Proposta de um nariz artificial com inspiração biológica

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Transcrição:

Proposta de um nariz artificial com inspiração biológica Marizete S. Santos, Teresa B. Ludermir Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Caixa Postal 7851 Cidade Universitária CEP 50.732-970, Recife PE - Brasil {mss,tbl}@cin.ufpe.br Francisco L. dos Santos Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP Rua do Príncipe, 526, Boa Vista CEP 50.050-900, Recife PE - Brasil chico@unicap.br Sumário Neste artigo apresentamos a proposta de um nariz artificial construído com base na anatomia do nariz humano, bem como, seu sistema de reconhecimento de padrão. Objetivando um melhor entendimento do seu funcionamento mostramos algumas informações do sistema olfativo humano que estão relacionadas com o modelo de rede neural artificial proposto e fazemos um estudo comparativo entre o nariz artificial e o biológico. 1. Introdução Embora o termo nariz artificial não seja do conhecimento da maior parte da população, certamente o seu desenvolvimento poderá ajudá-la em aplicações de muita utilidade. Assim como o nariz humano, o nariz artificial pode ser utilizado em diversas aplicações [Keller, 96], como o controle ambiental através do monitoramento da qualidade do ar, detecção de vazamento de óleo, controle de qualidade de alimentos e bebidas, tráfego de drogas, fiscalização de produtos falsificados e pode ainda servir como uma ferramenta preciosa de diagnóstico médico. Apesar do nosso grupo de pesquisa já ter desenvolvido três protótipos de nariz artificial [Santos, 99], [Santos, 00] sem considerar a plausibilidade biológica, neste artigo apresentamos o quarto protótipo de um nariz artificial cuja construção e sistema de reconhecimento de padrão foi inspirada na anatomia do nariz humano. Mostramos os resultados alcançados tanto com odores simples, tais como etanol, metanol, propanol e tetracloreto de carbono, quanto com odores complexos da mistura de gasolina com etanol em diferentes concentrações. 1

2. Sistema olfativo humano Embora os mistérios que cercam o cérebro e as dificuldades em se estudar o sistema olfativo ainda sejam problemas contemporâneos, muitos pesquisadores têm dedicado esforços nesse final de século para elucidá-los. Dado a quantidade de pesquisas na área já se tem conhecimento de muitas informações sobre a anatomia básica do nariz e do sistema olfativo. Quando cheiramos uma flor, as moléculas odoríferas que evaporam e estão flutuando no ar entram através das fossas nasais e encontram com as células receptoras localizadas em uma pequena região entre as 2 sombrancelhas, denominada de epitélio olfativo ou mucosa olfativa clássica [Aires, 91]. Após o contato inicial dessas moléculas odoríferas com as células receptoras, um fluxo básico da informação olfativa segue para o cérebro [Freeman, 91]. A fase posterior a este contato é feita no bulbo olfativo, uma expansão do cérebro que tem a forma ligeiramente aproximada de uma pequena uva alongada, localizada em cada narina. No bulbo os axônios dos diversos grupos de receptores convergem para regiões chamadas de glomérulos (Figura 1) (em latin significa pequenas bolas) que integra e envia os sinais para outras regiões do cérebro. Figura 1: Distribuição dos glomérulos no bulbo olfativo 2

Nesta região existe uma grande quantidade de diversos tipos de células que formam uma rica rede de conexões (Figura 2). Figura 2: Interconexões no bulbo olfativo Entre elas estão as células receptoras, mitrais, em tufo, etc. Existem milhões de células receptoras de odor, de aproximadamente 1.000 tipos diferentes e cerca de 2.000 glomérulos em cada bulbo [Axel, 95]. Há, portanto, mais receptores que glomérulos. Encontramos aproximadamente 70.000 células mitrais e 160.000 células de Tufo no bulbo olfativo do nariz humano. Há algumas evidências indicando que glomérulos individuais tem características de 3

classificação de sensitividade para diferentes odores. A estrutura organizacional dos glomérulos sugere um importante papel funcional para eles próprios no processamento da informação olfativa. Assim, se pode notar que devem existir níveis de organização hierárquica dos axônios. Em todos os outros sistemas sensoriais o cérebro utiliza os padrões espaciais e a posição dos neurônios para definir a qualidade de uma sensação. Uma possibilidade é a aplicação de uma lógica similar ao sentido do cheiro pelo cérebro. Existe portanto várias possibilidades de organização dos neurônios e axônios no nariz e no cérebro. Uma possível organização das informações sensoriais pode ser feita na entrada do bulbo, Figura 3. Embora os neurônios com o mesmo tipo de receptor estejam espalhados por todo o epitélio olfativo, seus axônios são interligados a uma rede de glomérulos no bulbo olfativo formando um mapa espacial altamente organizado dos sinais detectados. As informações vindas de diferentes receptores de odorantes são mapeadas dentro de diferentes glomérulos. Neste cenário, os neurônios que levam um certo tipo de receptor devem ser posicionados de forma aleatória no epitélio olfativo e os seus axônios devem convergir para uma determinada área do cérebro. Neste caso a exposição de um odor particular deve resultar em um padrão de atividades definido no cérebro. Figura 3: Nível de organização da informação nos gromérulos do bulbo olfativo A explicação para a interpretação desta organização se baseia em 3 descobertas: 1) um único receptor pode reconhecer muitos odorantes; 2) um único odorante é reconhecido por vários receptores e 3) diferentes odorantes são reconhecidos por diferentes combinações de receptores. Portanto, o sistema olfativo usa um esquema combinatorial para codificar ou representar a identidade dos odores [Axel, 95]. 4

3. O que é um nariz artificial Embora o nariz artificial seja bem diferente do nariz humano, quanto aos vários aspectos de sensores, materiais constituintes e órgãos complexos, ambos apresentam praticamente as mesmas etapas de detecção e processamento dos sinais. Na parte superior da Figura 4 podem ser identificadas as etapas de reconhecimento do odor do sistema olfativo biológico e na segunda linha podem ser vistas as fases equivalentes no processo de detecção do odor através de um nariz artificial. Nariz biológico Células receptoras olfativas Bulbo olfativo Cérebro Reconhecido como rosa Sensores de polímeros Sinal processado Rede Neural Reconhecido como rosa 011 Nariz artifical Figura 4: Quadro comparativo da olfação humana com o nariz artificial A primeira fase no sistema olfativo humano é caracterizada por um conjunto de células receptoras olfatórias, situadas na parte superior do nariz, responsáveis pelo primeiro contato com as moléculas de odor que estão expostas no ar. A correspondência desta fase no nariz eletrônico é feita com o conjunto de sensores eletrônicos construídos a base de polímeros condutores que sofrem uma mudança em suas resistividades elétricas quando em contato com as moléculas de algum odor. Os sinais de detecção do odor no sensor correspondem a valores de resistências que são armazenadas no computador ou valores da tensão elétrica presentes no filme polimérico. Após a reação físico-química do primeiro estágio começa o processamento ou etapa de identificação ou reconhecimento do sinal. Não existe teoria universalmente aceita que explique como este processamento é feito. Freeman [Freeman, 91] acredita que o bulbo olfativo é uma região de convergência dos sinais onde diversas camadas de células realizam 5

uma espécie de pré-tratamento dos dados de odor. A função destas células neste estágio é reduzir o ruído pela compressão dos sinais e amplificação da saída, isto aumenta, a seletividade 1 e a sensibilidade 2 do sistema olfativo. O estágio correspondente no nariz eletrônico é o pré-processamento dos dados. Esses sinais emitidos pelos sensores são digitalizados e pré-processados objetivando eliminar ruídos e adequá-los para a entrada de dados da técnica de reconhecimento de padrão. Fatores como deslocamento do sensor e escala ou faixa de valores podem também ser tratados nesta fase de pré-processamento. Após o pré-processamento, células do próprio bulbo podem fazer o reconhecimento do odor [Freeman, 91] ou então os sinais são enviados ao córtex olfativo onde o reconhecimento do odor é feito [Axel, 95]. A última fase do reconhecimento do odor no sistema olfativo pode ainda ser executada pelo cérebro após o tratamento e codificação do sinal que é enviado para regiões mais altas do cérebro [Freeman, 95]. Cientistas acreditam que o córtex piriforme no cérebro realiza funções na memória associativa onde a assinatura das respostas das células olfativas são associadas com noções do cheiro, embora existam outras regiões do cérebro que também estão envolvidas, como o hipocampo. A última etapa no nariz eletrônico é caracterizada por um sistema de reconhecimento de padrões para identificar o odor. Utilizamos as redes neurais artificiais como a técnica principal de reconhecimento do padrão de cheiro no nariz artificial. 4. Modelo de rede neural inspirada no nariz biológico Até a atualidade os cientistas estão tentando explicar como a detecção, identificação e reconhecimento de um odor são feitos pelo cérebro. Na tentativa desta explicação várias teorias foram elaboradas [Johnston, 64], [Axel 95] e [Li, 00]. Em [Santos, 00] podem ser encontrados outros modelos de rede neural biologicamente inspirados, mas nesta seção mostramos apenas um modelo de arquitetura de rede neural desenvolvido com base nos estudos do sistema olfativo biológico. O protótipo de nariz artificial construído a partir deste princípio conjuga a construção dos sensores e a arquitetura do nariz artificial com o processo de reconhecimento de padrão. Existem algumas características importantes que as células olfativas apresentam para a construção do modelo proposto. Essas células receptoras olfativas possuem sensibilidade relativamente baixa e especificidade baixa, assim como os sensores artificiais construídos. O subseqüente processamento neural do olfato aumenta a sensibilidade, elimina ruído e fornece discriminação entre vários milhões de odores. Com o uso de vários pré-processamentos podemos também aumentar a sensibilidade do nariz artificial e ainda tratar o deslocamento do sinal do sensor discriminando os vários odores apresentados. As células olfativas têm sensibilidade de sobreposição, ou seja, mais de uma célula diferente pode sentir o mesmo odor. Os filmes de polímeros também apresentam esta propriedade, embora sejam construídos com substâncias diferentes, todos eles podem sentir o mesmo odor com sensibilidades diferentes. 1 seletividade é a capacidade que o sistema olfativo possui em distinguir um odor dentro de uma grande quantidade deles. 2 sensibilidade é a capacidade que o sistema possui em distinguir os odores em relação a sua concentração. A medida utilizada geralmente é feita em ppm (partes por milhão). 6

de dipolo{ { Os odorantes, moléculas de substâncias químicas evaporadas que flutuam no ar, servem como estímulo para as células olfativas e apresentam várias propriedades, como volatilidade, solubilidade, etc. Neste trabalho estudamos três propriedades físico-química dos compostos voláteis: momento de dipolo, potencial de ionização e hidrofobicidade. O protótipo do nariz artificial proposto foi feito considerando algumas características das células olfativas, bem como, essas propriedades estudadas. A organização dos sensores no dispositivo ficou distribuída em grupo de acordo com sua sensibilidade a uma dada propriedade físico-química da substância volátil, escolhido após testes com diferentes substâncias orgânicas conhecidas. A separação dos sensores pelo grau de sensibilidade a estas propriedades nos conduziu à analogia com o sistema biológico, supostamente composto de sensores parcialmente específicos, com sensibilidade maior para uma determinada propriedade do volátil. Este modelo de rede neural artificial é baseado nas informações de Doti e Freeman [Freeman, 91] sobre o processamento do sinal de odor no bulbo olfativo. Os diferentes sensores correspondendo aos neurônios no sistema biológico estão dispersos no epitélio olfativo e estão distribuídos em três grupos, como apresentado na Figura 5. O processamento neural de cada grupo de sensores é mais sensível a uma determinada propriedade dos compostos voláteis para os quais eles apresentam maior sensibilidade. O grupo 1 (sensores de linhas horizontais) é específico para detectar variações no momento de dipolo molecular. O segundo grupo de sensores (linhas diagonal) é mais sensível a diferenças no potencial de ionização. O terceiro e último grupo de sensores (cor branca) é mais sensível ao grau de hidrofobicidade das moléculas do gás. momento { potencial de ionização hidrofobicidad Figura 5: Grupos de sensores A rede é composta de quatro camadas (Figura 6); na primeira camada são encontrados três elementos de processamento correspondendo aos glomérulos; na segunda camada temos mais três elementos de processamento correspondendo às células periglomerulares; a terceira camada é constituída de três elementos de processamento que corresponde às células mitrais. A saída da rede é representada por um elemento de processamento que compara-se às células granulares. Todas estas células estão distribuídas em camadas no bulbo olfativo. Os neurônios da primeira camada fazem o processamento e enviam uma cópia para as células periglomerulares e outra para as células mitrais. A função destes elementos é determinar qual a classe das substâncias apresentadas, enquanto que a função das células periglomerulares é determinar o nível de concentração destas substâncias. 7

granular mitrais periglomerulares glomérulos entrada Figura 6: Modelo que representa o funcionamento do bulbo olfativo 5. Protótipo desenvolvido Na Figura 7 podemos visualizar o protótipo construído. A aquisição de dados foi realizada através de uma matriz multiplexadora (8 x1). Cada elemento da matriz é composto basicamente de um fotoacoplador, uma etapa de potência e um relé de baixa resistência de contato. Esses elementos são acionados em sequência através da porta paralela do computador, ligando os dois eletrodos de um sensor ao multímetro para medida de resistência elétrica. O valor da resistência do sensor selecionado é enviado pelo multímetro para o computador através da porta serial RS-232 e gravado em um arquivo tipo texto com o instante da medida em segundos para posterior tratamento e processamento pela rede neural. 6. Resultados obtidos O aroma que percebemos muitas vezes é causado por misturas bastante complexas de vários constituintes químicos. Outras vezes percebemos o odor de uma substância com a presença de apenas um componente químico, como por exemplo o óleo de canela que exala aroma de canela a partir do aldeído cinâmico, Outras substâncias, entretanto, não possuem apenas um componente químico, como a maçã argentina que é uma combinação de (E)-2-hexanal, hexanol e etil-2-butirato de metila. 8

Multiplexador Comando Dados entrada de nitrogênio Cabeça sensora 8 sinais Câmara de testes Figura 7: Protótipo de nariz artificial As substâncias que possuem odores causado por misturas muito complexas são na realidade uma coleção de moléculas odorantes diferentes, muitas vezes entre 100 e 1000 constituintes. O café torrado, por exemplo, possui 948 constituintes químicos. Muitas vezes não é a quantidade de constituintes químicos que determina o cheiro do produto, mas apenas uma pequena diferença em suas concentrações. Portanto, os odores podem ser classificados em odores simples ou complexos [Gardner, 99]. Por odores simples entendemos odores de substâncias formados de apenas um tipo de molécula. Por odores complexos consideramos aqueles formados por mais de um tipo de molécula. Para verificar o reconhecimento deste modelo, analisamos tanto as substâncias simples quanto complexas. As substâncias simples testadas foram etanol, metanol, propanol, butanol, benzeno e tetracloreto de carbono (TC). Esta substâncias foram escolhidas por já se ter conhecimento na literatura das suas propriedades quanto ao potencial de ionização, momento de dipolo e constante dielétrica [Weast, 76]. A base foi composta de 120 padrões, sendo 50% para treinamento, 25% para teste e 25% para validação. Na tabela 1 pode ser visualizado o percentual de reconhecimento obtido com a rede para os padrões de odores simples. Etanol Metanol Propanol Butanol Benzeno TC % de reconhecimento 83,3 71,4 94,6 93,3 78 71,4 Erro 0,04 0,15 0,04 0,14 0,17 0,15 Tabela 1: Resultados obtidos com substâncias simples Consideramos como substâncias complexas mistura de gasolina com 40% e 60% de etanol, respectivamente. A gasolina é considerada um composto apolar e o etanol um composto polar. Cada amostra contém 20 ml da substância. A base foi formada de 242 padrões das duas substâncias compostas, sendo 50% destes padrões utilizados para treinamento, 25% para teste e 25% para validação. 9

60% de etanol 40% de etanol % de reconhecimento 94,6 78,6 Erro 0,03 0,10 Tabela 2: Resultados obtidos com substâncias complexas 7. Conclusão Os resultados indicam que o modelo proposto consegue tanto classificar os padrões dos odores simples: etanol, metanol, propanol, butanol, benzeno e tetracloreto de carbono; como os odores de gasolina misturada com 40% e 60% de etanol (odores complexos). Podemos observar ainda que quanto mais próximo de uma substância polar (mistura de 60% de etanol) melhor foi o resultado obtido pela rede para as substâncias complexas (Tabela 2). Apesar do resultado obtido, não podemos concluir que este modelo é mais indicado para detectar substâncias mais polares (etanol), mas este resultado é bastante promissor para futuras investigações tanto do modelo da rede para testes com outras substâncias, como para uma análise mais detalhada dos sensores construídos. 8. Referências [Aires, 91] Aires, Margarida de M. Fisiologia, Guanabara Koogan S.A, Rio de Janeiro, 1991. [Amoore, 64] Amoore. J. et al. The Stereochemical Theory of Odor, Scientific American, vol 210, no. 2, 42-49, 1964. [Axel 95] Axel, R. The Molecular Logic of Smell. Scientific American. October, pp. 130-137, 1995. [Freeman, 91] Freeman, W. J. The Physiology of Perpection, Scientific American, Vol 264, (2), pps. 78-85. [Gardner, 99] Gardner, J. W e Bartlett, P. N, Electronic noses / principles and applications, Oxford University Press, 1999. [Keller, 96] Keller P. E., Kangas, L. J., Hashem, S.e Kouzes, R. T. Electronic Noses and heir applications. Proceedings of the World Congress on Neural Networks 96, pp.928-931, Lawrence Erlbaum Associates Inc., Mahwah, NJ, USA, 1996. [Li, 00] Li, Z. e Hertz, J. Odor recognition and segmentation by a model olfactory bulb and cortex. Computation in Neural Systems 11 p. 83-102, 2000. [Santos, 99] Santos, M. S.; Ludermir, T. B. ; Souza, J. E. G.; Neto, B. B.; dos Santos, F. L.; de Melo, C. P.; Santos, Polypyrrole Based Aroma Sensor, Synthetic Metals, 102, 1206-1299. 1999. [Santos, 00] Santos, M. S, Tese de doutorado, Centro de Informática, Universidade Federal de Pernambuco, 2000. [Weast, 76] Weast, R. C. Handbook of Chemistry and Physics, CRC Press, Ohio, 56 th, 1976. 10