Mapa de Infraestrutura do Pré-Sal

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Transcrição:

Mapa de Infraestrutura do Pré-Sal Outubro 2017

Mapa Infraestrutura do pré-sal As maiores descobertas de petróleo e gás na camada pré-sal encontram-se a uma distância aproximada de 200 a 300 km da costa terrestre, na Bacia de Santos, localizada entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo. Por conta do distanciamento com o continente, quando se fala em pré-sal, duas questões importantes precisam ser elucidadas: quais os reais impactos e riscos socioambientais decorrentes da exploração desses recursos? Qual a infraestrutura necessária a ser instalada no continente para garantir o escoamento e processamento dos recursos extraídos no pré-sal? Este mapa busca responder parte desses questionamentos. Apresentamos, de forma articulada, as principais atividades, as unidades industriais, os empreendimentos e a infraestrutura que, direta ou indiretamente, está relacionada à exploração do pré-sal e à cadeia de petróleo e gás na Bacia de Santos. Com este esquema gráfico, pretende-se contribuir na análise dos possíveis riscos socioambientais dessa atividade e dos efeitos sinérgicos (acumulativos) decorrentes da instalação dessa infraestrutura, ou seja, do modo como as diferentes atividades e empreendimentos interferem de maneira articulada e acumulativa nos territórios. Este material tem ainda o intuito de colaborar com uma abordagem integrada do que vem significando os impactos diversos provocados por grandes empreendimentos em um determinado território. Abordagem esta mais centrada nas pessoas, nos próprios territórios e nos ecossistemas, do que na lucratividade gerada pelas atividades tornando mais evidente como vem se dando o uso do espaço (território / recursos naturais) e quem se beneficia deste uso. 1. Infraestrutura direta: Portos e Aeroportos A malha portuária e a logística aeromarítima são utilizadas pela Petrobras principalmente para a realização de atividades de apoio, como abastecimento e manutenção das embarcações, envio de alimentação, equipamentos, coleta de resíduos e transporte de trabalhadores. Os aeroportos mais utilizados são o de Cabo Frio (RJ), Jacarepaguá (RJ) e Ubatuba (SP). Já os portos também são utilizados pelos navios aliviadores, embarcações responsáveis pela coleta de óleo nas plataformas que operam no pré-sal. Este é o principal mecanismo de transporte do óleo extraído: armazenamento nos navios-plataformas (FPSO), posterior transferência para os aliviadores e destes para os portos no continente. Conforme informações apresentadas no EIA/RIMA Etapa 2 a duração aproximada da transferência entre as embarcações é de 15 a 24 horas, a ser realizada de 1 a 3 vezes por mês. Os portos mais utilizados são o do Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), São Sebastião (SP) e Angra dos Reis (RJ), além do porto Madre de Deus, na Bahia no mapa o tráfego das embarcações é representado pelos fluxos da densidade de navegação.

Gasodutos O gás natural é escoado por extensos gasodutos que ligam a área do pré-sal aos terminais na região litorânea. Apesar de ser um único sistema dutoviário oceânico, no processo de licenciamento o mesmo é dividido em três rotas. A primeira conecta os campos do pré-sal à Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA) em Caraguatatuba (SP). Com 380 km de extensão a rota dois tem como destino o Terminal de Cabiúnas (TECAB) em Macaé (RJ). A terceira faz a interligação dos campos do pré-sal até a Praia de Jaconé em Maricá, através de um duto oceânico de 307 km de extensão e deste até o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj) por um duto terrestre de 48 km de extensão. Além das rotas principais, existe um conjunto de outros dutos oceânicos menores, que interligam os navios-plataformas e os campos de produção na Baía de Guanabara. Há também gasodutos terrestres que fazem as conexões entre as unidades de tratamento, refinarias e portos. Refinarias As refinarias são unidades responsáveis pela transformação do petróleo bruto em produtos que serão utilizados no dia a dia, como diesel, gasolina, lubrificantes, dentre outros. Em São Paulo estão localizadas três refinarias mais diretamente relacionadas ao pré-sal: Henrique Lage, Presidente Bernardes e Capuava, localizadas em São José dos Campos, Cubatão e Mauá, respectivamente. As três estão entre as refinarias mais antigas do país, com capacidade para processar 40.000, 28.300 e 8.500 m³ de óleo por dia, cada uma delas. No Rio de Janeiro destaca-se a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), localizada no distrito de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) em Itaboraí. Terminais e unidades de tratamento Essas unidades estão relacionadas ao armazenamento, tratamento e distribuição do petróleo e gás que são extraídos nos poços em alto mar e escoados até as refinarias. Dois desses terminais têm uma ligação direta com as áreas do pré-sal, a Unidade Monteiro Lobato (UTGCA), em Caraguatatuba/SP, através da rota 1 e o Terminal Cabiúnas (TECAB) em Macaé/RJ, através da rota 2, que está interligado com a Reduc através de dois dutos de cerca de 180 km de extensão. Há ainda outros dois terminais importantes: o Terminal Baía da Ilha Grande (TEBIG), em Angra dos Reis/RJ, que atende a Reduc e o Terminal de São Sebastião. Este último, localizado na cidade de mesmo nome, é a maior unidade operacional da Transpetro e abastece as Refinarias de Capuava e Presidente Bernardes em São Paulo. Os dois terminais possuem portos ao redor que auxiliam na logística. Plataformas fixas e navios-plataformas (FPSO) Atualmente na Bacia de Santos existem duas plataformas fixas, denominadas Merluza e Mexilhão, que, apesar de uma instalação mais simples e de permitir o controle dos poços pela superfície, não possuem a capacidade de armazenamento dos recursos. Para compensar esta

capacidade limitada de estocagem, existem 13 navios-plataformas na área do pré-sal, denominados de FPSO, da sigla em inglês de Floating, Production, Storage and Offloading, nome dado em referência à capacidade dessas embarcações de produzir, armazenar e realizar operações de transferência de oléo para navios-aliviadores. No campo de Lula existem os seguintes FPSOs: Angra dos Reis, Paraty, Mangaratiba, P-66, Itaguai, Maricá e Saquarema. No campo de Uruguá está localizado o FPSO Cidade de Santos e no campo de Sapinhoá os FPSOs Cidade de São Paulo e Cidade e Ilha Bela. No campo da Lapa está o FPSO Cidade de Caraguatatuba. Além desses FPSOs, existem dois navios que realizam atividades de produção de curta duração para testar novos reservatórios no pré-sal, denominados Dynamic Producer e Cidade de São Vicente, que atualmente encontram-se nos campos de Búzios e Sépia, respectivamente. 2. Infraestrutura indiretamente associada: A infraestrutura indiretamente associada ao pré-sal é destacada nesta publicação pois outros empreendimentos promovem impactos negativos para os territórios mesmo não estando relacionados à cadeia de petróleo e gás, mas por estarem localizados na mesma área de influência da infraestrutura do pré-sal. A avaliação dos efeitos sinérgicos de atividades em uma determinada localidade é um dos maiores desafios no processo de licenciamento ambiental. Entende-se como efeitos sinérgicos as consequências resultantes de várias ações simultâneas, de modo que o total dessas ações e suas implicações aos territórios seja maior que a simples soma dos efeitos individuais e ensejem alterações significativas na dinâmica socioambiental de uma dada região, a partir da acumulação de impactos locais, provocados por mais de um empreendimento. Dentre várias unidades industriais ligadas à cadeia produtiva do petróleo, destaca-se a multinacional alemã Bayer, localizada próximo da Reduc, em Belford Roxo. A empresa mantém no município três unidades desde 1958, a CropScience (agronegócio), HealthCare (saúde) e MaterialScience que desenvolve materiais inovadores para revestimentos. No setor da siderurgia destaca-se a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, que ocupa o segundo lugar na produção de minério de ferro no país, e a Thyssenkrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), localizada em Santa Cruz. Considerada a maior siderúrgica da América Latina, a TKCSA possui a capacidade de produzir até 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano. A empresa operou por mais de 7 anos sem licença ambiental, aumentando sozinha mais de 70% as emissões de CO2 do estado. A siderúrgica tem ainda gerado conflitos com pescadores no canal de São Francisco além de produzir sistematicamente as chamadas chuvas de prata, um pó prateado expelido pela fábrica, extremamente prejudicial à saúde da população que reside no entorno. Destaca-se ainda o Arco Metropolitano, rodovia construída para interligar a Baixada Fluminense, onde estão o Comperj e a Reduc, ao Porto de Itaguaí, localizado na Baía de Sepetiba. Porém, depois de dois anos da inauguração da obra, que custou cerca de R$ 2 bilhões quatro vezes mais do que o previsto incialmente, as obras ainda estão inacabadas e são recorrentes os relatos de abandono, aumento do número de roubo de cargas e assaltos a veículos, além da falta de manutenção na via.

Próximo do Terminal de Ilha Grande e do Porto de Angra dos Reis está localizado a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, formada pelo conjunto das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, ambas em operação, e Angra 3, ainda em construção, todas de propriedade da Eletronuclear. Além dos riscos permanentes de acidentes, a usina Angra 3 está com obras paralisadas devido às investigações sobre irregularidades nos contratos firmados. A previsão da Eletronuclear é que a nova usina entre em operação comercial em 2019 e conte com um investimento total de cerca de R$ 14,8 bilhões. 4. Conflitos e impactos nos territórios A despeito da geração de empregos, renda e arrecadação de impostos, as unidades industriais, refinarias, portos e demais empreendimentos apresentados aqui são marcados por polêmicas, contestações, impactos negativos e conflitos socioambientais. Como pode ser observado no mapa A, e com mais detalhes nos mapas B e C, essas unidades muitas vezes se sobrepõe ou estão instaladas nas proximidades de bairros periféricos ou de baixa renda, de unidades de conservação, de assentamentos rurais, de terras indígenas, de territórios quilombolas, de caiçaras e de pescadores artesanais, ampliando a dimensão dos riscos para essas populações e para o meio ambiente. Por exemplo, a Reduc, uma das maiores refinarias do país, é marcada por acidentes e vazamentos. O mais emblemático ocorreu em 1972, com explosões em tanques de gás levando 42 trabalhadores a óbito e deixando pelo menos 50 feridos. Além disso, as atividades da Reduc têm sido sistematicamente associadas à emissão de gases, poluição dos corpos hídricos, conflitos ambientais envolvendo pescadores e populações locais, por conta da implementação de dutos, pavimentação e do abastecimento de água. Estima-se que a Reduc consuma diariamente 41.342 m³ de água, volume superior à média de consumo diário de água por habitante no Estado, que é de 0,236m³ 1. Pode-se falar também do COMPERJ, anunciado em 2006 como um grande impulsionador da indústria do petróleo no país, com expectativas de geração de cerca de 200 mil empregos e ampliação da capacidade de refino no país. Ocupando uma área de 45 km² e com investimentos de U$ 8,5 bilhões de dólares estima-se que esse montante já ultrapasse U$ 14 bilhões, o maior investimento público-privado já realizado no país, a obra atualmente encontra-se paralisada, por conta da crise envolvendo a Petrobras e a Operação Lava-Jato deflagrada pela Polícia Federal, que investiga fraudes e pagamento de propinas das principais empresas responsáveis pelas obras. Os efeitos negativos decorrentes dessa paralisação são perversos para os municípios da região, que sofrem com a queda na arrecadação de impostos e redução dos empregos gerados. 1 Veja mais em: Fórum dos atingidos pela indústria do petróleo e petroquímica nas cercanias da Baía de Guanabara FAPP/BG (org.). 50 anos da Refinaria Duque de Caxias e a expansão da indústria petrolífera no Brasil: conflitos socioambientais no Rio de Janeiro e desafios para o país na era do Pré-Sal. Rio de Janeiro, FASE, 2013.

Baía de Guanabara Na Baía de Guanabara tem ocorrido um aumento significativo da infraestrutura ligada á indústria do petróleo nos últimos anos com riscos e até sobreposição de áreas de pesca artesanal, bairros periféricos, unidades de conservação e pontos de interesse geológico. No mapa C, pode-se observar a APA de Guapimirim e a ESEC Guanabara, local que resguarda rica biodiversidade, a localização aproximada de pescadores artesanais, que têm sido sistematicamente afetados, e os beachrocks, formações geológicas raras que encontram-se ameaçadas com a instalação do Porto de Jaconé. Uma das principais implicações negativas que já pode ser percebida é o incremento na navegação das embarcações de apoio e alívio na Bacia de Santos para operação no pré-sal. De acordo com o Projeto de Monitoramento do Tráfego de Embarcações, entre os anos de 2013 e 2014, esse aumento foi significativo, e se traduz na intensidade de uso das áreas de fundeio, no número de embarcações registradas, no número de atendimentos realizados, na taxa de utilização das bases portuárias e no total de atracações. Esse cenário tem ocasionado a redução da pesca artesanal na baía nos últimos anos. Para se ter uma ideia, de cerca de 46% do espelho d água é tomado pela atividade petrolífera e apenas 12% de superfície contínua de água da baía está livre para pesca. Os maiores incrementos ocorrem na região do polo pré-sal e no corredor de navegação deste com os portos do Rio de Janeiro e Niterói, ou seja, na Baía de Guanabara. A entrada da baía, por exemplo, apresentou um fluxo médio de 10 a 36 embarcações trafegando por dia em 2014. Baía de Sepetiba e Ilha Grande A região da costa verde é assim denominada por conta de sua exuberante beleza natural e da floresta que fica a poucos metros de distância da faixa de praia. Nos últimos anos foram criadas diferentes áreas protegidas que formam um verdadeiro mosaico de unidades de conservação. Na região, destacam-se a APA de Cairuçu, Reserva Ecológica da Juatinga, Parque Estadual da Ilha Grande, APA e ESEC Tamoio e, principalmente, o Parque Nacional Serra da Bocaina. Essas unidades resguardam uma importante biodiversidade, característica da Mata Atlântica, do estado do Rio de Janeiro. Além disso, a região tem sido historicamente ocupada por populações tradicionais que tem seu modo de vida diretamente ligado ao uso sustentável da natureza, fator indispensável para a reprodução social e cultural dessas comunidades. Ali, encontram-se centenas de caiçaras, pescadores artesanais e quilombolas, que vivem principalmente da pesca, da caça, da agricultura, do artesanato e, mais recentemente, do turismo sustentável. Essas comunidades têm sido os principais agentes na preservação da floresta e dos ecossistemas locais. Essa região também é ocupada por populações indígenas Guarani e Pataxós do Rio de Janeiro, historicamente expropriadas, desde a colonização portuguesa até os dias de hoje. Das oito aldeias existentes no estado, apenas três são demarcadas e, mesmo assim, são vulnerabilizadas pela ausência de políticas públicas que lhes contemplem. A educação diferenciada bilíngue, por exemplo, ainda não é uma realidade para todas as crianças, além da falta de professores indígenas e da estrutura precária das salas de extensão da única escola estadual localizada no município de Angra dos Reis. Os territórios indígenas têm sido pressionados pela especulação imobiliária e por empresários da região.

Toda essa riqueza natural, social e cultural tem sido ameaçada nos últimos anos em decorrência do aumento das atividades relacionadas à indústria do petróleo, em especial aquelas relacionadas ao pré-sal na Bacia de Santos, através do Terminal da Baía da Ilha Grande, Porto de Angra e Porto de Sepetiba que recebem um fluxo significativo de embarcações que operam no pré-sal. Além disso, outros projetos agravam a situação de ameaças ao modo de vida tradicional, como a TKCSA na Baía de Sepetiba e as Usinas Nucleares de Angra dos Reis na Baía da Ilha Grande, que têm deixado a população em permanente situação de alerta e preocupação. Os povos tradicionais da Costa Verde, através do Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra, Parati e Ubatuba, têm reivindicado que os programas e projetos relacionados às condicionantes ambientais das atividades ligadas à exploração do pré-sal e das usinas nucleares contemplem suas demandas e reduzam significativamente o processo de vulnerabilização. 5. Considerações finais A partir desses exemplos foi possível identificar as principais implicações territoriais relacionadas à infraestrutura do pré-sal, bem como toda a rede de unidades industriais, empreendimentos e atividades que estão inseridas na região, como também as possíveis sobreposições com unidades de conservação, terras indígenas, quilombolas e pesca artesanal. Apesar da exploração do pré-sal ocorrer a pelo menos 200 km do continente, fica evidente que os territórios não estão isentos de sofrerem conflitos e impactos negativos decorrentes dessa atividade, algo que precisa ser considerado, evidenciado e investigado pelos órgãos públicos e devidamente discutido com a sociedade civil.