Roteiro: Locke: contexto histórico, metodologia, natureza humana e estado de natureza



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Transcrição:

Gustavo Noronha Silva José Nailton Silveira de Pinho Juliana Gusmão Veloso Kátia Geralda Pascoal Fonseca Walison Vasconcelos Pascoal Roteiro: Locke: contexto histórico, metodologia, natureza humana e estado de natureza abril/2003

1 Introdução John Locke é um importante filósofo político, porque trata de forma inovadora, para sua época, as questões humanas e da formação das sociedades civis. Tratamos nesse trabalho dos fatos históricos contemporâneos de Locke, dos métodos de compreensão da realidade utilizados por ele e de suas teorias a respeito do conhecimento humano, do homem e do estágio pré-social, o estado de natureza. Pretendemos clarear, com nosso estudo de textos como Os Clássicos da Política e Curso de Teoria Política, o entendimento do que influenciouo filósofo inglês e de quais as novidades trazidas por ele para a teoria política.

2 Contexto Histórico John Locke nasceu numa Inglaterra em que era constante o conflito entre o governo e o Parlamento. Vivenciou revoluções liberais promovidas pelo Parlamento e teve de se exilar na Holanda durante a chamada Restauração (1660-88). 2.1 Revolução Puritana (1640-49) Revolução promovida pelo Parlamento inglês contra o rei Carlos I, causada por lutas religiosas e rivalidades econômicas entre os beneficiários dos monopólios mercantilistas e a nova classe liberal. Culminou na execução de Carlos I e na implantação de uma república, presidida por Oliver Cromwell, defensor dos interesses burgueses. 2.2 Restauração (1660-88) Reimplantação da monarquia, com o retorno ao reinado dos Stuart, depois da morte de Cromwell. A Restauração reascendeu a crise entre a Coroa e o Parlamento, que se rachou em dois partidos: os Tories e os Whigs. 2.3 Revolução Gloriosa (1688) No auge da crise da Restauração, os dois partidos do Parlamento inglês se uniram a Guilherme de Orange, chefe de Estado da Holanda e genro do então rei da Inglaterra, Jaime II, e tomaram o poder, fazendo triunfar o liberalismo sobre o absolutismo. 2.3.0.1 Promulgação da Carta de Direitos (1689) Com a tomada do poder, por meio de Guilherme de Orange, o Parlamento promulga a Carta de Direitos, que subordina o governo ao Parlamento. O Parlamento passa a ser o órgão máximo da administração do Estado, tendo como prerrogativa a aprovação do orçamento e fica proibido ao governo manter exército em tempos de paz, para evitar pressões militares às decisões parlamentares.

3 Metodologia Locke trabalha a partir de duas premissas básicas: a mente do homem é uma tábula raza, uma folha em branco não há nada na mente que não tenha estado antes nos sentidos Resumindo: sua preocupação principal é basear todo o conhecimento na experimentação de objetos e situações empíricas, já que o ser humano não nasce com conhecimentos pré-concebidos.

4 Estado de Natureza O estado de natureza é um estágio pré-social que foi vivido pela maior parte da humanidade, mesmo que em épocas diversas e que ainda é vivido por comunidades específicas. Nesse estado os homens gozavam da mais perfeita liberdade e igualdade e viviam em relativa paz, com uma relação de assitência mútua, concórdia e harmonia, dada a natureza humana. 4.1 Natureza Humana O homem para Locke não é o mesmo pensado por Maquiavel ou Hobbes. A natureza humana, segundo Locke tem as seguintes características: homens são dotados de razão desfrutam da propriedade A propriedade é uma generalidade que agrega simultaneamente vida, liberdade e bens, que segundo Locke são direitos naturais dos homens. 4.2 Lei de Natureza Embora o estado de natureza seja um estado de liberdade, os homens não têm a liberdade de destruir a si mesmo ou a qualquer criatura que esteja em sua posse. A lei de natureza, que é a razão que:... nenhum deve prejudicar a outrem na vida, na saúde, na liberdade ou nas posses.... (LOCKE, 1966: 117-241 citado por MELLO, 1995: 91) Todos os homens têm o poder executivo dessa lei, e podem punir aqueles que violarem o seus direitos ou os de outrem.

4.3 Estado de Guerra A declaração de pretenção de domínio de uma pessoa sobre a outra gera entre elas um estado de desconfiança e guerra. Locke acredita que o estado de guerra é distinto do estado de natureza, no qual reina a paz, e só é criado a partir do momento em que a lei de natureza é violada, por não haver um juiz comum, que garanta seu cumprimento usando outros meios.

5 Conclusão Locke trouxe novidades muito importantes para a teoria política. Notamos uma preocupação grande em suavizar a teoria das causas da formação social, se comparada com a de Hobbes. A visão do homem menos como um animal selvagem e mais como ser racional tira da teoria do contrato um dos principais causadores de impacto. Já introduz, ao estado de natureza uma referência à propriedade, indicando quão importante é essa instituição para si mesmo e sua teoria. Locke defende um homem racional para mostrar que as desigualdades têm razão de ser, de certa forma nobre, justificando as intenções de sua classe, seu direito a atentar contra o poder e contrariando a legitimidade da posse de propriedades pela nobreza improdutiva.

Referência Bibliográfica COSTA, Nelson Nery. Curso de ciências políticas. Rio de Janeiro: Forense, 2001. 407 p. LOCKE, J. Two treatsises of civil government. In: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. Tradução de Cid Knipell Moreira. São Paulo: Ática, 1995. v. 1, p. 90-109. MELLO, L. I. A. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. São Paulo: Ática, 1995. p. 81-89.