulher, independente da marca do corpo real. Isto é, independente da existência, ou não, do órgão que faz suplência ao falo: o pênis. Uma mulher está não-toda inscrita no gozo fálico, parte do seu gozo vai mais além. Na mulher o gozo a ultrapassa, é um mais-de-gozar que foge a qualquer significação, que transgride. Isso quer dizer que falta-lhes o impossível, o que não pode ser simbolizado, que é da ordem do real. Sua vertente fálica pode encontrar um pênis, ou mais de um que possa suprir o impossível da satisfação do desejo, mas a parte dela que excede a esse gozo permanecerá desde sempre insatisfeita, deixando na histérica a marca pessoal da insatisfação eterna. O gozo da homossexual feminina se concentra no gozo da outra, é buscar ser a causa do gozo da outra isso seria correlato à posição masculina além do fato de pode desafiar um homem, mesmo invisível, fantasmagórico, mostrando-lhe como se faz uma mulher gozar. A dimensão do desafio que há na mulher homossexual, está encarnada na figura edípica, isto é, o pai, objeto incestuoso, é também a figura a ser desafiada. Esse é o homem invisível, fantasmagórico, que testemunha e atesta os cuidados que ela tem com sua parceira. É como se ela pudesse lhe dar a ver como é amar, o que é saber fazer gozar uma mulher. Foi isso o que a Jovem Homossexual do caso de Freud fez: pôs-se a passear ao lado de sua dama em frente aos locais que saberia que seria vista por seu pai. Ao desafiar o pai, ela tentou lhe mostrar que era possível numa relação de amor, dar o que não se tem. Neste caso Freud afirma que a homossexualidade da jovem não é o grande problema, mas sim a constante afronta ao pai. Freud assegura que para a jovem homossexual do caso, mãe não é objeto de identificação, mas objeto de amor. Ele fala do amor cortês, pois é um amor em que não se dá nada e também não se cobra nada. Seu objetivo é endeusar o objeto, o sexo está em segundo plano. Ainda nesse texto Freud fala que complexo de masculinidade e masculinidade são duas coisas diferentes. A homossexualidade feminina estaria relacionada a uma decepção com o pai, já o complexo de masculinidade seria uma

40 identificação com o pai (BRUNETTO, 2006) 15. No Seminário 4, Lacan (1956-57 [1995], p. 133-152 passim) comenta esse caso falando que através do amor à prostituta a jovem mostrava um amor a nada, pois não existia apego a objetos fálicos seja a um pênis ou a um filho. Ela queria ser amada, para além da homossexualidade. A mulher homossexual ama sua parceira através do gozo fálico, porém não só fálico, pois o gozo obtido ultrapassa a representação do significante fálico do homem o pênis. É o gozo de fazer a Outra gozar sem, para isso, possuir um pênis. Percebe-se que, aparentemente, ela excede a histeria e apresenta uma intersecção com a perversão no sentido de ter um saber sobre como fazer o outro gozar. No entanto, em seu texto Diretrizes para um Congresso sobre Homossexualidade Feminina (1998, p. 734-733 passim) publicado no livro Escritos, Lacan assinala que a homossexualidade feminina aponta para a feminilidade. Isso quer dizer que a homossexualidade na mulher não poder ser perversa porque é um amor que gaba de dar o que não se tem ou seja, o pênis. No caso Dora, o erro primordial de Freud foi não ter percebido a importância da Senhora K na vida da jovem. Lacan a partir da própria autocrítica de Freud em seu texto A organização genital infantil (1923 [1976], p. 155-164 passim), em que assumiu ser desejo homossexual esse interesse de Dora pela Senhora K, esclareceu muitos pontos em relação ao papel da Outra mulher na vida da histérica. Hoje sabemos da importância desse papel para a histérica, pois na impossibilidade de responder à questão o que é uma mulher?, a histérica acaba fazendo desvios de identificação, na tentativa de obter uma resposta. No caso de Dora, podemos perceber uma identificação com o Senhor K para dessa posição, interrogar a feminilidade representada pela Senhora K. Na histeria o ponto principal da relação com o Outro é um fazer-se desejar, mesmo que eventualmente, para isso, ela precise percorrer caminhos homossexuais em busca de responder sua questão. (1956-57 [1995] p. 132-168 passim) O aforismo de Lacan a mulher não existe (1972/73 [1985], p. 17) não indica uma depreciação quanto ao sexo, mas aponta para a dificuldade de precisar o que é, em último termo, a feminilidade. A afirmação lacaniana faz supor que, se a mulher não existe, é preciso inventá-la partindo da posição masculina que é em última instância a única que existe para a feminina. A mulher não existe, anuncia Lacan, as mulheres são não-todas, não totalmente inteiras, ao contrário dos homens, do lado do falicismo, mas igualmente não sem ter relação com o falo. Essa imprecisão dos sexos leva Lacan afirmar que a relação sexual não existe evidenciando a não complementaridade perfeita entre os sexos (LACAN, (1972/73 [1985], p. 17). Com esses aforismos Lacan não fez mais que uma síntese de tudo que Freud já havia dito, elucidando alguns pontos obscuros e com isso acrescentando uma saber a mais sobre a feminilidade, mas um saber ainda nãotodo, pois sabê-la toda ainda é para nós, impossível. Ou, seguindo o conselho do próprio mestre: Se desejarem saber mais a respeito da feminilidade, indaguem da própria experiência de vida dos senhores, ou consultem os poetas, ou aguardem até que a ciência possa dar-lhes informações mais profundas e mais coerentes. (FREUD, 1933 [1976], p. 314). Conclusão Pode-se observar que o sofrimento na histeria se fundamenta no seu não saber sobre o sexo que é resultante da falta de inscrição da qual a mulher é objeto. A feminilidade, portanto, não é um conceito referido à mulher ou ao feminino, mas se trata de uma posição outra em relação à ordem regida pelo complexo de castração. Isto é, para além da anatomia

41 prevalece a escolha de um papel a ser exercido. Segundo Freud, sob o império do falo somos todos iguais, ou seja, menina ou menino, homem ou mulher, macho ou fêmea; tais categorias não existem até a superação da fase fálica. Existem os que têm o falo e os que não o têm. No entanto, a percepção, no seu amplo sentido, da diferença entre os sexos, é uma aquisição tardia que não obedece a um período cronológico, mas antes um período lógico, acontecendo de maneira muito imperfeita em alguns casos, e nunca de forma completa na mulher. Em especial na mulher histérica que, por estar muito presa a uma lógica fálica totalizadora ou se tem o falo ou se é castrada, permanece em uma vacilação que é inerente à sua estrutura. Na falta de um significante que a represente a questão da mulher histérica é: Sou homem ou sou mulher?. Quanto à questão inicial que resultou neste estudo A histérica e a Outra: homossexualismo? a conclusão a que se chegou é de que essa não é uma relação homossexual, haja vista que, segundo a bibliografia pesquisada, diante da impossibilidade de responder à questão o que é uma mulher?, a histérica acaba fazendo desvios de identificação, na tentativa de chegar a uma resposta. Na histeria o ponto principal da relação com o Outro, é um fazer-se desejar, mesmo que eventualmente, para isso, ela percorra caminhos homossexuais em busca de responder sua questão. Referências Bibliográficas BRUNETTO, A.C.D. Seminário de Psicanálise: Homossexualismo. Dourados, 2006. FREUD, S. Rascunho K. (1896). In:. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 2 v.. Fragmento da análise de um caso de histeria. (1905 [1901]). In:. Obras Completas de Sigmund Freud. Volume VII. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 7 v.. A psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher. (1920). In:. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 18 v.. Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. (1923). In:. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 19 v.. A organização genital infantil. (1923). In:. Obras Completas de Sigmund Freud. Volume XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 19 v.. A dissolução do complexo de Édipo. (1924). In:. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 19 v.. Feminilidade. (1933). In:. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 22 v. KAUFMANN, Pierre. Dicionário enciclopédico de psicanálise: o legado de Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. LACAN, J. O seminário livro 4: A relação de objeto (1956/57). Rio de Janeiro: Zahar, 1995.. O seminário 20: Mais, ainda. (1972-73). Rio de Janeiro: Zahar, 1995.. O seminário livro 23: O sinthoma. (1975/76). Rio de Janeiro: Zahar, 1995.. Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina. (1951). In:. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. MOREL, G. Anatomia Analítica (2004). Disponível em: <http://www. bccclub.com.br/artigosteses/anatomiaanalitica.htm>. NASIO, J. D. A Histeria: teoria e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. RIBEIRO, M.A.C. Seminário de Psicanálise: Rascunho K. Campo Grande, 2005.. Seminário de Psicanálise: No início... a Histeria. Campo Grande, 2005. ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio e Janeiro: Zahar, 1998. 1 Informações e conceitos obtidos através de seminários de Psicanálise, promovidos pelo Agora Instituto Lacaniano, com sede em Campo Grande- MS, nos anos de 2005 e 2006. Os seminários são ministrados por Maria Anita Carneiro Ribeiro, Mestra em Psicologia pela PUC-RJ, doutora em

42 Psicologia pela PUC-SP, pós-doutora na PUC-RJ. Psicanalista, membro da Escola de Psicanálise do Campo Lacaniano (AME), membro do colegiado de Formações Clínica do Campo Lacaniano (RJ), coordenadora da Rede de Pesquisa sobre psicanálise com crianças, editora chefe da Revista Marraio e orientadora desse trabalho de pesquisa. Seminário: Rascunho K, 16/04/2005. 2 O Outro, grafado em maiúscula, foi adotado para mostrar que a relação entre o sujeito e o grande Outro é diferente da relação com o outro recíproco e simétrico ao eu imaginário. O outro é o grande Outro da linguagem, é o outro do discurso universal, de tudo o que foi dito, na medida em que é pensável. É também o Outro da verdade, esse Outro que é um terceiro em relação a todo diálogo, porque no diálogo de um com outro sempre está o que funciona como referência tanto do acordo quanto do desacordo, o Outro do pacto quanto o Outro da controvérsia. 3 Quando se diz feminino está-se referindo à questão de gênero, pois neste trabalho de pesquisa não será abordado a questão do homossexualismo masculino. Além do que, é imprescindível distinguir feminilidade de histeria. Na histeria há a necessidade de tamponar a falta com objetos fálicos. Já a mulher é aquela que trai todos os objetos que visam encobrir a falta em prol do abismo, do absoluto, pois seu objetivo é aniquilar a falta e não tamponá-la. 4 Freud denominou complexo de castração o sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criança quando ela constata a diferença anatômica entre os sexos. O complexo de castração deve também ser referido à ordem cultural, com o que isso implica em termos da proibição e da lei constitutiva da ordem humana. (ROUDINESCO, 1998, p. 105-106). 5 Inveja do pênis 6 De maneira bastante resumida a Neurose tem como mecanismo o sintoma e tem como base a angústia da castração, sendo que esta permanece recalcada; Na Psicose o mecanismo é a recusa à castração, ou foraclusão para Lacan; Na Perversão o mecanismo é o fetiche e tem como base o horror da castração que é desmentida pelo perverso. 7 Sexuação é o termo criado por Lacan para assinalar essa complexa trama a partir da qual o sujeito opta por uma identificação sexuada. Nessa escolha entram em jogo, tanto as vertentes imaginária e simbólica das identificações, como o real do gozo. Precisamente, a partir de sua teoria dos gozos, Lacan fará a distinção do gozo fálico e do Outro gozo para assinalar dois lados da sexuação. 8 O uso do termo devastação, em Lacan, deve ser entendido no sentido forte do termo, como sendo a destruição de um lugar, destruição do lugar onde um sujeito pode fazer seu desejo como único, sua marca pessoal. Isso ocorre quando a mulher está totalmente presa ao gozo Outro, desprendida do gozo fálico. Um exemplo disso é Medeia, a mulher que mata os filhos em função do amor de um homem. 9 Tirania no sentido de domínio. 10 Primeiro grande tratamento psicanalítico realizado por Freud, anterior ao do Homem dos Ratos e do Homem dos Lobos. A história de Dora foi redigida em dezembro de 1900 e janeiro de 1901 e publicada quatro anos depois. (ROUDINESCO, 1998, p. 50). 11 Esse esquema mostra que nas neuroses o sujeito só tem acesso ao Outro através do seu pequeno outro, ao contrário da psicose em que o Outro fala diretamente ao sujeito através das vozes, por exemplo. 12 Informações e conceitos obtidos através de seminários de Psicanálise, promovidos pelo Agora Instituto Lacaniano, com sede em Campo Grande- MS, nos anos de 2005 e 2006. Os seminários são ministrados por Maria Anita Carneiro Ribeiro. Seminário: No início... a Histeria, 03/06/2006. 13 Na psicanálise encontramos uma diferenciação entre prazer e gozo. De uma forma bastante simplista pode-se dizer que o prazer está ligado às repetições de experiências primeiras de satisfação que ocorrem na infância. Segundo Lacan no Seminário Livro 20: Mais, Ainda (1972-73[1975]) o gozo está para além do princípio do prazer e sempre indica processos de transgressão de limites, que tocam o sofrimento e a morte: O caminho em direção à morte não é outra coisa que aquilo que chamamos de gozo. 14 Outro gozo ou gozo do Outro corresponderia a um estado hipotético em que a tensão seria totalmente descarregada, ou seja, não haveria qualquer limite. O gozo feminino é caracteristicamente sem limite, uma vez que a mulher está algo fora do simbólico, não toda submetida à castração. 15 Informações e conceitos obtidos através de seminário de Psicanálise, promovidos pelo Agora Instituto Lacaniano, com sede em Campo Grande- MS, no 1º semestre do ano de 2006, tendo como tema Homossexualismo. O seminário foi ministrado na cidade de Dourados por Andréa Carla D. Brunetto. Seminário: Homossexualismo, 03/06/2006.