OS DESAFIOS NO CONSTITUIR-SE PROFESSOR E AS INFLUÊNCIAS DAS LEMBRANÇAS DE DOCÊNCIA REGISTRADAS NA MEMÓRIA DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 1

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Transcrição:

OS DESAFIOS NO CONSTITUIR-SE PROFESSOR E AS INFLUÊNCIAS DAS LEMBRANÇAS DE DOCÊNCIA REGISTRADAS NA MEMÓRIA DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 1 Tamini Wyzykowski 2, Marli Dallagnol Frison 3. 1 Este trabalho é resultante de uma pesquisa de mestrado, em andamento, vinculada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências da Unijuí 2 Aluna do Mestrado em Educação nas Ciências da Unijuí. Bolsista CAPES. E-mail: tamini.wyzykowski@gmail.com 3 Professora Doutora em Educação do Departamento de Ciências da Vida e do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências da Unijuí. Pós-doutoranda do Programa de Pós-doutorado da Unesp. E-mail: marlif@unijui.edu.br Introdução O professor é um dos protagonistas do processo educativo, que precisa ter a sensibilidade de ver e entender o mundo para cumprir seu papel social. Segundo Savater (1998, p. 54), em determinadas situações podemos ensinar algo para alguém, mas "o fato de qualquer um ser capaz de ensinar alguma coisa não quer dizer que qualquer um seja capaz de ensinar qualquer coisa". São os saberes científicos e pedagógicos da docência, constituídos ao longo da vida, que formam a identidade profissional dos sujeitos professores (TARDIF, 2012). Precisamos ter clareza de que a Licenciatura tem o papel de formar profissionais capacitados a produzir o conhecimento em uma realidade escolar, que difere conforme o contexto social e que possui uma diversidade de sujeitos (GUILLOT, 2008). Por isso, destacamos que os cursos de formação de professores precisam dar ênfase a uma reflexão sobre os desafios e potencialidades da profissão docente, pois "se os professores refletirem sobre o que fazem, eles necessariamente serão melhores profissionais" (ZEICHNER, 2008, p. 545). Defendemos nesta pesquisa que para formar docentes é preciso desenvolver situações que permitem articular os saberes produzidos na Universidade com as vivências que os licenciandos trazem internalizadas da época em que foram estudantes da Educação Básica. Não nascemos e nem nos tornamos professores somente a partir de um Curso de Licenciatura. Conforme Vigotski (2001), somos resultantes das interações que estabelecemos com outros sujeitos em nosso meio social, como na família e na escola. Um licenciando ao ingressar no contexto acadêmico não é como uma tábua rasa, pois traz consigo algumas marcas constitutivas da profissão que emergiram de situações vivenciadas em distintos contextos (VIGOTSKI, 2001). A ação docente é mobilizada por concepções construídas pelo professor ao longo de seu percurso de vida. É importante compreender que marcas constitutivas do "ser professor" ficaram registradas na memória dos professores em formação inicial. Apostamos que a reflexão possibilita que as vivências guardadas na memória dos licenciandos, transformem-se em experiências e isso potencializa a constituição profissional, pois os sujeitos tornam-se conhecedores de seus saberes, num enredo e contexto sócio-histórico e crítico (VIGOTSKI, 2001; ZEICHNER, 2008).

Nesta linha de pensamento, problematizaremos neste trabalho recortes de manifestações, expressas por licenciandos participantes de nossa pesquisa, relacionadas a duas questões: a) "Quando você pensa sobre a época em que você foi aluno (a) da Educação Básica, pensando especialmente na prática docente dos seus professores, a (s) principal (is) lembrança (s) que vem na sua memória é (são):"; e b) "Considerando a sua trajetória acadêmica houve transformação de suas ideias/concepções que você pensava sobre a docência?". Deste modo, nosso trabalho tem por objetivo compreender que contribuições a formação inicial oferece para qualificar a constituição dos sujeitos professores. Buscamos construir reflexões sobre o papel da formação inicial na transformação de ideários e concepções acerca do ensino e da docência, que ficaram imbricadas na memória de licenciandos de Ciências Biológicas ao longo de seu percurso histórico-cultural como estudantes. Esperamos que nosso estudo aponte caminhos para melhorias e qualificação nos processos de ensino e de aprendizagem no percurso da formação inicial de professores, especialmente da área de Ciências Biológicas. Metodologia Os dados foram construídos na Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, situada na cidade de Cerro Largo, no estado do Rio Grande do Sul - RS, Brasil. A pesquisa se realizou a partir de um questionário semiestruturado desenvolvido com 17 licenciandos do 10º semestre do Curso de Graduação em Ciências Biológicas - Licenciatura da UFFS no ano de 2015. A investigação insere-se na abordagem qualitativa de pesquisa em educação e está caracterizada como Estudo de Caso (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; YIN, 2001). Os dados produzidos foram organizados considerando os pressupostos teóricos da Análise Textual Discursiva (ATD), que possibilita tanto a análise dos conteúdos quanto do discurso nas pesquisas qualitativas (MORAES; GALIAZZI, 2007). A interpretação e análise baseia-se em obras de autores que tratam da formação do professor e no referencial teórico da Psicologia Histórico-Cultural (ZEICHNER, 2008; VIGOTSKI, 2001). Os sujeitos de pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para preservar a identidade dos envolvidos neste texto, atribuímos nomes fictícios com letras iniciais maiúsculas L para denominar os Licenciandos em Ciências Biológicas. Este trabalho é excerto de uma pesquisa de Mestrado em fase de construção, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da universidade na qual as autoras estão vinculadas. Desta forma, destacamos que a seguir serão abordados resultados iniciais da investigação. Resultados e Discussão Neste texto apresentaremos duas categorias que emergiram da análise: (I) instrumentos pedagógicos utilizados pelo professor no desenvolvimento das aulas e (II) postura profissional do professor. Os dados construídos apresentaram indícios de algumas situações educativas, presentes na memória dos licenciandos investigados, ocorridas durante sua trajetória como alunos da Educação Básica. Parte destas marcas constitutivas se refere aos (I) instrumentos pedagógicos utilizados pelo professor no desenvolvimento das aulas. Lavínia destaca: "lembro de aulas práticas de biologia, caminhadas na praça para reconhecer e diferenciar gimnosperma e angiosperma, aulas de laboratório. Lembro perfeitamente de páginas de livros que utilizei exercícios e trabalhos que fiz". Reiteramos que ao mencionar a memória que os licenciandos trazem, não estamos nos reportando restritamente ao seu sentido biológico, mas sim aos "meios, os modos, os recursos criados coletivamente no processo de produção e apropriação da cultura" (SMOLKA 2000, p. 186). Enfim,

nos referimos às interações sociais que foram estabelecidas nas salas de aula e internalizadas pelos sujeitos, tornando-se desta forma elementos constitutivos. As expressões de Lavínia remetem à importância da utilização de diferentes instrumentos pedagógicos para ensinar os conteúdos escolares. Pensamos que as atividades propostas pelo professor podem motivar os alunos ao estudo dos conceitos abordados e facilitar sua significação, bem como deixam marcas na memória dos alunos acerca do que é e como se dá o processo de ensino e de aprendizagem. Os instrumentos pedagógicos utilizados pelo professor no desenvolvimento das aulas são um fator decisivo para o crescimento humano e cultural dos alunos. Compete ao docente planejar os conteúdos e determinar quais instrumentos pedagógicos utilizará em seu ensino, bem como ter em mente o desafio de não deixar que os métodos fiquem desvinculados dos pressupostos teóricos. Além disso, Maldaner e Frison (2014) salientam que é comum que professores em formação inicial utilizem em suas ações educativas instrumentos pedagógicos que eles contextualizaram na condição de estudantes. Os resultados apontam que os licenciandos vivenciaram um ensino baseado em métodos e atividades tradicionais. Leila relata que estão consolidadas na sua memória as "aulas tradicionais". Ela ainda explica: "fomos muito pouco para o laboratório". Lenise complementa estas considerações ao afirmar que realizou "muitas resoluções de listas de exercícios". Com isto, apoiadas em Guillot (2008), corroboramos que na escola, o professor deve se entender como gestor do currículo e como pesquisador do contexto educativo, intencionalizando o conhecimento, tempo de ensino e de aprendizagem. Cabe ao docente ter uma idealidade pedagógica e social e considerar que sua formação profissional também ocorre a partir do exercício da docência. É necessária a consciência sobre o que ensinar e como ensinar e para tanto é imprescindível ter conhecimento epistemológico, didático e pedagógico de sua área de formação. Ademais, (II) a postura profissional do professor é outro aspecto que deixa marcas imbricadas na memória dos alunos e contribui para a construção de saberes da docência. Para Luciane, foi marcante no processo histórico-cultural escolar a presença de "professores desinteressados, que não gostavam de dar aula e diziam para não sermos professores por causa do salário". Na memória de Laura, ficou registrada "a maneira rígida que eles [professores] conduziam as aulas". Com isto, podemos depreender que um professor não ensina apenas conteúdos, mas sim um jeito profissional de ser que recai na formação humana e social dos alunos. Ballone e Moura (2008) salientam que a consolidação de determinado estímulo na memória depende da importância afetiva da informação, pois nossa consciência se constrói em concordância com nossas emoções. Além disso, Inumar e Palangana (2004) ressaltam que "a memória não se constitui no interior do indivíduo isoladamente. Ao contrário, é engendrada em comunhão com o meio social e com as outras capacidades, tais como, o raciocínio, a percepção, a atenção, os sentimentos, etc" (p. 104). A "pessoa" do professor, suas ações, valores humanos e postura profissional são aspectos que se consolidam na memória dos alunos, de modo que eles desenvolvam concepções acerca do sentido da docência. Um indício disto é o fato de estudantes optarem pela carreira do magistério baseados nos modelos de bons professores presentes em sua vida. Leonice reitera que predomina na sua memória "os professores que amavam a sua profissão e conseguiam envolver seus alunos no

conteúdo de ensino, fascinando os olhos de quem estava presente em busca do conhecimento e descobertas da vida". Na descrição de Leonice, fica eminente que os licenciandos ingressam no ensino superior com uma ideia prévia de modelo de professor ideal que pretendem se constituir. Compete à formação inicial discutir concepções como esta, pois a ideia do que pode vir a ser um bom professor varia conforme o percurso histórico-cultural de cada sujeito (VIGOTSKI, 2001). Lourdes contrapõe Leonice ao refletir que "quando entramos no ensino superior viemos com aquela ideia de ensino e processos de ensinos e aprendizagens muito falhadas, baseadas somente com o que tivemos em nosso ensino básico". É papel da formação inicial ensinar conceitos científicos aos licenciandos e abordar a complexidade de saberes docentes e fazeres pedagógicos, necessários para a condução do processo de ensino e aprendizagem do conhecimento. E por fim, levá-los a refletir sobre suas histórias de vida, compreendendo que os problemas que ocorreram nos contextos educativos se devem em parte porque "não havia muita formação a eles" (Lana) e também que "o ser professor é constituído ao longo do tempo através da experiência" (Lenir). A partir do que foi exposto até aqui, pensamos que os sujeitos investigados, que estavam concluindo um curso de licenciatura em 2015, desenvolveram um hábito reflexivo crítico durante esta etapa constitutiva na docência (ZEICHENER, 2008). Larissa reconhece: "eu era muito tradicional. Ainda sou um pouco". Parece-nos que o processo de formação inicial estimulou os licenciados a compreender a formação, transformar os ideários de ensino e docência, qualificar a sua própria constituição, "ter um novo olhar para a docência" (Larissa) e tomar importantes decisões formativas, como, por exemplo, "tentar ser mais crítica, mais reflexiva" (Larissa). Resultados deste estudo remetem às ideias de Vigostki (2001), para o qual não é o que o indivíduo é, a priori, que explica seus modos de se relacionar com os outros, mas são as relações sociais nas quais ele está envolvido que podem explicar seus modos de ser, de agir, de pensar, de relacionar-se. Assim, também o é o professor. Conclusão Concluímos este texto com a clareza da relevância da formação inicial destinar um tempo/espaço de interação com os licenciandos a fim de problematizar situações educativas presentes no percurso histórico-cultural. A memória que advém do trabalho educativo desenvolvido pelos professores é um fator determinante na constituição humana e profissional. Assim, é importante viabilizar a construção de significados para as vivências que os licenciandos trazem da educação básica, para que se tornem experiências e qualifiquem a formação na docência. Palavras-chave: constituição humana, formação de professores, trabalho educativo. Agradecimentos: CAPES Referências BALLONE, G. J, & MOURA, E. C. Curso de Psicopatologia: Atenção e Memória. 2008. Disponível em: www.psiqweb.med.br. Acesso em: 10 jun. 2016. GUILLOT, G. O resgate da autoridade em educação. Porto Alegre: Armet, 2008. INUMAR, L. Y; PALANGANA, I. C. A formação da memória no desenvolvimento psíquico: contributo à educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 85, n. 209-210-211, 2004. p.

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