MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES E EDUCAÇÃO DO CAMPO RESUMO

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Transcrição:

02684 MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES E EDUCAÇÃO DO CAMPO ALMEIDA, Raiza. UFJF * RIBEIRO, Simone. João XXIII - UFJF RESUMO O texto tem o objetivo de traçar um histórico das lutas dos movimentos sociais a partir da história do Brasil e da influência internacional, tendo como metodologia o estudo bibliográfico de autores que dialoguem com o tema proposto. Assim, analisaremos a importância do governo de Getúlio Vargas (1930 a 1945) para a história do sindicalismo no nosso país; o governo Juscelino Kubitscheck no que se refere ao processo de industrialização e sua influência para as lutas (1956-1960); o golpe militar (1964) e seu processo de repressão aos movimentos; os anos de 1970 e 1980 em que os movimentos assumiram novos formatos e novas temáticas; a década de 1990, caracterizada pelo contexto do neoliberalismo; os anos especificamente de 1998 e 2004 que corresponderam às Conferências sobre a Educação básica do Campo. Em meio à análise histórica, também propusemos traçar uma discussão acerca da temática Educação do Campo, ressaltando a importância de conceber a educação do campo voltada aos trabalhadores e trabalhadoras do campo, a fim de propor uma educação básica que atenda às suas diferenças históricas e culturais. Assim, a expressão do campo diz respeito à identidade dos grupos formadores. Para tanto, delineamos a importância dos movimentos sociais, sendo esses caraterizados por lutas coletivas de caráter sociopolítico, construídas por sujeitos sociais pertencentes à diferentes classes e camadas sociais. Logo, se depreende a relevância das lutas dos movimentos no que se refere à politização de suas reivindicações e criação de um campo político de força social na sociedade civil, sendo assim a expressão de um conflito de classes. Palavras-chave: Movimentos sociais, Educação do Campo, Lutas sociais. INTRODUÇÃO O objetivo desse texto é delinear um histórico das lutas dos movimentos sociais a fim de analisar o seu percurso, a sua consistência e possíveis dificuldades e vitórias encontradas no decorrer da sua trajetória. Para tanto é preciso rever a história do Brasil em paralelo aos acontecimentos globais utilizando como metodologia o estudo bibliográfico de autores que fundamentem teoricamente o tema proposto.

02685 A partir de uma rápida reconstituição histórica foi possível verificar que o Governo de Getúlio Vargas (1930 a 1945) foi emblemático para a história do sindicalismo no nosso país. No seu governo, as organizações e as lutas dos trabalhadores foram muito reprimidas. No entanto, foi nesse período também que foram criadas algumas leis voltadas para o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores urbanos. Os trabalhadores rurais não eram reconhecidos, apesar disso, as lutas organizadas por eles já existiam, porém não eram institucionalizadas, e eram em geral isoladas umas das outras. (CINTRÃO, 2000). Vale ressaltar que o período Vargas no Brasil representou na Europa a propagação do Keynesianismo, em que surgiu como alternativa para a manutenção do capital frente à luta dos operários, propiciando a intervenção e regulação do Estado na promoção (protetor e defensor) social e organizacional da economia. O que justifica, mesmo durante um período tão repressivo, ter ocorrido alguns ganhos para os trabalhadores. Uma vez que, mesmo não tendo sido implementado no Brasil, algumas concepções foram importadas. Em 1945, quando acaba a ditadura Vargas, iniciaram no Brasil as primeiras organizações dos trabalhadores rurais em associações, ligas e sindicatos. No governo Juscelino Kubitscheck (1956-1960), houve a intensificação do modelo de industrialização, ocorrendo assim, a expansão do capitalismo em meio rural. Portanto, desde meados do século XX, sobretudo após a II Guerra Mundial, a área rural no Brasil foi invadida pelo capital, promovendo a industrialização do país e a modernização da produção rural (capitalismo no campo). (RIBEIRO, 2012) Em 1964 aconteceu o golpe militar, o exército assumiu o governo do país. Dessa maneira, as lideranças das organizações mais lutadoras foram perseguidas e mortas, e muitos sindicatos e associações foram fechados. As Ligas Camponesas foram muito reprimidas. Nesse período de ditadura foi criado o Fundo de Assistência ao trabalhador rural (FUNRURAL), que levou para dentro dos sindicatos um sistema de atendimento de saúde (médicos, dentistas). Dessa forma, o governo conseguiu desviar as reivindicações das lutas dos trabalhadores rurais pelos seus direitos e pela Reforma Agrária. Ocorreu o sindicalismo de Estado em que os sindicatos passam a uma posição de subserviência estatal. (REIS, 2002). Cabe ressaltar a importância da Igreja Católica, que por anos esteve do lado dos poderosos, inclusive no período antes de 1964. No entanto, sempre houve dentro da

02686 igreja padres e bispos que assumiram as lutas pela libertação do povo representada na Teologia da Libertação, que é uma leitura da bíblia sob o ponto de vista dos oprimidos e das lutas do povo de Deus. Com isso, começam a surgir no final dos anos 1960 as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) em todo o Brasil. Surgem também as diversas Pastorais, que passam a dar apoio para a organização dos trabalhadores em todo o país. Em 1975 vai ser criada a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que tem um papel importante no apoio às lutas pela terra em todo o país. (RIBEIRO, 2012). Na década que se seguiu ao golpe militar, as forças de oposição ao governo se fortaleceram e começaram a questionar o regime abertamente. Os movimentos sociais passaram a se rearticular e eclodiram mesmo sob os olhares opressivos dos militares. Logo, o final da década de 1970 e início da seguinte, assumiram novos formatos e novas temáticas. Especificamente com relação à reorganização dos movimentos do campo, podese destacar a luta contra a Revolução Verde, que seguiu a lógica da economia de mercado objetivando a maximização do lucro e da acumulação de capital no campo. Apreende-se que esta luta pode ser concebida enquanto processo educativo, uma vez que os sujeitos do campo lutam contra a substituição de suas raízes, enquanto produtores da agricultura familiar. (SOUZA, 2005). A década de 1990 foi caracterizada pelo contexto do neoliberalismo, que significou a crise do mundo capitalista e desgastes do ideário liberal, sendo caracterizado por uma reação contra as concepções e propostas do keynesianismo e as políticas de bem-estar social. Nesse contexto, as políticas educacionais para o meio rural sofreram a influência internacional, sobretudo, dos Estados Unidos da América (EUA). (SOUZA, 2005) (RIBEIRO 2012). A grande maioria dos movimentos sociais, nesse período, pareceram não visar a um novo tipo de sociedade. Assim, o que ocorreu foi à atração de algumas lideranças, para o interior da burocracia estatal. Os movimentos sociais passam, então, a uma nova fase, que poderíamos chamar de reorganizativa. (SOUZA, 2005). Gohn (1997) formula que movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por sujeitos sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Tais movimentos politizam suas reivindicações e criam um campo político de força social na sociedade civil. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses

02687 em comum. É imprescindível que os movimentos sejam direcionados por uma ideologia, que corresponde às ideias e concepções na relação homem-mulher-sociedade. É importante também a organização interna dos movimentos sociais, a fim de que consigam atingir os objetivos de seu grupo. Assim, os movimentos sociais se fazem porta-vozes das reivindicações e lutam pelos direitos historicamente negados e pelas especificidades sócio-históricas que foram impressas nas suas trajetórias pessoais e coletivas de exploração e opressão. Nesse contexto diferentes movimentos sociais do campo, pesquisadores, militantes e apoiadores organizaram a Articulação Nacional Por Uma Educação básica do Campo que tem sido protagonizado pelos movimentos sociais que surgem do problema da questão agrária e agrícola no meio rural brasileiro. A I Conferência Por uma Educação Básica do Campo, ocorreu em Luiziânia, em 1998. Nesta conferência ampliou-se a demanda pela educação do campo com a participação de todos os movimentos sociais populares do campo, organizados na Via Campesina-Brasil, bem como os Sindicatos de Trabalhadores Rurais, as Federações e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Destaca-se ainda a realização da II Conferência Nacional por uma Educação do Campo, ocorrida em Luziânia (GO), em 2004. Participaram desta iniciativa representantes de movimentos sociais sindicais e outras organizações sociais do campo e da educação, de universidades, de ONGs e de Centros Familiares de Formação por Alternância, de Secretarias estaduais e municipais de educação e de outros órgãos de gestão pública. Assim, foram levadas ao Conselho Nacional de Educação (CNE) as preocupações dos educadores que participaram do I ENERA. Esse Conselho aprova a Resolução CNE/CEB 1, de 03/04/2002, que institui as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Portanto, os movimentos sociais do campo lutam pela Reforma Agrária, pela conquista da terra e da educação do campo para que suas reivindicações tenham fundamentos, pois concebem a educação como princípio educativo a fim de superar a ideia dicotômica de rural/urbano e consequentemente lutam pela educação do/para o campo a partir da construção de um projeto político-pedagógico vinculado às causas, desafios, sonhos, história e cultura do povo que ali vive e trabalha. Destaca-se que o Estado atuou (ainda atua) como organizador do consenso e, ao mesmo tempo, da dominação. Portanto, Frigotto (2010) nos aponta a necessidade da luta contra-hegemônica.

02688 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da discussão supracitada, é possível inferir que os movimentos almejam recuperar a concepção mais alargada de educação como formação e humanização, eles reeducam os indivíduos, grupos e sociedade e nos advertem que é urgente repensar concepções de conhecimento e consciência. Os movimentos repõem os questionamentos da condição humana. Há uma pedagogia dos movimentos sociais, logo os movimentos possuem papel pedagógico, no sentido de direcionar e educar os nossos olhares e lutas. Portanto, os movimentos sociais são, em última análise, a expressão de um conflito de classes; as contradições sociais manifestas nas respostas do Estado, que usa do aparato repressivo para garantir a ordem favorável aos interesses do capital, educa o movimento no sentido da sua constituição e reconhecimento como classe. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CINTRÃO, Rosângela. História do Movimento Sindical no Brasil. Módulo 1 e 2 do Programa de Formação de Monitores Sindicais. Texto manuscrito. Centro de documentação do Centro de Tecnologias Alternativas. Viçosa, 2000. FRIGOTTO, Gaudêncio. Projeto societário contra-hegemônico e educação do campo: Desafios de conteúdo, método e forma. In: MONARIM. Antonio. Educação do campo. Reflexões e perspectivas. 1ª. ed. Florianópolis: Insular, 2010, p. 19-46. GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos Sociais Paradigmas clássicos e contemporâneos. Edições Loyola, 1997. REIS, Cleivane Peres. A Educação Popular na Zona da Mata: Um estudo teóricoprático sobre o (des) conhecimento da ideologia. (Dissertação de Mestrado) Juiz de Fora, 2002. 108p. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2002. RIBEIRO, Simone da Silva. Conversas com professoras: desinvisibilizando as artes de fazer Educação do Campo na escola pública. (Tese de Doutorado) Juiz de Fora, 2012. 238p. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012. SOUZA, Dileno Dustan. Organizações não governamentais: Um Estudo de caso da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE). (Tese de Doutorado) Porto Alegre, 2005. 217p. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2005. * Mestranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação - PPGE da Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF. Professora Doutora no Colégio de Aplicação João XXIII-UFJF.