ECOLOGY, BEHAVIOR AND BIONOMICS. Neotropical Entomology 36(5):633-639 (2007)



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Transcrição:

September - October 2007 633 ECOLOGY, BEHAVIOR AND BIONOMICS Interação entre Fatores Visuais e Olfativo em Localização de Recursos pela Mosca-Varejeira, Chrysomya megacephala (Fabricius) (Diptera: Calliphoridae), em Condições Naturais LEONARDO GOMES 1, GUILHERME GOMES 2, FABIANA E. CASARIN 3,IRACEMA M. DA SILVA 2, MARCOS R. SANCHES 4, CLAUDIO J. VON ZUBEN 2 E HAROLD G. FOWLER 5 1 Lab. Eco-Epidemiologia de Doenças de Chagas, Instituto Oswaldo Cruz - IOC/FIOCRUZ, Pavilhão Lauro Travassos, sala A10, térreo, Av. Brasil, 4365, Manguinhas, C. postal 926, 21045-900, Rio de Janeiro, RJ, leugomes@yahoo.com.br 2 Depto. Zoologia; 3 Depto. Biologia; 5 Depto. Ecologia. Instituto de Biociências, UNESP, Av. 24A, 1515, Bela Vista 13506-900, Rio Claro, SP 4 IME, USP. Rua do Rocio 220, 1 o andar, Vila Olímpia, 04552-903, São Paulo, SP Neotropical Entomology 36(5):633-639 (2007) Chrysomya megacephala (Fabricius) (Diptera: Calliphoridae), in Natural Conditions ABSTRACT - The interaction between olfactory and visual cues in the landing responses of Chrysomya megacephala (Fabricius) was analyzed in a natural environment (grass) using three plain cardboard circles with the colors white, black and other being the own grass (control) with 30 cm in diameter. The circles in the center. To check the interaction between visual and olfactory factors, we analyzed the relation among the direction of wind and the sectors, the quadrants and the color of circle where C. megacephala adults bait when the wind was present compared with the other control circle. The results show that while odor cues may enhance the induction of landing by C. megacephala, visual cues are important when selecting a KEY WORDS: RESUMO - A interação entre pistas visuais e olfativa na resposta de pouso de Chrysomya megacephala (Fabricius) foi analisada em ambiente natural. Para isso, foram utilizados três círculos planos de cartolina de cor branca, preta e outro com a própria grama (controle) com 30 cm de diâmetro. Os círculos foram divididos direção do vento e os setores, os quadrantes e a cor do círculo em que os adultos de C. megacephala pousavam. iscas quando o vento estava presente, em comparação com o círculo controle. Os resultados mostraram que a C. megacephala e que pistas visuais são importantes PALAVRAS-CHAVE: Pouso, visão, controle, mosca Chrysomya megacephala (Fabricius), originária da Austrália e da região Oriental, foi introduzida acidentalmente (Guimarães et al. descoberta no Sudeste do Brasil, juntamente com Chrysomya albiceps (Wiedemann) e Chyrsomya putoria (Wiedemann) (Imbiriba et al. 1977, Guimarães et al. As moscas do gênero Chrysomya têm grande importância et al. podendo causar principalmente miíases nos animais (Zumpt et al. importância em entomologia forense, por serem indicadoras de tempo de decomposição de cadáveres humanos (Wells & Greenberg 1992, Von Zuben et al. 1996, Gomes et al. 2003), pois estão entre os primeiros organismos a chegarem à cena

Gomes et al. - Interação entre Fatores Visuais e Olfativo em Localização de Recursos pela Mosca-Varejeira... do crime, atraídos pelos corpos em decomposição. A capacidade de localização do substrato alimentar devese a órgãos sensitivos altamente adaptados para a detecção de odores, principalmente no caso de moscas-varejeiras da família Calliphoridae, que estão entre os principais tempo após a morte e permanecer na carcaça durante os estágios de decomposição (Catts & Goff 1992). O comportamento dessas moscas-varejeiras em seu vôo tem sido descrito como um dos componentes para a localização da fonte alimentar, em resposta às pistas olfativas liberadas no ar. A resposta a esses tipos de semioquímicos aumenta a probabilidade de um inseto detectar e chegar na vizinhança de uma fonte alimentar ou local de oviposição. Para muitos dípteros, a pista visual pode tornar-se muito importante na direção da aterrissagem e no comportamento de busca em um sítio para alimentação ou oviposição (Torr relacionado às pistas visuais tais como os diferentes tipos estágios da localização da fonte tem sido alvo de poucos Visando os levantamentos populacionais, variados tipos de armadilhas e de iscas têm sido testados (Lopes 1973, Wall & Smith 1996, Oliveira et al. 2002). Contudo, são escassos os A melhor compreensão dessas interações pode permitir o controle da mosca-varejeira, em programas de controle em forma de orientação em vôo das moscas na escolha de um estudos forenses. O objetivo do presente trabalho foi analisar as interações entre percepções visuais e olfativas na orientação e respostas de aterrissagem de adultos de C. megacephala, em ambiente natural. cartolinas nas cores branca e preta, e no círculo controle foi utilizada linha na forma circular colocada diretamente na grama, com o mesmo diâmetro e características dos outros dois círculos (Fig. 1). Os três círculos foram divididos em quatro quadrantes iguais e numerados de um a quatro; a Fig. disso, cada círculo foi dividido em cinco setores circulares com relação à distância da isca e aos pontos de capturas das moscas, denominados A, B, C, D e E, e que compreendiam foram colocados na grama um ao lado do outro, mantendo- No centro de cada círculo, ou seja, sobre o setor A, foi não encobrir totalmente esse setor. A utilização desse tipo de isca deve-se à sua comprovada atratividade, se comparada a outros substratos orgânicos (Wall & Smith 1996). 1 Material e Métodos O comportamento de localização de fonte alimentar de C. megacephala foi investigado em condições naturais, em campos de gramado com uma mata de eucaliptos nos arredores do Instituto de Biociências da UNESP, em Rio Claro, SP (22 o o cm de diâmetro de cor branca, preta e o controle (grama). Essas cores foram escolhidas, pois, segundo Green & Warnes (1992), a preferência da mosca pelas cores branca e Wall & Smith (1996), diferentes iscas podem interferir na Fig. 1. Esquema dos círculos utilizados. 1 - Círculo branco, 2 - Círculo preto e 3 - Círculo controle (grama). 2 3

September - October 2007 Neotropical Entomology 36(5) Oeste 11% 2 1 45% Sul E D C B A 3 cm 6 cm 9 cm 12 cm 15 cm Norte Branco Preto Grama 44% 3 4 30 cm Leste Fig. 2. Esquema das divisões dos círculos utilizados orientados de acordo com os pontos cardeais. mais quente e de maior atividade das moscas). À medida que que eventualmente pousavam. Apesar da presença de outras C. megacephala por ser a mais freqüente na região e no Brasil durante o período de estudo (observação pessoal). segundo os pontos cardeais básicos Norte, Sul, Leste e Oeste, três repetições para cada disposição dos círculos. Para análise dos dados obtidos, foram utilizados os seguintes testes estatísticos: análise de variância e qui- Tukey HSD, correlação de Pearson e regressão linear (Zar 1999). Resultados C. megacephala 29,2 o pouso das moscas nos círculos branco e preto foi semelhante (Fig. 3), sendo que o teste de ANOVA demonstrou que os círculos branco e preto são os mais preferidos pelas moscas grama, que recebeu percentual de moscas muito menor que os círculos de cartolina. Os setores A e E foram os que mais atraíram moscas a diferença entre a abundância de insetos distribuídos entre Fig. 3. Distribuição percentual da preferência de pouso de C. megacephala de acordo com a cor do círculo. 38% A 7% 7% 3% 44% C. megacephala de acordo com o setor do círculo. o Teste de Tukey HSD mostrou que apenas os setores C e D não diferem entre si quanto ao percentual de moscas que pousaram neles, sendo que para os demais as diferenças são Quanto à escolha do setor nos diferentes círculos, de modo geral, as moscas preferiram os setores A e E, e nos círculos branco e preto quase todas as moscas optaram pelos setores A ou E. No circulo de grama isso não aconteceu, setores, só se reduzindo a abundância de moscas no setor B. nos setores diferiu estatisticamente dentro de cada círculo ). A escolha (em porcentagem) das moscas para pousarem em se compara a distribuição de moscas por quadrante dentro de B C D E

636 Gomes et al. - Interação entre Fatores Visuais e Olfativo em Localização de Recursos pela Mosca-Varejeira... 25% 26% 24% 26% 1 2 3 4 Quando o vento está O L, o setor C destaca-se na preferência das moscas e o setor E passa a ser menos preferido -17 para todas as direções de vento. Indicou, ainda, que a direção -132 ). As preferências de pouso das moscas de acordo com a direção do vento foram: Vento L O - Quadrantes 1 e 2 Vento N S - Quadrantes 2 e 3 C. megacephala de acordo com o quadrante do círculo. cada círculo. Os círculos branco e preto tiveram distribuição semelhante nos quadrantes, mas o círculo de grama teve distribuição diferente (Tabela 1). Nesse terceiro círculo houve certa preferência pelo quadrante 2 e certa rejeição pelo quadrante 1. O teste qui-quadrado indicou que as moscas não se distribuem igualmente nos quadrantes dentro dos diferentes círculos, ou seja, a distribuição de moscas nos quadrantes depende do tipo de círculo (GL = 6, P = 0,0001). A preferência por setores variou de acordo com a direção do vento (Tabela 2). Quando o vento seguiu a trajetória com correntes de ar tendendo de Leste para Oeste (L O), os setores B, C e D foram mais freqüentados que os outros. O setor A permaneceu como o mais preferido, mas apenas por preferiram esse setor nas mesmas condições. Ou seja, com essa direção do vento, as moscas tendem a preferir menos Tabela 1. Freqüência de pouso em C. megacephala por quadrante por cada círculo analisado. Quadrantes Círculo branco Círculo preto Círculo de grama 1 26 28 14 2 24 25 36 3 24 22 29 4 26 25 21 Vento O Vento S Sem vento - Quadrantes 1, 2 e 3 Em relação à temperatura, aparentemente, quanto maior Embora tenha havido dias muito quentes com muitas moscas, temperaturas mais altas. De forma oposta, quanto maior a crescente bem visível. -9 ). Discussão Com relação à cor dos círculos, C. megacephala preferiu igualmente os círculos preto e branco. Talvez pelo contraste a grama, as moscas se orientaram de forma diferente do observado para C. hominivorax (Green & Warnes 1992), que prefere pousar em alvo preto, quando pode optar entre tendo, o odor, importância fundamental na atração (Green & Warnes 1992, Torr & Hall 1992), já que as moscas são Tabela 2. Freqüência de pouso em C. megacephala por setor de acordo com a direção do vento. Setor Vento L > O Vento N > S Vento O > L Vento S > N Sem vento A 32 46 57 44 34 B 11 2 2 3 4 C 16 5 17 7 9 D 28 7 2 6 4 E 14 39 22 40 49

September - October 2007 Neotropical Entomology 36(5) 637 Número de moscas 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 y = -2,0182x + 98,784 R 2 = 0,2118 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 Temperatura temperatura. Número de moscas 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 y = 0,6107x + 11,298 R 2 = 0,4055 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Umidade relativa umidade. Oestrus ovis L., Rhinoestrus latifrons L. e Cephenemyia krompe L., dos componentes associados à visão, responsáveis pela localização e pelo cuidado com a oviposição (Wall & Fisher 2001). Similarmente, Simulium arcticum fontes de CO 2 liberadas por animais hospedeiros utilizandose de pistas visuais. Em adição, fatores endógenos, como o tempo de privação alimentar (Dethier 1961, Simpson et al. visuais e odoríferas. sabia qual era o tempo de privação alimentar das moscas, uma vez que elas estavam no ambiente natural e reagiam ao estímulo dos semioquímicos liberados pela iscas de maneira provavelmente seriam mais atraídas pelas pistas químicas e tomariam a decisão de pousar mais rapidamente (Wall & Fisher 2001). odor tem importância fundamental na atração. Assim, quando o vento estava na direção N S, as moscas foram mais nos quadrantes 2 e 3; quando o vento estava na direção L O, as moscas preferiram pousar nos quadrantes 1 e 2; quando o vento estava de O L, elas escolheram mais os quadrantes 3 preferidos e na ausência de vento os quadrantes 1,2 e 3 foram preferidos (Fig. 2). Quando o vento está N S parece haver uma pequena preferência pelo setor A. Quando o vento está de O L há uma pequena concentração nos setores A e E. Quando o vento está de S N as moscas parecem preferir o setor A. todas as moscas. Tal preferência pelos setores pode ter mais distante possível (setor E) ou sobre o alimento (setor A). Isso acontece, pois o vento poderia facilitar o encontro quando se analisa apenas a preferência pelo setor, sem relacionar com a direção do vento, os setores A e E são os menos preferidos. Quando se analisam os diferentes círculos em relação à preferência dos setores, as moscas que escolheram o escolher os setores A e E. Nos círculos 1 e 2 (branco e preto, de alimento, talvez devido à mais fácil visualização da isca, pois a mesma apresentava contraste maior com os planos de fundo (grama) de mesma forma como foi observado em L. sericata (Wall & Fisher 2001). em cada dia e sua relação com a temperatura e umidade quentes, fato importante a ser considerado em programas de controle de moscas. importantes no comportamento de vôo de C. megacephala et al. 1992, Hall et al. ou pretas foram usadas para investigar o papel das pistas visuais no comportamento de pouso dessa moscas-varejeira em busca por recursos. Analisando a Fig. 3, pode-se dizer que a seleção do local de pouso uma vez que as moscas foram atraídas por uma fonte de odor. C. megacephala de locais de pouso tem implicação importante no emprego Brasil e em outros países. Os resultados apresentados aqui melhorada se o contraste de cores for incorporado nos alvos,

Gomes et al. - Interação entre Fatores Visuais e Olfativo em Localização de Recursos pela Mosca-Varejeira... para providenciar pistas visuais e melhorar as respostas ao pouso. Adicionalmente, algumas pistas visuais poderiam ser como locais contendo inseticidas. Agradecimento Referências protein deprivation on the activity and locomotor responses of Lucilia sericata, to liver odour. Physiol. Entomol. Bell, W.J. 1984. Chemo-orientation in walking insects, p.93-109. Botelho, P.S.N., S. Silveira Neto, L.A.B. Salles, D. Barbin & D.G. Borges. 1973. Testes de atração de Musca domestica L., com Catts, E.P. & Goff, M.L. 1992. Forensic entomology in criminal Dethier, V.G. 1961. Behavioral aspects of protein ingestion by the Phormia regina Meigen. Biol. Bull. Woods Hole Furlanetto, S.M.P., M.L.C. Campos, C.M. Hársi, G.M. Buralli & moscas africanas pertencentes ao gênero Chrysomya (Diptera: da dispersão larval radial pós- alimentar em Chrysomya megacephala (Fabricius) (Diptera, Calliphoridae). Revta. Bras. Green, C.H. & M.L. Warnes. 1992. Responses of female new-world Cochliomyia hominivorax, to colored targets in the laboratory. Med. Vet. Ent. 6: 103-109. introduced blowfly species in Southern Brazil (Diptera: distribution of three newly introduced species of Chrysomya Robineau-Desvoidy in Brazil (Diptera, Calliphoridae). Revta. Green, C.H. & M.L. Warnes. 1992. Responses of female New World Cochliomyia hominivorax, to coloured targets in the laboratory. Med. Vet. Ent. 6: 103-109. Imbiriba, A.S., D.T. Izutani, I.T. Milhoreto & E. Luz. 1977. Introdução da Chrysomya chloropyga na região Neotropical (Diptera: Calliphoridae). Arq. Biol. Strobilomyia (Diptera: Anthomyidae) Environ. Entomol. 22: Lee, D.F. 1937. A note on the colour responses of Lucilia cuprina. (Diptera) in Brazil, during forty years. An. Acad. Bras. Ci. Population dynamics of Calyptrate Diptera (Muscidae and (Glossina) to octenol and acetone vapour in a wind-tunnel. Tennessee, with special reference to the insects. Am. Midl. and 1-octen-3-ol on the flight response of the stable-fly, Stomoxys calcitrans, in a wind tunnel. Physiol. Entomol. 22: The patterning of compensatory sugar feeding in the Australian Simulim arcticum (IIS- 10.11) (Diptera: Simuliidae): Aspects of close range trap Glossina) in new-world screwworm Cochliomyia hominivorax (Diptera, 1996. Theoretical approaches to forensic entomology: I. Mathematical model of postfeeding larval.

September - October 2007 Neotropical Entomology 36(5) 639 Wall, R., C.H. Green, N.P. French & K.L. Morgan. 1992. Lucilia sericata Wall, R. & K.E. Smith. 1996. Colour discrimination by the sheep Lucilia sericata Lucilia sericata Wall, R. & P. Fisher. 2001. Visual and olfatory cue interaction in Lucilia sericata. Physiol. Warnes, M.L. & C.H. Green. 1992. Responses of female New World Cochliomyia hominivorax, Chrysomya and Cochliomyia macellaria (Diptera: Calliphoridae): the possible consequences of an invasion. Bull. Entomol. Res. 666p. London, Butterworths, 267p. Received 26/IV/05. Accepted 14/IV/07.