DIREITOS SUCESSÓRIOS NA UNIÃO ESTÁVEL

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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DIREITOS SUCESSÓRIOS NA UNIÃO ESTÁVEL MARIANA BUTORI JULIATTO Itajaí/SC, 15 de outubro de 2007.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DIREITOS SUCESSÓRIOS NA UNIÃO ESTÁVEL MARIANA BUTORI JULIATTO Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professora MSc. Andréa Morgado Itajaí, 15 de outubro de 2007.

AGRADECIMENTO Agradeço a Deus as oportunidades que me proporcionou ao longo da minha vida. Ao meu marido, Tony Herbert Juliatto, que com muito amor, carinho, apoio e paciência não mediu esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Aos meus pais, Delton Butori Júnior e Ana Maria Butori, que me deram toda a base de vida, com muito amor e dedicação para que eu tivesse condições de alcançar os meus objetivos. Ao meu irmão, Delton Butori Neto e aos meus familiares, em especial Evaldo Trefelis e Maria Helena Ferreira Trefelis, pelo afeto e incentivo nesta jornada acadêmica.

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu marido, amigo e companheiro Tony, que esteve ao meu lado em todos os momentos importantes para a concretização deste sonho.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, 15 de outubro de 2007. Mariana Butori Juliatto Graduanda

PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, elaborada pela graduanda Mariana Butori Juliatto, sob o título Direitos Sucessórios na União Estável, foi submetida em 30 de novembro de 2007 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Presidente: MSc. Andréa Morgado, Examinador: MSc. Fábio Schlickmann, Examinador: MSc. Antônio Augusto Lapa, e aprovada com a nota 9,5 (nove e meio). Itajaí/SC, [Data] Professora MSc. Andréa Morgado Orientadora e Presidente da Banca Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

ROL DE CATEGORIAS Casamento Na terminologia jurídica, designa o contrato solene que, gerando a sociedade conjugal ou formando a união legítima entre o homem e a mulher, vem estabelecer os deveres e obrigações recíprocas, que se atribuem a cada um dos cônjuges, seja em relação a eles, considerados entre si seja em relação aos filhos que se possam gerar desta união 1. Entidade Familiar É a denominação que a CF/88, em seu artigo 226 2, confere à família, que teria as seguintes espécies: a entidade familiar entre homem e mulher, constituída pelo casamento; a entidade familiar entre homem e mulher, decorrente de sua união estável; a entidade familiar formada por qualquer dos pais e seus descendentes; e a entidade familiar de amparo à pessoa idosa (art. 230 3 ) 4 1 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 157. 2 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 1 O casamento é civil e gratuita a celebração. 2 O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 3 Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 4 Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 5 Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 6 O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. 7 Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 8 O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 3 Art. 230. A família, a sociedade e o Estado, têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. 4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 309.

Família Compreende somente a reunião de pessoas ligadas entre si pelo vínculo de consangüinidade, de afinidade ou de parentesco, até os limites prefixados em lei 5. Matrimônio Do latim matrimonium (casamento), é o vocábulo em seu sentido técnico empregado especialmente para designar a aliança, em virtude da qual homem e mulher se prometem o uso do corpo para fim da propagação 6. Regime de bens Regime matrimonial de bens é o conjunto de normas aplicáveis às relações e interesses econômicos resultantes do casamento. É constituído, portanto, por normas que regem as relações patrimoniais entre marido e mulher, durante o matrimônio. Consiste nas disposições normativas aplicáveis à sociedade conjugal no que concerne aos seus interesses pecuniários. Logo, trata-se do estaturo patrimonial dos consortes 7. Sucessão Sucessão é a transmissão de bens e de direitos a uma, ou mais pessoas vivas, integrantes de um patrimônio deixado por uma pessoa falecida 8. Sucessão hereditária É a designação de caráter distintivo, para bem identificar a transmissão de bens e direitos da pessoa falecida e seus herdeiros, e não uma simples transmissão de direitos ou substituição de pessoa nos encargos ou direitos de outrem 9. 5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 347. 6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 524. 7 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil, v. 5: direito de família. 18. ed. aum. e atual. de acordo com o Novo Código Civil (Lei n 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002, p. 145. 8 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 780. 9 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 781.

União Estável O vínculo afetivo entre o homem e a mulher, como se casados fossem, com as características inerentes ao casamento, e a intenção de permanência da vida em comum 10 10 CAHALI, José Francisco. União estável e alimentos entre companheiros. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 87.

SUMÁRIO RESUMO... I INTRODUÇÃO... I CAPÍTULO 1... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. DA ENTIDADE FAMILIAR... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 1.1 FAMÍLIA : CONCEITO E EVOLUÇÃO...ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 1.2 CASAMENTO: CONCEITO E ASPECTOS GERAIS...8 1.3 EFEITOS PATRIMONIAIS DECORRENTES DO CASAMENTO - REGIME DE BENS...12 1.3.1 REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS...1Erro! Indicador não definido. 1.3.2 REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS...16 1.3.3 REGIME DA SEPARAÇÃO TOTAL DE BENS...17 1.3.4 REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQÜESTROS...18 CAPÍTULO 2... 22 UNIÃO ESTÁVEL... 22 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA...23 2.2 CONCEITO...32 2.3 ELEMENTOS DA UNIÃO ESTÁVEL...33 CAPÍTULO 3... 40 DIREITOS SUCESSÓRIOS NA UNIÃO ESTÁVEL... 40 3.1 DIREITOS PATRIMONIAIS NA UNIÃO ESTÁVEL...41 3.2 DIREITO SUCESSÓRIO: ASPECTOS GERAIS...46 3.3 DIREITOS SUCESSÓRIOS NA UNIÃO ESTÁVEL...51 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 77 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS... 81

RESUMO O presente trabalho monográfico teve como objetivo realizar um estudo sobre os direitos sucessórios na união estável, analisando a evolução deste instituto na sociedade brasileira e os efeitos jurídicos decorrentes das inovações legislativas sobre o assunto. A união estável somente passou a ser reconhecida como entidade familiar com a promulgação da Constituição da República federativa do Brasil de 1988. depois disso, duas leis infraconstitucionais em especial Lei n 8.971/94 e a Lei n 9.278/96 trataram sobre a união estável, suas características e os direitos e deveres dela decorrentes entre os companheiros. Com isso, o instituto da união estável teve uma maior proteção jurídica, sendo reconhecido por tais leis direitos aos companheiros, como por exemplo à meação, sucessão e prestação de alimentos. Contudo, foi com o advento do atual Código Civil, que a união estável passou a ter um disciplinamento mais específico no tocante a seus requisitos objetivos e subjetivos, direitos e deveres dos companheiros e principalmente novas regras acerca da participação do companheiro sobrevivente na herança do companheiro falecido. É justamente sobre estas modificações legislativas ainda recentes referentes a união estável que a presente pesquisa foi realizada.

INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto o estudo dos Direitos Sucessórios na União Estável, partindo de uma reflexão histórica sobre os institutos jurídicos do concubinato e, mais recentemente, da união estável, abordando a questão proposta sob a ótica do Código Civil de 19916, das Leis 8.971/94 e 9.278/96 para, finalmente, entrarmos no texto do artigo 1.790 do Novo Código Civil Brasileiro. O seu objetivo é realizar uma análise da situação dos conviventes, no que toca os direitos sucessórios, à luz das normas jurídicas contidas no Novo código Civil Brasileiro. O tema proposto neste trabalho tem como finalidade demonstrar especificamente, a evolução da tutela sucessória dos companheiros no ordenamento jurídico brasileiro, apontando os principais marcos legislativos sendo feita uma comparação entre os direitos sucessórios atribuídos pela legislação aos cônjuges e aos companheiros, identificando as principais diferenças e distorções existentes. Para tanto, principia se, no Capítulo 1, tratando de entidade familiar e casamento. Delimita-se, inicialmente, o conceito de família, demonstrando-se sua evolução histórica, e passando na seqüência a uma análise do instituto do casamento. Ao abordar o casamento, demonstra-se seus principais aspectos, caracterizando cada um dos quatro regimes de bens atualmente existentes, quais sejam: comunhão universal, comunhão parcial, separação total e participação final nos aqüestros. No Capítulo 2, tratando de forma genérica da união estável, apresentando sua evolução histórica, seu conceito e elementos essenciais de ordem objetiva e subjetiva. No Capítulo 3, tratando de direitos sucessórios na união estável. Inicia-se o capítulo tratando-se de pontos gerais da sucessão, como seu

conceito e ordem de vocação hereditária. Na parte final do Capítulo analisa-se, com fundamentação doutrinária, a participação do companheiro sobrevivente na sucessão do companheiro falecido, em consonância com a evolução legislativa decorrente da Lei n 8.971/94, da Lei n 9.278/96 e do atual Código Civil. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre os Direitos Sucessórios na União Estável.[Assunto tratado na monografia]. hipóteses: Para a presente monografia foram levantadas as seguintes Os direitos patrimoniais no casamento ou na união estável variam conforme o regime de bens adotado: Comuhão Universal, Comunhão Parcial, Separação Total e Participação Final nos Aqüestros; da mesma forma como variam os direitos sucessórios conforme o regime; A união estável é constituída de forma duradoura por duas pessoas de sexos opostos com o objetivo de assist~encia, afeto mútuo e, principalmente, de formação de uma família; e O companheiro supérstite é herdeiro com relação aos bens adquiridos onerosamente na constância da união estável, salvo disposição em contrário em contrato de convivência, e sempre concorre com os filhos do falecido na forma do artigo 1.790 do Código Civil, cuja redação gera diversas interpretações. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.

CAPÍTULO 1 DA ENTIDADE FAMILIAR A entidade familiar brasileira encontra-se ligada a um segmento social de origem primitiva, submetendo-se seus membros à autoridade soberana do pai. Em torno dele, girava toda a vida familiar. O patriarca constituía o centro de gravidade de seus domínios e das pessoas que os habitavam. 1.1 FAMÍLIA: CONCEITO E EVOLUÇÃO É de grande valia que se busque conhecer a formação da família, e consequentemente a sua evolução, para que ao fim se possa extrair o tratamento dado ao instituto da União Estável e seus Direitos Sucessórios. Etimologicamente falando, a origem da palavra família, segundo Plácido e Silva 11, é Derivado do latim família, de famel (escravo, doméstico), é geralmente tido, em sentido estrito, como a sociedade conjugal. Pode-se entender como entidade familiar toda e qualquer espécie de união capaz de servir de acolhedouro das emoções e das afeições dos seres humanos. 12 Holanda Ferreira 13, significa: Ainda, segundo o dicionário de Aurélio Buarque de 11 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p.347. 12 http://pt.wikipedia.org/wiki/entidade_familiar. 13 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 877.

4 1. Pessoas aparentadas, que vivem, em geral, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. 2. Pessoas unidas por laços de parentesco, pelo sangue ou por aliança. Do ponto de vista sociológico e histórico, nos termos da teoria de Ney de Mello Almada 14, a família, é baseada em: Modelo primário dos agrupamentos humanos, sociedade hermética em que as pessoas se unem pelo casamento, pela união ilegítima, e, ainda, por laços de filiação e parentesco, a família constitui realidade universal, no tempo e no espaço. Com variação formal, tem existido sempre e sua natural predestinação é a continuidade histórica. Com a modernização das relações familiares várias foram as adequações empregadas para atender à preservação da coesão familiar e dos valores culturais. Para Sílvio Rodrigues 15, o vocábulo família pode ser utilizado em vários sentidos, desde o seu significado mais amplo até o mais estrito, consoante se observa no texto abaixo: Num conceito mais amplo poder-se-ia definir a família como formada por todas aquelas pessoas ligadas por vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco ancestral comum; o que corresponde a incluir dentro da órbita da família todos os parentes consangüíneos. Numa acepção um pouco mais limitada, poder-se-ia compreender a família como abrangendo os consangüíneos em linha reta e os colaterais sucessíveis, isto é, os colaterais até o quarto grau. 14 ALMADA, Ney de Mello. Direito de família. V. 1. São Paulo: Brasiliense, 1987, p.45. 15 RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. V. 6. 27. ed. Atual. Por Francisco José Cahali, com anotações ao Novo Cádigo Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002, p. 4-5.

5 Num sentido ainda mais restrito, constitui a família o conjunto de pessoas compreendido pelos pais e sua prole. É com essa conotação que a maioria das leis a ela se refere. Assim, por exemplo, a lei de proteção à família (Dec.-lei n. 3.200, de 19-4- 1941); assim o Código Civil de 1916, ao instituir o bem de família (arts. 70 e s.). Entretanto, embora em sentido estrito se possa dizer que a família se compõe tão só dos pais e sua prole, o direito de família não se circunscreve a disciplinação das relações entre essas pessoas, sendo consideravelmente mais amplo. Assim, trata ele da tutela, da ausência, dos alimentos etc., assuntos que envolvem relações entre pessoas que não estão necessariamente ligadas por tão próximo parentesco. A Constituição Federal de 1988 traz uma inovação no conceito sobre as entidades familiares relativa ao direito de família, porém encontra-se ainda cercada de perplexidades. A expressão "entidade familiar" reveste-se do significado constante no artigo 226, 3º e 4º da Constituição Federal, in verbis: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 4º - Entende-se, também, como entidade familiar à comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.

6 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. O artigo referido constata-se que uma entidade familiar pode ser a união estável ou a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. As formas de constituição da família não é e nem poderia ser taxativa, pois não é a lei que escolhe o modo de se constituir uma família e, também, para que ela nasça espontaneamente como instituição social que é. As opções de família que se apresentam na atualidade assumem feições diversificadas, podendo chegar a relações monoparentais e, inclusive, relações de moradias entre homossexuais. A família pode ser considerada o organismo social mais antigo que existe, pois desde os mais remotos tempos de sua evolução, o homem procurou o convívio daqueles de sua espécie, seja para superar os obstáculos, ou para satisfazer as necessidades, naturais de reprodução. 16 É fato inegável, ser a família o núcleo fundamental da sociedade, a base de toda organização social, pois é o seio familiar que surge a proteção indispensável para a continuidade da vida humana. 17 É importante destacar o conceito de família em seu sentido amplo, tendo em vista a sua fundamental importância social que ganhou destaque nos ordenamentos jurídicos atuais. A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de 16 OLIVEIRA, Jose Sebastião de. Fundamentos Constitucionais do direito de família. 2002. p.20. 17 OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos Constitucionais do direito de família. 2002. p.20.

7 pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção. 18 Para Caio Mario da Silva Pereira 19, Em sentido genérico e biológico, considera-se família o conjunto de pessoas que descendem de tronco ancestral comum. Em sentido estrito, complementa o autor: [...] a família se restringe ao grupo formado pelos pais e filhos. fundamentais da palavra família: Para Maria Helena Diniz 20 existem três acepções 1- A amplíssima, a lata e a estrita. No sentido amplíssimo, o termo abrange todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo da consangüinidade ou da afinidade, incluindo até mesmo estranhos; 2- Na acepção lata, a família abrangeria, além dos cônjuges e seus filhos, todos os parentes da linha reta ou colateral, além dos parentes afins; e 3- Na significação estrita, porém, a família seria não só o conjunto de pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, mas também a comunidade formada por qualquer dos pais e descendentes. Conforme estabelece o artigo 226, 3 da Constituição Federal: Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. De outra parte, como entidade familiar, ou família, considera-se a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 18 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/fam%c3%adlia#conceito_de_fam.c3.adlia. 19 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 2002. p.13. 20 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 2002.p.9-10.

8 descendentes. Ou seja, constitui família o grupo de pessoas integrado por um dos pais e pelos filhos ou demais descendentes. 21 Enfim, dentre todas as acepções sobre família, pode-se dizer que o que mais se adapta aos novos regramentos jurídicos, é o conjunto de pessoas com o mesmo domicílio ou residência, e identidade de interesses materiais e morais, integrado pelos pais casados ou em união estável, ou por um deles e pelos descendentes legítimos, naturais ou adotados. 22 Na mesma linha da atual Constituição Federal, o novo Código Civil, confere maior proteção às entidades familiares não advindas do casamento. De acordo com Silvio de Salvo Venosa 23 : O Código Civil de 2002 procura fornecer uma nova compreensão da família, adaptada ao novo século. Seguindo o que já determinara a Constituição de 1988, o atual estatuto procura estabelecer a mais completa igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros, do homem e da mulher. Diante disso, percebe-se que a família sofreu grandes transformações através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, econômicas e sócio-culturais do contexto em que se encontram inseridas, exigindo assim, a sua regulamentação no ordenamento jurídico. 1.2 CASAMENTO: CONCEITO E ASPECTOS GERAIS As transformações sociais sempre influenciaram as relações jurídicas, aplicando-se tal fenômeno também ao casamento que certamente evoluiu muito com o passar dos anos no Direito Brasileiro. Maria Helena Diniz 24 discorre o seguinte a este respeito: No Brasil, na época do Império, nosso direito conhecia apenas o casamento católico. Pelo Decreto de 03 de novembro de 21 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 2006.p.12. 22 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 2006.p.12. 23 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família, p. 24. 24 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 2002. p. 52.

9 1827, os princípios do direito canônico regiam todo e qualquer ato nupcial, pois a Igreja Católica era titular absoluta dos direitos matrimoniais e tinha como base às disposições do Concilio Tridentino e da Constituição do Arcebispo da Bahia. O instituto do casamento civil surge em 1890 já no período republicano, quando o Estado se separa da Igreja fazendo com que o casamento religioso perdesse seu valor jurídico. Segundo Maria Helena Diniz 25 o casamento é um vínculo jurídico entre homem e mulher que visa o auxílio mútuo, material e espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constituição de uma família legítima.. Já Washington de Barros Monteiro 26 definiu o casamento como a união permanente entre o homem e a mulher, de acordo com a lei, a fim de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem os seus filhos. Para Silvio Rodrigues 27, casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência. Pode-se dizer que o conceito de Silvio Rodrigues é o que mais se adapta a nossa realidade. Com essa explicação, entende-se que o casamento é iniciado pelo acordo livre de vontades dos cônjuges, sendo, portanto, essa uma condição para a sua realização, regido pelas normas cogentes ditadas pelo Estado, que dá a forma, as normas e os efeitos que trará, o que lhe confere a natureza de instituição, e é disciplinado por regras estritas, tendo em vista que uma vez aperfeiçoado o casamento, os nubentes não podem afastar-se de normas que lhe são imputadas, tais como o dever de 25 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileito. 2002. p. 33. 26 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. Direito de Família, vol 2, ed. 37ª ed., São Paulo, Saraiva, 2004, p. 22 27 Silvio Rodrigues, Direito Civil, Direito de família volume 6, 2004, 28ª edição, Saraiva, São Paulo, página 19

10 mútua assistência e o dever de fidelidade, nem tampouco lhes é dado o direito de dissolução do matrimônio por vias extrajudiciais. O casamento tem por finalidade a constituição de família legítima, tendo como característica ser um ato solene e pessoal, no qual através dele duas pessoas de sexos diferentes adquirem o estado de cônjuges, passando a ter direitos e obrigações que dele resultam efeitos sociais, pessoais e patrimoniais. Neste sentido Silvio de Salvo Venosa 28 enfatiza: Trata-se, também, ao lado do testamento, do ato mais solene do direito brasileiro e assim é na maioria das legislações. Alei o reveste de uma série de formalidades perante autoridade do Estado que são de sua própria essência para garantir a publicidade, outorgando com isso garantia de validade ao ato. A solenidade inicia-se com os editais, desenvolvendo-se na própria cerimônia de realização e prossegue em sua inscrição no registro público. Destaca-se também entre as características do casamento, a liberdade do nubente, a solenidade do ato nupcial, a união permanente e exclusiva. Desses princípios acima decorre que, salvo caso de morte do cônjuge ou de divórcio, uma pessoa (homem ou mulher) só pode formar uma família e não mais de uma. Só é lícita à relação sexual com o cônjuge. Por isso, o casamento varia os deveres de fidelidade recíproca, vida em comum e mútua assistência. 29 o tema: Maria Helena Diniz 30 destaca um rol mais extenso sobre 28 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. 2006. p. 29. 29 CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Direito de Família. 1985. p. 48-49. 30 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 2002. p. 40.

11 A instituição da família, onde declara ser a família uma unidade originada pelo casamento e palas inter-relações existentes entre marido e mulher e entre pais e filhos; A procriação dos filhos, como conseqüência lógico-natural e não essencial ao casamento, pois a falta de filhos não afeta o casamento, sendo que a lei permite uniões de pessoas que, pela idade avançada ou por questões de saúde, não tenham condições de procriar; A legalização das relações sexuais entre os cônjuges, a aproximação dos sexos e o convívio natural entre marido e mulher desenvolvem sentimentos afetivos recíprocos; A prestação de auxílio mútuo onde os cônjuges se ajudam mutuamente em busca de uma comunhão de vida de interesses, reciprocamente atraídos pela força do sentimento e do instinto; O estabelecimento de deveres patrimoniais ou não como conseqüência necessária ao auxílio mútuo e recíproco; A educação da prole, além de gerar filhos é obrigação dos pais criá-los, educá-los e lhes prestar assistência; Atribuição do nome ao cônjuge e aos filhos; a reparação de erros do passado; a regularização das relações econômicas e a legalização de estados de fato. São inúmeras as características e finalidades do casamento, as quais tem reflexos diretos no mundo jurídico, o qual, fica demonstrada a importância do direito de família para a regulamentação dos mesmos.

12 1.3 EFEITOS PATRIMONIAIS DECORRENTES DO CASAMENTO REGIME DE BENS O regime de bens no casamento significa o disciplinamento das relações econômicas entre marido e mulher, envolvendo propriamente os efeitos dele em relação aos bens conjugais. 31 Maria Helena Diniz 32 define regime de bens como: Regime matrimonial de bens é o conjunto de normas aplicáveis às relações e interesses econômicos resultantes do casamento. É constituído, portanto, por normas que regem as relações patrimoniais entre marido e mulher, durante o matrimônio. Consiste nas disposições normativas aplicáveis à sociedade conjugal no que concerne aos seus interesses pecuniários. Logo, trata-se do estatuto patrimonial dos consortes. Complementando as definições de regime de bens acima apresentadas, posiciona-se Caio Mário da Silva Pereira 33 no seguinte sentido: Os regimes de bens constituem, pois, os principais jurídicos que disciplinam as relações econômicas entre os cônjuges, na constância do matrimônio, ou, na definição clássica de Roguin: Um conjunto de regras determinando as relações pecuniárias que resultam do casamento. No passado, conforme a história legislativa de nosso país, o regime que o legislador decidiu oferecer aos que não produziam sua própria opção, foi o regime da comunhão universal de bens. Celebrado o casamento civil, portanto, os bens pertencentes a cada um dos cônjuges e também aqueles por eles adquiridos na constância da vida matrimonial, se submeterão a um regime patrimonial que tenha sido escolhido por eles, antes das núpcias, ou, no silêncio quanto a esta 31 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 2006. p. 617. 32 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. V. 5: direito de família, p. 145. 33 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 187-188.

13 assunção voluntária de um regime, àquele que a lei disser, ou, em alguns casos, impuser. Neste sentido, a lei estabelece nos arts. 1.639 e 1.640 do Código Civil vigente, conforme segue: Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. 1 o O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento. 2 o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendose o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas. Nota-se que se o casal optar por um regime de bens diverso do que a lei estabelece, é obrigatoriamente indispensável o acordo por meio do pacto antenupcial, consoante preceitua Silvio Rodrigues 34 ao comentar esses dispositivos do Código Civil: Fora à hipótese de adoção do regime de comunhão parcial, que a lei presume ser o escolhido pelas partes quando estas nada convencionam, a seleção de qualquer outro regime de bens depende de ajuste entre os nubentes, levado através de pacto antenupcial. Vale ressaltar ainda, que o Código Civil de 2002, em seu art. 1.639, 2, prevê a modificação do regime de bens após o casamento mediante autorização judicial: 34 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família,p. 173.

14 Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. 2 o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. São quatro os regimes de casamento que o Código Civil de 2002 prevê: o regime de comunhão parcial (art. 1.658 35 ), o regime de comunhão universal (art. 1.667 36 ), o regime de participação final nos aqüestros (art. 1.672 37 ) e o regime de separação (art. 1687 38 ), sobre os quais passa-se a discorrer. 1.3.1 Regime da comunhão parcial de bens O regime de comunhão parcial de bens é o regime oficial no novo código civil, considerando-se adotado na ausência de convenção ou pacto antenupcial elegendo outro regime e está instituído nos artigos 1658 ao 1666, nos quais estabelece os bens que comunicar-se-ão apenas os adquiridos na constância do casamento, e revelando, por isso mesmo, um acervo de bens que pertencerão exclusivamente ao marido, ou exclusivamente à mulher, ou que pertencerão a ambos, os quais encontram-se elencados nos arts. 1.658 ao 1.666 do Código Civil 39. 35 Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. 36 Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte 37 Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. 38 Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real. 39 Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em subrogação dos bens particulares; III - as obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;

15 De acordo com San Tiago Dantas citado por Rizzardo 40 : O estudo do regime de comunhão parcial compreende, no direito civil brasileiro, aquilo que outras legislações chamam de comunhão dos adquiridos ou dos aquestrados. Comunhão de aqüestros, dizem os juristas franceses, a comunhão dos aqüestros é caracterizada por três massas de bens: a massa dos bens comuns, a respeito da qual os cônjuges se partem como coministas; a massa dos bens particulares do marido; e a massa dos bens particulares da mulher. Ainda, sobre os principais aspectos do regime da comunhão parcial de bens, Caio da Silva Pereira 41 preceitua o seguinte: O regime da comunhão parcial caracteriza-se pela comunicação de determinados bens e valores, e pela exclusão de outros. Em primeiro plano, excluem-se da comunhão os bens que cada cônjuge possuía ao casar. Constituem, VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. Art. 1.660. Entram na comunhão: I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento. Art. 1.662. No regime da comunhão parcial, presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móveis, quando não se provar que o foram em data anterior. Art. 1.663. A administração do patrimônio comum compete a qualquer dos cônjuges. 1 o As dívidas contraídas no exercício da administração obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido. 2 o A anuência de ambos os cônjuges é necessária para os atos, a título gratuito, que impliquem cessão do uso ou gozo dos bens comuns. 3 o Em caso de malversação dos bens, o juiz poderá atribuir a administração a apenas um dos cônjuges. Art. 1.664. Os bens da comunhão respondem pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal. Art. 1.665. A administração e a disposição dos bens constitutivos do patrimônio particular competem ao cônjuge proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial. Art. 1.666. As dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e em benefício destes, não obrigam os bens comuns. 40 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 2006. p. 632-633. 41 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 214.

16 portanto, bens particulares de cada um. Na mesma categoria de incomunicáveis são os bens que cada cônjuge, na constância do casamento, receber por doação ou herança, e os sub-rogados em seu lugar. Pode-se verificar que neste regime de comunhão parcial de bens, formam-se duas classes de bens: os bens particulares do marido e da mulher, e os bens comuns. 1.3.2 Regime da comunhão universal de bens advento da Lei do Divórcio, até 1977. Este foi o regime que predominou, entre nós, e até o No novo Código Civil, o regime da comunhão universal de bens, o regime da unificação patrimonial mais completa, encontra-se disciplinado entre os arts. 1667 ao 1671 do Código Civil Brasileiro 42. Rizzardo 43 : Conforme San Tiago Dantas, citado por Arnaldo A sua característica predominante é estabelecer entre os cônjuges uma comunicação dos bens e da parte passiva do patrimônio, e o que, daí por diante, qualquer um deles adquirir, 42 Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte. Art. 1.668. São excluídos da comunhão: I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659. Art. 1.669. A incomunicabilidade dos bens enumerados no artigo antecedente não se estende aos frutos, quando se percebam ou vençam durante o casamento. Art. 1.670. Aplica-se ao regime da comunhão universal o disposto no Capítulo antecedente, quanto à administração dos bens. Art. 1.671. Extinta a comunhão, e efetuada a divisão do ativo e do passivo, cessará a responsabilidade de cada um dos cônjuges para com os credores do outro. 43 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 2006. p. 643.

17 adquire simultaneamente para si e para outro cônjuge, para a comunhão familiar. De acordo com o entendimento de Maria Helena Diniz 44 : Comunicam-se entre os cônjuges todos os seus bens presentes e futuros, além de suas dívidas passivas, ocorrendo um enorme amálgama entre os bens trazidos para o casamento pela mulher e pelo homem, bem como aqueles que serão adquiridos depois, formando um único e indivisível acervo comum, passando, cada um dos cônjuges, a ter o direito à metade ideal do patrimônio comum e das dívidas comuns. Ainda, Maria Helena Diniz 45 explana: Por meio do pacto antenupcial os nubentes podem estipular que o regime matrimonial de bens será o da comunhão universal, pelo qual não ao todos os seus bens presentes ou futuros, adquiridos antes ou depois do matrimônio, mas também as dívidas passivas tornam-se comuns, constituindo uma só massa. Instaura-se o estado de indivisão, passando a ter cada cônjuge o direito à metade ideal do patrimônio comum [...]. 1.3.3 Regime de separação total de bens O regime de separação total de bens tem como escopo promover a completa separação patrimonial do acervo de bens pertencente a cada um dos cônjuges. Este regime está previsto no artigo 1.687 do Código Civil 46 : 44 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. p. 244. 45 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil, v. 5: direito de família, p. 157. 46 Código Civil

18 Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real. Silvio Rodrigues 47 define : Regime de Separação é aquele em que os cônjuges conservam não apenas o domínio e a administração de seus bens presentes e futuros, como também a responsabilidade pelas dívidas anteriores e posteriores ao casamento. Antes de encerrar a análise deste regime de bens do casamento, o regime da separação total, não se pode esquecer de que ele pode ser adotado, pelos nubentes, como fruto da eleição ou escolha, convencionando-lo por meio de pacto antenupcial, mediante lavratura de escritura pública devidamente registrada como condição para a sua validade e eficácia nos termos do art. 1.640 48 do Código Civil. 1.3.4 Regime de participação final nos aqüestros O Novo Código Civil Brasileiro trouxe uma inovação no que se diz respeito ao regime de bens introduzindo no ordenamento jurídico brasileiro, através dos artigos 1.672 ao 1.686 da Lei nº 10.406/02, e dependerá da celebração de Escritura Pública de Pacto Antenupcial (artigo 1.640 49, caput). 47 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil, vol.vi, Direito de Família, 13ª ed., 1987, obra citada, p.204. 48 Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas. 49 Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.

19 Este novo regime de bens trata da participação final de ambos os cônjuges no patrimônio adquirido durante a sociedade conjugal a título oneroso. Conforme estabelece o artigo 1.672 do Código: No regime de participação final nos aqüestros, cada cônjuge possui patrimônio próprio consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. Por este regime, cada cônjuge possui patrimônio próprio, que será constituído pelos bens que cada cônjuge possuía anteriormente ao casamento, assim como por aqueles que forem por ele adquiridos individualmente, a qualquer título (herança, legado, doação, compra e venda etc.), durante o casamento. Porém, haverá a meação, isto é, comunicar-se-ão somente os bens adquiridos em conjunto pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. Desta forma, conforme prescreve o artigo 1.681 50 do NCC, quando do registro de um título no Ofício Predial, deverá constar como adquirentes ambos os cônjuges, pois caso contrário, figurando somente um deles, tal bem integrará o patrimônio individual, não se comunicando. O artigo 1.672 51 expõe 2 tipos de patrimônios: o dos bens próprios, que cada cônjuge possuía ao casar; e os adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento, isto é, por doação, por testamento e por compra ou alguma outra forma onerosa. 50 Art. 1.681. Os bens imóveis são de propriedade do cônjuge cujo nome constar no registro.parágrafo único. Impugnada a titularidade, caberá ao cônjuge proprietário provar a aquisição regular dos bens. 51 Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.

20 A inteligência do artigo 1.673 52 define o patrimônio próprio: Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento. A diferença entre o regime de participação final dos aqüestros e o regime de comunhão parcial, é que neste existe comunicação dos bens que sobrevierem ao casal, na constância do matrimônio, segundo o artigo 1.658 53 do Código Civil. A dissolução deste regime está regulada nos artigos 1.674 54 e 1.675 55 do mesmo diploma legal, a qual Silvio Rodrigues 56 explica da seguinte maneira: Resumidamente, apuram-se os bens anteriores ao casamento, os sub-rogados a eles, os que sobrevierem a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade e as dívidas relativas aos bens. Estes são excluídos da apuração dos aqüestros (art. 1.674). 52 Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento. Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis. 53 Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. 54 Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios próprios: I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram; II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade; III - as dívidas relativas a esses bens. Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis. 55 Art. 1.675. Ao determinar-se o montante dos aqüestos, computar-se-á o valor das doações feitas por um dos cônjuges, sem a necessária autorização do outro; nesse caso, o bem poderá ser reivindicado pelo cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros, ou declarado no monte partilhável, por valor equivalente ao da época da dissolução. 56 RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família, p. 218.

21 Assim, pelas características do regime da participação final nos aqüestos, conclui-se que se trata de um regime misto (Comunhão Parcial e Separação de Bens).

22 CAPÍTULO 2 UNIÃO ESTÁVEL estável em seu sentido amplo. Inicialmente é importante destacar o conceito de união o qual define a união estável como: Irineu Antônio Pedrotti 57, em sua obra cita Pinto Ferreira, [...] união prolongada do homem com a mulher, vivendo ou não sob o mesmo teto, sem vínculo pelos laços do casamento, revestindo-se, porém, tal união, de algum requisito como a notoriedade, fidelidade da mulher e continuidade de relacionamento sexual. Irineu Antonio Pedrotti 58, ainda sustenta sobre a matéria: O texto constitucional não vai além do termo união estável entre homem e a mulher como entidade familiar. Resulta claro que união estável deve ser entre homem e mulher (não entre pessoas do mesmo sexo), com caráter de entidade familiar. Não há referências sobre prazo ou valores familiares intrínsecos. Pode ser entendida uma união estável como a união entre homem e a mulher, no curso de algum tempo, com o objetivo voltado para a formação de uma família sem casamento. Desta forma, verifica-se que para haver o reconhecimento da união estável, são necessários alguns requisitos como: a convivência entre homem e mulher, vontade das partes para a convivência de caráter notório e estável, visando à constituição de família. 57 PEDROTTI, Irineu Antônio. Concubinato União Estável. P. 214. 58 PEDROTTI, Irineu Antônio. Concubinato União Estável. P. 214.

23 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA No princípio, com a Constituição de 1916, não havia qualquer regulamentação legal para a vida em união estável, salvo as normas restritivas aos concubinos adulterinos. Contudo, diante do fato de muitas pessoas viverem em uniões ilegítimas, ou seja, não serem unidas pelos laços matrimoniais civis preceituadas na lei e sabendo-se que o direito evolui de acordo com o avanço social, a Constituição Federal de 1988, em seu 3 do artigo 226 59, veio reconhecer como entidade familiar, a união estável entre o homem e a mulher e até recomendou que seja facilitada sua conversão em casamento. alertava que o jurista: Nesse passo, lembra-se de que Pontes de Miranda 60 [...] há de interpretar as leis com o espírito ao nível de seu tempo, isto é, mergulhado na viva realidade ambiente, e não acorrentado a algo do passado, nem perdido em alguma paragem, mesmo provável, do distante futura. Neste contexto, a Carta Magna reconheceu a união estável limitando-se apenas como entidade familiar para fim de proteção pelo Estado, não atribuindo o dever de alimentar recíproco, em virtude da ausência de norma estabelecesse tal dever entre estes. Assim, temos a lição de ARNALDO RIZZARDO 61 período anterior às Leis n 8.971/94 e 9.278/96: em Do ponto de vista legal, o homem não tem nenhum dever de prestar alimentos à mulher com a qual não é casado. É indiferente apurar-se se ela tem ou não condições para 59 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. [...]. 60 IRINEU ANTÔNIO PEDROTTI, ob. Cit., p.9 61 OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes, ob. Cit. P. 82.

24 manter-se em determinado nível de vida econômica. Necessitando de alimentos, ela deverá reclamá-los dos parentes consangüíneos, que são os únicos legalmente obrigados (Casamento e Concubinato Efeitos Patrimoniais, p. 204). Sílvio Rodrigues 62 destaca a importância da Constituição Federal de 1988 ter reconhecido a união estável como entidade familiar, consoante se observa no excerto abaixo: O fato importante do texto constitucional é o reconhecimento de que a ligação, mais ou menos duradoura, entre as pessoas de sexo diverso, com o propósito de fazerem vida em comum, adquiriu o status de entidade familiar. Ou seja, o legislador de 1988 tirou a máscara hipócrita de seu colega de 1916, a quem a família ilegítima envergonhava, para proclamar não só a existência da família nascida fora do casamento, sua condição de entidade familiar, como também para dizer que ela se encontra sob a proteção do Estado. (p. 299) família Arnold Wald 63 explana: Sobre a evolução histórica deste instituto do direito de Historiando um pouco a evolução do concubinato no Brasil, evidencia-se que, por longo tempo, o legislador só lhe impôs restrições. Foi a partir da década de 60, quando ainda não era permitido o divórcio no país, que a doutrina e a jurisprudência, aos poucos, afastaram as sanções que pesavam sobre a relação existente entre duas pessoas de sexo diferente, desde que não houvesse adultério. A conseqüência que se seguiu foi a de fato deveriam ser reconhecidos, se tivesse sua origem numa coabitação, entre um homem e uma mulher que, embora não casados, vivessem como se fossem. 62 RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família, p. 299. 63 WALD, Arnold. Direito das sucessões. 12. ed. São Paulo: Saraiva, p. 77.