AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO FOTOQUÍMICA E ELETROQUÍMICA DE AROMÁTICOS NO RESÍDUO DE ÓLEO LUBRIFICANTE



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1 AVALIAÇÃ DA DEGRADAÇÃ FTQUÍMICA E ELETRQUÍMICA DE ARMÁTIC N REÍDU DE ÓLE LUBRIFICANTE Carmen Luisa Barbosa Guedes, Thiago Pinotti egato, Marcelo Macedo Catuta Pécora, Luiz Henrique Dall Antonia, Eduardo Di Mauro Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Exatas, Laboratório de Fluorescência e Ressonância Paramagnética Eletrônica laflurpe@uel.br Caixa Postal 614, CEP 8651-99, Londrina, PR.. Tel./fax (43)33714684 www.uel.br/meioambiente/fotopetro Resumo s resíduos de óleos lubrificantes são perigosos pela toxicidade aos seres vivos. descarte inadequado pode gerar problemas ambientais, promovendo a contaminação de solos, águas e ar atmosférico. objetivo deste trabalho foi avaliar a degradação térmica, a fotoquímica e eletroquímica do resíduo de óleo lubrificante utilizado em motores de automóveis. Óleo para motor movido a diesel e seu resíduo foram expostos ao intemperismo físico e químico por períodos de até 1 horas sob luz solar com intensidade de 226 W/m 2. A degradação térmica e fotoquímica do óleo e do resíduo foi monitorada por espectroscopia de fluorescência no ultravioleta e visível. Redução de 61% na área relativa do espectro do óleo, e 26% do resíduo demonstraram que o processo fotoquímico atuou na degradação de componentes aromáticos do óleo lubrificante e resíduo. Comportamento cinético de primeira ordem (k obs = 4 1-2 h -1 ) foi observado para a fotodegradação da fração aromática do óleo com elevado peso molecular, cuja fluorescência ocorreu a 42 nm, enquanto que o comportamento cinético para a degradação destes constituintes no resíduo foi de ordem zero (k obs = 2 1-2 concentração h -1 ). A degradação eletroquímica do resíduo foi investigada utilizando-se método potenciostático com aplicação de potencial controlado (+1,2 V) numa solução eletrolítica em intervalos de até 9 minutos. Ficou comprovada a diminuição de absorvância pelo resíduo quando analisado na região do ultravioleta e visível. A utilização de método fotoquímico e eletroquímico para degradação de componentes aromáticos e polares mostrou-se promissor como alternativa de redução da toxicidade do resíduo. Palavras-Chave: fotodegradação; método potenciostático; fluorescência; absorvância; HPA. Abstract The residues of lubricating oils are dangerous to living organisms due to toxicity. The inadequate discard can generate environmental problems, promoting the contamination of soils, waters and atmospheric air. The objective of this work was to evaluate the thermal, photochemistry and electrochemistry degradation of the residue of lubricating oil used in motors of automobiles. il for motor moved to diesel and its residue were exposed to the physical and chemical weathering for periods of until 1 hours under solar light with intensity of 226 W/m 2. The thermal and photochemical degradation of the oil and of the residue were monitored by fluorescence spectroscopy in the ultraviolet and visible. Reduction of 61% in the relative area of the oil spectrum, and 26% of the residue demonstrated that the photochemical process acted in the degradation of aromatic components of the lubricating oil and residue. Kinetic behavior of first order (k obs = 4 1-2 h -1 ) was observed for the photodegradation of the oil aromatic fraction with high molecular weight, whose fluorescence happened to 42 nm, while the kinetic behavior for the degradation of these constituent ones in the residue was of zero order (k obs = 2 1-2 concentration h -1 ). The electrochemical degradation of the residue was investigated using potential-static method with application of controlled potential (+1,2 V) in an electrolytic solution in intervals of up to 9 minutes. It was proven the absorbance decrease for the residue when analyzed in the range of the ultraviolet and visible. The use of photochemical and electrochemical methods for degradation of aromatic and polar components was shown promising as alternative of residue toxicity reduction. Keywords: photodegradation; potenciostatic method; fluorescence; absorbance; PAH.

2 1. Introdução Nos países desenvolvidos, a coleta de óleos usados é geralmente tratada como uma necessidade de proteção ambiental. Na França e na Itália, um imposto sobre os óleos lubrificantes custeia a coleta dos mesmos. Em outros países, esse suporte vem de impostos para tratamento de resíduos em geral. Nos Estados Unidos e Canadá, ao contrário do que ocorre no Brasil, normalmente é o gerador do óleo usado quem paga ao coletor pela retirada do mesmo. Entre 1991 e 1993, a NU financiou estudos sobre a disposição de óleos usados. A principal conclusão foi que a solução para uma disposição segura de óleos lubrificantes usados é o re-refino ou reciclagem. s óleos lubrificantes estão entre os poucos derivados de petróleo que não são totalmente consumidos durante o seu uso. Fabricantes de aditivos e formuladores de óleos lubrificantes vêm trabalhando no desenvolvimento de produtos com maior vida útil, o que tende a reduzir a geração de óleos usados. No entanto, com o crescente aumento no uso de aditivos e da vida útil do lubrificante, crescem as dificuldades no processo de regeneração após o uso e reduz a capacidade do ambiente para degradar o resíduo em casos de disposição inadequada. Com o objetivo de buscar alternativas para tratamento do produto após o uso ou remediação de áreas impactadas pelo descarte indevido de óleos lubrificante usados, foram avaliados processos de degradação térmica e fotoquímica do óleo e do resíduo sob condições naturais, assim como, propostas para degradação eletroquímica. 2. Parte Experimental Para investigar o processo fotoquímico foram preparadas placas de Petri contendo 35 g do óleo lubrificante para motores a diesel (LD) ou resíduo do óleo (RL). As amostras foram classificadas como não-expostas (NE); irradiadas (IRR); e não-irradiadas (NIR). As amostras IRR foram submetidas à luz solar em dias de céu claro, no período entre 9: e 15: horas, de abril a outubro de 24, com intensidade média de 226 W/m 2. As amostras foram coletadas para análise em intervalos de zero, 2, 5, 1, 2, 4, 6 e 1 horas. Alíquotas do óleo lubrificante e resíduo foram diluídas 1:1 v/v em diclorometano para análise em espectrofluorímetro HIMADZU RF-531PC. s espectros de fluorescência synchronous (Δλ = 2 nm) foram registrados de 25 a 8 nm. s experimentos de degradação eletroquímica foram conduzidos com aplicação de potencial constante e igual a 1,2V em soluções de cloreto de potássio,5 M contendo o resíduo do óleo (1 g para 2 ml de solução), utilizando eletrodo de platina. A degradação potenciostática foi monitorada durante 9 minutos, tomando-se alíquotas nos intervalos de zero, 5, 15, 3, 45, 6, 75 e 9 minutos. s constituintes da cela eletrolítica foram eletrodo de trabalho (níquel), eletrodo auxiliar (placa de platina) e eletrodo de referência (Ag/AgCl). s espectros de absorção do óleo e do resíduo foram registrados em espectrofotômetro GENEY 2, e a solução eletrolítica analisada por fluorescência synchronous. 3. Resultados e Discussão óleo lubrificante guardado no escuro à temperatura ambiente (~ 25ºC) não sofreu alteração na sua fração aromática quando monitorado por espectroscopia de fluorescência. Não foi detectada também qualquer alteração na estrutura molecular desta fração quando o óleo foi exposto à ação térmica (~ 4ºC) da luz solar. Nos espectros de fluorescência do óleo lubrificante irradiado (figura 1) observou-se picos correspondentes a hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs), polares e asfalteno que fluorescem desde 3 até 5 nm. Notou-se uma ligeira emissão na faixa de 6 a 75 nm característica da fluorescência de algumas porfirinas. Durante as 1h monitoradas observou-se degradação fotoquímica dos componentes aromáticos do óleo lubrificante através da redução de 61% na área integrada dos espectros de fluorescência. A fotodegradação do conteúdo de aromáticos de elevada massa molecular no óleo lubrificante que fluoresceu a 42 nm apresentou comportamento cinético de pseudo primeira ordem, cuja constante de velocidade observada (k obs ) foi igual 4 1-2 h -1 (figura 2).

3 8 7 6 5 4 3 2 1 LDIRR h LDIR 2h LDIRR 5h LDIRR 1h LDIRR 2h LDIRR 4h LDIRR 6h LDIRR 1h 3 35 4 45 5 55 6 65 7 75 8 Figura 1. Espectros de fluorescência de óleo lubrificante irradiado sob luz solar. 22 2 18 16 14 12 1 8 6 4 2 2 4 6 8 1 Tempo (horas) Figura 2. Cinética de redução na intensidade relativa de fluorescência no óleo lubrificante a 42 nm. A partir dos espectros de fluorescência do resíduo de óleo lubrificante (RL) (figura 3) observou-se que a intensidade relativa foi aproximadamente três vezes menor do que aquela observada para o óleo lubrificante devido provavelmente à deterioração parcial do óleo durante o uso, tais como a formação de compostos oxigenados (ácidos orgânicos e cetonas), aromáticos polinucleares de viscosidade elevada, resinas e lacas. Além dos produtos de degradação, estão presentes no resíduo do óleo, os aditivos que fazem parte da formulação dos lubrificantes, metais (chumbo, cromo, bário e cádmio) resultantes do desgaste dos motores e contaminantes diversos, como água, combustível não queimado, material particulado e outras impurezas, os quais, na sua maioria não são fluorescentes [1]. resíduo que foi guardado no escuro ou exposto à ação térmica da luz solar não sofreu degradação química na estrutura molecular da fração aromática quando monitorado por espectroscopia de absorção UV-vis e fluorescência. No período de duas horas da irradiação do resíduo ocorreu um ligeiro aumento na intensidade de fluorescência, provavelmente como conseqüência da volatilização dos componentes de baixo peso molecular e não fluorescentes, como exemplo, alcanos lineares e ramificados, promovendo aumento na concentração de aromáticos, os quais são fluorescentes. Após este período de irradiação houve diminuição na intensidade relativa de fluorescência dos HPAs, fração polar e asfalteno, devido à degradação fotoquímica. A alteração no perfil de fluorescência do resíduo sob irradiação (figura 3) decorrente da redução de 26% na área dos espectros pode ser explicada através do mecanismo da fotodegradação de HPAs via oxigênio singleto, que leva ao rompimento da conjugação π no sistema aromático [2]. No resíduo de óleo lubrificante, a degradação dos constituintes aromáticos de elevada massa molecular, que exibiram

4 fluorescência com intensidade relativa máxima a 42 nm, apresentou comportamento cinético de ordem zero com constante de velocidade (k obs ) igual a 2 1-2 concentração h -1 (figura 4). 35 3 25 2 15 1 5 RLIRR h RLIRR 2h RLIRR 5h RLIRR 1h RLIRR 2h RLIRR 4h RLIRR 6h RLIRR 1h 3 35 4 45 5 55 6 65 7 75 8 Figura 3. Espectros de fluorescência do resíduo de óleo lubrificante irradiado sob luz solar. 6,5 6, 5,5 5, 4,5 4, -2 2 4 6 8 1 12 Tempo (horas) Figura 4. Cinética de redução na intensidade relativa de fluorescência no resíduo de óleo lubrificante a 42 nm. A diminuição na intensidade relativa de fluorescência observada durante a irradiação do óleo lubrificante e resíduo, se deve a formação do oxigênio singleto que reage com HPAs e prossegue a reação com a fotólise do endoperóxido através da quebra homolítica da ligação -, conduzindo a uma variedade de produtos com diferentes propriedades fluorescentes (figura 5).

5 CH 3 CH 3 hv/ 2 hv H CH 3 H CH 3 H CH 2 H Figura 5. Fotodegradação de HPAs com formação de produtos da fotólise do endoperóxido [2]. A redução na intensidade de fluorescência do óleo lubrificante ou resíduo também pode ser decorrente da fotodimerização de certos poliaromáticos (figura 6). Figura 6. Mecanismo de fotodimerização de poliaromáticos [3]. utra possibilidade para também explicar a redução de fluorescência é a presença de uma fração polar no óleo e resíduo, com emissão característica na faixa entre 4 e 45 nm, devido à presença de heteroátomos principalmente o enxofre que pode ser facilmente oxidado (figura 7) quando exposto ao intemperismo, alterando assim a fluorescência do material analisado. Auto-oxidação hidrocarbono hv/ 2 H + H H Decomposição + Fenol Álcool Éter Compostos carbonílicos Dissolução aquosa Figura 7. Processo de oxidação de tiociclanos [4]. óleo lubrificante usado foi também analisado por ressonância paramagnética eletrônica (RPE) quando foram identificados os sinais das seguintes espécies paramagnéticas: V 2+, radical livre e um outro sinal ocorrendo em torno de 325 Gauss, sobreposto ao sinal do radical livre, com fator espectroscópico g ~ 2. último sinal citado corresponde a Fe 3+ em Fe 2 3 [5] pela presença de magnetita que se deve ao desgaste do motor. s espectros de absorção do resíduo após aplicação do potencial controlado em diferentes intervalos de tempos demonstraram intensa redução da absorvância na região do ultravioleta e visível (figura 8). A degradação eletroquímica

6 do resíduo na solução eletrolítica ocorreu devido à deterioração do material, ou seja, ocorreu uma diminuição na concentração de componentes do resíduo responsáveis pela absorção na região de 21 nm, banda característica da transição eletrônica π... π * de grupos fenólicos e carboxílicos [6] presentes no óleo após o uso. Abs.,9,8,7,6,5,4,3,2,1 RL RL 5min RL 15min RL 3min RL 45min RL 6min RL 75min RL 9min 2 25 3 35 4 45 5 55 6 65 7 Figura 8. Espectros de absorção do resíduo de óleo lubrificante após aplicação de potencial controlado. s espectros de fluorescência obtidos a partir da solução eletrolítica mostraram um único pico com máximo a 3 nm (figura 9), representativo de compostos monoaromáticos (benzeno, tolueno, etil-benzeno, xileno, etc.). Isto pode ser atribuído ao fato que estes componentes do resíduo possuem maior solubilidade em água quando comparados a outros compostos fluorescentes presentes no óleo lubrificante após o uso. Não foi observada nos espectros de fluorescência qualquer modificação química na fração aromática do resíduo solúvel quando submetido à aplicação de potencial, nem mesmo alteração na solubilidade da fração aromática constituinte do resíduo. 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1,5 RL RL 5min RL 15min RL 3min RL 45min RL 6min RL 75min RL 9min 25 3 35 4 45 5 55 6 65 7 75 8 Figura 9. Espectros de fluorescência da solução eletrolítica após aplicação de potencial controlado. 4. Conclusão As intensidades relativas de fluorescência observadas nos espectros confirmaram a perda de componentes aromáticos do óleo lubrificante para automóveis decorrente das condições de uso nos motores. A irradiação sob luz solar promoveu a degradação química da fração aromática presente no óleo lubrificante e no resíduo. A degradação fotoquímica da fração aromática de alto peso molecular no resíduo ocorreu duas vezes mais lenta que no lubrificante, indicando que estes componentes são mais refratários no ambiente após a utilização do óleo. A aplicação de potencial controlado numa solução eletrolítica contendo o óleo lubrificante usado promoveu degradação química no resíduo, diminuindo sua absorvância na região do ultravioleta e visível. emprego de método fotoquímico e eletroquímico na degradação de componentes aromáticos e derivados polares no resíduo mostraram-se promissores como alternativa de redução da toxicidade do óleo lubrificante usado.

7 5. Agradecimentos PETRBRA, Divisão de Transporte da Prefeitura do Campus da UEL e Pró-Reitoria de Extensão da UEL. 6. Referências [1] ÓLE LUBRIFICANTE. Revista Meio Ambiente Industrial, ano 6, ed. 31, n. 3, maio/junho 21. [2] APLER, J., CARLN, D. J., WILE, D. M. Initiation of polypropylene photooxidation. 1. Polynuclear aromatic compounds, Macromolecules, 9 (5): 691-695, 1976. [3] GUEDE, C. L. B. Tese de Doutorado, Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998. [4] BURWD, R., PEER, G. C. Photo-oxidation as a factor in the environmental dispersal of crude oil, Estuarine Coastal Marine cience, 2: 117-135, 1974. [5] GUEDE, C. L. B., DI MAUR, E.; ANTUNE, V.; MANGRICH, A.. Photochemical weathering study of Brazilian petroleum by EPR spectroscopy, Marine Chemistry, 84: 15-112, 23. [6] MNTHE, A. J., PINHED, L. Electrochemical degradation of humic acid, The cience of Total Environment, 256: 67-76, 2.