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P.º C.P. 152/2009 SJC-CT- artigo 73.º/7 do Código do Registo Predial interpretação. PARECER Relatório 1. A propósito do disposto no n.º 7 do artigo 73.º do Código do Registo Predial (CRP), na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 185/2009, de 12 de Agosto, são submetidas à apreciação do Conselho Técnico as seguintes questões: a) Quando o pedido de registo abranja diversos prédios e se verifique que apenas um ou alguns deles não foram devidamente identificados, o registo deve ser recusado com referência a todos os prédios, dando origem a uma nova apresentação e à transferência dos emolumentos, ou deverá ser aproveitada a apresentação inicial relativamente aos prédios correctamente identificados, embora inviabilizando aquela transferência emolumentar? b) A nova apresentação a que se refere o artigo 73.º/7 do CRP pressupõe a reiteração do pedido por parte do apresentante? c) Quando se verifique que a indicação do prédio no pedido não permite a sua localização no sistema, designadamente porque foram utilizados signos linguísticos ou sinais não reconhecíveis na composição da descrição registal (pedido online), ou quando a leitura do título demonstre que é outro o objecto do registo e, portanto, deva ser dada uma nova apresentação, nos termos do disposto no artigo 73.º/7 do CRP, deverá, ainda assim, cumprir-se o disposto no artigo 69.º/3 do CRP? Pronúncia 1. Em face do disposto no artigo 42.º/1 do CRP, o pedido de registo deve conter a menção do prédio a que respeita o facto jurídico, por indicação, no suporte respectivo, do número da descrição, freguesia e concelho ou, quando não descrito, do número da inscrição matricial, natureza, freguesia e concelho a que pertence (artigo 5.º/2 da Portaria n.º 621/2008, de 18 de Julho), e é este prédio, assim identificado, que há-de considerado para efeitos de anotação no diário (artigo 61.º/1/d) do CRP) e que, por consequência, fica gravado com a prioridade correspondente à apresentação, e são precisamente estes dados, recolhidos do pedido e indicados no diário, que hão-de comandar todo o processo de registo e toda a informação registal disponibilizada. 1

1.1. O diário é o suporte adequado para reflectir, em primeiro lugar, a situação jurídica do prédio a revelar pelo registo, sendo que é a partir das indicações nele contidas que se prossegue e desenvolve o processo de registo 1, se presta informação a terceiros e se potenciam a certeza jurídica e a segurança do comércio jurídico imobiliário que mobilizam e dão razão de ser «à actuação intencionalmente dirigida a dar a conhecer a terceiros uma certa situação jurídica» materializada pelo registo predial 2. 1.2. Como tal, o processo de registo só poderá valer com referência aos prédios indicados no pedido de registo e no diário, cuja situação tabular, entre o momento do pedido e a data da sua qualificação, se encontre, portanto, sinalizada como pendente de alteração 3. Doutra forma, considerar os números de descrição contidos no título mas não reflectidos no pedido e no diário, seria comprometer a confiança ou a fé pública visada com a publicidade registral e imputar na esfera dos terceiros, que entretanto entraram em contacto com o registo quer no âmbito da instância de registo quer através da obtenção dos seus meios de prova, os lapsos de quem, antes deles, exerceu a instância e, porventura, os riscos inerentes a uma deficiente utilização das tecnologias 4. 1 Porém, já o dissemos antes, a anotação no diário não possa autonomizar-se do pedido de registo, fazendo vingar um pedido que não tem correspondência com a pretensão expressamente formulada pelo interessado, ou fixando uma prioridade ou uma pendência registral sobre uma descrição que não se «localiza» no pedido de registo (cfr. o processo C.P. 57/2008 SJC-CT). Faz-se notar, no entanto, que, no pedido electrónico, os elementos anotados no diário são recolhidos do pedido de forma automática e, portanto, «a anotação é aqui, pode dizer-se, da própria autoria do requisitante [pois] o processo completo de submissão do pedido culmina na produção duma anotação que vem a ser exacta imagem do modo como os dados para tanto relevantes foram por ele disponibilizados» (processo RP 64/2009 SJC-CT). 2 Carvalho Fernandes, Lições de Direitos Reais, 4.ª edição, p.89, a propósito da publicidade provocada. 3 Como defendemos no processo C.P. 100/2008 SJC-CT, reiterando o entendimento firmado nos processos R.P. 317/2002 DSJ-CT e R.P. 357/2003 DSJ-CT, o registo predial tem de estar preparado, em cada momento, para responder categoricamente à pergunta sobre se determinado registo provisório está ou não caducado, ou à pergunta sobre se está ou não caducado o direito de impugnar determinado despacho de recusa de registo, assim como deve estar preparado para responder, sem hesitações, à questão de saber quais os pedidos de registo que se acham pendentes sobre determinado prédio e a ordem respectiva. 4 Num sistema de fólio real como é o nosso, o prédio é o centro de toda a actividade registal; é o eixo do processo e da relação registral: a coisa sobre que incidem os factos sujeitos a registo, a coisa a que respeitam os direitos ou, numa concepção mais lata, a situação jurídica publicitada pelo registo. Donde, é fundamental que o prédio esteja correctamente identificado no pedido de registo e no diário, porquanto deste acerto depende a concretização do princípio da prioridade consagrado no artigo 6.º do CRP e deste princípio provém o critério que, em princípio, há-de servir na determinação do melhor direito, em caso de incompatibilidade, ou daquele que há-de ser satisfeito à frente do outro, quando os direitos se encontrem na fase de graduação, pois nele se determina que «o direito inscrito em primeiro lugar prevalece sobre os que se lhe seguirem 2

2. Mas se a tensão desformalizadora ínsita na reforma do registo predial não foi de molde a bulir com a organização de regras e princípios tendentes a assegurar a eficácia do sistema de registo, a verdade é que, com as novas modalidades do pedido, a dispensa, em certos casos, de um modelo aprovado para o pedido por escrito e a remodelação do regime emolumentar, as questões em torno da deficiente identificação dos prédios no pedido de registo ganharam dimensão prática acrescida 5. 2.1. Daí os ajustamentos legislativos introduzidos pelo Decreto-Lei n.º 185/2009, de 12 de Agosto, que, por extensão do âmbito material do n.º 7 do artigo 73.º do CRP e com salvaguarda do princípio da prioridade, vieram permitir um «aproveitamento» da instância de registo, pondo a cargo do serviço de registo a superação das deficiências do pedido relativamente à identificação do prédio logo após a decisão registal de conteúdo negativo (recusa do registo) que põe fim ao procedimento legitimado com a apresentação inicial, e a «transferência dos emolumentos pagos». 2.2. Com efeito, a inovação legislativa não reside já na possibilidade de um mesmo pedido de registo poder dar lugar a dois processos de registo diferenciados (com anotações no diário autónomas e distanciadas no tempo) e na atipicidade do tratamento emolumentar respectivo 6, antes se traduz no facto de intercorrer um acto de suprimento de deficiências, consubstanciado na correcção dos elementos de identificação do prédio, que é praticado sem dirigir convite ao apresentante. 2.3. Trata-se de um acto oficioso que não deixa de se inscrever no mesmo propósito de assessoria que preside a todo o regime de suprimento de deficiências consagrado no artigo 73.º do CRP, tendo em vista obviar à repetição do pedido, mas que, ao invés de acto ancilar e instrutório a correr no processo de registo a que se destina, se antecipa e relativamente aos mesmos bens, por ordem da data dos registos e, dentro da mesma data, pela ordem temporal das apresentações correspondentes». 5 À inviabilidade do pedido passou a servir de causa não só o lapso ou o erro no preenchimento do impressorequisição, na parte relativa à indicação do prédio, mas também a incorrecta inserção de dados relativos ao prédio na aplicação informática pertinente ao pedido online e as omissões e irregularidades do pedido formulado em suporte avulso e sem a protecção dos dizeres pré-escritos e de itens sinalizadores dos elementos essenciais do pedido oferecida pelos impressos ou modelos oficiais, sendo que, à perda de prioridade e ao ónus de um novo pedido, se passou a somar, como consequência gravosa da recusa, uma tributação emolumentar que não se subordina já ao resultado da concreta instância de registo: o emolumento é devido, no mesmo exacto valor, independentemente do conteúdo, positivo ou negativo, da decisão registal. 6 Dado que já assim era quando fosse insuprível a falta de apresentação de título por se tratar de facto posterior à data da apresentação (artigo 73.º/7 na versão inicial). 3

se coloca como acto de «aperfeiçoamento» do próprio pedido para efeitos de desencadeamento de um segundo processo de registo 7. 2.4. Obviamente, a hipótese legal é a da recusa fundada no erro sobre o prédio objecto mediato do registo e, por isso, não contempla senão os casos em que há certeza 8 de que é outro o prédio (o número da descrição) ou de que é outra a sua situação tabular (descrito em vez de omisso, como se declara no pedido), ou em que é manifesto o lapso de escrita ou a imprecisão ditada pela incorrecta percepção e uso dos campos da aplicação informática. 2.5. Sendo que, se o facto abranger diversos prédios e o interessado tiver exercido a instância com indevida identificação de algum ou alguns deles, em princípio, nenhum obstáculo se coloca a que se decomponha o pedido em partes e se recuse parcialmente o registo, porquanto o que releva, do ponto de vista da publicidade, são os efeitos jurídicos que se projectam na esfera jurídica do sujeito activo ou a vicissitude que aquele facto representa na situação jurídica própria de cada prédio 9. 2.6. Vale isto por dizer que o registo deve ser feito como definitivo e a coberto da apresentação inicial relativamente aos prédios correctamente identificados e recusado quanto aos demais, incidindo o acto oficioso de aperfeiçoamento e a nova apresentação sobre a parte do pedido que apresenta irregularidade, omissão ou deficiência, tudo se passando, do ponto de vista da prioridade e na falta de impugnação procedente do 7 Estamos aqui a considerar o processo de registo enquanto conjunto de actos processuais orientados para o acto decisório relativo ao facto jurídico que se pretende inscrever no registo e que se agrupam e esgotam em três fases: pedido, instrução e decisão, em que o resultado é o registo ou a sua recusa (cfr. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, pp. 163 ss.) 8 Designadamente, em face do título apresentado com o pedido ou subsequentemente obtido em sede de suprimento de deficiências (artigo 73.º/2 do CRP). Também pode acontecer que a certeza de que é outro o prédio em causa só possa ser obtida no procedimento de suprimento de deficiências, a correr no processo de registo, no qual deva ter intervenção o apresentante, como é o caso de o título respeitar a diversos prédios e nenhum deles corresponder à descrição indicada no pedido. 9 Não será assim, por exemplo, quando o registo a efectuar respeite a uma servidão e tenha havido deficiente indicação de um dos prédios (serviente ou dominante), porquanto aqui, tratando-se de um só direito, não colherá já qualquer divisibilidade do pedido. O critério residirá, portanto, em saber se a instância pode ocorrer em separado, em relação a cada um dos prédios em causa, ou se, ao invés, os efeitos jurídicos produzidos pelo facto implicam uma publicidade simultânea sobre todo o objecto. 4

despacho inicial, como se a instância não tivesse sido exercida num só momento em relação a todos os prédios. 3. Do esforço de compreensão da norma resulta outrossim que, para além do mesmo interesse público de «coincidência entre a realidade física, a substantiva e a registral» ínsito no artigo 8.º-A do CRP, terão pesado razões de economia, celeridade e simplificação destinadas a evitar ao interessado a duplicação de pedidos e a delonga na obtenção de uma nova prioridade, sendo, por isso, patente a protecção ou salvaguarda do interesse particular. 3.1. Não obstante, no pensamento do legislador, reconstituído a partir da letra da lei, não parece estar a postergação de garantias impugnatórias, já que não deixa de haver uma decisão de qualificação dirigida ao pedido tal como ele foi configurado pelo interessado, e, portanto, se for outro o resultado efectivamente querido pelo apresentante, nada parece impedir que este se manifeste, na via impugnatória adequada, contra a decisão de recusa, logrando, se for o caso, a prioridade correspondente à apresentação inicial 10 ; 3.2. Para o efeito, há que proceder à anotação da recusa não só na ficha correspondente ao prédio indicado no pedido, se a houver, como na ficha do prédio que é certo constituir o objecto material ou mediato do facto jurídico em causa, embora aqui com sacrifício da verdade que literalmente resulta do pedido e da sua anotação no diário, mas sem «desconsideração» ou «contradição» com os fundamentos da qualificação minguante, e apenas como meio de acautelar os efeitos negativos da duplicação de apresentações determinada pelo preceito legal em face de uma ponderação diferente, em sede de impugnação, do lapso e das suas causas. 3.3. Sendo que, do ponto de vista da informação registal, também não se descortinam escolhos à correcta articulação de todos os interesses em presença, dado que o registo a efectuar a coberto da segunda apresentação há-de receber a qualificação de provisório por natureza (artigo 92.º/2/d) do CRP) por incompatibilidade, não substantiva mas tabular, com a recusa que o precede 11-12. 10 A «correcção» oficiosa do pedido só assume eficácia no âmbito do novo processo de registo, ou seja, naquele que é aberto com a nova apresentação, sendo que, relativamente à apresentação inicial e tanto para efeitos de qualificação como de impugnação da recusa, só poderão relevar os elementos de identificação do prédio que no pedido tiverem sido apostos pelo apresentante. 11 Importa, na verdade, equacionar a hipótese de haver impugnação procedente (que venha a determinar a feitura do registo na ficha correcta a coberto da apresentação inicial) e impedir a incongruência de se manifestar nas tábuas uma duplicação de registos do mesmo facto. 5

3.4. Porém, se o registo tiver de ingressar por averbamento e, como tal, não consentir a provisoriedade atrás referida (artigo 101.º/3 do CRP a contrario), deve, ainda assim, efectuar-se a nova apresentação 13, só que aqui a realização do registo, a coberto desta apresentação, exigirá sempre a prévia renúncia à impugnação da recusa anunciada nas fichas. 3.5. Assim, na notificação da recusa referida no artigo 73.º/7 do CRP deve o apresentante ser informado de que foi dada uma nova apresentação e de que dispõe do prazo de cinco dias para prescindir da interposição de impugnação, sob pena de o registo ser efectuado como provisório (a coberto da nova apresentação) ou ser novamente recusado (quando deva ser feito por averbamento simples), enxertando-se, pois, nesta comunicação, a superação de um obstáculo à feitura do registo segundo a letra e a ratio do artigo 73.º/2 do CRP 14. 12 Pode acontecer que, analisados os documentos e a situação tabular do prédio a que os mesmos respeitam, se conclua que não é possível realizar o registo, dado subsistirem motivos de recusa insupríveis, em face do disposto no artigo 73.º do CRP, e, portanto, tenha de ser recusado o registo, agora por referência exclusiva à descrição correcta. Ainda assim, deve ser feita nova apresentação, porquanto esta nova apresentação introduz elementos novos uma nova identificação do prédio e ou um novo documento que só neste novo processo podem ganhar inteira e rigorosa pertinência, quer ao nível da qualificação quer no âmbito de eventual suprimento, não devendo, por isso, impressionar que, apesar de o propósito legal consistir na satisfação da pretensão do interessado, a nova apresentação conduza a mais uma recusa ou a mais uma provisoriedade, por não ter sido possível superar as deficiências do novo processo ao abrigo do disposto nos nºs 1 a 3 do artigo 73.º. Tal não significa que do despacho de recusa a que alude o artigo 73.º/7 do CRP não devam constar todas as deficiências existentes (as que imediatamente se dirigem ao prédio indicado pelo apresentante no pedido ou aos documentos apresentados que tenham data anterior ao pedido e aquelas que seriam relevantes se o pedido tivesse sido correctamente formulado, fazendo-se a indicação correcta do prédio, ou se o facto não tivesse sido titulado em data posterior à do pedido), mas isto é de forma a evitar que, em face da impugnação da recusa, a apreciação da entidade ad quem fique limitada à apreciação do erro sobre a identificação do prédio ou do momento da constituição do facto trazido a registo e que, perante a impertinência da recusa por aquele motivo, se potencie o ingresso do facto nas tábuas a despeito da existência de outras deficiências de igual ou menor gravidade. 13 Embora, nestes casos, não se coloquem questões de prioridade ou de caducidade do registo (dado que existirá sempre um registo anterior cautelar cujo prazo de caducidade, a existir, fica suspenso até à notificação da recusa ou, no caso de impugnação, até que seja anotado o seu desfecho), não deixam de se verificar as mesmas razões de ordem particular que, a nosso ver, pesaram na solução legal contida no n.º 7 do artigo 73.º, donde não haverá razões para que o intérprete distinga quando o legislador não o fez. 14 Isto no pressuposto de que inexistem outros obstáculos, pois, se eles existirem, todas as deficiências hão-de ser ponderadas num mesmo momento, ou seja, no processo de suprimento de deficiências a que alude a nota 12. 6

4. Finalmente, quanto à questão emolumentar e no que concerne à recusa, parece-nos impertinente convocar aqui a figura da gratuidade ou da isenção, desde logo porque o pedido, ainda que disperso por apresentações diversas e dando lugar a dois processos de registo e a duas decisões finais, não deixa de corresponder a uma só instância. 4.1. É que, por força da reforma do registo predial e das alterações introduzidas ao RERN, os preços dos actos de registo passaram a obedecer a uma lógica de processo emolumentar, promovendo-se o conceito de emolumento único destinado a satisfazer o custo de todos os actos decorrentes ou conexos entre si, independentemente da multiplicidade de relações registais subjacentes e do número de actos de registo realizados: ponto é que se trate do mesmo apresentante e do mesmo impulso de registo 15. 4.2. Na mesma lógica de emolumento único, porém, com a particularidade de se tratar de dois processos de registo, a determinação legal da transferência da totalidade dos emolumentos pagos ínsita no artigo 73.º/7 do CRP não visa senão garantir que todo o custo devido pelo concreto pedido de registo se satisfaça à custa da mesma quantia, independentemente do número de actos realizados num e noutro processo de registo. 4.3. Donde, se o pedido respeitar a diversos prédios e tiver de ser recusado apenas quanto a um ou alguns deles, a «transferência de emolumentos» significará considerar a unicidade do pedido, a modalidade deste (cfr. o disposto no artigo 28.º/26 e 27 do RERN) e as quantias pagas, devendo a conta aglutinar o conjunto das duas apresentações. *** Sem embargo de mais aprofundada reflexão em face da aplicação prática do preceito a novos e concretos problemas, é este o resultado interpretativo que julgamos poder extrair do n.º 7 do artigo 73.º do CRP e que, a nosso ver, dá resposta às questões suscitadas na consulta. Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 25 de Fevereiro de 2010. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Maria Eugénia Cruz Pires dos Reis Moreira, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, João Guimarães Gomes Bastos, José Ascenso Nunes da Maia. Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em 26.02.2010. 15 Ainda que por requisições diferentes, como se infere dos despachos 74/2008 e 80/2008. 7