FUNDO DO AMBIENTE (FUNAB)

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Transcrição:

UT-REED+ FUNDO DO AMBIENTE (FUNAB) ESTUDO DAS CAUSAS DE DESMATAMENTO E DA DEGRADAÇÃO FLORESTAL NOS DISTRITOS ABRANGIDOS PELO PROGRAMA DE GESTÃO INTEGRADA DE PAISAGENS DE CABO DELGADO (PROGIP-CD) Relatório final DRAFT Maputo - Abril, 2016 0

Ficha Técnica: Título: Estudo das causas de desmatamento e da degradação florestal nos distritos abrangidos pelo Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD) Autores: Andrade F. Egas; Agnelo M. Fernandes; Narciso F. Bila; Ernesto U. Júnior; Teresa G. Nube; António Wilisone Coordenação: Andrade F. Egas Maputo - Abril, 2016 Maputo-Moçambique 1

SUMÁRIO EXECUTIVO Sete distritos abrangidos pelo Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) na província de Cabo Delgado, nomeadamente Ancuabe, Ibo, Macomia, Meluco, Metuge, Montepuéz, Quissanga, foram seleccionados para a implementação de um projecto piloto sobre a iniciativa de Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação Florestal e Aumento dos Estoques de Carbono (REDD+), o qual na nova visão integrada do REDD+ passou a designar-se Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD). No âmbito da preparação de informação de base para a implementação do programa, o presente trabalho tem como objectivo avaliar o desmatamento e da degradação florestal e a sua tendência, assim como a proposta de soluções nos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD. A realização deste trabalho foi antecedida de dois estudos, nomeadamente (1) caracterização de seis distritos abrangidos pelo PROGIP-CD através de um estudo sócio-económico e (2) análise da cadeia de fornecimento e consumo de combustíveis lenhosos nas cidades de Pemba e Montepuéz, os quais constituem a base e parte integrante do mesmo. Para a análise do desmatamento e das emissões foi usado o mapa de cobertura florestal do ano 2000 assim como dados globais de Hansen et al. (2013). Os resultados indicam que a taxa de desmatamento nas áreas do PROGIP-CD para o período 2001-2013 foi estimado em 0,31% (5522ha/ano). Considerando um período de 10 anos (2004-2013), de acordo com as recomendações do FCPF, a taxa de desmatamento foi de 6 087 ha/ano. A maior parte das áreas desmatadas, com excepção de Quissanga-sede e Mahate, registaram-se nos PA s em fase de início de transição do modelo de transição florestal, isto é com cobertura florestal moderada a alta, mas em declínio. De forma geral as áreas com densidade populacional média a alta estão associadas a altas taxas de desmatamento. Grande parte dos agentes reportados na literatura mostraram-se pouco relevantes como agentes de desmatamento e degradação florestal na área do PROGIP-CD. A agricultura itinerante foi o único agente considerado relevante no desmatamento enquanto que para a degradação florestal foram considerados relevantes apenas os agentes produção de combustíveis lenhosos e exploração madeireira. A análise conjugada dos mapas da densidade populacional e da localização da agricultura itinerante mostra que de forma geral a agricultura itinetante é mais frequente em áreas com densidade de população moderada a alta. As zonas de abastecimento de carvão à cidade de Pemba localizam-se principalmente nos distritos de Ancuabe, Metuge e Montepuéz e as áreas de abastecimento de carvão à cidade de Montepuéz e as restantes sedes distritais localizam-se em áreas próximas das sedes distritais. O presente estudo assume que cerca de 5 522 ha de florestas são desmatados por ano para a práctica da agricultura itinerante. Por outro lado, a produção de lenha e carvão com destino as cidades de Pemba e Montepuéz e a produção de carvão vegetal para o fornecimento às sedes dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD afectam um total de 7 858 ha por ano distribuídos 2

pelos diferentes distritos. Uma parte das áreas degradadas pela produção de combustíveis lenhosos é posteriormente desmatada pela prática da agricultura itinerante. Para este estudo foi seleccionado o período 2004-2013 para o estabelecimento da linha de base das emissões tendo-se obtido a taxa média de desmatamento de 6 087 ha/ano. A emissão anual de referência para o desmatamento foi de 1 279 624 tco 2 eq/ano na área do PROGIP- CD. Uma parte das emissões acima referidas são emitidas de forma faseada, começando com as emissões devido a degradação da floresta (ao ser submetida à produção de combustíveis lenhosos) e finalmente as emissões devido à agricultura itinerante (ao converter as áreas com floresta degradada em campos cultivados). As emisões provocadas pela degradação da floresta associda a produção de combustíveis lenhosos situaram-se no intervao de de 534 407 a 1 489 330 tco 2 equivalente por ano. Ao excluir das estimativas as emissões correspondentes a áreas degradadas convertidas em campos agrícolas, de modo a evitar uma dupla contagem, as emissões situaram-se entre 318 783 e 888 407 tco 2 equivalente por ano, pelo que as emissões devido a degradação florestal podem ser contabilizadas uma vez que têm valor superior a 10% do valor das emissões por desmatamento, em conformidade com as recomendações do FCPF. Os resultados indicam ainda que os altos níveis de probabilidade de desmatamento são verificados de forma geral em regiões com alta densidade populacional e com a floresta na fase de início de transição. Trata-se de forma geral das mesmas regiões que sofreram desmatamento entre 2001 e 2013 e que portanto deverão merecer especial atenção na implementação de medidas para o combate ao desmatamento. A projecção do desmatamento para os próximos 14 anos (até 2030) indica que, se não forem tomadas as devidas medidas, o desmatamento irá continuar a afectar grandemente 5 dos sete distritos (Macomia, Meluco, Quissanga, Ancuanbe e Metuge), em todos os postos administrativos e particularmente em perímetros próximos das principais estradas. As opções estratégicas para a redução do desmatamento e da degradação florestal foram seleccionadas a partir das acções estratégicas da Estratégia Nacional do REDD+ e incluem (i) promoção de agricultura de maior productividade e rendimento, (ii) promoção de plantações energéticas, (iii) promoção de tecnologias eficientes de uso de energia e (iv) a promoção da transparência na gestão florestal e capacitação. 3

ABREVIATURAS BEF Factor de expansão de biomassa CEAGRE Centro de Estudos de Agricultura e Desenvolvimento Rural CO 2 Dióxido de carbono DNFFB Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia FCPF The Forest Carbon Partnership Facility GD Governo do Distrito GEE Gases de Efeito de Estufa ha Hectare IPCC Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas JICA Agência Japonesa para a Cooperação Internacional m 3 MICOA MINAG Metro cúbico Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental Ministério de Agricultura MITADER Ministério da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural ONU Organização das Nações Unidas PA Posto Administrativo PNQ Parque Nacional das Quirimbas PROGIP- CD Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado PROGIP-Z Programa de Gestão Integrada de Paisagens da Zambézia Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação Florestal e Aumento dos REDD+ Estoques de Carbono R-PP Plano de Prontidão para o REDD+ SPFFB Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia t Toneladas t LEQ Toneladas de lenha equivalente UEM Universidade Eduardo Mondlane WD Densidade da madeira 4

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Área total, cobertura florestal e outros usos de terra na área PROGID-CD 13 Tabela 2. Tipos de florestas na área do PROGIP-CD em 2000 14 Tabela 3. Contribuição dos PA s na área florestal de cada distrito 15 Tabela 4. Taxa de desmatamento por PA e distrito 16 Tabela 5. Desmatamento por tipo de floresta por PA (ha) 20 Tabela 6. Espécies licenciadas em Cabo Delgado em 2000, 2005 e 2010 26 Tabela 7. Área e biomassa explorada anualmente em cada distrito para o fornecimento de carvão e lenha à cidade de Pemba 32 Tabela 8. Áreas e biomassa explorada para a produção local de carvão nos restantes distritos do PROGIP-CD (2001 2013) 33 Tabela 9. Área explorada para fornecimento de combustíveis lenhosos à Pemba e sedes dos distritos do PNQ (ha) 34 Tabela 10. Linha de base do desmatamento na área do PROGIP-CD 34 Tabela 11. Estoque de carbono na floresta de miombo na área da Reserva Nacional do Gilé (tco 2 eq/ha) 35 Tabela 12. Estimativa de emissões resultantes do desmatamento em 10 anos (2004-2013) 36 Tabela 13. Biomassa usada na produção de de combustíveis lenhosos para Pemba e sedes dos distritos do PROGIP (t LEQ) 36 Tabela 14. Estimativa de emissões devido a produção de combustíveis lenhosos na área do PROGIP-CD 37 Tabela 15. Emissões devido a produção de combustíveis lenhosos em áreas não convertidas em campos agrícolas 38 Tabela 16. Proporção de áreas desmatadas em relação às áreas cultivadas nos distritos de Montepuéz, Ancuabe e Macomia 42 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Postos administrativos abrangidos pelo PNQ 12 Quadro 2. Principais áreas de agricultura itinerante 24 Quadro 3. Espécies e volume acumulado (m 3 ) licenciado de 2013 a 2015 nos distritos do PROGIP-CD 27 Quadro 4. Informação sobre a produção de carvão vegetal 29 5

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Limites e distritos do Parque Nacional das Quirimbas 11 Figura 2. Mapa florestal dos distritos do PROGIP-CD 13 Figura 3. Contribuição da superfície florestal na área total dos distritos do PNQ 14 Figura 4. Representação espacial das fases de transição florestal na área do PROGIP-CD 17 Figura 5. Curva de transição florestal 17 Figura 6. Número de PA s por fase de transição (FT) dentro área do PROGIP-CD 18 Figura 7. Representação espacial das fases de transição florestal na área do PROGIP-CD 19 Figura 8. Densidade populacional por posto administrativo 19 Figura 9. Localização de áreas de agricultura (itinerante) 24 Figura 10. Localização das áreas de produção de carvão vegetal 30 Figura 11. Variáveis estáticas usadas para a simulação do desmatamento dentro dos 7 distritos abrangidos pelo PNQ 39 Figura 12. Níveis de probabilidade de ocorrência de desmatamento na área do PROGIP-CD 40 Figura 13. Simulação dos cenários de desmatamento para o ano 2030 41 Figura 14. Evolução de áreas cultivadas, 2005-2013 43 6

ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO... 9 2. OBJECTIVOS DO TRABALHO... 10 2.1. Geral... 10 2.2. Objectivos específicos... 10 3. ABRANGÊNCIA E ESTRATÉGIA ADOPTADA PARA O ESTUDO... 11 4. GENERALIDADES SOBRE A ÁREA DO PROGIP-CD... 11 5. ANÁLISE DOS NÍVEIS DE DESMATAMENTO NA ÁREA DO PROGIP-CD... 12 5.1. Cobertura florestal dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD... 13 5.2. Taxas de desmatamento na área do PROGIP-CD... 15 6. ANÁLISE DOS AGENTES DO DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO FLORESTAL... 21 6.1. Caracterização dos agentes de desmatamento e degradação florestal... 21 6.1.1. Expansão urbana e outras infra-estruturas... 21 6.1.2. Exploração mineira... 22 6.1.3. Exploração pecuária... 22 6.1.4. Agricultura itinerante... 23 6.1.5. Exploração de produtos florestais... 25 6.1.6. Produção de combustíveis lenhosos... 28 6.2. Quantificação dos agentes de desmatamento/degradação florestal... 31 6.2.1. Agentes de desmatamento... 31 6.2.2. Agentes da degradação florestal... 31 7. ESTIMATIVA DAS EMISSÕES... 34 7.1. Determinação da linha de base (baseline) do desmatamento... 34 7.2. Estabelecimento de factor de emissão... 35 7.3. Estimativa de emissões anuais de referência... 35 7.4. Emissões devidas à degradação florestal... 36 7.4.1. Produção de combustíveis lenhosos... 36 8. PROJECÇÃO DO DESMATAMENTO PARA 2030... 38 9. PROPOSTA DE SOLUÇÕES AO DESMATAMENTO E A DEGRADAÇÃO FLORESTAL NOS DISTRITOS DO PROGIP-CD... 42 9.1. Considerações sobre os agentes de desmatamento e degradação florestal para estabelecimento de opções estratégicas... 42 9.1.1 Promoção de agricultura de maior productividade e rendimento... 42 7

9.1.2. Promoção de plantações energéticas... 44 9.1.3. Promoção de tecnologias eficientes de uso de energia... 44 9.1.4. Promoção da transparência na gestão florestal e capacitação... 45 9.2. Opções estratégicas para a redução do desmatamento e da degradação florestal... 45 10. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES... 47 10.1. Conclusões... 47 10.2. Recomendações... 48 11. BIBLIOGRAFIA... 49 Government of Mozambique and FCPF. Etc Terra.196p.... 49 ANEXOS... 51 ANEXO 1... 52 ANEXO 2... 70 ANEXOS 3... 71 8

1. INTRODUÇÃO Estimativas recentes indicam que 20 por cento das emissões anuais de gases de efeito estufa (GEE), causadores das mudanças climáticas, provêm do desmatamento e da degradação florestal. Este número é maior do que as emissões provenientes de todo o sector mundial de transportes. As mudanças climáticas que o planeta Terra vem sofrendo é um tema que ganha cada dia maior importância na agenda internacional e dos governos no âmbito do desenvolvimento. Moçambique possui cerca de 55 milhões de hectares de florestas e de outras formações lenhosas. O sector florestal desempenha um papel importante para a redução da pobreza ao contribuir para o sustento socio-económico de milhares de famílias providenciando-lhes inúmeros postos de trabalho directos e indirectos. As florestas desempenham um papel chave na vida das comunidades providenciando material de construção (estacas e diversos tipos de madeira) fontes de energia (combustíveis lenhosos), alimento (frutos silvestres, raízes e carne de caça) e lazer, para além de serviços ambientais, sem as quais não seria possível imaginar a vida do homem. Estas funções são de especial relevância para muitos países em vias de desenvolvimento como Moçambique onde a maior parte da população vive nas zonas rurais e sua preservação passa por um uso sustentável desses recursos. De acordo os princípios sobre florestas estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU, 1992) e a Lei de Florestas e Fauna Bravia de Moçambique (Lei 10/99), os recursos florestais e áreas florestais devem ser geridos de forma sustentável para atender às necessidades sociais, económicas, ecológicas, culturais e espirituais das gerações presentes e futuras. Apesar das diferentes medidas que têm sido tomadas nos últimos anos, o sector florestal enfrenta vários desafios, dentre os quais o desmatamento e a degradação das florestas com o previsível impacto ambiental de escala local e global, incluindo as mudanças climáticas. Com vista a reverter esta situação, nos últimos dez anos tem sido estabelecidas várias iniciativas tanto do Governo como de diferentes parceiros em colaboração com o Governo. O FCPF The Forest Carbon Partnership Facility - é uma das entidades parceiras empenhada no apoio a diferentes países do mundo na implementação de acções para Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação Florestal e aumento dos estoques de carbono (REDD+). Moçambique foi seleccionado para beneficiar-se de fundos do FCPF destinados ao desenvolvimento e implementação de estratégias para o REDD+. Como ponto de partida em Dezembro 2008 o Governo de Moçambique, representado pelo Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) e o Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Rural (MINAG) iniciou o processo de elaboração do Plano de Prontidão para o REDD+ (R-PP), o qual foi aprovado pelo Comité de Participantes do FCPF em Março de 2012. Durante o processo de elaboração do R-PP, surgiu a necessidade de elaboração de projectospilotos de nível sub-nacional como forma de permitir a colheita de lições aprendidas que 9

iriam reforçar a estratégia do REDD+. Neste contexto, sete distritos abrangidos pelo Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) na província de Cabo Delgado foram seleccionados para a implementação de um dos projectos piloto. Com o surgimento da necessidade de uma abordagem integrada do REDD+, envolvendo para além das florestas outros sectores de desenvolvimento económico local, o projecto-piloto de Cabo Delgado passou a ter uma abordagem de programa, passando a designar-se Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD). De acordo com o planificado, as primeiras actividades do programa incluem uma importante componente de planificação, sendo para tal necessário a compilação e produção de informação de base sobre o desmatamento e a degradação florestal para o apoio na implementação do plano. É neste contexto, que o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) através dos fundos do FCPF contratou serviços de consultoria para a realização de um estudo sobre causas do desmatamento, e proposta de soluções estratégicas nos sete distritos abrangidos pelo PROGIP-CD. 2. OBJECTIVOS DO TRABALHO 2.1. Geral O presente trabalho tem como objectivo avaliar e quantificar os níveis de desmatamento e degradação florestal assim como as suas tendências futuras (2030) dentro dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD 2.2. Objectivos específicos a) Analisar o desmatamento ocorrido na área do PROGIP-CD no período 2001-2013 b) Identificar e quantificar os agentes de desmatamento e degradação florestal nos distritos do PROGIP-CD; c) Estabelecer a linha de base para as emissões na área do programa d) Estabelecer cenário de desmatamento para os próximos 14 anos nessa região; e e) Propor opções estratégicas para a redução do desmatamento e da degradação florestal na área de actuação do programa 10

3. ABRANGÊNCIA E ESTRATÉGIA ADOPTADA PARA O ESTUDO O presente trabalho abrange os sete distritos de actuação do PROGIP-CD, nomeadamente Ancuabe, Ibo, Macomia, Meluco, Metuge, Montepuéz e Quissanga, assim como a cidade de Pemba. Para a sua operacionalização foi antecedido de dois estudos, nomeadamente (1) caracterização de seis distritos abrangidos pelo PROGIP-CD através de um estudo sócioeconómico e (2) análise da cadeia de fornecimento e consumo de combustíveis lenhosos nas cidades de Pemba e Montepuéz. Estes estudos serviram de base para as análises, discussões e propostas avançadas neste estudo e constituem parte integrante do mesmo através dos anexos 2 e 3. Os aspectos metodológicos do trabalho são apresentados ao longo das diferentes secções em função da sua relevância. 4. GENERALIDADES SOBRE A ÁREA DO PROGIP-CD O Programa de Gestão Integrada de Paisagens de Cabo Delgado (PROGIP-CD) integra sete distritos abrangidos pelo Parque Nacional das Quirimbas, nomeadamente Ancuabe, Ibo, Macomia, Meluco, Metuge, Montepuéz e Quissanga, com uma extensão total de 3 639 816 ha de terra e uma população de cerca de 600 mil habitantes, sendo o Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) uma das principais razões de existência do programa. O PNQ tem uma área total de 750 639 ha, dos quais 598 402 ha são habitats terrestres e 152 237 ha são habitats marinhos e ilhéus (http://www.wwf.org.mz/) e abarca 7 distritos acima mencionados. Figura 1. Limites e distritos do Parque Nacional das Quirimbas 11

Entretanto apenas os distritos de Quissanga e Ibo encontram-se praticamente dentro do parque enquanto que os restantes distritos contribuem com certos postos administrativos. O distrito de Montepuéz faz parte apenas da zona tampão através do PA de Nairoto. Quadro 1. Postos administrativos abrangidos pelo PNQ Distrito Postos administrativos do PNQ Localização da área situada no parque Ancuabe Ancuabe-sede Norte e Noroeste de Ancuabe-sede Meza Norte de Meza Ibo Todo PA Ibo Quirimbas Todo PA Macomia-sede Este de Macomia-sede Mucojo Norte de Um cojo Macomia Chai Sudeste de Chai Meluco Meluco-sede Centro e Sul de Meluco-sede Muaguide Centro e sul de Muaguide Quissanga-sede Todo o PA com excepção de uma pequena área no Noroeste Quissanga Bilibiza Todo PA Mahate Todo PA com excepção de uma pequena área no Sul Metuge Metuge-sede Noroeste de Metuge-sede Montepuéz Nairoto Este, faz parte apenas da zona tampão do parque 5. ANÁLISE DOS NÍVEIS DE DESMATAMENTO NA ÁREA DO PROGIP-CD Para a análise do desmatamento no presente trabalho foram usados os dois produtos importantes dos dados globais de Hansen et al. (2013): (1) cobertura de copa na qual foi usada a cobertura florestal aprovada na nova definição de florestas em vigor no país (30%), e (2) perda florestal ou desmatamento onde considerou-se somente a perda de cobertura das áreas com a cobertura florestal igual ou superior a 30%. Os dados globais do Hansen et al. (2013) tem uma resolução espacial de 30 metros. A metodologia usada está dentro dos parâmetros estabelecido pelo FCPF para além de ser a medida mais viável e transparente existente em Moçambique devido a falta de dados nacionais actualizados. É de salientar que os dados apresentados nestas análises, futuramente deverão ser substituídos por dados mais precisos a serem gerados não somente a partir do Inventário Florestal Nacional mas também pelo inventário florestal provincial em curso na de Cabo Delgado. 12

5.1. Cobertura florestal dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD A análise de cobertura florestal é feita com base no mapa de cobertura de 2000. A figura 2 apresenta o mapa florestal do ano 2000 dos distritos do PROGIP-CD. Figura 2. Mapa florestal dos distritos do PROGIP-CD Os sete distritos abrangidos pelo PROGIP-CD têm uma área florestal total de 1,8 milhões de hectares, sendo a maior cobertura florestal localizada no distrito de Montepuéz seguido pelo distrito de Meluco, com mais de metade da área florestal (tabela 1). Tabela 1. Área total, cobertura florestal e outros usos de terra na área PROGID-CD Distrito Área distrito (ha) Floresta (ha) Outros usos (ha) Ancuabe 491787 293451 198336 Ibo 7340 2965 4375 Macomia 418829 335558 83271 Meluco 572519 432129 140390 Montepuez 1778968 540255 1238713 Metuge 158705 94284 64421 Quissanga 211668 130978 80690 Total 3639816 1829619 1810197 13

Entretanto o distrito de Montepuéz apresenta a menor percentagem de cobertura florestal com apenas 30%, sendo o distrito de Macomia o de maior cobertura com cerca de 80%, seguido pelo distrito de Meluco e Quissanga. %Floresta (2000) Outros Usos 40,33 59,61 19,88 24,52 69,63 40,59 38,12 49,73 59,67 40,39 80,12 75,48 30,37 59,41 61,88 50,27 A N C U A B E I B O M A C O M I A M E L U C O M O N T E P U E Z P E M B A Q U I S S A N G A T O T A L Figura 3. Contribuição da superfície florestal na área total dos distritos do PNQ O tipo de vegetação predominante nos distritos do PROGIP-CD é a floresta de miombo com uma contribuição de cerca de 83%, seguido pelas florestas secas decíduas indiferenciadas com 13%. O mangal é o tipo de vegetação menos frequente com uma contribuição de apenas 0,63% (11,5 mil hectares) nos distritos de Macomia, Metuge e Quissanga, dada a sua localização costeira (tabela 2). Tabela 2. Tipos de florestas na área do PROGIP-CD em 2000 Tipo de Vegetação Área (ha) % de florestas Florestas secas decíduas indiferenciadas 240 236 13,13 Florestas sempre-verdes de montanha 40 799 2,23 Mangal denso 11 569 0,63 Miombo 1 523 238 83,25 Mosaico de vegetação costeira 13 777 0,75 Total 1 829 619 100 A tabela 3 apresenta a contribuição dos postos administrativos na área florestal de cada distrito. As maiores áreas florestais localizam-se nos postos administrativos sede em todos os 14

distritos, com excepção de Montepuéz e Quissanga onde estas localizam-se nos postos administrativos de Nairoto e Bilibiza respectivamente. Tabela 3. Contribuição dos PA s na área florestal de cada distrito Distrito PA Área do distrito Área do PA % da área Ancuabe Ancuabe-sede 277663 115473 42 Mesa 80567 29 Metoro 81623 29 Ibo Ibo 2811 2602 93 Quirimba 209 7 Macomia Chai 312598 89413 29 Macomia-sede 118171 38 Mucojo 60232 19 Quiterajo 44783 14 Meluco Meluco-sede 420613 325666 77 Muaguide 94947 23 Montepuez Mapupulo 531977 9243 2 Mirate 98328 18 Montepuez 32107 6 Nairoto 355937 67 Namanhumbir 36362 7 Pemba-Metuge Metuge-sede 89804 87879 98 Mieze 1925 2 Quissanga Bilibiza 122368 56323 46 Mahate 43315 35 Quissanga-sede 22729 19 5.2. Taxas de desmatamento na área do PROGIP-CD A taxa de desmatamento nas áreas do PROGIP-CD para o período 2000-2013 foi estimado em cerca de 0,31%, ou seja, cerca de 5.522 ha de diferentes tipos de florestas em média são perdidos por ano dentro da área do PROGIP-CD. Os distritos de Macomia, Quissanga e Ancuabe apresentam as maiores taxas anuais de desmatamento, com cerca de 0,55%, 0,52% e 0,43% respectivamente. Considerando um período de 10 anos (2004-2013), usado na secção 7.3 para a determinação das emissões anuais de referência, a taxa de desmatamento foi de 6 087 ha/ano. 15

Tabela 4. Taxa de desmatamento por PA e distrito Distrito Posto administrativo Distrito Posto Desmatamento Taxa de Taxa de Taxa de administrativo desmata- Taxa de desmata- desmata- (2000-2013) mento (%) desmatamentmento (%) mento Ancuabe Ancuabe 5613 0,37 432 0,43 1214 Mesa 2729 0,26 210 Metoro 7446 0,67 573 Ibo Ibo 117 0,34 9 0,41 12 Quirimba 37 1,25 3 Macomia Chai 5784 0,48 445 0,55 1766 Macomia 11113 0,69 855 Mucojo 4802 0,59 369 Quiterajo 1261 0,21 97 Meluco Meluco 5621 0,13 432 0,21 886 Muaguide 5895 0,46 453 Montepuéz Mapupulo 689 0,55 53 0,12 637 Mirate 2753 0,21 212 Montepuez 2081 0,48 160 Nairoto 2128 0,05 164 Namanhumbir 627 0,13 48 Metuge Metuge 4341 0,37 334 0,37 345 Mieze 139 0,53 11 Quissanga Bilibiza 2446 0,33 188 0,52 662 Mahate 2639 0,45 203 Quissanga 3525 1,11 271 Geral 71785 0,31 5522 0,31 5522 A maior parte dos PAs do distritos de Macomia e Meluco assim como alguns PA s de Metuge e Ancuabe perdem enumeras áreas de florestas anualmente. 16

Desmatamento bruto (% yr -1 ) Cobertura Florestal (%) QUIRIMBA IBO MIEZE NAMANHUMBIR MAPUPULO QUITERAJO MONTEPUEZ NAIROTO BILIBIZA MAHATE MESA MIRATE QUISSANGA METUGE MUCOJO ANCUABE MELUCO CHAI MUAGUIDE METORO MACOMIA 2,8 9,0 10,7 48,2 53,0 97,0 160,1 163,7 188,2 203,0 209,9 211,7 271,2 333,9 369,4 431,8 432,4 444,9 453,4 572,7 854,8 0,0 100,0 200,0 300,0 400,0 500,0 600,0 700,0 800,0 900,0 Desmatamento médio (ha/ano) Figura 4. Ranking dos Postos Administrativos com a maiores perdas anuais de áreas florestais O modelo de transição florestal (TF) apresenta quatro fases diferentes, Pré-transição, início de transição, final de transição e Pós- transição (figura 5). 100 Etapa 1 Pré-transição Etapa 2 Inicio de transição Etapa 3 Final de transição Etapa 4 Pós-transição 50 15 2.0 Tempo 0.27 Fonte: CEAGRE & Winrock (2015) Figura 5. Curva de transição florestal 17

Os postos administrativos que encontram-se na fase de Pré-transição, são caracterizados por possuírem uma elevada cobertura florestal e baixa taxa de desmatamento. Já os PA s que encontram-se na segunda fase de TF são os mais críticos no momento visto que a perda da cobertura floresta ocorre de forma alarmante. A terceira fase de TF é caracterizada pela redução da taxa de desmatamento como resultado da redução da área florestal dentro do posto administrativo. Por último os PA s que encontram-se na fase 4 de TF (Pós-transição), são caracterizados pela baixa cobertura florestal e uma reduzida taxa de desmatamento que subsequentemente resulta na recuperação natural de algumas áreas com capacidade de resiliência. Figura 6. Número de PA s por fase de transição (FT) dentro área do PROGIP-CD Cerca de 9 PA s dos 21 existentes nos 7 distritos, encontram-se na quarta fase de TF o que significa que possivelmente o desmatamento tenha ocorrido muito antes do período em análise (Figura 6). Dentre os 9, encontram-se maior parte dos PA s do distrito de Montepuez com excepção do PA de Namanhumbir e cerca de 2 PAs do distrito de Quissanga (Quissanga e Mahate). Sete dos 21 PAs encontram-se na fase de início de transição que é considerada mais critica (vide o Figura 7 para localização geográfica dos distritos). Estes PA s, localizamse nos distritos de Macomia, Ancuabe, Metuge e Quissanga. Esta análise encontra-se alinhada aos resultados apresentados na figura 4 que apontam todos estes PA s como sendo os mais críticos no que diz respeito ao redução da área florestal. Assim sugere-se fortemente que a implementação de actividades que visam a redução do desmatamento e degradação florestal sejam feita de forma prioritária e a curto prazo nestes PA s. 18

Figura 7. Representação espacial das fases de transição florestal na área do PROGIP-CD Figura 8. Densidade populacional por posto administrativo 19

De forma geral as áreas com densidade populacional média a alta estão associadas a altas taxas de desmatamento como é o caso dos postos administrativos de Quirimbas, Macomia, Metoro, Mapupulo, Mieze, Montepuéz, Mucojo, e Mahate (figura 8), presumindo-se que as actividades do PROGIP-CD nos próximos anos deveriam priorizar essas áreas. Entretanto três postos administrativos não seguem essa regra nomeadamente Quissanga, Chai e Muaguide. O desmatamento nos distritos de Ancuabe, Meluco e Montepuéz ocorre principalmente na floresta de miombo enquanto que em Macomia e Pemba-Metuge o desmatamento abrange tanto a floresta de miombo como as florestas secas decíduas indiferenciadas. Em Quissanga o desmatamento afecta principalmente as florestas secas decíduas indiferenciadas. Dada a sua extensão, a floresta de miombo tem sido bastante afectada pelo desmatamento. Tabela 5. Desmatamento por tipo de floresta por PA (ha) Distrito PA FSDI FSM Mangal Miombo MVC Total PA Total distrito Ancuabe Ancuabe-sede 5613 5613 15788 Mesa 2729 2729 Metoro 7446 7446 Ibo Ibo-sede 117 117 153 Quirimba 37 37 Macomia Chai 1708 4076 5784 22960 Macomia 6542 4570 11113 Mucojo 2005 1364 34 1151 248 4802 Quiterajo 93 731 7 418 12 1261 Meluco Meluco-sede 5621 5621 11516 Muaguide 1371 4524 5895 Montepuez Mapupulo 689 689 8278 Mirate 2753 2753 Montepuez-sede 2081 2081 Nairoto 2128 2128 Namanhumbir 627 627 Pemba- Metuge-sede 2033 814 13 1457 25 4341 4480 Metuge Mieze 137 2 139 Quissanga Bilibiza 1926 520 2446 8610 Mahate 1101 1451 40 47 2639 Quissanga-sede 3388 16 121 3525 Grand Total 20303 4359 113 46403 607 71785 20

6. ANÁLISE DOS AGENTES DO DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO FLORESTAL No seu estudo sobre as causas do desmatamento e da degradação florestal em Moçambique, CEAGRE & e Winrock International (2015) identificou 7 agentes de desmatamento, nomeadamente agricultura comercial, agricultura itinerante, extracção de produtos florestais, lenha e carvão, expansão urbana e outras infra-estruturas, mineração e pecuária. A análise desses agentes na área do PROGIP-CD mostrou pouca relevância da maior parte deles como agentes de desmatamento e degradação florestal. Assim, a agricultura itinerante foi o único agente considerado relevante no desmatamento enquanto que para a degradação florestal apenas dois agentes foram considerados relevantes, nomeadamente a produção de combustíveis lenhosos e a exploração madeireira. As constatações deste estudo coincidem com as do estudo de Mercier et al. (2016) no Programa de Gestão Integrada de Paisagens da Zambézia onde os autores identificaram os mesmos agentes de desmatamento e da degradação florestal encontrados neste estudo na área de actuação desse programa. A seguir são apresentadas algumas considerações sobre cada um dos 7 agentes. 6.1. Caracterização dos agentes de desmatamento e degradação florestal 6.1.1. Expansão urbana e outras infra-estruturas 6.1.1.1. Expansão urbana Os dados do censo populacional de 2007 indicam que os distritos abrangidos pelo PROGIP- CD possuem menor densidade população (17,2 habitantes/km 2 ) em relação a média nacional (28,7 habitantes/km 2 ). Na área do programa as populações vivem geralmente concentradas em aldeias, o que permite beneficiarem-se facilmente de serviços públicos e de outros benefícios sociais. Nas aldeias as novas habitações são normalmente erguidas em áreas de expansão, ou seja em locais já desmatadas por outros agentes, principalmente agricultura. Na área do PROGIP-CD são escassas as habitações isoladas dentro da floresta que poderiam propiciar o desmatamento para a habitação. Face a isso no presente estudo estabelece-se que a expansão urbana não é um agente relevante de desmatamento na área do PROGIP-CD. 6.1.1.2. Outras infra-estruturas As principais infra-estruturas na área do PROGIP-CD estão dispersas pelos distritos e incluem infra-estruturas de educação e de saúde, habitação, estradas e furos de água. A análise sócio-económica realizada na área do PROGIP-CD (estudo do anexo 2) revela um aumento do número de escolas e de centro hospitalares nos últimos 10 anos. Entretanto, dada a reduzida área ocupada por unidade escolar ou sanitária e por serem erguidas geralmente 21

dentro ou próximo de áreas de assentamentos humanos, já desmatadas, este grupo de infraestruturas não tem impacto significativo no desmatamento. A partir do estudo do anexo 2 pode-se deduzir igualmente que nos últimos 10 anos a rede de estradas não sofreu alterações significativas em termos de quilómetros de estrada na área do PROGIP-CD, tendo havido melhoria na qualidade de algumas estradas em virtude de manutenção mais frequente. Assim estabelece-se que as vias de acesso não tiveram efeito significativo no desmatamento no período da análise. 6.1.2. Exploração mineira Três dos 7 distritos do PROGIP-CD têm grande potencial para a actividade mineira, com importantes reservas de grafite e mármore em Ancuabe, ouro, ferro e rubí em Montepuéz e ouro, tromalina e águas marinhas no distrito de Meluco. O estudo do anexo 2 revela a existência de pouca actividade mineira industrial, estando circunscrita apenas aos postos administrativos de Nhamanhumbir e Nairoto no distrito de Montepuéz. Há actividades de garimpo em Mahepe e rio incopete no PA de Mirate no distrito de Montepuéz. Em Ancuabe o garimpo foi registado nas localidades de Meza-sede, Campine e Minheuene no PA de Meza e em Nicololo e Mahera no PA de Metoro. Foi igualmente referido a existência de actividade mineira informal de pequena escala no distrito de Meluco. Sobre essa base no presente estudo estabelece-se que de forma geral a actividade mineira é baseada no garimpo que não tem relevância como causa do desmatamento para a área do PROGIP-CD como um todo. Entretanto há necessidade de incluir algumas medidas no programa de modo a evitar que esta actividade se transforme num agente relevante de desmatamento descontrolado nos próximos anos. 6.1.3. Exploração pecuária Da análise da informação compilada no estudo do anexo 2 constata-se que, com excepção do distrito de Metuge, a actividade pecuária na área do PROGIP-CD é dominada pelo sector familiar com predomínio de gado bovino, caprino e aves de capoeira, apesar do grande potencial dada a existência de condições de pastagem em alguns dos distritos. No distrito de Metuge onde, de acordo com (GD Metuge (sd), houve uma aumento significativo de gado bovino de 2008 a 2012, o crescimento de efectivos bovinos foi mediante o uso de áreas não florestais. Pela sua natureza familiar, no presente estudo estabelece-se que a actividade pecuária não é um agente relevante de desmatamento e degradação florestal na área do PROGIP-CD. 22

6.1.4. Agricultura itinerante A agricultura itinerante é um sistema agrícola em que parcelas de terra são cultivadas temporariamente e abandonadas para permitir a sua reversão em vegetação natural enquanto o agricultor move-se para outra parcela e assim sucessivamente, independentemente do tipo de culturas produzidas (culturas alimentares, de rendimento ou consociação de ambas). O ciclo de cultivo geralmente termina quando o solo apresenta sinais de esgotamento de fertilidade ou quando a machamba é invadida por plantas daninhas. Nos distritos do PROGIP-CD a agricultura itinerante é movida pela procura de terras férteis, possibilitando deste modo a obtenção de altos rendimentos agrícolas durante um período que varia de 5 a 10 anos. A análise feita no estudo do anexo 2 com base em dados colhidos de entrevistas e observações no terreno em diferentes postos administrativos na área do PROGIP-CD mostram a relevância da agricultura itinerante como agente de desmatamento. A informação compilada no estudo do anexo 2 revela por outro que na área do PROGIP-CD praticamente não há agricultura comercial de grande escala como sucede em outras regiões com a produção a grande escala de chá, algodão, cana de açúcar, entre outras culturas. A agricultura comercial na área do PROGIP-CD é confinada à pequenas explorações principalmente de gergelim e algodão, de natureza familiar. De acordo com o estudo sócio-económico para a monitoria do REDD+ em 60 aldeias de 10 distritos, incluindo os distritos de Ancuabe e Montepuéz em Cabo Delgado, realizado por CEAGRE (2013), nos campos agrícolas recentemente aberto (primeira rotação) prioriza-se a cultura de milho em consociação com outras culturas de subsistência como mandioca, feijões e amendoim e de rendimento como o gergelim. Em função da demanda do mercado a cultura do algodão é introduzida depois da primeira rotação. Com esta prática resulta difícil separar a agricultura comercial familiar da agricultura de substistência como agentes de desmatamento uma vez que ambas actuam de forma combinada: as culturas de subsistência como o milho, a mapira e a mandioca impoem a abertura de novas machambas a procura de terras mais férteis enquanto que as culturas de rendimento podem beneficiar-se dessa fertilidade em consociação com outras culturas na primeira rotação (gergelim) e nas rotações seguintes (algodão). Assim, no presente estudo estabelece-se que a agricultura itinerante, incluindo a agricultura comercial de pequena escala e a agricultura de subsitência, é o agente chave de desmatamento na área do PROGIP-CD. A análise conjugada do mapas da densidade populacional e da localização da agricultura itinerante (figura 8 e 9 respectivamente) mostra que de forma geral a agricultura itinetante é mais frequente em áreas com densidade de população moderada a alta. 23

Quadro 2. Principais áreas de agricultura itinerante Distrito Quissanga Macomia Montepuez Ancuabe Metuge Meluco Posto Administrativo Mahate Bilibiza Quinterajo Mucojo Chai Nairoto Mirate Nhamanhumbir Ancuabe-sede Mesa Metoro Metuge-sede Mieze Meluco-sede Muaguide Área de prática de agricultura (itinerante) Todas localidades do PA Bilibiza e Mpundo Aldeia de Ilala, Natugo 2, Malada e Mitacate todas localidades do PA Todas localidades do PA Nairoto-sede e Nrussa Todas localidades do PA Todas localidades do PA Nacuale e Geote Aldeia de Muaja, Minheuene, Naua e Nanune Todas localidades do PA Nacuta e Messanja Nanlia Localidade sede e Minhanha Citate Figura 9. Localização de áreas de agricultura (itinerante) 24

6.1.5. Exploração de produtos florestais De acordo com o estabelecido na Lei 10/99 Lei de florestas e fauna bravia, a exploração de produtos florestais em Moçambique pode ser efectuado em moldes comerciais ou de autoconsumo. 6.1.5.1. Exploração comercial de produtos florestais Nos moldes comerciais existem dois regimes de exploração, nomeadamente licença simples e concessões florestais. Os principais produtos explorados e com potencial para o desmatamento e degradação florestal são a madeira comercial, os combustíveis lenhosos e material de construção. A exploração de combustíveis lenhosos será analisada mais adiante na secção 6.1.6. Exploração de madeira comercial A exploração comercial de madeira incide sobre um reduzido número de espécies de alto valor comercial, procuradas no mercado doméstico e internacional, dentre as 118 espécies indicadas no Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Decreto n o 12/2002). De acordo com estatísticas oficiais nos anos 2000, 2005 e 2010 foram licenciados entre 22 199 e 40 071m 3 de madeira em toro por ano na província de Cabo Delgado. Nos três anos foi licenciado um total de 88 231 m 3 de madeira e um pouco mais de 17 espécies madeireiras, sendo 84% do referido volume pertencente a apenas 4 espécies, nomeadamente Jambire, Umbila, Chanfuta e Pauferro. 25

Tabela 6. Espécies licenciadas em Cabo Delgado em 2000, 2005 e 2010 Volume licenciado (m 3 ) Frequência Nome comercial Total (%) 2000 2005 2010 Namuno 10 10 0 Chanfuta 4335 3735 6055 14125 16 Mutiria 660 795 1455 2 Sumauma/Mefuma 190 190 0 Messassa 210 210 0 Mucarala 10 10 0 Mondzo 945 945 1 Pau-preto 419 720 1044 2183 2 Mesassa E. 250 10 260 0 Tule 70 70 0 Jambire 4605 7896 13282 25783 29 Muanga 3389 60 3449 4 Umbila 7550 5610 12303 25463 29 Metil 50 50 0 Metonha 750 510 1198 2458 3 Pau-ferro 3200 2406 3407 9013 10 Messinge 850 220 392 1462 2 Ntholo 10 10 0 Outros 815 270 1085 1 Total 22199 25961 40071 88231 100 Fonte: DNFFB (2000); SPFFB- Cabo Delgado (2005) en SPFFB- Cabo Delgado (2015) Assumindo o nível mais alto de extracção ilegal entre 2007 e 2012 estimado por UEM (2013) para todo o país (70%), o volume realmente explorado pode estar entre 74 e 134 mil m3/ano; o último valor, correspondente ao ano de 2010 é superior ao corte anual admissível de Cabo Delgado (84 a 120 mil m 3 /ano), o que significa que uma parte do volume de madeira nesse ano pode ter sido obtida mediante práticas de exploração insustentável tais como o corte de árvores de menor diâmetro, corte em áreas proibidas, entre outras, provacando deste modo a degradação florestal. Nos distritos do PROGIP-CD onde ocorre a exploração madeireira, entre 2013 e 2015 foram licenciadas apenas 11 espécies com um volume total de 28 099 m 3 de madeira em toros (Quadro 3). 26

Quadro 3. Espécies e volume acumulado (m 3 ) licenciado de 2013 a 2015 nos distritos do PROGIP-CD Nome comercial Ancuabe Macomia Meluco Montepuéz Namuno X X Chanfuta X X X X Sumauma/Mefuma X Mondzo X Pau-preto X X X X Jambire X X X X Muanga X Umbila X X X X Metonha X X X X Pau-ferro X X X Messinge X X X X Total 1 266 2 323 2 924 21 586 Fonte: SPFFB Cabo Delgado (2015) São escassas as estatísticas sobre os volumes de madeira explorada ilegalmente nos 7 distritos do PROGIP-CD. Contudo as evidências indicam que, igual que na exploração licenciada, a extracção ilegal é feita de forma selectiva. Resultados do estudo realizado por UEM (2013) indicam que as principais espécies sujeitas à exploração ilegal tanto para o mercado doméstico como internacional, são praticamente as mesmas licenciadas pelos SPFFB, nomeadamente Chanfuta, Umbila, Jambire, Mondzo, Pau-ferro, Muanga, Pau-preto e Chanate. O mesmo estudo indica que as principais irregularidades da exploração ilegal contemplam o corte de árvores de diâmetro pequeno e a exploração fora da área autorizada, o transporte de madeira sem licença, exploração sem licença, e o abate e transporte de madeira com o excesso de volume superior a 10% do volume licenciado. Por sua vez a exploração ilegal de madeira para a exportação é muito selectiva, sendo o número de espécies exploradas mais reduzido que na exploração licenciada devido a procura de espécies com características peculiares em certos mercados internacionais sem restrição de transacção de madeira ilegal, principalmente o pau-ferro. Tendo em conta o carácter muito selectivo da exploração florestal licenciada e da extracção ilegal assim como a natureza das irregularidades da extracção ilegal acima descrita, neste estudo estabelece-se que a exploração madeireira tanto legal como ilegal não é um agente relevante de desmatamento nos distritos do PROGIP-CD, mas sim pode ser um agente relevante de degradação florestal. 27

Extracção comercial de material de construção Constatações do estudo sócio-económico para a monitoria do REDD+ realizado em 60 aldeias de 10 distritos, incluindo os distritos de Ancuabe e Montepuéz em Cabo Delgado indicam, não mostram a relevância da exploração comercial de matérias de construção (principalmente estacas e bambú) como agente de desmatamento. De facto as estatísticas dos SPFFB de Cabo Delgado revelam pouca pressão sobre esses produtos onde as estacas e o bambú representaram apenas 1,33 e 1,84% respectivamente do volume de combustíveis lenhosos licenciados em 2014. 6.1.5.2. Exploração madeireira para autoconsumo Constatações do estudo sócio-económico para a monitoria do REDD+ referido na secção anterior, indicam que de forma geral as comunidades locais exploram de forma selectiva praticamente as mesmas espécies contempladas pela exploração comercial, para a obtenção de material de construção, principalmente estacas e bambú. Tendo em conta o seu carácter selectivo, o presente estudo estabelece que a exploração madeireira para fins de autoconsumo não é um agente relevante de desmatamento na área do PROGIP-CD. Entretanto é recomendável a realização de um estudo sobre o impacto da combinação da exploração madeireira para o autoconsumo e a extracção comercial de material de construção em algumas áreas do projecto na eventual degradação florestal, uma vez que na maior parte dos casos estes produtos são obtidos de árvores de diâmetro pequeno. 6.1.6. Produção de combustíveis lenhosos Igual que em outras regiões do país, os combustíveis lenhosos (carvão e lenha) são a principal fonte de energia para a cozinha na cidade de Pemba e na área do PROGIP-CD em geral. 6.1.6.1. Produção de carvão vegetal De acordo com o estudo do anexo 2, o carvão vegetal é consumido principalmente nas cidades de Pemba e Montepuéz e nas sedes dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD. De acordo com o mesmo estudo, as zonas de abastecimento de carvão à cidade de Pemba localizam-se principalmente nos distritos de Montepuéz, Ancuabe e Metuge. Ás áreas de abastecimento de carvão à cidade de Montepuéz e as restantes sedes distritais localizam-se em áreas próximas das sedes distritais. O quadro abaixo apresenta as áreas de produção de carvão vegetal assim como as respectivas áreas de consumo. 28

Quadro 4. Informação sobre a produção de carvão vegetal Distrito Quissanga Macomia Montepuez Ancuabe Metuge Posto Administrativo Mahate Bilibiza Mucojo Chai Nairoto Mirate Nhamanhumbir Metoro Ancuabe-sede Metuge-Sede Mieze Áreas de produção de carvão Ndrah, Ancoba,Muaja e Mahate-sede Lindi, Nivico e Bilibiza Manica, Ruela, Nagulue e Mucojo sede Litamanda e Chai sede Não se produz carvão Todo PA Mpopene e posto sede Todo PA Todo PA Nacuta e Messanja Nanlia, aldeia Impiri Áreas de consumo Quissanga-sede, Mahate, Ibo e Pemba Bilibiza-sede Mucojo-sede e Pangane Chai-sede, Macomia-sede e Meangoleia - Mirate-sede e cidade de Montepuéz Nhamanhumbirsede Cidade de Montepuéz e Pemba Ancuabe-sede e Pemba Metuge-sede e Pemba Metuge-sede e Pemba No estudo do anexo 2 os produtores de carvão afirmaram que no processo de obtenção de matéria prima fazem o corte selectivo das árvores de modo a permitir o crescimento dos indivíduos mais pequenos ou em regeneração, como forma de prevenir o desmatamento. As constatações do mesmo estudo com base em a visitas a diferentes áreas de produção nos distritos de Metuge, Ancuabe e Montepuéz mostram que a produção de carvão vegetal resulta de forma geral em degradação acentuada da floresta nas áreas de produção, havendo já casos de desmatamento ainda que de forma incipiente particularmente nos distritos de Ancuabe e Metuge onde a exploração é intensa. 29

Figura 10. Localização das áreas de produção de carvão vegetal O mesmo estudo refere ainda que para a produção de carvão vegetal são usadas praticamente todas as espécies disponíveis no local independemente da sua classe comercial. Após a produção, as áreas são geralmente usadas para a agricultura familiar. De facto nas visitas de campo nos distritos de Metuge, Ancuabe e Montepuéz constatou-se que as machambas recentemente abertas encontram-se próximas das áreas de produção. Assim, no presente estudo estabelece-se que a produção de carvão vegetal pode ser um agente relevante de degradação florestal na área do PROGIP-CD. 6.1.6.2. Extracção da lenha A extracção de lenha para o fornecimento à cidade de Pemba ocorre praticamente nas mesmas áreas de produção do carvão vegetal referidas acima, sendo provavelmente em combinação com a produção de carvão, um agente de degradação florestal. A contribuição do corte de lenha para o uso local nos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD, incluindo as sedes distritais é considerada insignificante no desmatamento/degrdação florestal uma vez que, dado o reduzido número de habitantes nessas regiões, a lenha obtida de árvores abatidas na abertura de novas machambas, de ramos secos ou de árvores mortas, é suficiente para satisfazer a demanda. 30

6.2. Quantificação dos agentes de desmatamento/degradação florestal 6.2.1. Agentes de desmatamento Na sequência do discutido na secção 6.1.4. no presente estudo assume-se que cerca de 5522 ha de florestas são desmatados por ano para a práctica da agricultura itinerante. 6.2.2. Agentes da degradação florestal Produção de combustíveis lenhosos O estudo do anexo 3 estimou o consumo de carvão vegetal em 23 000 e 13 825 toneladas em 2015 para as cidades de Pemba e Montepuéz, respectivamente, o equivalente a 0,12 e 0,14t/habitante. O mesmo estudo estimou o consumo de lenha em 3 056 e 2 113 toneladas em 2015 para as cidades de Pemba e Montepuéz respectivamente, o equivalente a 0,0165 e 0,0208 t/habitante. Com base no consumo per capita de carvão e no número de habitantes das cidades de Pemba e Montepuéz e o rendimento médio dos fornos tradicionais de carvão de 19% determiando no estudo do anexo 3, foi estimado o consumo anual de carvão, a quantidade de matéria prima usada para a produção de carvão (lenha-equivalente) assim como a madeira usada directamente como lenha nas duas cidades. Com base na produtividade média da biomassa das florestas estimada em 36,36 m 3 /ha, de acordo com Marzoli (2007) e usando a razão estimada da quantidade de biomassa remanescente nas áreas de produção de carvão na área do programa de 30%, foram estimadas as áreas exploradas pela produção de carvão vegetal e lenha para a cidade de Pemba e Montepuéz na área do PROGIP-CD de 2001 a 2013. De referir que dados sobre a quantidade de biomassa remanescente nas áreas de produção de carvão na área do programa são escassos e para o presente trabalho esse valor foi estimado de forma indirecta com base na diferença entre o a produtividade média de biomassa referida acima por Marzoli (2007) e o volume de madeira usado em fornos nas áreas visitadas durante o estudo. Como resultado, a biomassa explorada para a produção de combustíveis lenhosos foi estimada 97 277 e 58 688 toneladas por ano para as cidades de Pemba e Montepuéz respectivamente e as áreas exploradas para o mesmo fim em 3 797 e 2 291 hectares para as mesmas cidades na mesma ordem (vide detalhes na tabela 1 do anexo 1). Com base na área total média afectada pela degradação devido ao consumo de carvão e lenha em Pemba, assim como o peso de cada distrito no fornecimento de carvão à cidade de Pemba, foi determinada a área de cada distrito que anualmente é explorada para o fornecimento de carvão e lenha à cidade de Pemba. Os pesos foram obtidos a partir estatísticas de 31

licenciamento de combustíveis lenhosos disponibilizados pelos Serviços de Florestas de Cabo Delgado e da contagem, no ponto de fiscalização de Pemba, da entrada de carvão à cidade de Pemba apresentado no estudo do anexo 3. Tabela 7. Área e biomassa explorada anualmente em cada distrito para o fornecimento de carvão e lenha à cidade de Pemba Distrrito Peso (%) Área explorada (ha) Biomassa explorada (t) Metuge 33 1253 32101 Ancuabe 62 2354 60312 Ibo - - - Macomia - - - Quissanga - - - Meluco - - - Montepuéz 2 76 1946 Chiúre 1 38 973 Mecufi 1 38 973 Mueda 1 38 973 Total 100 3797 97277 O cálculo da biomassa e das áreas afectadas pela produção de combustíveis lenhosos nos restantes distritos do PROGIP-CD restringiu-se ao carvão vegetal e apenas às sedes distritais por ser os locais de maior consumo. As estimativas foram feitas assumindo para cada sede distrital o consumo per capita de carvão registado na cidade de Montepuéz. A tabela 7 apresenta o resumo dos resultados e a tabela 2 do anexo 1 os detalhes dos cálculos. 32

Tabela 8. Áreas e biomassa explorada para a produção local de carvão nos restantes distritos do PROGIP-CD (2001 2013) Distrito Parâmetro Média anual Total (2001-2013) Metuge Ancuabe Meluco Macomia Quissanga Ibo Consumo (t LEQ) 9395 122138 Área (ha) 367 4767 Consumo (t LEQ) 8964 116532 Área (ha) 350 4548 Consumo (t LEQ) 5859 76163 Área (ha) 229 2973 Consumo (t LEQ) 14396 187144 Área (ha) 562 7305 Consumo (t LEQ) 3228 41958 Área (ha) 126 1638 Consumo (t LEQ) 3510 45631 Área (ha) 137 1781 Total Consumo (t LEQ) 45351 589566 Área (ha) 1770 23012 Com base nos dados apresentados nas tableas 6 e 7, a produção de lenha e carvão com destino as cidades de Pemba e Montepuéz e a produção de carvão vegetal para o fornecimento às sedes dos distritos abrangidos pelo PROGIP-CD afectam um total de 7 858 ha por ano distribuídos pelos diferentes distritos, conforme mostra a tabela 8, resultando em degradação mas ou menos acentuada das respectivas florestas. Uma parte das áreas degradadas pela produção de combustíveis lenhosos é posteriormente desmatada pela prática da agricultura itinerante. 33

Tabela 9. Área explorada para fornecimento de combustíveis lenhosos à Pemba e sedes dos distritos do PNQ (ha) Distrito Fornecimento Fornecimento Total de área à Pemba local explorada Metuge 1253 367 1620 Ancuabe 2354 350 2704 Ibo - 137 137 Macomia - 562 562 Quissanga - 126 126 Meluco - 229 229 Montepuéz 76 2291 2367 Sub-total 3683 4061 7744 Outros distritos 114 Total 3797 4061 7858 7. ESTIMATIVA DAS EMISSÕES 7.1. Determinação da linha de base (baseline) do desmatamento De acordo com FCPF (2013), a linha de base deve ser igual a média histórica de emissões de um determinado período de 10 anos. Para este estudo foi seleccionado o período 2004-2013 para o estabelecimento da linha de base das emissões tendo-se obtido como resultado a taxa média de desmatamento de 6 087 ha/ano, conforme mostra a tabela abaixo. Tabela 10. Linha de base do desmatamento na área do PROGIP-CD Distrito Total 2004-2013 Média (ha/ano) (ha) Ancuabe 14077 1408 Ibo 135 13 Macomia 17879 1788 Meluco 9339 934 Montepuez 7225 723 Pemba 4267 427 Quissanga 7947 795 Total 60868 6087 34

7.2. Estabelecimento de factor de emissão Dados com vista a determinar o estoque de carbono e os factores de emissão em Cabo Delgado são escassos. Para 2016 está planificado a realização de um inventário florestal na província de Cabo Delgado pelo projecto JICA o qual deverá providenciar informações sobre o factor de emissão e os níveis de emissão de referência. Dada a falta de informação básica e tendo em conta que na área do PROGIP-CD a floresta de miombo ocupa 83% da cobertura florestal total, para o presente trabalho o factor de emissão foi determinado assumindo os dados de estoque de carbono obtidos por Mercier et al. (2016) na área do Programa de Gestão Integrada de Paisagens da Zambézia (tabela 10) para a floresta de miombo. Tabela 11. Estoque de carbono na floresta de miombo na área da Reserva Nacional do Gilé (tco 2 eq/ha) Item Biomassa acima Biomassa Total do solo abaixo do solo Média 228,4 65,7 297,5 Desvio padrão 119,3 31,7 148,3 90% CI 24,1 6,4 29,9 Adaptado de Mercier et al. (2016) Uma vez que a emissão do carbono da biomassa abaixo do solo é gradual foi usado o nível de 10%/ano, de acordo com as recomendações do IPCC. Devido a falta de dados consistentes não foram consideradas as emissões do carbono do solo no cálculo das emissões. Sobre essa base o factor de emissão para a área do programa situou-se em 210,23 tco 2 eq/ha. 7.3. Estimativa de emissões anuais de referência As emissões anuais de referência devidas ao desmatamento foram calculadas com base na linha de base de emissões e o factor de emissões para um período de 10 anos (2014-2024). De acordo com a tabela 11, a emissão anual de referência é de 1 279 624 tco 2 eq/ano na área do PROGIP-CD, sendo os distritos de Macomia e Ancuabe os que mais contribuem em virtude de apresentarem as taxas anuais de desmatamento mais altas. De referir que, como já foi discutido em secções anteriores, o desmatamento e portanto as emissões são causadas principalmente pela agricultura itinerante. 35

Tabela 12. Estimativa de emissões resultantes do desmatamento em 10 anos (2004-2013) Distrito Cobertura florestal (ha)2000 Taxa de desmatamento anual (ha/ano) Emissões (tco 2 eq) Emissões anuais (tco 2 eq/ano) Ancuabe 293451 1408 2959360 295936 Ibo 2965 13 28329 2833 Macomia 335558 1788 3758643 375864 Meluco 432129 934 1963264 196326 Montepuez 540255 723 1518920 151892 Pemba 94284 427 896956 89696 Quissanga 130978 795 1670773 167077 Total 1829619 6087 1279624 7.4. Emissões devidas à degradação florestal 7.4.1. Produção de combustíveis lenhosos Uma parte das emissões acima referidas são emitidas de forma faseada, começando com as emissões devido a degradação da floresta ao ser submetida para a produção de combustíveis lenhosos e finalmente as emissões devido à agricultura itinerante ao converter as áreas com floresta degradada em campos cultivados. Assim, resulta interessante determinar as emisões provocadas pela degradação da floresta associda a produção de combustíveis lenhosos. Para tal foi incialmente compilado na tabela abaixo os valores de biomassa usada para a produção de combustíveis lenhosos para o consumo na cidade de Pemba e nas sedes dos distritos do PROGIP. Tabela 13. Biomassa usada na produção de de combustíveis lenhosos para Pemba e sedes dos distritos do PROGIP (t LEQ) Distrito Biomassa para Biomassa para as Total Pemba sedes distritais Metuge 32101 9395 41497 Ancuabe 60312 8964 69276 Ibo - 3510 3510 Macomia - 14396 14396 Quissanga - 3228 3228 Meluco - 5859 5859 Montepuéz 1946 58688 60634 Sub-total 94359 104040 198398 Outros distritos 2918-2918 Total 97277 104040 201317 36

Finalmente foram realizados os cálculos das emissões. Com vista a produzir resultados comparáveis para os PROGIP de Cabo Delgado e Zambézia, foi adoptada a metodologia usada por Mercier et al. (2016), considerando duas opções de factor de expansão de biomassa: opção A onde BCEF/WD é igua a 1,22 tdm/tdm, de acordo com IPCC (2003) e opção B onde BEF é igual a 3,4 tdm/tdm, segundo IPCC (2006). Como já foi acima indicado, para a conversão do peso de carvão em lenha-equivante foi usado o rendimento de fornos tradicionais de 19%, obtido no estudo do anexo 3. De acordo com a tabela 14, as estimativas das emissões nos distritos do PROGIP-CD variam de 534407 a 1 489 330 tco2 equivalente por ano para as opções A e B respectivamente. Tabela 14. Estimativa de emissões devido a produção de combustíveis lenhosos na área do PROGIP-CD Distrito Total de biomassa (t LEQ) Biomassa total Equivalente em Emissões em equivalente em tc/ano tco 2 eq/ano (Razão Biomassa acima do t/ano (Razão (Proporção de molecular= 3,67) solo Eq (t/ano) Raízes/parte carbono = 0,47) aérea= 0,28) A B A B A B A B Metuge 41497 50626 141089 64801 180593 30457 84879 111776 311506 Ancuabe 69276 84516 235538 108181 301488 50845 141699 186601 520037 Ibo 3510 4282 11934 5481 15276 2576 7180 9455 26349 Macomia 14396 17563 48945 22480 62650 10566 29445 38776 108065 Quissanga 3228 3938 10974 5040 14046 2369 6602 8694 24229 Meluco 5859 7148 19920 9149 25497 4300 11984 15781 43980 Montepuéz 60634 73973 206155 94686 263879 44502 124023 163324 455165 Total 198398 242046 674554 309819 863430 145615 405812 534407 1489330 Opção A: BCEF/WD = 1,22 tdm/tdm; Opção B: BEF = 3,4 tdm/tdm De modo a evitar uma dupla contagem de emissões de CO 2, foram excluídas das estimativas as emissões correspondentes a áreas degradadas convertidas em campos agrícolas uma vez que a contagem dessas emissões foi incluída nas emissões do desmatamento devido à agricultura itinerante. Dada a falta de informação sobre a razão de conversão de áreas degradadas pela produção de combustíveis lenhosos em machambas em cada distrito, optouse por usar valores conservadores considerando que todas as áreas degradadas foram convertidas em campos agrícolas, sempre que a área degradada fosse maior que a área desmatada. Nos casos em que não se observou esta condição o valor das áreas degradadas convertidas em campos agricolas foi considerado nulo (tabela 15). 37

Tabela 15. Emissões devido a produção de combustíveis lenhosos em áreas não convertidas em campos agrícolas Distrito Biomassa de áreas Biomassa acima Biomassa total Equivalente em Emissões em degradadas do solo Eq equivalente (Razão tc/ano (Proporção tco não (BEF=3,4 Raízes/parete 2 eq/ano (Razão de carbono = 0,47) molecular= 3,67) convertidas tdm/tdm) aérea= 0,28 em machambas (t LEQ) A B A B A B A B Metuge 38173 46571 129789 59611 166129 28017 78081 102823 286556 Ancuabe 3203 3908 10889 5002 13938 2351 6551 8628 24041 Ibo - - - - - - - - - Macomia - - - - - - - - - Quissanga 44314 54063 150668 69201 192854 32524 90642 119364 332655 Meluco 32658 39843 111036 50999 142127 23969 66800 87968 245154 Montepuéz - - - - - - - - - Total 118347 144385 402381 184812 515048 86862 242073 318783 888407 Assim estima-se que as áreas de produção de combustíveis lenhosos não convertidas em campos agrícolas produzem emissões enttre 318 783 e 888 407 tco 2 equivalente por ano. O valor mínimo de emissões obtido (318783 tco 2 eq/ano) é superior a 10% das emissões por desmatamento (127 962,4 tco 2 eq/ano) e portanto deve ser contabilizado nas emissões globais, de acordo com as recomendações do FCPF. 8. PROJECÇÃO DO DESMATAMENTO PARA 2030 A projecção espacialmente explicita do desmatamento dentro dos 7 distritos abrangidos pelo PROGIP-CD teve como base a linha de referência previamente estabelecida. A taxa de desmatamento anual verificado no período histórico em análise, foi também tomada como base para a projecção de cenários futuros do desmatamento com a intenção de mapear e identificar os locais mais vulneráveis a ocorrência do desmatamento nos próximos anos. Para a calibração do modelo, foi usado o período historico observado tendo sido simulado o desmtamento para o ano 2013 e a posterir feito a comparação entre o simulado e observado. Nota que os mapas (simulado vs observado) tiveram um nível de concordância acima de 70% quando comparados usando uma janela de 11X11 pixeis. Este valor é considerdo satisfatoóio e aceite para o uso do modelo para a simulação de cenários futuros visto que numa área de cerca de 11 ha, cerca de 70% das células desmatadas no mapa simulado estão em concordância com o observado. Para a simulação do desmatamento, foram usados 6 factores (figura 11). 38

Figura 11. Variáveis estáticas usadas para a simulação do desmatamento dentro dos 7 distritos abrangidos pelo PNQ As análises mostram que todos os factores usados, tem uma forte correlação com o desmatamento tendo as estradas e as proximidades as aldeias sido os factores que mais influência a ocorrência do desmatamento. Com base na interação dos diferentes factores, foi possível também produzir o mapa de probabilidades de ocorrência do desmatamente em toda a área de estudo. Este mapa é util no sentido de que indica de forma espacial as áreas mais vulneráveis e propensas a perdas de áreas florestais (figura 12). O mapa de probabilidades, claramente evidencia que os distritos mais proximos a costa são os mais vulneráveis. Esta análise encontra-se alinhada as outras análises apresentadas previamente neste estudo. Estas áreas obviamente deverão merecer especial atenção na implementação de medidas para o combate do desmatamento. O PNQ apresenta maiores probabilidades de desmatamento incluindo a sua zona tampão, sobretudo nos PA s de Muaguide, Bilibiza, Quissanga-sede, Mucojo, região Este de Macomia-sede e o Sul de Mahate. 39

Figura 12. Níveis de probabilidade de ocorrência de desmatamento na área do PROGIP-CD Por outro lado, a sobreposição do mapa de probabilidade com os mapas das áreas actuais de prática de agricultura itinerante e da produção de combustíveis lenhosos (figuras 6 e 7) mostra maior relação probabilidade de desmatamento- agricultura itinerante em relação a probabilidade de desmatamento-produção de combustíveis lenhosos, o que confirma que a agricultura itinerante é um agente chave de desmatamento. A projecção do desmatamento até ano 2030 teve como base na probabilidade de desmatamento e o nível de referência (RL) estabelecido de forma provisória na secção 7. A figura 13 indicam que, se não forem tomadas as devidas medidas, o desmatamento irá afectar grandemente 5 dos sete distritos (Macomia, Meluco, Quissanga, Ancuanbe e Metuge), em todos os postos administrativos e particularmente em perímetros próximos das principais estradas. 40