MANDADO DE SEG. COLETIVO 10ª CÂMARA CÍVEL Nº 1.0000.17.088630-3/000 MANHUMIRIM IMPETRANTE(S) ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SEÇÃO MINAS GERAIS POR SI E, REPDO E ASSISTINDO IMPETRADO(A)(S) JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DE MANHUMIRIM DECISÃO Vistos. Trata-se de mandado de segurança coletivo interposto pela ORDEM DOS ADVOGADOS DE MINAS GERAIS SESSÃO MINAS GERAIS - OABMG, através de sua comissão de prerrogativas e valorização da advocacia em face da JUIZA DE DIREITO DA 2ª VARA DE MANHUMIRIM. Sustenta, a impetrante, que a juíza titular, da Comarca de Manhumirim, determina que os alvará judiciais de pagamento sejam expedidos em nome exclusivamente das partes, mesmo possuindo o patrono/advogado poderes especiais exarados em procuração juntada nos autos, violando o disposto no estatuto da advocacia. Que tal fato, além de violar as prerrogativas dos advogados, imputa-lhes uma injustificada desconfiança. Que a legislação brasileira assegura ao advogado a possibilidade de expedição de alvarás em seu nome, desde que possuam procuração específica para tal fim (receber e dar quitação), o que acontece no caso em tela. Que a segurança deve ser concedida, afastando a condição imposta pela autoridade coatora (expedição de alvarás em nome das partes e não de seu patrono constituído). Que a juíza a quo presume que o advogado na vai repassar o dinheiro a seu cliente. Que deve ser concedida medida liminar para suspender eventuais decisões do juízo a quo, no mesmo sentido da decisão atacada. Fl. 1/5
É o sintético e necessário relatório. O mandado de segurança trata-se de remédio constitucional que tem por escopo ofertar proteção a direito liquido e certo, mediante prova documental produzida de pronto, em face de ato ilegal perpetrado por autoridade, art. 5º da Constituição Federal, LXIX, "in verbis": Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; (...) No mesmo sentido leciona sobre essa questão Diogo De Figueiredo Moreira Neto: "Por esta expressão deve-se entender, no terso magistério de Hely Lopes Meirelles, o que se apresenta "manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração". Na verdade, a expressão legal não é feliz, pois, é direito líquido e certo não o direito aplicável, mas o direito subjetivo defendido que, na impetração, puder ser provado de plano, documentalmente, sem necessidade de instrução probatória posterior, de modo que a eventual complexidade com que se apresentar este direito, por mais intrincada que se mostre, não descaracteriza o requisito de liquidez e certeza, para Fl. 2/5
efeito de impetração do remédio" (in Curso de Direito Administrativo, 13ª ed., Ed. Forense, págs. 597/598). "ex vi": Preciosa, ainda, a lição de José Dos Santos Carvalho Filho, "O mandado de segurança vale como instrumento de ataque contra atos ou condutas ilegais atribuídas ao Poder Público. A expressão Poder Público aqui tem sentido amplo e abrange tanto os atos e condutas atribuídos a autoridades públicas, ou seja, aquelas pessoas investidas diretamente em função pública, quanto atos e condutas de agentes de pessoas jurídicas, ainda que privadas, com funções delegadas, isto, no exercício de funções que originariamente pertencem ao Poder Público. (...) A Constituição usou a alternativa "ilegalidade ou abuso de poder", mas nesse ponto não foi adotada a melhor técnica para descrever a conduta ou ato impugnados. Na verdade, a conduta cercada de abuso de poder é sempre ilegal, pois a não ser assim teríamos que admitir uma outra forma de abuso de poder legal, o que é inaceitável paradoxo. Não há, portanto, a alternativa. A impugnação visa à conduta ou a ato ilegal, e entre eles está o abuso de poder. A menção ao abuso deve ser interpretada como sendo apenas a ênfase que a Carta pretendeu dispensar a essa figura" (in Manual de Direito Administrativo, Rio de Janeiro: Lúmen Júris Editora, pág. 822). Nas ações de mandado de segurança, como no caso em tela, o magistrado, ao receber a inicial, apreciará e determinará a suspensão do ato tido por ilegal, se constatar a relevância dos fundamentos apresentados, ou no caso do referido ato resultar em prejuízo da eficácia da segurança, caso esta seja deferida, nos termos do artigo 7º, inciso III, da Lei n. 12.016/2009: Art. 7 o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: (...) III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato Fl. 3/5
impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. In casu, vislumbro a relevância das alegações da parte impetrante, haja vista a prova documental trazida aos autos, ordem 5 e 6, confirmando que a MMª. Juíza de Direito da Vara Única da Comarca de Manhumirim vem determinando a expedição de alvarás para levantamento de valores, unicamente em nome da parte titular do direito, aparentemente infringindo o disposto no art. 105 e seu 4º, do CPC/2015 e o art. 5º, 2º, da Lei n. 8.906/1994. A expedição de alvarás, para levantamento de valores depositados à disposição do juízo, em seu nome, é direito liquido e certo, bem como é prerrogativa do advogado, com poderes específicos nos autos, nos termos das disposições acima transcritas. Sobre a necessidade apenas de procuração com poderes específicos, já se manifestou o Conselho Nacional de Justiça, em consulta realizada pela própria OAB (Conselho Nacional de Justiça PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO Nº.200910000023502 RELATOR : CONSELHEIRO JOSÉ ADONIS CALLOU DE ARAÚJO SÁ REQUERENTE :ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECCIONAL DE SANTA CATARINA-SC REQUERIDO : CORREGEDORIA GERAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA E CONSULTA N.º 0001440-12.2010.2.00.0000 RELATOR:CONSELHEIRO JEFFERSON KRAVCHYCHYN REQUERENTE:PRESIDÊNCIA DA COMISSÃO DE DIREITOS E PRERROGATIVAS DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DE SÃO PAULO REQUERIDO:CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Fl. 4/5
DISPOSITIVO Com tais considerações, presente o direito liquido e certo invocado (expedição de alvarás de pagamento em nome dos advogados constituídos nos autos, com poderes para tal receber e dar quitação) DEFIRO PARCIALMENTE A LIMINAR REQUERIDA determinando a Eminente Juíza da Vara Única da Comarca de Manhumirim, a suspensão das determinações de expedição de alvarás, para levantamento de valores, tão somente em nome das partes titulares do direito. Os respectivos alvarás podem ser expedidos em nome dos patronos/advogados, sendo exigível, apenas, que o patrono/advogado tenha, nos autos, procuração com poderes especiais para receber e dar quitação. Determino seja notificada a ilustre autoridade apontada como coatora, devendo a mesma prestar informações no prazo de dez dias (art. 7º I, da lei nº 12.016/09). Após, intime-se a douta Procuradora Geral de Justiça para se manifestar, na forma da Lei (art. 12, da lei nº 12.016/09). Belo Horizonte, 19 de outubro de 2017. DES. ÁLVARES CABRAL DA SILVA Relator Fl. 5/5