Consolidação de contas e o método da equivalência patrimonial

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Transcrição:

Outubro 2014 FORMAÇÃO À DISTÂNCIA Consolidação de contas e o método da equivalência patrimonial DIS4114 Augusto Jorge Ribeiro Simões www.otoc.pt

FICHA TÉCNICA Título: Consolidação de contas e o método da equivalência patrimonial Autor: Augusto Jorge Ribeiro Simões Capa e paginação: DCI - Departamento de Comunicação e Imagem da OTOC Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, 2014 Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, entidade que detém os direitos de autor. 4

Índice 1. CONTABILIZAÇÃO DOS INVESTIMENTOS FINANCEIROS NO SISTEMA DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA 7 1.1 Investimentos em associadas e empreendimentos conjuntos 9 1.1.1 Investimentos em associadas 9 1.1.2 Investimentos em empreendimentos conjuntos 11 1.2 Investimentos em subsidiárias 13 1.3 Outros investimentos 14 1.4 Definição de influência significativa e definição de controlo 14 1.5 Método da Equivalência Patrimonial 14 1.6 Goodwill e Badwill 16 2. CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS 17 2.1 Enquadramento legal e conceitos relevantes 17 2.2 O processo de consolidação 21 2.3 Limitações da consolidação 22 2.4 Preparação da consolidação e escolha do método 22 2.5 Ajustamentos prévios 24 2.6 As operações de consolidação 26 Caso Prático 1 Método da Consolidação Integral 31 Caso Prático 2 Método da Consolidação PROPORCIONAL 35 Caso Prático 3 Método da EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL 39 ABREVIATURAS 43 BIBLIOGRAFIA 45 5

1. CONTABILIZAÇÃO DOS INVESTIMENTOS FINANCEIROS NO SISTEMA DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA Com a globalização da economia, as participações de empresas noutras empresas é cada vez mais uma realidade, dada a necessidade de penetração em outros mercados, diversificação das atividade e estabelecimento de alianças estratégicas, com objetivos concorrenciais e de expansão internacional. Esta concentração pode assumir a modalidade de desenvolvimento interno, ou seja, o crescimento em torno de uma única entidade jurídica ou a modalidade de desenvolvimento externo, ou seja, através da interligação de várias entidades juridicamente autónomas, sob a forma de ligações e acordos com outras empresas, operações de fusão ou de cisão, participação em entidades existentes ou através da constituição de novas entidades, onde exerça controlo ou influência significativa. São participações permanentes ou não correntes, com finalidades estratégicas e como tal, que se desejam manter por períodos longos de tempo (mais do que um ano), integrando a conta 41-Investimentos financeiros e que se subdivide em: - Investimentos em subsidiárias: são as empesas que fazem parte de um conjunto compreendido pela empresa-mãe e pelas empresas filhas (subsidiárias), em que a empresa mãe detém o poder de domínio ou de controlo sobre estas (poder de gerir as políticas operacionais e financeiras de uma entidade de forma a obter benefícios da sua atividade); - Empreendimentos conjuntos: são as empresas em que o poder de controlo é partilhado igualitariamente com outros parceiros (controlo conjunto), formalizado através de acordos contratuais (joint-ventures). - Investimentos em associadas: são as empresas onde a investidora não detém o poder de controlo, mas exerce influência significativa (poder de participar nas decisões das políticas operacionais e financeiras da investida ou de uma atividade, mas que não é controlo nem controlo conjunto sobre essas políticas. Presume-se que existe influência significativa quando a participação financeira varia entre 20% a 50%); - Outras participações financeiras: são as participações financeiras onde não existe influência significativa (normalmente são percentagens inferiores a 20%). Assim, as participações permanentes assumem diferentes classificações baseadas na posição de controlo ou influência exercida pela empresa mãe. Isto é, à exceção da simples participação financeira (outras participações financeiras, relativamente às quais, a empresa mãe não exerce qualquer tipo de controlo ou influência nas políticas operacionais e financeiras), cada tipo de investimento está relacionado com um tipo de controlo ou influência significativa: os investimentos em subsidiárias está relacionado com o controlo exclusivo, os empreendimentos conjuntos estão relacionados com o controlo conjunto e os investimentos em associadas está relacionado com a influência significativa. Para além das participações permanentes ou não correntes, existem participações temporárias ou correntes, com finalidades especulativas ou de negociação, prontamente realizável e detidas até um ano. Trata-se de aplicações de tesouraria a curto prazo, convertíveis em dinheiro a qual- 7

quer momento, reconhecidos na conta 1421-Instrumentos financeiros detidos para negociação e mensurados ao justo valor, cujas alterações são reconhecidas na demonstração dos resultados. Relativamente às participações financeiras permanentes ou não correntes, podemos resumi-las da seguinte forma: Tabela A 1 Controlo/Influência Tipo de participação NCRF aplicável Mensuração Contas Individuais Contas Consolidadas Controlo exclusivo Subsidiária NCRF 15 MEP MEP Controlo conjunto Empreendimento conjunto NCRF 13 1 MEP ou Método de Consolidação Proporcional Influência Significativa Associada NCRF 13 MEP MEP Sem influência significativa Outras NCRF 27 Justo Valor (se determinado com fiabilidade) Método de Consolidação Proporcional Justo Valor (se determinado com fiabilidade) Adaptado de: Rodrigues, João. (2012). Sistema de Normalização Contabilística Explicado. 3ª Edição. Porto Editora. Segundo NCRF 14 Concentrações de atividades empresariais, do SNC, a qual tem por base a IFRS 3 Concentrações de atividades empresariais, emitida pelo IASB, considera uma concentração de atividades empresariais como uma transação na qual um adquirente obtém o controlo de um ou mais negócios, podendo ocorrer através de: - Fusão (de duas ou mais empresas); - Aquisição de partes de capital próprio de outra entidade; - Aquisição de ativos que em conjunto formem uma ou mais atividades empresariais; - Assunção de passivos de outra entidade; - Obtenção de controlo por contrato. Contudo, esta Norma não se aplica a: - Concentrações de atividades empresariais em que entidades ou atividades empresariais separadas se reúnem para formar um empreendimento conjunto; - Concentrações de atividades empresariais que envolvam entidades ou atividades empresariais sob controlo comum; e - Concentrações de atividades empresariais que envolvam duas ou mais entidades mútuas. De acordo com a NCRF 14, o custo de uma concentração de atividades empresariais é o agregado dos justos valores, à data da troca, doa ativos cedidos, dos passivos incorridos ou assumidos e dos instrumentos de capital próprio emitido pelo adquirente, em troca do controlo sobre a adquirida dos ativos e passivos transferidos, acrescido de quaisquer custos diretamente atribuíveis à concentração e requer a aplicação do método da compra na sua contabilização, o qual tem por base os justos valores dos elementos patrimoniais transferidos, verificando-se o reconhecendo e contabilização do goodwill (excesso do custo de aquisição sobre a proporção detida pelo comprador no justo valor dos ativos, passivos e passivos contingentes identificáveis, na data da compra). A data da troca é a data de cada transação de troca e a data de aquisição é a data em que o adquirente obtém o controlo da adquirida. Quando o controlo é obtido através de compras sucessivas de ações, cada transação de troca deve ser tratada separadamente pela adquirente, usando a informação do custo da transação e do justo valor à data de cada transação de troca, para deter- 1 Uso do MEP, se o empreendedor estiver sujeito à apresentação de contas consolidadas. O método recomendado é o método da consolidação proporcional e o método alternativo é o MEP. 8

minar a quantia de qualquer goodwill associado a essa transação e o custo da concentração é o agregado de cada transação individual. A NCRF 14 requer a divulgação de informação que permita aos utentes das demonstrações financeiras avaliar a natureza e o efeito financeiro das concentrações de atividades empresariais ocorridas no período ou após a data do balanço, antes de autorizadas para emissão. Para o efeito deve divulgar-se: - A denominação social e descrições das entidades concentradas; - A data de aquisição; - A percentagem de instrumentos de capital próprio adquirido com direito a voto; - O custo da concentração e descrição dos componentes desse custo, incluindo os custos diretamente atribuíveis à concentração. Quando se emitirem, ou forem passíveis de emissão, instrumentos de capital próprio como parte do custo, deve divulgar-se: o número de instrumentos de capital próprio emitido ou passíveis de emissão; e o justo valor desses instrumentos e a base para determinar esse justo valor. Deve ainda ser divulgada: informação que permita aos utentes das demonstrações financeiras avaliar os efeitos financeiros dos ganhos, perdas, correções de erros e outros ajustamentos reconhecidos no período e que se relacionem com concentrações do período ou de períodos anteriores; e as alterações no período no valor contabilístico do goodwill (eventuais perdas por imparidade). 1.1 Investimentos em associadas e empreendimentos conjuntos Nos investimentos em associadas não existe controlo, mas apenas influência significativa, já nos empreendimentos conjuntos existe controlo, se bem que partilhado. Na contabilização deste tipo de investimentos, deve ser aplicada a NCRF 13 Interesses em Empreendimentos Conjuntos e Investimentos em Associadas, do SNC, a qual tem por base a IAS 28 Investimentos em associadas e a IAS 31 Interesses em empreendimentos conjuntos, ambas do IASB. Esta Norma aplica-se na contabilização de investimentos em empreendimentos conjuntos e no relato dos ativos, passivos, rendimentos e gastos de empreendimentos conjuntos nas demonstrações financeiras de empreendedores e investidores, independentemente das estruturas ou formas segundo as quais as atividades do empreendedor conjunto se realizam ( 2 alínea a) da NCRF 13) e na contabilização de investimentos em associadas ( 2 alínea b) da NCRF 13). Não se aplica a interesses em entidades conjuntamente controladas, nem a investimentos em associadas, detidos por organizações de capital de risco, as quais se regem, nesta matéria, pelas disposições decorrentes da alínea b) do nº 2 do artigo 4º do Decreto-Lei nº 319/2002, de 28 de dezembro, com a redação dada pelo Decreto-Lei nº 151/2004, de 29 de junho ( 3 alínea a) da NCRF 13) e não se aplica a interesses de empreendedores em entidades conjuntamente controladas nem a investimentos em associadas que estejam classificados como detidos para venda, os quais devem ser contabilizados de acordo com a NCRF 8 Ativos Não Correntes Detidos para Venda e Unidades Operacionais Descontinuadas. ( 3 alínea b) da NCRF 13 do SNC). 1.1.1 Investimentos em associadas Segundo a NCRF 13, um investimento numa associada deve ser contabilizado (nas demonstrações financeiras consolidadas e individuais do investidor) usando o método da equivalência patrimonial, exceto se existiram restrições severas e duradouras que prejudiquem de forma significativa a capacidade de transferência de fundos para a investidora, devendo nesse caso ser adotado o método do custo. 9

Na aquisição de um investimento numa associada, qualquer diferença entre o custo do investimento e a parte do investidor no justo valor líquido dos ativos, passivos e passivos contingentes identificáveis da associada é contabilizado de acordo com a NCRF 14. Assim: - O goodwill é incluído na quantia escriturada do investimento, não sendo sujeito a amortização, devendo ser anualmente testado quanto às perdas por imparidade; e - O badwill é excluído da quantia escriturada do investimento e é reconhecido como um rendimento. Deverão realizar-se ajustamentos apropriados relativamente à parte do investidor nos resultados da associada, após a aquisição, para contabilizar, por exemplo, a depreciação dos ativos depreciáveis baseada nos seus justos valores à data de aquisição. Também os resultados provenientes de transações ascendentes (vendas de uma associada ao investidor) e descendentes (vendas do investidor a uma associada) entre um investidor e uma associada deverão ser reconhecidos nas demonstrações financeiras do investidor somente na medida em que correspondam aos interesses de outros investidores na associada, não relacionados com o investidor. Relativamente às perdas numa associada são apenas reconhecidas até ao montante do investimento efetuado, isto é, até à quantia escriturada do investimento na associada de acordo com o método da equivalência, incluindo quaisquer interesses de longo prazo que, em substância, façam parte do investimento líquido do investidor na associada. Só haverá necessidade de reconhecer-se perdas adicionais se o investidor incorrer em obrigações legais (obrigações que derivam de um contrato ou da legislação) ou construtivas (obrigações que derivam de um modelo estabelecido de práticas passadas ou de expetativas válidas criadas) ou tenha efetuado pagamentos a favor da associada. Quando a associada apresentar lucros, o investidor retoma o reconhecimento da sua parte nesses lucros somente após a sua parte nos lucros igualar a parte das perdas não reconhecidas. A NCRF 13 requer as seguintes divulgações para associadas: - O justo valor de investimentos em associadas para as quais sejam publicadas cotações de preços; - Informação financeira resumida das associadas, incluindo as quantias agregadas de ativos, passivos, rendimentos e ganhos e gastos e perdas; - As razões pelas quais se concluiu existir influência significativa quando o contrário era presumível pelo facto de um investidor deter, direta ou indiretamente, através de subsidiárias, menos de 20% dos votos ou do potencial poder de voto da investida; - As razões pelas quais se concluiu não existir influência significativa quando o contrário era presumível pelo facto de um investidor deter, direta ou indiretamente, através de subsidiárias, 20% ou mais dos votos ou do potencial poder de voto da investida; - A data de relato das demonstrações financeiras de uma associada, quando essas demonstrações financeiras forem usadas na aplicação do método da equivalência patrimonial e forem de uma data de relato ou de período que seja diferente da data de relato ou período do investidor, e a razão para o uso de uma data de relato ou de um período diferente; - A natureza e a extensão de quaisquer restrições significativas (por exemplo, resultantes de acordos de empréstimo ou requisitos regulamentares) sobre a capacidade das associadas para transferir fundos para o investidor sob a forma de dividendos em dinheiro ou de reembolsos de empréstimos ou adiantamentos; - A parte não reconhecida nas perdas de uma associada, tanto para o período como, cumulativamente, se um investidor descontinuou o reconhecimento da sua parte nas perdas de uma associada; 10

- O facto de uma associada não ter sido contabilizada usando o método da equivalência patrimonial, quando se tratar de investimento detido para venda (NCRF 8 Ativos não Correntes Detidos para Venda e Unidades Operacionais Descontinuadas); - Informação financeira resumida das associadas, quer individualmente quer em grupo, que não tenham sido contabilizadas usando o método da equivalência patrimonial, incluindo as quantias dos ativos totais, passivos totais, rendimentos e resultados. A NCRF 13 requer ainda que: - Os investimentos em associadas contabilizados pelo método da equivalência patrimonial sejam classificados como ativos não correntes. A parte do investidor nos resultados dessas associadas e a quantia escriturada desses investimentos devem ser divulgadas separadamente. A parte do investidor em quaisquer unidades operacionais descontinuadas dessas associadas também deve ser divulgada separadamente; e - A parte do investidor nas alterações reconhecidas diretamente no capital próprio da associada deve ser reconhecida diretamente no capital próprio do investidor e deve ser divulgada na Demonstração de Alterações no Capital Próprio. 1.1.2 Investimentos em empreendimentos conjuntos No 4 da NCRF 13, empreendimento conjunto é definido como uma atividade económica empreendida por dois ou mais parceiros, sujeita a controlo conjunto destes mediante um acordo contratual. A existência de acordo contratual é um elemento essencial para distinguir este tipo de interesses relativamente aos interesses em associadas, podendo ser evidenciado através de contrato realizado entre os empreendedores, das atas de reuniões entre empreendedores ou dos estatutos do empreendimento conjunto. A NCRF 13 também define controlo conjunto como a partilha de controlo, acordada contratualmente, de uma atividade económica, e existe apenas quando as decisões estratégicas financeiras e operacionais relacionadas com a atividade exigem o consenso unânime das partes que partilham o controlo (empreendedores). Ainda segundo a NCRF 13, os empreendimentos conjuntos podem assumir três formas distintas: operações conjuntamente controladas, ativos conjuntamente controlados e entidades conjuntamente controladas. É característica comum a todos eles, a participação de dois ou mais empreendedores ligados por um acordo contratual que estabelece o controlo conjunto. Nas operações conjuntamente controladas, os empreendedores participantes coordenam as suas atividades e trabalham num projeto comum, não sendo constituída nenhuma entidade (o exemplo que é dado pela Norma é a construção de uma aeronave), com o envolvimento dos seus recursos e assumindo os seus próprios gastos e passivos e partilhando os réditos e gastos comuns com base no acordo contratual. Assim, no reconhecimento e mensuração das operações conjuntamente controladas, cada empreendedor inclui nas suas demonstrações financeiras os seus ativos, passivos, rendimentos e ganhos e gastos e perdas, assim como a parte que proporcionalmente lhe corresponder nos réditos da venda da produção (ou prestação de serviços) conjunta, não sendo necessário nenhum tipo de ajustamento. Os ativos conjuntamente controladas envolvem o controlo conjunto, e muitas vezes a propriedade conjunta, por parte dos empreendedores, de um ou mais ativos que tenham sido construídos ou adquiridos para a finalidade do empreendimento conjunto, não sendo constituída nenhuma entidade (o exemplo que é dado pela Norma é o controlo conjunto de um imóvel de rendimento). Assim, no reconhecimento e mensuração de ativos conjuntamente controlados, cada empreendedor deve incluir nas suas demonstrações financeiras: 11

- A sua parte dos ativos conjuntamente controlados, classificados de acordo com a natureza dos ativos e não como um investimento. Por exemplo, a parte de um imóvel conjuntamente controlado é classificado como propriedade de investimento; - Quaisquer passivos em que o empreendedor tenha incorrido; - A sua parte em quaisquer passivos incorridos conjuntamente com outros empreendedores relativamente ao empreendimento conjunto; - Qualquer rendimento da venda ou uso da sua parte da produção obtida do empreendimento conjunto, juntamente com a sua parte em quaisquer gastos incorridos pelo empreendimento conjunto; e - Qualquer gasto em que tenha incorrido com respeito ao seu interesse no empreendimento conjunto. Uma entidade conjuntamente controlada é uma entidade jurídica distinta, cujo controlo é partilhado, tendo assim os seus próprios registos contabilísticos, preparando e apresentando demonstrações financeiras da mesma forma que outras entidades. Assim, no reconhecimento e mensuração das participações em entidades conjuntamente controladas nas demonstrações financeiras individuais vai depender do empreendedor estar ou não sujeito à apresentação de demonstrações financeiras consolidadas. Na situação do empreendedor não estar obrigado à apresentação de demonstrações financeiras consolidadas, a NCRF 13 prevê duas alternativas: o método de consolidação proporcional ou, como método alternativo, o método da equivalência patrimonial. Caso contrário, isto é, na situação do empreendedor estar obrigado a apresentar demonstrações financeiras consolidadas, a NCRF 13 requer a adoção do método da equivalência patrimonial nas contas individuais e a adoção do método de consolidação proporcional nas contas consolidadas. A aplicação do método de consolidação proporcional implica que o balanço do empreendedor inclua a sua parte nos ativos que controla conjuntamente e a sua parte nos passivos pelos quais é responsável conjuntamente e que a demonstração dos resultados do empreendedor inclua a sua parte nos rendimentos e ganhos e nos gastos e perdas da entidade conjuntamente controlada. A NCRF 13 permite o uso de dois formatos de relato: o empreendedor pode combinar a sua parte nos ativos, passivos, rendimentos e ganhos e gastos e perdas da entidade conjuntamente controlada com os elementos semelhantes, linha a linha, nas suas demonstrações financeiras ou, como alternativa, o empreendedor pode incluir a sua parte naqueles itens em linhas separadas. Segundo a NCRF 13, no reconhecimento de resultados em transações com um empreendimento conjunto, o resultado das contribuições ou vendas de um empreendedor a um empreendimento conjunto, deve refletir a substância da operação. Assim, as perdas em transações com um empreendimento conjunto devem ser reconhecidas pela totalidade, desde que a contribuição ou venda proporcione evidência de uma redução no valor realizável líquido dos ativos correntes ou de uma perda por imparidade. Relativamente aos ganhos, terá que se confirmar se os ativos permanecem no empreendimento conjunto e caso se confirme, apenas reconhece-se a parcela do ganho atribuível à participação dos outros empreendedores (assumindo que se transferiram os riscos significativos e recompensas de posse). Se os ativos já foram realizados, reconhece-se o ganho total. Nas compras pelo empreendedor, a parcela dos lucros do empreendimento conjunto que se refiram a vendas para o empreendedor deve ser deduzida do resultado do empreendimento conjunto para efeito do reconhecimento de resultados pelo empreendedor. Essa parcela dos lucros será reconhecida quando o empreendedor revender os ativos a terceiros. 12

Os prejuízos do empreendimento conjunto em vendas ao empreendedor devem ser imediatamente reconhecidos, a menos que não representem uma redução do valor realizável líquido de ativos correntes ou uma perda por imparidade. A NCRF 13 requer as seguintes divulgações para empreendimentos conjuntos: - Quantia agregada dos passivos contingentes seguintes, a menos que a probabilidade de perda seja remota, separadamente da quantia de outros passivos contingentes: - Quaisquer passivos contingentes em que o empreendedor tenha incorrido em relação aos seus interesses em empreendimentos conjuntos e a sua parte em cada um dos passivos contingentes que tenham sido incorridos conjuntamente com outros empreendedores; - A sua parte nos passivos contingentes dos próprios empreendimentos conjuntos pelos quais seja contingentemente responsável; e - Os passivos contingentes que surjam porque o empreendedor está contingentemente responsável pelos passivos dos outros empreendedores de um empreendimento conjunto. - Quantia agregada dos seguintes compromissos com respeito aos seus interesses em empreendimentos conjuntos separadamente de outros compromissos: - Quaisquer compromissos de capital do empreendedor em relação com os interesses em empreendimentos conjuntos e a sua parte nos compromissos de capital que tenham sido incorridos conjuntamente com outros empreendedores; e - A sua parte dos compromissos de capital dos próprios empreendimentos conjuntos. - Listagem e descrição de interesses em empreendimentos conjuntos significativos e a proporção do interesse de propriedade detido em entidades conjuntamente controladas. Um empreendedor que reconheça os seus interesses em entidades conjuntamente controladas usando o formato de relato linha a linha para a consolidação proporcional ou o método da equivalência patrimonial deve divulgar as quantias agregadas de cada um dos ativos correntes, dos ativos de longo prazo, dos passivos correntes, dos passivos de longo prazo, dos rendimentos e ganhos e gastos e perdas relacionados com os seus interesses em empreendimentos conjuntos. - Método usado para reconhecimento dos interesses em entidades conjuntamente controladas. 1.2 Investimentos em subsidiárias São investimentos em entidades designadas por empresas filiais que são controladas ou dominadas por outra entidade designada por empresa mãe, formando esta e aquela um grupo. São empresas sobre as quais uma empresa (empresa-mãe) detém o poder de domínio ou de controlo (controlo exclusivo), o qual consiste no poder de gerir as políticas operacionais e financeiras de uma empresa a fim de obter benefícios das suas atividades. Segundo a NCRF 15 Investimentos em Subsidiárias e Consolidação, do SNC, as participações em subsidiárias nas demonstrações financeiras da empresa mãe são mensuradas de acordo com o método da equivalência patrimonial, exceto se existirem restrições severas e duradouras que prejudiquem significativamente a capacidade de transferência de fundos para o investidor, devendo nesse caso ser adotado o método do custo 2. 2 A NCRF 15 não está de acordo com a IAS 27 Demonstrações financeiras separadas, emitida pelo IASB, na qual se baseou, uma vez que esta refere que nas demonstrações financeiras individuais da empresa mãe as participações em subsidiárias são mensuradas ao custo ou ao justo valor (de acordo com a IAS 39 Instrumentos financeiros: reconhecimento e mensuração, emitida pelo IASB) 13

1.3 Outros investimentos Os outros investimentos são participações financeiras onde não existe influência significativa (normalmente, são participações inferiores a 20%). Trata-se de simples participação, que apesar de conferir à entidade participante interesse residual nos ativos após dedução dos passivos da participada, não envolve quaisquer poderes de decisão sobre as políticas operacionais e financeiras da participada, devendo, de acordo com a NCRF 27 Instrumentos financeiros, do SNC, ser reconhecida como um ativo corrente na conta 14-Outros investimentos financeiros e mensurada ao justo valor (ou ao custo, sempre que o justo valor não possa ser obtido com fiabilidade). 1.4 Definição de influência significativa e definição de controlo Segundo a NRCF 13, influência significativa é o poder de participar nas decisões das políticas operacionais e financeiras da participada ou de uma atividade económica mas que não é controlo nem controlo conjunto sobre essas políticas, podendo ser obtida através da posse de ações, de cláusulas estatutárias ou de acordos. Segundo a NCRF 14, controlo é o poder de gerir as políticas operacionais e financeiras de uma entidade ou de uma atividade económica a fim de obter benefícios da mesma. Presume-se que existe controlo quando uma entidade concentrada possui, direta ou indiretamente através de subsidiárias, mais de metade dos direitos de voto de outra entidade concentrada ou quando uma entidade, apesar de não deter mais de metade dos direitos de voto de outra entidade concentrada, ela obtiver, em resultado da concentração: - Poder sobre mais de metade dos direitos de voto de outra entidade em virtude de um acordo com outros investidores; ou - Poder de gerir as políticas operacionais e financeiras da outra entidade por força de uma cláusula estatutária ou de um acordo; ou - Poder para nomear ou demitir a maioria dos membros do conselho de administração ou órgão de gestão equivalente, sendo a entidade controlada por este órgão; ou - Poder de reunir a maioria dos votos nas reuniões do conselho de administração ou órgão de gestão equivalente, sendo a entidade controlada por este órgão. 1.5 Método da Equivalência Patrimonial O método da equivalência patrimonial é definido na NCRF 13 como aquele em que o investimento ou interesse é inicialmente reconhecido pelo custo e, posteriormente, ajustado em função das alterações verificadas, após a aquisição, na quota-parte do investidor ou do empreendedor nos ativos líquidos da investida ou da entidade conjuntamente controlada. Os resultados do investidor ou empreendedor incluem a parte que lhe corresponda nos resultados da investida ou da entidade conjuntamente controlada. O investimento é inicialmente registado ao custo e posteriormente, em cada balanço, é alterado tendo em conta as variações ocorridas nos capitais próprios da investida e, em particular, os lucros ou prejuízos da investida. Os lucros obtidos pelas participadas são reconhecidos como um aumento do valor do investimento e os prejuízos como uma diminuição. Aquando da distribuição de resultados, o valor do investimento é diminuído, como forma de reverter o aumento do valor do investimento pelo reconhecimento dos lucros respetivos, isto é, pela distribuição de resultados ocorre uma alteração na composição dos ativos do investidor, que deixam de estar representados por investimentos financeiros e passam a estar representados por disponibilidades. 14

Podem também ser necessários ajustamentos na quantia escriturada, para alterações no capital próprio da investida que não tenham sido reconhecidas nos resultados da investida. Tais alterações incluem as resultantes da revalorização de ativos fixos tangíveis e das diferenças de transposição de moeda estrangeira. A parte do investidor nessas alterações é reconhecida diretamente no seu capital próprio. As principais alterações ao capital próprio das participadas podem ser resumidas no seguinte quadro: Tabela B Natureza da alteração Débito Crédito Lucro do período Investimentos financeiros Rendimentos e ganhos Prejuízo do período Gastos e perdas Investimentos financeiros Revalorização Investimentos financeiros Capital próprio Distribuição de resultados Depósitos à ordem Investimentos financeiros Aumento de capital em dinheiro Investimentos financeiros Depósitos à ordem Adaptado de: Rodrigues, João. (2012). Sistema de Normalização Contabilística Explicado. 3ª Edição. Porto: Porto Editora. Na aplicação do método da equivalência patrimonial devemos ainda atender às seguintes situações: - Uso de diferentes políticas contabilísticas (ex. diferentes critérios no cálculo das depreciações): o resultado da participada deve ser corrigido para refletir o efeito das diferentes políticas contabilísticas utilizadas pela participante; - Anulação de resultados não realizados: os resultados de transações ascendentes (vendas de uma participada ao seu investidor) ou descendentes (vendas do investidor à sua participada) entre investidor e uma participada cujos resultados não se encontram realizados (o ativo adquirido permanece no ativo do comprador) devem ser eliminados; - Diminuição ou aumento de investimentos financeiros por aumento de capital: num amento de capital realizado em dinheiro, a investidora pode passar a deter uma maior ou menor participação financeira relativamente à detida (se subscrever a totalidade do aumento de capital ou uma percentagem superior à detida ou se não subscrever ou subscrever numa percentagem inferior à detida, respetivamente). Caso passe a deter uma maior participação financeira relativamente à detida, seguem-se as regras aplicáveis ao goodwill ou badwill (trata-se, em substância, de uma compra); caso passe a deter uma menor participação financeira relativamente à detida, deve-se proceder ao reconhecimento do resultado da operação (trata-se, em substância, de uma venda); - Aplicação do ganho da equivalência patrimonial: enquanto a participada não aprovar o pagamento de dividendos, a quota-parte do ganho da investidora nos resultados obtidos pela participada estão por realizar financeiramente e como tal, na proposta de aplicação de resultados, a investidora não poderá contar com esses lucros para efeitos da sua distribuição. Assim, após o reconhecimento pela investidora da quota-parte nos resultados obtidos pela participada, a conta 5712-Lucros não atribuídos, será creditada pela diferença entre os lucros imputáveis à participação e os lucros que lhe foram atribuídos, por contrapartida da conta 56-Resultados transitados. 15

1.6 Goodwill e Badwill O goodwill (diferença de consolidação) representa o excesso do custo da concentração acima do interesse do adquirente no justo valor 3 líquido dos ativos, passivos e passivos contingentes identificáveis da adquirida, reconhecidos à data da compra. Assim, na determinação do goodwill primeiro temos que determinar as eventuais diferenças de avaliação, isto é, temos que substituir os valores contabilísticos dos ativos e passivos da participada pelos seus justos valores e ainda reconhecer eventuais passivos contingentes que sejam mensurados com fiabilidade. Segundo a NCRF 14, após o reconhecimento inicial, numa concentração de atividades empresariais o goodwill deve ser mensurado ao custo, menos eventuais perdas por imparidade acumuladas, não devendo ser amortizado. O goodwill representa um prémio pago relativamente a expetativas na obtenção de benefícios económicos futuros, devendo por isso ser qualificado como um ativo e devendo ser testado anualmente (ou com mais frequência se os acontecimentos ou alterações nas circunstâncias indicarem que pode estar com imparidade) quanto a perdas por imparidade. O badwill representa a diferença negativa entre o custo de aquisição da participação financeira e o justo valor dos ativos, passivos e passivos contingentes identificáveis na participada, isto é, o custo de aquisição da participação é inferior à fração de capitais próprios que lhe respeita, tendo em conta os justos valores e deve-se, normalmente, a perdas operacionais futuras decorrentes de reestruturações da participada ou a compras ocasionais de negócios. Segundo a NCRF 14, ao badwill deve ser dado o seguinte tratamento contabilístico: - Reapreciar a identificação e mensuração dos ativos, passivos e passivos contingentes identificáveis da adquirida e a mensuração do custo da concentração; e - Reconhecer imediatamente no resultado do período qualquer excesso remanescente, após se efetuar aquela reapreciação. 3 É a quantia pela qual um ativo pode ser trocado ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras e dispostas a isso, numa transação em que não exista relacionamento entre elas. 16

2. CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS A consolidação de contas nasce da necessidade do conhecimento da realidade económica e financeira de um grupo de empresas como um todo, como se de uma única entidade tratasse. A consolidação de contas surge assim, como uma técnica de natureza contabilística que tem como principal objetivo elaborar demonstrações financeiras de um grupo de entidades (demonstrações financeiras consolidadas), como se de uma única se tratasse. A única entidade relevante para efeitos de prestação de informações financeiras é o grupo e não cada uma das entidades que o compõem. As demonstrações financeiras consolidadas têm por base as demonstrações financeiras individuais das diversas entidades pertencentes ao grupo que, após o processo de consolidação e agregação, visa dar-nos a conhecer a imagem verdadeira e apropriada da situação económico- -financeira do grupo como um todo. 2.1 Enquadramento legal e conceitos relevantes Na sequência da publicação do Decreto-Lei nº 238/91, de 2 de julho, que transpôs para o direito interno a exigência de elaboração de contas consolidadas prevista na 7ª Diretiva, a generalidade dos grupos económicos passou a estar obrigado à apresentação de demonstrações financeiras consolidadas, desde que observados determinados requisitos. A consolidação de contas tem por base a NCRF 15 (que tem por base a IAS 27 Demonstrações financeiras separadas), a qual deve ser aplicada na preparação e apresentação das demonstrações financeiras consolidadas de um grupo de empresas sob o controlo de uma empresa mãe. Foi ainda emitida a Norma Interpretativa 1 Consolidação Entidades de finalidades especiais que decorre da SIC 12 Consolidação Entidades de finalidades especiais aprovada em junho de 1998 pelo IASB. Esta Norma Interpretativa procurou esclarecer em que circunstância uma Entidade de Finalidades Especiais deve ser consolidada. O entendimento expresso foi de que uma Entidade com Finalidades Especiais deve ser consolidada quando a substância do relacionamento entre a empresa mãe e a Entidade de Finalidades Especiais indica que esta é controlada por aquela, devendo o conceito de controlo ser julgado em cada caso concreto e com base em todos os factos relevantes (a Norma fornece exemplos de circunstâncias que podem indicar um situação de controlo da Entidade de Finalidades Especiais). De acordo com o artigo 7º do Decreto-Lei nº 158/2009, de 13 de julho 4, uma empresa mãe fica dispensada de elaborar demonstrações financeiras consolidadas quando, na data do seu balanço, o conjunto das entidades a consolidar, com base nas suas últimas contas anuais aprovadas, não tenham ultrapassado dois dos seguintes três limites, durante dois períodos consecutivos: - Total do balanço: 7,5 milhões de euros; - Total das vendas líquidas e outros rendimentos: 15 milhões de euros; e 4 Decreto-Lei que aprova o Sistema de Normalização Contabilística. 17

- Número médio de trabalhadores no período: 250. Também fica dispensada de elaborar demonstrações financeiras consolidadas, qualquer empresa mãe que, por sua vez, seja subsidiária de outra empresa mãe situada na União Europeia, se esta detiver 90%, ou mais, do capital daquela e os sócios minoritários tenham aprovado a dispensa. As dispensas referidas não se aplicam se uma das entidades a consolidar for uma sociedade cujos valores mobiliários tenham sido admitidos ou estejam em processo de vir a ser admitidos à negociação num mercado regulamentado de qualquer Estado membro da União Europeia. De acordo com a NCRF 15, quando forem preparadas demonstrações financeiras individuais por uma empresa mãe que esteja dispensada de elaborar contas consolidadas, essas demonstrações financeiras individuais devem divulgar: - O facto de que as demonstrações financeiras são demonstrações financeiras individuais; que a dispensa de consolidação foi usada; o nome e o país de constituição ou sede da entidade que elabora demonstrações financeiras consolidadas; e a morada onde essas demonstrações financeiras consolidadas podem ser obtidas; - Uma listagem dos investimentos significativos em subsidiárias, entidades conjuntamente controladas e associadas, incluindo o nome, o país de constituição ou domicílio, a proporção do interesse de propriedade e, se for diferente, a proporção do poder de voto detido; e - Uma descrição do método usado para contabilizar os investimentos da listagem divulgada. Para além destas, a NCRF 15 prevê ainda o seguinte conjunto de divulgações a considerar nas demonstrações financeiras consolidadas: - A natureza da relação entre a empresa mãe e uma subsidiária, quando a empresa mãe não possua direta ou indiretamente, através de subsidiárias, mais de metade dos direitos de voto; - Razões pelas quais a propriedade, direta ou indiretamente, através de subsidiárias, de mais de metade do poder de voto ou do potencial poder de voto de uma investida não constitui controlo; - A data de relato das demonstrações financeiras de uma subsidiária, quando essa data corresponder a um período diferente da empresa mãe e a razão para usar uma data de relato ou período diferente; e - A natureza e extensão de restrições significativas sobre a capacidade das subsidiárias para transferirem fundos para a empresa mãe sob a forma de dividendos em dinheiro ou para reembolsarem empréstimos ou adiantamentos. De acordo com o artigo 8º do Decreto-Lei nº 158/2009, de 13 de julho, devem ser excluídas da consolidação 5 : - As entidades que, individual ou em conjunto, não sejam materialmente relevantes; - As entidades relativamente às quais existam restrições severas e duradouras que prejudiquem substancialmente o exercício pela empresa mãe dos seus direitos sobre o património ou a gestão dessas entidades; - As entidades cujas partes de capital tenham sido adquiridas exclusivamente tendo em vista a sua cessão posterior. Deixam de ser excluídas da consolidação as entidades com atividades dissemelhantes das atividades das outras entidades do grupo. 5 Não se aplica quando as demonstrações financeiras consolidadas sejam preparadas de acordo com as normas internacionais de contabilidade adotadas pela União Europeia. 18

O que é um grupo? Um grupo é constituído por uma empresa mãe (centro de decisão) e todas as suas dependentes, cujos elementos caracterizadores são: - Entidades juridicamente autónomas; - Depender de um único centro de decisão (empresa mãe), dependência que pode assumir as seguintes naturezas: - Dependência financeira, que resulta da detenção da maioria dos direitos de voto em Assembleia Geral; - Dependência diretiva, que resulta do poder de designar ou substituir a maioria dos membros da administração, de gerência ou da fiscalização da dependente; - Dependência contratual, que resulta de acordos com uma entidade ou com alguns dos seus acionistas/sócios; - Dependência económica, que resulta de uma situação de quase monopólio das atividades do grupo ou da celebração de acordos de subcontratação ou de relação especial de negócio (ex. franchising) relativamente à entidade centro de decisão. Que tipos de grupo existem? Considerando o grupo como um conjunto de entidades juridicamente autónomas, dependentes de um único centro de decisão, podemos falar de: - Grupo de subordinação ou vertical, constituído por uma empresa participante e dependentes, submetidas ao seu controlo, ou influência significativa, por força da detenção, direta ou indiretamente, de participações financeiras; - Grupo de coordenação ou horizontal, constituído por entidades não ligadas por uma relação de dependência financeira entre si, mas submetidas a um único centro de decisão resultante, não do domínio financeiro de uma delas, mas de outro tipo de dependência. O que é percentagem de interesse e percentagem de controlo? Percentagem de interesse é a fração de capital ou quota-parte do património detida, direta ou indiretamente, na dependente, isto é, valor de partilha que caberia ao participante em caso de liquidação ou extinção da participada. Não serve para determinar o perímetro de consolidação, mas é utilizado na fase da consolidação a fim de determinar a parte do grupo nos ativos líquidos da participada. Percentagem de controlo é o grau de dependência da participada relativamente à participante, quanto à tomada de decisão, isto é, percentagem de direitos de voto da participada que a participante consegue controlar, quer direta ou indiretamente, quer através de contratos ou acordos parassociais. É utilizada na determinação do perímetro de consolidação, não sendo o único critério a ter em conta. Exemplos: Situação A M 75% 45% B A 55% Percentagem de controlo de M sobre A: 45% + 55% = 100% Percentagem de interesse de M em A: 45% + (75% x 55%) = 86,25% 19

Situação B M 51% 45% B A 40% Percentagem de controlo de M sobre A: 45% + 40% = 85% Percentagem de interesse de M em A: 45% + (51% x 40%) = 65,40% Situação C M 25% 45% B A 50% Percentagem de controlo de M sobre A: 45% + 0% = 45% Percentagem de interesse de M em A: 45% + (25% x 50%) = 57,50% Que tipos de controlo existem? Sendo o controlo o poder de gerir as políticas operacionais e financeiras de uma entidade, podemos falar de: - Controlo exclusivo, em que a entidade participante detém uma percentagem de controlo superior a 50%; - Controlo conjunto, em que o controlo da participada está distribuído por um grupo restrito de participantes, todas com poder equivalente; - Influência significativa, em que a entidade participante exerce algum poder de controlo sobre a participada, mas que não é dominante (normalmente corresponde a percentagens de controlo entre os 20% e os 50%) O que são interesses minoritários? São a parte de resultados e dos ativos líquidos de uma subsidiária atribuível a interesses de capital próprio que não sejam detidos, direta ou indiretamente através de subsidiárias, pela empresa mãe. Também são referidos como interesses não controlados. O que é o perímetro de consolidação? É o conjunto de todas as empresas que vão ser englobadas para efeitos de consolidação de contas, bem como a identificação dos correspondentes métodos de integração. 20

2.2 O processo de consolidação A consolidação de contas tem por objetivo preparar as demonstrações financeiras de um grupo de empresas, como se de uma única empresa tratasse, consistindo na integração das demonstrações financeiras individuais das empresas dependentes, juridicamente autónomas, num único conjunto de demonstrações financeiras da empresa mãe. As demonstrações financeiras consolidadas são um complemento e não um substituto das demonstrações financeiras individuais de cada uma das empresas sujeitas a consolidação, devendo ser elaboradas a partir destas e com base nos mesmos princípios e critérios contabilísticos, tendo como objetivo dar uma imagem verdadeira e apropriada da posição financeira, dos resultados das operações e das alterações à posição financeira do conjunto dessas empresas, visto como um todo. A elaboração de contas consolidadas visa responder a necessidades de informação interna e externa: - Informação interna ao permitir melhorar o conhecimento do grupo através de análises individuais das participadas, dando-nos a conhecer a sua performance, bem como o seu contributo para o resultado, para as necessidades de financiamentos, etc., facilitando a gestão das entidades do grupo ao ser disponibilizada informação elaborada segundo os mesmos princípios e critérios contabilísticos; - Informação externa ao permitir um conhecimento global do grupo, dando-nos a conhecer o sua situação patrimonial (ativos, passivos e capitais próprios do grupo) e financeira (equilíbrio e ciclos financeiros do grupo), assim como os seus resultados (rendimentos e ganhos e gastos e perdas do grupo). No processo de consolidação devem ser observadas as seguintes etapas: 1º Determinação do perímetro de consolidação - conjunto de todas as empresas do grupo que vão ser englobadas na consolidação; 2º Identificação do método de consolidação - existem três métodos de consolidação de contas, a saber: - Método de consolidação integral: aplica-se às partes de capital em subsidiárias: - Método de consolidação proporcional: aplica-se às partes de capital em entidades conjuntamente controladas; e - Método da equivalência patrimonial: aplica-se às partes de capital em associadas; 3º Ajustamentos prévios: - Conversão para moeda local das demonstrações financeiras de subsidiárias estrangeiras: regra geral, as contas são expressas na moeda em que são elaboradas as contas da empresa mãe; - Data base das contas consolidar: quando as demonstrações financeiras são preparadas com datas de referência diferentes, devem ser feitos ajustamentos relativamente aos efeitos de transações significativas ou de outros acontecimentos que ocorram entre essas datas e a data das demonstrações financeiras da empresa mãe (diferença entre datas que não deve exceder os 3 meses); - Homogeneização das políticas contabilísticas: sempre que as políticas contabilísticas seguidas por algumas das empresas a consolidar divirjam das políticas da empresa mãe; 4º Somatório das demonstrações financeiras das várias empresas do grupo: 21

5º Operações de consolidação: - Eliminação da participação financeira em empresas do grupo; - Eliminação da quota-parte dos capitais próprios das empresas do grupo; - Reconhecimento do goodwill (>0) ou badwill (<0); - Identificação dos interesses minoritários nos ativos líquidos e nos resultados das subsidiárias consolidadas, em rubricas separadas do capital próprio dos acionistas da empresa mãe e do resultado consolidado, respetivamente; - Eliminação dos saldos e transações resultantes de operações realizadas entre empresas do grupo (operações recíprocas); - Eliminação dos resultados provenientes de transações intragrupo que sejam reconhecidos nos ativos, tais como inventários e ativos fixos tangíveis (operações não recíprocas); 6º Elaboração das demonstrações financeiras consolidadas. 2.3 Limitações da consolidação São consideradas limitações da consolidação a eventual falta de comparabilidade das demonstrações financeiras consolidadas a fim de identificar tendências na posição financeira e no seu desempenho do grupo. Podem surgir alterações no perímetro de consolidação ou nas percentagens de participação que ponham em causa a comparabilidade da informação financeira do grupo entre períodos (comparação no tempo). Também o facto de cada grupo apresentar caraterísticas e atividades próprias, geralmente com pouca relação com as de outro grupo económico, dificulta a comparação entre grupos (comparação do espaço). Ao basearm-se em princípios e critérios contabilísticos, os valores consolidados podem afastar- -se dos valores que traduzem a verdadeira realidade económica e financeira do grupo. 2.4 Preparação da consolidação e escolha do método O processo de consolidação de contas não deve ser descurado, dada a sua complexidade e prazos a respeitar. Assim, devem ser tidos como documentos necessários à consolidação: - Manual de consolidação; - Dossier de consolidação. O manual de consolidação é como que um guia do trabalho de consolidação, isto é, deve conter todas as normas, princípios e critérios seguidos pela empresa mãe na consolidação de contas. Os principais itens a considerar são: - Plano de contas: visa a homogeneização das contas de grupo, incluindo contas específicas da consolidação, nomeadamente de Interesses Minoritários e Goodwill; - Cronograma do trabalho de consolidação: visa a elaboração e divulgação em tempo útil das contas consolidadas, através do cumprimento dos principais prazos estabelecidos pelo grupo, nomeadamente a data limite para a receção do dossier de consolidação de cada empresa do grupo, a data limite para a reconciliação das contas e das operações intragrupo, a data para a elaboração das contas consolidadas e respetiva divulgação; 22