Key-words: agroecological transition; sustainable rural production, family agriculture.

Documentos relacionados
A Pegada de Carbono do Vinho Alentejano:

Seminário Internacional Trabalho Social em Habitação: Desafios do Direito à Cidade. Mesa 2: AGENTES PÚBLICOS, NORMATIVOS E DIREÇÃO DO TRABALHO SOCIAL

COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Efeitos da adubação nitrogenada de liberação lenta sobre a qualidade de mudas de café

Mobilização social em defesa dos direitos dos Povos e da conservação do Bioma Cerrado

REDD NO BRASIL UM ENFOQUE AMAZÔNICO PARTE 1: EMISSÕES POR DESMATAMENTO TROPICAL E O PAPEL

Desmatamento anual na Amazônia Legal ( )

1. DADOS DA INSTITUIÇÃO Nome: J.I. Serviços de Agronomia e de Consultoria as Atividades Agrícolas e Pecuárias LTDA.

Produção de alimentos e energia: a experiência da Itaipu Binacional na implantação do Condomínio de Agroenergia Ajuricaba

Apresentar alternativas compensatórias a estas medidas.

Construindo a Sustentabilidade: Lições na gestão do Programa Piloto e desafios para o futuro

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONHECIMENTO DOS AGRICULTORES DO ASSENTAMENTO SANTA CRUZ, NO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE - PB

9. Ao Pacto das Águas, construir com as lideranças e Associações comunitárias dos povos indígenas e populações tradicionais das áreas supracitadas,

Findeter financiamento para a reconstrução e a mitigação de mudanças climáticas

O Desenvolvimento Sustentável na Ótica da Agricultura Familiar Agroecológica: Uma Opção Inovadora no Assentamento Chico Mendes Pombos - PE Brasil

O COOPERATIVISMO E A REFORMA AGRÁRIA POPULAR

II ENCONTRO DE IRRIGANTES POR ASPERSÃO DO RS

O projeto Florestas de Valor promove a conservação na Amazônia ao fortalecer as cadeias de produtos florestais não madeireiros e disseminar a

A Agenda de Desenvolvimento pós-2015 e os desafios para os Governos Locais. Belo Horizonte 26 de Agosto de 2015

POLÍTICA ENGAJAMENTO DE STAKEHOLDERS ÍNDICE. 1. Objetivo Abrangência Definições Diretrizes Materialidade...

O Brasil e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA A PESQUISA E USO DE LEGUMINOSAS EM PASTAGENS TROPICAIS: UMA REFLEXÃO. Sila Carneiro da Silva 1

ANEXO III. Roteiro para Apresentação de Projetos do Tipo C R$ ,00 a R$ ,00

Política de Responsabilidade Social

Land Tenure Regularization in Urban Protected Areas. Preliminary considerations from ongoing experience

Anais do 1º Simpósio Internacional de Arborização de Pastagens em Regiões Subtropicais

SECRETARIA DE ESTADO DE HABITAÇÃO. Cooperação Técnico-Financeira BNDES/ITERJ. Mayumi Sone. Presidência. Setembro/2013

CÂMARA DOS DEPUTADOS PROJETO DE LEI Nº, DE 2012

CHAMADA MCT / FINEP ENERGIA DE PRODUTOS E SERVIÇOS COM TECNOLOGIA INOVADORA NA ÁREA DE

Projeto ARRANJO PRODUTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS DO RIO GRANDE DO SUL

DIRETRIZES PARA O PROGRAMA DE GOVERNO

Data: 06 a 10 de Junho de 2016 Local: Rio de Janeiro

Instituto de pesquisa Ambiental da Amazônia IPAM - Prestação de Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Reserva Extrativista Chico Mendes

Comissão avalia o impacto do financiamento para as regiões e lança um debate sobre a próxima ronda da política de coesão

Título: PREÇO INTERNACIONAL E PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL DE 1995 A

Minuta Circular Normativa

LISTA DE PROPOSTAS SELECIONADAS PARA A GRADE 2015 DO PROGRAMA DE RÁDIO PROSA RURAL

Oficina dos Sentidos

Projeto de reflexão, investigação e debate: O papel das empresas na comunidade

CERTIFICAÇÃO. Sistema de Gestão

Ministério da Educação Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre Pró-Reitoria de Extensão - PROEX

Resumo. Boletim do desmatamento da Amazônia Legal (janeiro de 2015) SAD

PEQUENAS EMPRESAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS TENDÊNCIAS E PRÁTICAS ADOTADAS PELAS EMPRESAS BRASILEIRAS

Experiência: Gestão Estratégica de compras: otimização do Pregão Presencial

Registro neste Plenário, com tristeza, os índices de desmatamento da Amazônia anunciados ontem pelo Governo Federal.

Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Município de Piracaia PIRAPREV CNPJ: / Política de Responsabilidade Social

Biologia Professor: Rubens Oda 6/10/2014

Mobilidade: implicações económicas. Prof. João Confraria ( UCP )

São Paulo, 17 de Agosto de 2012

Edição 37 (Março2014)

O pequeno agricultor e o uso de Tecnologias da Informação

Mercados emergentes precisam fazer mais para continuar a ser os motores do crescimento global

A dependência entre a inflação cabo-verdiana e a portuguesa: uma abordagem de copulas.

F.17 Cobertura de redes de abastecimento de água

Público Alvo: Critérios de admissão para o curso: Investimento:

PROJETO CAMINHÃO TANQUE DISTRIBUIDOR DE DEJETOS SUÍNOS

Secretaria de Turismo e Lazer da Cidade do Recife

Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba CODEVASF. Investindo no Brasil: Vales do São Francisco e Parnaíba

Proponente: Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas Idesam

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA, ECONÔMICA E AMBIENTAL DE PROJETOS DE TRANSPORTE URBANO COLETIVO

CARTA DA PLENÁRIA ESTADUAL DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA DE PERNAMBUCO AO MOVIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, AOS MOVIMENTOS SOCIAIS E À SOCIEDADE

PLANO DE CARREIRA CONSOLIDAÇÃO DO PROFISSIONAL COMO CONSULTOR (CONT.) CONSOLIDAÇÃO DO PROFISSIONAL COMO CONSULTOR. Tripé: Sustentação conceitual;

Argentina Chile Bolívia Paraguai Brasil Uruguai. Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIO PIC DIREITO/UniCEUB EDITAL DE 2016

Introdução do Cultivo de Physalis (Physalis angulata L.) de Base Agroecológica na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul.

Acordo de Acionistas. do Grupo CPFL Energia. Atual Denominação Social da Draft II Participações S.A.

Ao considerar o impacto ambiental das empilhadeiras, observe toda cadeia de suprimentos, da fonte de energia ao ponto de uso

GEOGRAFIA - 2 o ANO MÓDULO 64 OCEANIA

BOLSAS ES JOVEM / NOS ALIVE. 3. ª e d i ç ã o BOLSAS ES JOVEM / NOS ALIVE REGULAMENTO

ISO 9000 e ISO

ACORDO DE PARCERIA PORTUGAL 2020

ESTUDO TÉCNICO N.º 12/2014

Pequenas e Médias Empresas no Paraguai. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

EDITAL DE SELEÇÃO DE PESSOAL CONTRATAÇÃO DE ASSESSOR TÉCNICO COTAÇÃO ELETRÔNICA Nº 03/2016 -

Projeto de Incentivo à Vigilância e Prevenção de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde

Programa de Gestión Urbana. Governador Valadares/MG/Brasil. Texto para Conferencia Eletrônica. Coordinación Regional para América Latina y El Caribe

projeto Pensar globalmente, agir localmente! Junho de 2009 apoio

Paul Simons Vice-Diretor Executivo Agência Internacional de Energia Brasília, 16 de dezembro de 2015

O QUE ORIENTA O PROGRAMA

ACSA COMERCIAL DE BENS & CONSULTORIA EMPRESARIAL

Painel 1 Aglomerados Produtivos: Análise da Experiência Nacional e Internacional. A Experiência do Estado de Sergipe

Política de Responsabilidade Socioambiental - (PRSA) Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA).

Gestão da Qualidade Total para a Sustentabilidade 2013

Da agricultura migratória à agroecologia: perspectiva da agricultura familiar em Alto Paraíso - Rondônia, no sul da Amazônia brasileira

CONTRATAÇÕES PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS ROBERTO S. WAACK

Programa de Sustentabilidade Energética do Setor Cerâmico do Estado do Tocantins

XII Congresso Brasileiro de Fomento Comercial. 1º de maio de 2014

Plano de Manejo Parque Natural Municipal Doutor Tancredo de Almeida Neves. Encarte 6 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO. IVB-2012 Página 1

PRIMEIRO SEMESTRE. Disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa Quantitativa

1º Concurso - Universidades Jornalismo e Publicidade - Maio Amarelo 2016

Projeto Movimento ODM Brasil 2015 Título do Projeto

FUTEBOL DE RUA REPORT 2015

FICHA PROJETO - nº 226-MA

CÁRITAS BRASILEIRA EDITAL DE SELEÇÃO Processo de Cotação

É isto que diferencia a Loja in Company de outros modelos de negócio.

Governo de Mato Grosso Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral Superintendência de Planejamento Coordenadoria de Avaliação

Inteligência Competitiva (IC)

Transcrição:

Café em agrofloresta para o fortalecimento da economia de baixo carbono em Apuí, Amazonas - Brasil. Agroforestry coffee to strengthen a low carbon economy in Apuí,Amazonas - Brasil. Autores: Gozzo de Figueiredo, Vinícius¹; Cardoso Carrero, Gabriel¹; Colini Cenamo, Mariano¹; Almeida Machado, Geovani¹. 1 Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas IDESAM, vinicius.figueiredo@idesam.org.br; gabriel.carrero@idesam.org.br; mariano@idesam.org.br; geovani@idesam.org.br. Resumo Relatamos o processo de transformação de sistemas com base em práticas agroecológicas para a produção de café agroflorestal. Apoiado pelo Fundo Vale, o projeto do IDESAM tem como objetivos aumentar a produção, melhorar a qualidade e consorciar os cafezais com espécies de interesse econômico e alimentar. Após 3 anos, 30 produtores avançaram na transição agroecológica e renovaram o potencial da cadeia de valor local. A produtividade quase triplicou, passando de 9 para 24 sacas por hectare em média. A qualidade aumentou consideravelmente, com danos causados por brocas diminuindo em 94%. Impactos sociais positivos como aumento de renda e diversificação da produção foram identificados nas famílias. Para consolidar este cenário favorável em Apuí ainda é necessário multiplicar os sistemas de produção e fortalecer uma organização social que possa representar os interesses do grupo. Palavras chaves: transição agroecológica; produção rural sustentável; agricultura familiar. Abstract We report the transformation process based on agroecological management for producing agroforestry coffee in Apuí. Supported by Fundo Vale, this project of IDESAM has the objectives of increasing yields and quality of coffee beans and inter-planting trees of ecological and economic interest on this production system. After three years, 30 producers advanced on this agroecological transition and renewed the potential of this local value chain. Yields increased almost three-fold, from 9 to 24 bags per hectare. The quality increased substantially, with the damage cause by the coffee berry borer reduced by 94%. Positive social impacts such as income increase and diversification from production were identified in the families. To consolidate such a favourable scenario in Apuí is still necessary to multiply these production systems and to strengthen social organization that could represent the group s interests.

Key-words: agroecological transition; sustainable rural production, family agriculture. Contexto O município de Apuí está localizado no sudeste do Amazonas, uma região conhecida como fronteira do desmatamento, nos limites com o Pará a Leste e com o Mato Grosso ao Sul (coordenada 7,20 S e 59,89 W). A atual ocupação em Apuí remete três períodos no tempo, que inicia no ciclo da borracha (1930), passa pela construção da rodovia Transamazônica (1972) e ganha proeminência na criação do Projeto de Assentamento (PA) Rio Juma (1982). Colonos oriundos do sul do país e estados produtores de café como Paraná, Espirito Santo e Rondônia, se estabeleceram nos primeiros lotes e praticaram os modelos convencionais de produção agrícola. No entanto, tal prática se tornou extremamente custosa. A falta de assistência técnica e às características naturais de baixa fertilidade dos solos amazônicos resultou em um período de crise para a cafeicultura. Neste contexto, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (IDESAM), trabalhou entre os anos 2012 e 2015 com um grupo de produtores familiares através do projeto Café em Agrofloresta para o Fortalecimento da Economia de Baixo Carbono em Apuí (Projeto CAFÉ), com apoio Fundo Vale e outros parceiros. O projeto buscou a adequação das práticas de manejo de café visando uma agricultura de base ecológica e a implantação de sistemas agroflorestais. Os objetivos foram focados em aumentar a produção e melhorar a qualidade do café para maior valorização do produto. Houve avanços importantes no processo de transição agroecológica que são descritos neste trabalho. Descrição da experiência O primeiro contato com os produtores de café de Apuí ocorreu por volta de 2006 através das primeiras pesquisas de campo realizadas pelo IDESAM no município. Desde então houve interesse em trabalhar com esta cultura que apresentava grande potencial para o desenvolvimento da agricultura familiar na região. Em 2012, com o Projeto CAFÉ, foram realizadas reuniões para apresentação da proposta e cadastro de 39 interessados em trabalhar com a produção de café agroflorestal. Neste momento também foi apresentado um estudo de mercado sobre a cadeia do café em Rondônia e Amazonas. Apuí representa mais de 50% da produção de café do

estado e na cidade de Manaus a maior parte do café torrado vem de outras regiões do país. Nas propriedades cadastradas foi realizado um diagnóstico inicial para a seleção de 30 produtores que iriam compor o grupo de trabalho. Dentre os indicadores avaliados foi considerado o perfil de agricultor familiar, a organização da produção e da propriedade, a experiência com café e o conhecimento sobre sistemas alternativos ao convencional de produção. Em cada propriedade foi estabelecido um acordo visando a conversão de 1 hectare para sistema agroflorestal de café. No primeiro ano do projeto foram coletadas amostras de solo para análise laboratorial e houve a aplicação de 1 e 1,7 toneladas de calcário no ano 1 e ano 2, respectivamente. Houve capacitações e visitas técnicas para abordar temas como adubação orgânica, controle de plantas indesejadas, controle de pragas e doenças, podas e a desbrotas do café. Foi iniciado o cultivo de espécies para adubação verde nas entrelinhas do cafezal, realizado a lanço, após leve escarificação do solo, com as sementes misturadas em composto orgânico. As espécies e as quantidades utilizadas por hectare foram: 4 kg de feijão-guandú (Cajanus cajan), 5 kg feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e 5 kg de três espécies de crotalárias (C. spectabilis, C. juncea e C. ochroleuca). O uso de adubação, além de ser importante para a fixação de nitrogênio, facilita o manejo de gramíneas e outras plantas que podem competir com o café. A biomassa pode ser utilizada na cobertura do solo ou para compostagem junto com outros materiais (casca de café, esterco, serragem, etc.). Outra abordagem utilizada para melhorar a fertilidade dos sistemas agroflorestais foi o uso de biofertilizantes foliares. Os produtores receberam inicialmente 16 litros para experiência e durante as capacitações aprenderam o processo de produção caseira com baixo custo. O componente arbóreo dos sistemas agroflorestais foi enriquecido na maioria dos casos. Entre 2013 e 2014 foram distribuídas cerca de 11.000 mudas para os 30 produtores do grupo. Algumas das espécies utilizadas para aumento da fertilidade dos sistemas foram: Inga (Inga edulis), Mulungu ou Poró (Erythrina poeppigiana)

Gliricidia (Gliricidia sepium), Paricá (Schizolobium amazonicum), Faveira-branca (Parkia multijuga) e Angelim-vermelho (Dinizia excelsa). Para sombreamento com fins econômicos, madeireiros e não madeireiros, foram utilizadas espécies de Jatobá (Hymenaea sp.), Itaúba (Mezilaurus synandra), Andiroba (Carapa guianensis) e uma diversidade de árvores frutíferas tropicais. A broca-do-café (Hypothemus hampei), principal praga na região, foi controlada com o uso de armadilhas caseiras feitas em garrafas PET 2L e com o controle biológico por meio do fungo Beauveria bassiana. A construção de terreiros suspensos ocorreu entre 2013 e 2014 através da realização de mutirões. Com a estrutura de secagem foi possível adequar os processos de pós-colheita e evitar um problema comum que era deixar o café colhido em sacarias. Durante o ultimo ano da experiência com o projeto, houve empenho para fortalecer as organizações sociais envolvidas. Uma cooperativa e uma associação foram estudadas a fim de alcançar estabilidade para a cadeia produtiva do café. A perspectiva é conseguir uma usina de beneficiamento que representaria independência de terceiros, novas oportunidades de mercado e maior valor agregado ao produto final. Outras perspectivas são a adoção de um mecanismo de certificação participativa e a manutenção do apoio técnico e estrutural através da entrada de recursos oriundos de projetos de redução de emissões de carbono em mercados voluntários. Resultados Foi possível atingir melhorias em diversos aspectos que compreendem o desenvolvimento sustentável com base na agricultura familiar e agroecologia. De acordo com o diagnostico inicial, em 2011 a produção total do grupo foi de 372 sacas de café beneficiado, média de 9 sacas/ha. Em 2012, a produção do grupo atingiu uma média de 13 sacas/ha. Em 2013 a produção média subiu para 17 sacas/ha, atingindo em 2014 a média de 24 sacas/ha nos 10 produtores que tiveram maior adoção e domínio sobre as práticas agroecológicas. No controle da broca-docafé, a amostragem onde houve o controle alternativo (n=18) e sem nenhum

controle (n=9), a ocorrência foi de 1,8% e 30%, respectivamente, uma redução de infestação de 94% nas áreas com armadilhas. A estruturação das propriedades com terreiros suspensos e as diversas capacitações, possibilitaram a produção de um café diferenciado quanto à qualidade de grão e bebida. Por iniciativa dos produtores, o IDESAM facilitou um acordo com o cerealista e com o torrefador do município para valorizar o café agroflorestal, que passou a pagar, na safra de 2014, um valor adicional de R$30,00 por saca devido à maior qualidade. Além disso, houve a criação da nova marca Café Apuí Agroflorestal, orgânico ainda não certificado, 100% conilon, pela empresa local de torrefação, que tem investido neste nicho e está disposta em apoiar o grupo neste novo modelo. O processo de transição agroecológica também gerou impactos sociais positivos nas comunidades. Por exemplo, as propriedades com café em sistemas agroflorestais se tornaram referência no meio rural onde esta cultura agrícola estava em declínio e desacreditada. Mesmo com as árvores ainda em crescimento, outros produtores estão interessados em produzir com sistemas agroflorestais e buscam informações nas experiências já desenvolvidas. Este interesse aproximou os produtores das organizações sociais em busca de novas informações e melhores condições de vida. De fato, foi possível constatar que a transformação de sistemas com base na agricultura ecológica é um processo gradual que pode ser intensificado ou não, dependendo de fatores internos da propriedade com influência de fatores externos presentes em nível territorial ou comunitário. Neste caso, ainda é necessário acompanhamento técnico para garantir a consolidação das primeiras experiências, a multiplicação dos sistemas agroflorestais e apoiar a organização social que represente os produtores de café agroflorestal de Apuí. Agradecimentos Ao Fundo Vale pelo apoio financeiro, ao Imaflora, Via Verde, CATIE, Embrapa-RO, INPA e Viveiro Santa Luzia pelo apoio técnico. Aos produtores rurais, CEFFAP e Associação Ouro Verde, e a toda equipe técnica do IDESAM em Apuí pelo apoio nas atividades de campo.