11 a 14 de dezembro de 212 Campus de Palmas AVALIAÇÃO HORMONAL DE RATOS TRATADOS COM EXTRATO BRUTO DE PSYCHOTRIA COLORATA WILLD Priscilla Donata Porto da Silva¹; Clarissa Amorim Silva de Cordova² ¹Aluna do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; email: priscilladonata@hotmail.com PIBIC/UFT ²Orientadora do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; email: clarissa@uft.edu.br RESUMO: Foram relatados por produtores do estado do Tocantins casos em que vacas apresentaram abortos após a ingestão de Psychotria colorata. Estudos prévios em ratos também relacionaram a ingestão da P. colorata à toxicidade reprodutiva. Neste trabalho, buscamos avaliar os efeitos da administração do extrato bruto (EB) da P. colorata a ratas durante o período de implantação embrionária, sobre as concentrações séricas de hormônios sexuais (estrogênio e progesterona). A P. colorata foi coletada no município de Carmolândia/TO e EB foi obtido por meio de trituração das folhas e percolação em etanol 99%, seguida de rotaevaporação. Foi realizado um primeiro estudo de toxicidade da P. colorata por meio do teste in vitro em Artemia salina, no qual o EB não apresentou efeito citotóxico. Posteriormente, foi realizado o estudo in vivo, no qual os animais foram divididos em grupo experimental e grupo controle, recebendo EB da P. colorata e veículo (óleo vegetal), respectivamente. Os tratamentos foram administrados via gavagem às fêmeas, do primeiro ao quinto dia de gestação, sendo a dose diária média equivalente a 34mg/kg do EB da P. colorata. No 21 dia de gestação as fêmeas foram anestesiadas para a coleta de sangue e obtenção do soro para a análise das concentrações hormonais de β-estradiol e progesterona, as quais não apresentaram alterações significativas quando comparadas ao grupo controle. Assim, nossos resultados indicaram que a dose de EB avaliada no presente estudo durante os cinco primeiros dias de gestação, não alterou a concentração sérica de estrogênio e progesterona dos animais experimentais. Palavras-chave: Psychotria colorata; reprodução; toxicidade
11 a 14 de dezembro de 212 Campus de Palmas INTRODUÇÃO - A quantidade de plantas no Brasil conhecidas como tóxicas para ruminantes aumenta constantemente. Segundo Tokarnia, Döbereiner e Peixoto (22), a região norte do Brasil concentra o maior número de mortes decorrentes de intoxicação por plantas. Em recente estudo de investigação de plantas tóxicas no estado do Tocantins produtores relataram a ocorrência de abortos em vacas associados ao consumo de Psychotria colorata (COSTA, 29). No gênero Psychotria, os alcalóides se destacam como substâncias bioativas (KERBER et al, 1997). Alguns trabalhos relacionaram os alcalóides desta planta a atividade opióide, reversível por naloxona (ELISABETSKY et al., 1995; AMADOR et al., 2), sendo os opióides endógenos descritos na literatura como capazes de inibir liberação do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo, podendo interferir em uma série de parâmetros reprodutivos (BROOKS; LAMMING; HAYNES, 1986). Estudos prévios mostraram que a ingestão de P. colorata por ratos machos durante 6 dias induziu toxicidade para os mesmos resultando em efeitos deletérios à reprodução nos animais expostos, além de efeitos tóxicos sistêmicos (dados não publicados), justificando novas pesquisas relacionadas aos mecanismos de toxicidade desta planta. Assim, visando avaliar a possibilidade de toxicidade reprodutiva em decorrência da ingestão da P. colorata, o presente estudo tem por objetivo investigar o efeito da administração do extrato bruto da P. colorata a ratas durante o período de implantação embrionária, sobre a concentração sérica dos hormônios sexuais estrogênio e progesterona. MATERIAL E MÉTODOS - A Psychotria colorata (Figura 1) foi coletada no município de Carmolândia/TO nos meses de novembro e dezembro/211 e suas folhas foram armazenadas a -2 C para posterior tratamento fitoquímico. O extrato bruto (EB) foi obtido após trituração das folhas de P. colorata seguida de percolação em etanol 99% por duas semanas e por rotaevaporação (Fisatom Mod. 81) sob pressão reduzida e com temperatura controlada de 45 C. O rendimento do EB foi calculado considerando a massa do EB obtida após a evaporação do solvente e a massa inicial do material vegetal. A avaliação da citotoxicidade no modelo de Artemia salina foi realizada segundo metodologia descrita por McLaughlin (1998), em que os náuplios foram expostos a concentrações crescentes do EB da P. colorata em etanol a 1% por um
11 a 14 de dezembro de 212 Campus de Palmas período de 24 horas, após o qual foi realizada a contagem do número de náuplios sobreviventes. No ensaio in vivo, os animais (ratos Wistar) foram divididos em dois grupos, para cada sexo, sendo 15 animais experimentais e 1 controles. Os animais experimentais receberam via gavagem, uma dose diária média de 34 mk/kg do EB da P. colorata do primeiro ao quinto dia após a confirmação da prenhez (período correspondente à implantação embrionária). Os grupos controles receberam apenas o veículo (óleo de milho). Foram avaliados diariamente o consumo de ração e de água e o peso corporal. No DG21 as fêmeas foram anestesiadas para a coleta de sangue e obtenção do soro sanguíneo para determinação das concentrações hormonais. O soro foi obtido por centrifugação das amostras a 1 x g durante 1 minutos e armazenado a temperatura de -2 C até o momento de sua análise. A concentração de β-estradiol e progesterona foi mensurada utilizando Kits EIA (Enzo Life Science, Farmingdale, NY; EIA kits N. 9-65, N. ADI-9-174, No.ADI-9-11) e analisada por meio do aparelho Biochrom asys UVM 34 microplate reader. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística. RESULTADOS E DISCUSSÃO - O tratamento fitoquímico de 2 g de material vegetal seco produziu 3g de extrato bruto. Previamente à realização dos ensaios biológicos foram realizados testes de dissolução do EB que não se mostrou solúvel em solução aquosa, sendo solúvel em etanol absoluto, DMSO e óleo de milho. A avaliação da toxicidade da P. colorata por meio do teste de toxicidade aguda em A. salina não revelou efeito citotóxico do EB da planta nas concentrações avaliadas (Figura 2). Nos experimentos in vivo, as ratas tratadas com EB de P.colorata apresentaram durante o período gestacional redução do consumo de ração no GD 13 (p<,5) (Figura 3A) e diminuição do consumo de água no GD 3 (p<,5), GD 6 e GD13 (p<,1) (Figura 3B) quando comparadas ao grupo controle. No entanto, estas alterações não resultaram em efeitos negativos sobre o peso materno em nenhum dos dias avaliados (Figura 3C). No estudo da fertilidade, não foram observadas diferenças significativas nas concentrações dos hormônios sexuais avaliados entre os dois grupos: experimental e controle (Figura 4 A e B). Assim, nossos resultados indicaram que a dose do EB da P. colorata avaliada no presente estudo durante os cinco primeiros dias de gestação, não alterou a concentração sérica de estrogênio e progesterona dos animais experimentais.
Peso diário (g) Consumo de ração (g) Consumo de Água (ml) Artemia salina (% de vivos) 11 a 14 de dezembro de 212 Campus de Palmas 1 P. colorata 8 6 4 2 9 Concentração ( g/ml) Figura 1 Psychotria colorata coletada no município de Carmolândia/TO 45 9 135 18 225 45 9 Figura 2 Avaliação do efeito do extrato bruto de Psychotria colorata no ensaio de toxicidade aguda em Artemia salina. A 3 2 B 6 4 1 2 4 6 8 1 12 14 16 2 18 2 2 4 6 8 1 12 14 16 18 2 C 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2 Figura 3 A: Consumo diário de ração (em g), B: Consumo diário de água (em ml) e C: Peso diário (em g) de ratas Wistar fêmeas tratadas do 1º ao 5º dia de gestação com extrato bruto de Psychotria colorata e seu respectivo grupo controle. São apresentadas as médias±erro padrão. Difere estatisticamente do grupo controle (p<,5).
Estrogênio (pg/ml) Progesterona (pg/ml) 11 a 14 de dezembro de 212 Campus de Palmas A B 5 4 3 2 1 15 1 5 Figura 4 A: Concentração sérica de estrogênio (em pg/ml) e B: Concentração sérica de progesterona (em pg/ml) em ratas Wistar fêmeas tratadas do 1º ao 5º dia de gestação com extrato bruto de Psychotria colorata e seu respectivo grupo controle. São apresentadas as médias± erro padrão LITERATURA CITADA AMADOR, T. A.; VEROTTA, L.; NUNES, D. S.; ELISABETSKY, E. Antinociceptive profile of Hodgkinsine. Planta Medica Letters. v. 66, p. 1 3, 2. BROOKS, A. N.; LAMMING, G.E.; HAYNES, N.B. Endogenous opioide peptides and the control of gonadotrophin secretion. Research Veterinary Science, v. 41, p. 285-99, 1986. COSTA, A. M. D.; MARUO, V. M. Plantas tóxicas de interesse pecuário nas microrregiões de Araguaína e Bico do Papagaio, Norte do Tocantins. 29. 17f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal Tropical) Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins, Araguaína, 29. ELISABETSKY E.; AMADOR, T. A.; ALBUQUERQUE, R. R.; NUNES, D. S.; CARVALHO, A. C. T. Analgesic activity of Psychotria colorata (Willd. Ex R. & S.) Muell. Arg. Alkaloids. Journal of Ethnopharmacology, v. 48, p. 77-83, 1995. KERBER, V.A. Análise dos alcalóides de psychotrias de ocorrência no sul do Brasil. Caderno de Farmácia. v. 13, n. 2, p. 165-6, 1997. MCLAUGHLIN, J.L. The use of biological assays to evaluate botanicals. Drug Inf J, v. 32, p. 513-24, 1998. In: ARAÚJO, M.G.F.; CUNHA, W.R; VENEZIANI, R.C.S. Estudo fitoquímico preliminar e bioensaio toxicológico frente a larvas de Artemia salina Leach. de extrato obtido de frutos de Solanum lycocarpum A. St.-Hill (Solanaceae). Revista de Ciência Farmacêutica Básica e Aplicada., v. 31, p. 25-9, 21. TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J.D.; PEIXOTO, P.V. Poisonous plants affecting livestock in Brazil, Toxicon, Oxford, v. 4, p.1635-6, Dec, 22. AGRADECIMENTOS - o presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT.