FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO RIO IPIRANGA PR. SANTOS, P. A. F.¹ ¹ Bolsista PIBIC/CNPq UFPR, (41) ,

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Transcrição:

FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO RIO IPIRANGA PR SANTOS, P. A. F.¹ ¹ Bolsista PIBIC/CNPq UFPR, (41) 3367-7275, polly@ufpr.br CANALI, N. E.² ² Professor Doutor UFPR, (41) 3296-2795, naldy@brturbo.com.br OKA-FIORI, C.³ ³ Professora Doutora UFPR, (41) 3361-3452, chisato@ufpr.br RESUMO A pesquisa, integrante do Projeto de Mapeamento Geomorfológico, Hidrográfico, e Clinográfico para o Macrozoneamento Costeiro do Estado do Paraná, realizou o levantamento e análise da fragilidade ambiental da bacia do Rio Ipiranga, porção oeste da Serra do Mar paranaense, a qual se constitui de um sistema de blocos falhados e soerguidos que representa o divisor de águas entre os tributários da bacia hidrográfica do Atlântico e do Paraná-Paranapanema (OKA-FIORI e CANALI, 1987). Foi adotado como recorte de análise espacial a bacia hidrográfica, já que a água desempenha um papel importante nos processos ecodinâmicos e geomorfológicos. A metodologia utilizada adotou uma visão sistêmica, em que os elementos componentes da bacia hidrográfica compõem o conjunto da dinâmica dos fluxos de energia e massa. Assim sendo, com base na proposta de Fragilidade Ambiental de Ross (1990 e 1994), bem como nos princípios que balizaram o seu desenvolvimento: as Unidades Ecodinâmicas de Tricart (1977), confeccionou-se levantamentos da hidrografia, hipsometria, clinografia, solos, geologia e cobertura do solo, que possibilitaram a realização da análise interpretativa e cruzamento das informações, visando obter a distribuição espacial da fragilidade ambiental potencial e emergente da bacia. As classes de fragilidade potencial média e baixa estão relacionadas às áreas de encostas de média declividade, com solos transportados coluviais e declividades entre 5 e 30%, aos depósitos aluvionares com solos transportados e declividade abaixo de 5% e ao platô ondulado com solos residuais sobre estrutura migmatítica; já as classes alta e muito alta são relativas às cristas alongadas e topos angulosos com solos residuais, aos depósitos colúvio-aluvionares nos fundos de vale encaixados com blocos e fragmentos de rocha e declividade acima de 12%, às encostas escarpadas com declividade acima de 47% e às encostas de alta declividade (20-47%), representando depósitos de tálus com solos transportados coluviais com blocos de rocha. Na cobertura do solo predominam as áreas de cobertura florestal primária e secundária, com presença de ocupação humana ao longo de estradas, caminhos e da ferrovia, além das formações características do alto das montanhas, campos de altitude associados aos afloramentos rochosos. Com relação à Fragilidade Emergente verificou-se que as áreas mais pressionadas pela ocupação humana estão relacionadas à estrada de ferro, a qual percorre áreas que vão desde classes de fragilidade potencial baixa até muito alta, resultando em classes de alta e muito alta fragilidade emergente. Destaca-se a necessidade de manter a vegetação como forma de proteção da estabilidade das encostas. Palavras chave: serra do mar paranaense, fragilidade ambiental, bacia hidrográfica. INTRODUÇÃO O presente trabalho visou realizar o levantamento e análise da fragilidade ambiental da bacia do Rio Ipiranga, porção oeste da Serra do Mar paranaense, etapa que integra o projeto de Mapeamento Geomorfológico, Hidrográfico e Clinográfico para o Macrozoneamento Costeiro do Estado do Paraná. A pesquisa adotou como recorte de análise espacial a bacia hidrográfica, já que a água desempenha um papel de grande importância nos processos ecodinâmicos e geomorfológicos. A metodologia utilizada adotou uma visão sistêmica, em que os elementos componentes da bacia hidrográfica compõem o conjunto da dinâmica dos fluxos de energia e massa, resultantes da interação entre os componentes da atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera, com inter-relações e funcionamento organizado. 1

A fragilidade ambiental tem como objetivo essencial indicar as potencialidades e limitações do uso e ocupação humana na área de estudo, ou seja, contribuir para o entendimento da realidade espacial e possíveis intervenções na mesma. ÁREA DE ESTUDO O objeto de pesquisa deste trabalho é a bacia hidrográfica do Rio Ipiranga, o qual é tributário do Rio Nhundiaquara, pertencente à Bacia Atlântica e desaguando na Baía de Paranaguá (Figura 01). A bacia localiza-se na porção paranaense da Serra do Mar, tem suas nascentes nas encostas das Serras da Farinha Seca e do Marumbi, noroeste do município de Morretes, e também, nas vertentes orientais da Serra da Baitaca no leste dos municípios de Quatro Barras e Piraquara (Figura 02). 1 As serras citadas são maciços graníticos resistentes ao intemperismo, localizados na borda do Planalto e/ou no interior do mesmo (ANGULO, 1992). A Serra do Mar no estado do Paraná constitui-se de um sistema de blocos falhados e soerguidos que representa o divisor de águas entre os tributários da bacia hidrográfica do Atlântico e do Paraná-Paranapanema (OKA-FIORI e CANALI, 1987). METODOLOGIA Os estudos do ambiente costeiro demandam uma visão sistêmica para compreender a dinâmica dos fluxos de energia e massa, envolvidos pela interação entre os componentes da atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera, mediadas pelos impactos causados pela inserção da sociedade. Portanto, a metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho segue a proposta de Fragilidade Ambiental de Ross (1990 e 1994), bem como nos princípios que balizaram o seu desenvolvimento: as Unidades Ecodinâmicas de Tricart (1977). Ross define classes de Fragilidade Potencial e Emergente, representando respectivamente, áreas que possuem características do meio físico que representam risco de desequilíbrios (condicionados à antropização), e áreas onde a degradação ambiental já é uma realidade. 1 Este trabalho teve auxílio do Programa PIBIC/UFPR e Minerais do Paraná MINEROPAR. 2

O levantamento das características do meio físico e da cobertura do solo da área serviu de base para identificar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do Rio Ipiranga, assim sendo, foram levantados: a erosividade da chuva (SANTOS e GOMES, 1998), a geologia na escala 1:250.000 (MINEROPAR/SEMA, 2002), os solos na escala 1:650.000 (EMBRAPA, 1970) e a declividade, a partir base cartográfica obtida na SEMA - Secretaria do Estado do Meio Ambiente na escala 1:25.000 (2002). Foi realizada ainda a classificação supervisionada da imagem de satélite LANDSAT TM do ano de 2002, cedida pela ENGESAT Imagens de Satélite. As cartas temáticas geradas foram: carta base, carta de hipsometria, carta de declividade, carta de tipologia de solos, de geologia e carta de cobertura do solo. Tais cartas possibilitaram a realização da análise interpretativa e cruzamento de informações e dados, visando obter a hierarquização espacial relativa à fragilidade ambiental potencial e emergente da bacia hidrográfica. Destaca-se que a escala de trabalho, para confecção das cartas síntese, foi de detalhe (entre 1:5.000 e 1:10.000), aprimorando as informações obtidas previamente, de forma a adequá-las aos objetivos da pesquisa, pois conforme Botelho (1999) os levantamentos e publicações em escalas pequenas "servem apenas para o conhecimento geral da área" (p. 276). O reconhecimento e detalhamento das características da área apoiaram-se, ainda, nas observações e controles de campo. Para melhor caracterização dos solos da bacia foram coletadas amostras para realização de ensaios geotécnicos, procedimento que foi possível de ser realizado devido ao apoio e disponibilização dos técnicos e do laboratório da Mineropar. A escolha dos pontos de coleta das amostras baseou-se no levantamento dos solos e da geologia, visando realizar uma coleta em cada porção da bacia; dentre as quais se destaca as áreas graníticas montanhosas, as encostas de alta e média declividade, o platô ondulado e o terraço fluvial na planície do baixo curso da bacia A Carta de Fragilidade Potencial foi construída através da delimitação de polígonos baseado nas classes de declividade, nas características do substrato rochoso e dos solos, originando classes que sintetizam tais informações. O resultado obtido na fragilidade potencial foi utilizado para cruzar com a cobertura do solo, gerando a Carta de Fragilidade Emergente, relativa aos graus de adequabilidade do tipo de cobertura do solo com as características do meio físico. RESULTADOS E DISCUSSÕES A Carta de Declividade (Figura 03) apresenta classes, de acordo com a proposta de hierarquização de De Biasi (1970), muito alta fragilidade predominantemente no médio curso da bacia, bem como nas encostas dos maciços graníticos das Serras da Farinha Seca, Marumbi e Baitaca, seguida das classes alta e média nas encostas que articulam-se 3

aos fundos de vale. A classe muito baixa concentra-se na planície aluvionar e, também, associada às classes baixa e média no alto curso da bacia, sob influência da estrutura migmatítica, conforme se pode relacionar ao observar na Carta de Geologia e Solos (Figura 04). 4

Sobre a morfologia do terreno da Serra do Mar, Bigarella (2003) refere que Nas partes superiores da montanha o perfil é convexo e as inclinações são íngremes (...), os solos são pouco proeminentes ou inexistentes, com uma cobertura vegetal rala e de pequeno porte. Nas partes inferiores, o perfil é côncavo, as inclinações são menos acentuadas a moderadas, o solo é espesso com uma cobertura vegetal densa e de porte elevado. Verifica-se que a geomorfologia da bacia possui relação direta com o substrato rochoso, dado que o tipo de rocha e sua resistência ao intemperismo também desempenham um 5

papel importante na taxa de denudação (BIGARELLA, 2003, p. 907). Regiões que possuem substratos graníticos geralmente apresentam relevo abrupto, enquanto que, regiões que possuem substratos migmatíticos apresentam relevo ondulado (OKA-FIORI e CANALI, 1987). Um dos principais responsáveis pela erosão pluvial, com forte relação com a denudação, é o deflúvio superficial, que, por sua vez, é determinado pela velocidade de infiltração da água de superfície no solo (REICHARDT, 1975 apud BIGARELLA, 2003). Os fatores que controlam o processo de infiltração são: a precipitação, a declividade, o tipo de cobertura do solo e a estrutura do solo, sobretudo, a porosidade. De acordo com ensaios geotécnicos efetuados as taxas de porosidade do solo nos pontos de amostragem (Figura 03) estão todos na faixa de 60 a 63%, com exceção da amostra AN-05, relativa à região de encosta escarpada próxima ao Salto dos Macacos no médio curso da bacia, em que a taxa chega a 69%. O clima da região é classificado como tropical super-úmido sem estação seca, sendo que o mesmo revela conseqüências na dinâmica ambiental da bacia, através do fenômeno da precipitação e sua capacidade de causar erosão (SANTOS; GOMES 1998). Foi realizada a interpolação dos dados de erosividade da chuva das estações pluviométricas de Morretes, Véu da Noiva, Marumbi, Morretes (Est. Exp. Fruta), São João da Graciosa, Pilão de Pedra, Piraquara, Fazendinha e Quatro Barras, e foi observado que toda a bacia enquadra-se na classe muito alta (>1.000 t.m.mm/ha.h.ano) de fragilidade relativa à erosividade da chuva, portanto, a água da chuva na bacia do Rio Ipiranga possui grande capacidade de causar erosão em uma área sem proteção (solo exposto). A Carta de Fragilidade Potencial (Figura 05) apresenta a delimitação espacial das classes definidas baseado nas informações descritas acima. 6

As classes de fragilidade potencial obtidas foram enquadradas na hierarquização proposta por Ross (2000) e possuem características conforme a tabela a seguir. 7

Tabela 01 Classes de Fragilidade Potencial e suas características. Fragilidade Potencial Classes Declividade Morfopedogênese Substrato Rochoso Classe de Solo Baixa Platô ondulado 0 30% Solos residuais Migmatito Argissolo Média Depósitos aluvionares <5% Solos transportados Sed. Recentes (Quaternário) Gleissolo Média Encostas média declividade 5 30% Solos transp. coluviais, c/ raros fragmentos de rocha Granito/ Sed. Recentes Cambissolo Alta Encostas alta declividade 20 47% Depósitos de tálus, solos transp. coluviais, c/ blocos de rocha Granito Cambissolo Alta Topos alongados/ Cristas angulosas 12 30 % Solos residuais Granito Cambissolo Alta Depósitos colúvio-aluvionares >12% Fundo de vale encaixado, c/ blocos e fragmentos de rocha Sed. Recentes (Quaternário) - Muito Alta Encostas escarpadas >47% Afloramentos Granito Litossolo 8

O produto cartográfico obtido na classificação supervisionada da imagem de satélite permitiu a confecção da Carta de Cobertura do Solo da bacia (Figura 06), na qual fica evidenciado que predomina na área a Floresta Ombrófila. Nesta pesquisa esta formação envolve todas as variedades da mesma (F.O. Mista, F.O. Densa Montana, Sub-montana, Fluvial etc.), pois as florestas e matas naturais representam alto grau de proteção do solo contra a erosão. Bigarella (2003) alerta que áreas desflorestadas com alta pluviosidade em terrenos montanhosos representam sérios problemas relacionados ao aumento do escoamento superficial e conseqüente erosão dos solos. Tem-se ainda, os campos de altitude associados às rochas expostas no topo das montanhas. Próximo às áreas com ocupação humana ocorre a vegetação secundária localizada principalmente ao longo da Estrada de Ferro e das estradas secundárias, sendo que a primeira representa a principal presença da atividade humana na área de estudo. O cruzamento das cartas de Fragilidade Potencial com a de Cobertura do Solo da bacia indica as áreas onde ocorrem atividades e ocupações do espaço inadequadas às condições do meio físico, bem como possibilita que sejam feitas sugestões com relações às mesmas, conforme a Carta de Fragilidade Emergente (Figura 07). 9

CONCLUSÕES Deve-se atentar para cuidados com a manutenção das encostas ao longo, principalmente, da ferrovia, além de possíveis incidentes que possam vir a prejudicar a qualidade ambiental da região. Também se faz necessária a conservação da vegetação, visando a proteção da estabilidade das encostas e contenção de possíveis processos erosivos de impacto negativo a todo o ambiente costeiro e baía. 10

Em relação à metodologia, os resultados apresentados corresponderam à expectativa e aos objetivos esperados, dado que se obteve a caracterização dos aspectos do meio físico da bacia e da cobertura do solo, possibilitando sua interpretação e análise. Destaca-se que a metodologia de trabalho deve ser constantemente reavaliada e adaptada, buscando adequá-la às capacidades e demandas específicas de cada pesquisa. No caso da presente pesquisa houve a necessidade de levantar dados de campo sobre os solos, pois não havia informações cartográficas compatíveis com a escala de trabalho. REFERÊNCIAS AB SABER, A. N.; BIGARELLA, J. J. Considerações sobre a geomorfogênese da Serra do Mar no Paraná. Boletim Paranaense de Geografia, n. 4 e 5. Curitiba: AGB, 1961. ANGULO, R. J. Geologia da planície costeira do Estado do Paraná. TESE, Programa de Pòs-Graduação em Geologia Sedimentar, USP. São Paulo, 1992. BIGARELLA, J. J. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais, v.3. Florianópolis: Ed.UFSC, 2003. BOTELHO, R. G. M. Planejamento Ambiental em Micro-bacia hidrográfica. In.: Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Antonio José Teixeira Guerra, Antonio Soares da Silva, Rosangela Garrido Machado Botelho (orgs.). Rio de Janeiro: BERTRAND BRASIL, 1999. DE BIASI, M. Carta de declividade de vertentes: confecção e utilização. Geomorfologia, v.21. São Paulo: INSTITUTO DE GEOGRAFIA, 1970. EMBRAPA; IAPAR. Levantamento de reconhecimento dos solos do litoral do estado do Paraná (Área 11). Curitiba: EMBRAPA/IAPAR, 1977. MINEROPAR, Minerais do Paraná S/A. Ensaios Geotécnicos: metodologia. Apostila. SELAB Serviço de Laboratório.. Ensaios Geotécnicos: Certificado Oficial de Análise. SELAB - Serviço de Laboratório. Curitiba, mar./2006.. Mapeamento Geológico-Geotécnico nas folhas COMEC A060, A098, A099, A101, A133 e A134. Projeto Geotecnia RMC, v.1. Curitiba, dez./1999. OKA-FIORI, C.; CANALI, N. E. Geomorfologia da área do parque Marumbi Serra do Mar (PR). In: Atas do Simpósio Sul-Brasileiro de Geologia, 3, v.1, p.41-58, Curitiba, 1987. ROSS, J. L.S. Geomorfologia: ambiente e planej. São Paulo: CONTEXTO, 1990.. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. Revista do Departamento de Geografia, 8. São Paulo: FFLCH/USP, 1994.. Análise empírica da fragilidade In.: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: BERTRAND BRASIL, 2000. SANTOS, I.; GOMES, J. Erosividade da porção oriental do estado do Paraná. In: Simpósio Nacional de Controle de Erosão, 6, Anais em CD, v.1, p.1-10, Presidente Prudente, 1998. SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Pró-Atlântica). Base Cartográfica. Escala 1:25.000, 2002. TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE/DIRETORIA TÉC./SUPREN, 1977. 11