The State of Studies About Digital Journalism in Brazil



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Transcrição:

SCHWINGEL, C. The State of Studies About Digital Journalism in Brazil. In: Anais XXVII Annual ILASSA Student Conference. Austin-TX. 2007. The State of Studies About Digital Journalism in Brazil Abstract: Carla Schwingel Since 1996, with the publication of the Manual for Internet Journalism by Bahia Federal University s College of Communication, Brazilian researchers have studied the emergence and growth of digital journalism. This article presents the current state of research into Brazilian digital journalism as it has evolved from the Research Group in Online Journalism (GJOL), an influential team of researchers that has produced two doctorates and six masters in Digital Journalism. GJOL has international research agreements with universities in Spain, Portugal, Argentina, Mexico and the United States (with the University of the Texas), and focuses on themes related to the history and systematization of this new journalistic practice, including narrative structures and the application of new technologies. Since holding the conference 10 years of Digital Journalism in Brazil, in November at the III National Encounter of Journalism Researchers, GJOL has also sought to present other studies on digital journalism developed elsewhere in the country. This article seeks to discuss from GJOL s theoretical perspective, a definition for digital journalism (in its different modalities) with questions related to nomenclature, the phases of systematization, the productive context, identification and proposal of characteristics, narrative possibilities, and the inclusion in automated content production systems. O estado da arte dos estudos do jornalismo digital no Brasil Resumo: Desde o ano de 1995, com a pesquisa e posterior produção do Manual de Jornalismo na Internet realizadas na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, o jornalismo digital vem sendo analisado pelos acadêmicos brasileiros. Este artigo apresenta o estado da arte da pesquisa brasileira em Jornalismo Digital a partir da evolução dos estudos do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (GJOL), que se caracteriza como a primeira e mais influente equipe de Carla Schwingel é jornalista formada pela UFRGS. Possui mestrado pela UFBA em Comunicação Social Cibercultura, onde também realiza o Doutorado em Jornalismo Digital. Desde, ministra aulas para cursos de gradução e pós-graduação de Jornalismo Digital. Sua pesquisa doutoral relaciona-se com sistemas automatizados para a publicação de conteúdos no Ciberjornalismo. Atualmente, encontra-se na Universidade do Texas, em Austin, como pesquisadora visitante realizando parte da pesquisa doutoral.

pesquisadores no país, sendo que nestes dez anos formou, até o momento, dois doutores e seis mestres em Jornalismo Digital. Com convênios internacionais de pesquisa com universidades da Espanha, Portugal, Argentina, México e dos Estados Unidos (com a Universidade do Texas), o GJOL discute temas tanto relacionados à historicidade e à sistematização desta nova prática jornalística quanto à narrativividade e aplicação de novas tecnologias. A partir da conferência sobre os 10 anos de Jornalismo Digital no Brasil, realizada no III Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, em novembro de, também procura-se apresentar as demais pesquisas desenvolvidas no país. Por fim, busca-se discutir, a partir da produção teórica do GJOL, desde uma definicão para jornalismo Digital (em suas diferentes modalidades) com questões como as relacionadas a uma nomenclatura, passando pela sistematização em fases, pelo contexto produtivo, pela identificação e proposição de características, até as possiblidades narrativas, os diferentes suportes e a inclusão de sistemas automatizados de produção de conteúdos. Os estudos do jornalismo digital no Brasil tiveram início praticamente de forma concomitante às discussões para a liberação do serviço comercial de provimento internet (ISP), em 1995. As primeiras experiências desta nova prática jornalística vinham ocorrendo desde o ano anterior, principalmente nos grupos consolidados de comunicação como no Estado de São Paulo (SP) e na Rede Brasil Sul (RS). Em 28 de maio de 1995, os jornalistas Sérgio Charlab e Rosental Calmon Alves, colocaram o primeiro jornal digital na íntegra na internet brasileira, o Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. E foi também neste momento que os professores Elias Machado e Marcos Palacios, da Universidade Federal da Bahia, propuseram uma matéria optativa no cuso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação em forma de laboratório que veio a se configurar, dois anos depois, em uma das primeiras disciplinas obrigatórias de Jornalimo Online nos currículos das universidades brasileiras. Os futuros jornalistas da Bahia, portanto, começaram a pensar o que seria jornalismo online já de forma prática. Com atualizações semanais, Lugar Incomum 1 foi a primeira publicação digital do estado da Bahia. Com um processo de produção totalmente artesanal, ou seja, partindo do zero em termos de código de programação para cada matéria, possuía quatro sessões: cultura, ciência, campus e agenda. Em 1997, a revista teve uma alteração com uma melhor definição de editorias: cotidiano, arte, gastronomia, serviços, esporte e foto-reportagem, que já buscava explorar as 1 http://www.facom.ufba.br/prod/lugar

possibilidades características do gênero reportagem na internet. Em 1999, novamente Lugar Incomum teve uma reformulação tanto em termos de programação visual quanto editorial. A revista recebeu um novo e interessante projeto gráfico, resultado do trabalho de conclusão de curso de um aluno, bem como começou a integrar em sua estrutura a interatividade, com a seção pauta interativa. Figura 1 - Lugar Incomum: primeira revista digital da Bahia, 1995. Figura 2 - Lugar Incomum: reformulação gráfica e já com sessões interativas, 1997.

De acordo com Machado e Palacios (2007), desde este primeiro momento houve a percepção da necessidade de se efetuar o mapeamento das modificações pelas quais passava o jornalismo que emergia no ciberespaço, bem como da elaboração de conceitos para esta nova prática. Já no início de 1995, os professores começaram a estruturação de um grupo de estudos que discutia as delimitações e definições para termos como ciberespaço, cibercultura, hipertexto, comunidades virtuais, jornalismo online, jornalismo digital. Em 1996, foi estuturado e publicado na web o Manual de Jornalismo na Internet 2. Naquele momento, a infra-estrutura da internet brasileira estava a cargo da Rede Nacional de Pesquisa; com apenas alguns pontos de alta velocidade, baixar este manual a partir dos servidores da Universidade Federal da Bahia tornou-se uma árdua tarefa, necessitando muitas vezes de mais de 10 horas de conexão. Situação que foi parcialmente resolvida por jornalistas do centro do país que o enviavam por e-mail para outros colegas. O manual dos professores da Bahia transformou-se em um verdadeiro guia de consulta para o jornalismo digital brasileiro, pois além de mapear as principais publicações na internet naquele momento (Estados Unidos, Europa e Brasil), apresenta uma espécie de passo-a-passo para se conhecer a internet e as publicações jornalísticas nela. Sua versão revisada em março de 1997 está disponível no site do GJOL (Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online) 3. Neste período, em conjunto com os demais professores do Ciberpesquisa, o Centro Internacional de Pesquisa em Cibercultura da Universidade Federal da Bahia, os pesquisadores de jornalismo lançaram uma plataforma pioneira para o ensino a distância, o Projeto Sala de Aula 4, onde foram desenvolvidas vários cursos, entre eles o de Jornalismo Digital. Em 1999, o professor Marcos Palacios como forma de consolidar a disciplina obrigatória Oficina de Jornalismo Digital, ministrada para o sexto semestre do curso de 2 http://www.facom.ufba.br/jol/producao.html 3 http://www.facom.ufba.br/jol/fontes_manuais.htm 4 http://www.facom.ufba.br/sala_de_aula/

Jornalismo, propôs o produto Panopticon um olhar jornalístico sobre o jornalismo digital. Ou seja, os alunos começaram a fazer matérias para um produto especializado que, ao mesmo tempo, servia como oficina para testar novos formatos e como laboratório para analisar o que estava sendo produzido em termos de jornalismo digital no Brasil e mundo. Também foi nesse ano que o GJOL foi formalmente instituído e, com reuniões mensais onde um dos pesquisadores em formação apresenta um livro previamente escolhido e lido por todos, constitui-se no núcleo de agregação para a investigação do jornalismo digital da faculdade. Com o afastamento do professor Palacios para o pós-doutorado, Carla Schwingel assumiu a disciplina Oficina de Jornalismo Digital e, em conjunto com os alunos, desenvolveu o PIP Produto de Implementação do Panopticon, um CMS (Content Management System) que procurava aplicar as características no jornalismo digital trabalhadas conceitualmente pelo GJOL tanto na estrutura do produto Panopticon quanto na estrutura narrativa das matérias jornalísticas (notícias e reportagens).

Figura 3 Interface de edição do PIP vinculacão com novos blocos de matérias Assim, iniciou-se um outro momento da pesquisa para o GJOL, em que se busca produzir programas, aplicativos, sistemas e ambientes tecnológicos adaptados a princípios teóricos discutidos previamente pelo grupo. Uma decisão que levou à inversão no processo de pesquisa. Antes preocupado com a observação, a descrição e a conceituação dos objetos, e agora comprometido com o desenvolvimento tecnológico. Em vez de simplesmente observar para descrever o pesquisador passa a conceber, projetar, desenvolver e conceituar os objetos, atuando como embrião de um sistema local de inovação em jornalismo (MACHADO; PALACIOS; 2007, p.15). O GJOL procurou a partir do ano de 2002 constituir redes e convênios nacionais e internacionais de pesquisa. O primeiro deles foi estabelecido com a Universidade do Texas, em Austin, através de financiamento da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), uma fundação do Ministério da Educação, e congrega

professores das Faculdade de Comunicação e Ciências da Informação, Brasil, e professores da Escola de Jornalismo e de Rádio, Televisão e Filme, nos Estados Unidos. Como resultado, foi publicado em o livro Informação e Comunicação: o global e o local em Austin e Salvador com estudos comparados da produção de notícias nas duas cidades. De acordo com a metodologia de convênios internacionais da UT, foram ministrados cursos rápidos em Salvador para os estudantes estadunidenses, bem como os professores brasileiros estiveram algumas vezes em missão científica em Austin. Também há um doutorado pleno e um doutorado sanduíche (uma bolsa de até um ano somente para a pesquisa) que estão sendo realizados na UT por Fábio Ferreira e Carla Schwingel. O segundo convênio foi firmado em 2003 e constitui a Rede Latino-americana para o Desenvolvimento de Metodologias e Softwares para o Ensino de Jornalismo em Redes de Banda Larga. Financiado por instituições de pesquisa nacional e estadual, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Fapesb (Fundação de Pesquisa do Estado da Bahia), é composto originalmente pela UFBA e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Brasil; pela Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina; e pelo Instituto Tecnológico de Monterrey, no México. Em 2006, houve a integração da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e da Faculdade Jorge Amado (Salvador, BA). O terceiro convênio foi instituído em 2004 e conta com a participação das universidades: Federal da Bahia e Unijuí, no Brasil; Austral e Rosário na Argentina; Beira Interior, em Portugal; de Havana, em Cuba; Vic, na Espanha, Lille, na França e a empresa de comunicação Ars Media, de Milão, Itália. Financiado pelo Programa Alpha, da União Européia, está desenvolvendo uma pesquisa comparada sobre o ensino de jornalismo na era digital na América Latina e na Europa. O quarto convênio, denominado Jornalismo na Internet: um estudo comparativo dos cibermeios no Brasil e Espanha, foi aprovado em 2006 e constitui um esforço de integração dos pequisadores brasileiros e espanhóis para realizar uma pesquisa comparada entre os dois países. Tal proposta foi discutida durante o ano de por ocasião do período que o professor Javier Díaz Noci, da Universidade do País Vasco, passou como professor visitante no GJOL.

O GJOL possui toda sua produção disponível no seu site (www.facom.ufba.br/jol). Além da apresentação e dos contatos dos integrantes do grupo, o site contém: a bibliografia estudada até o momento de forma conjunta pelo grupo; as pesquisas realizadas; fontes de estudo; a bibliografia consultada e a produção individual dos pesquisadores (os artigos, as dissertações e as teses). Com a idéia de divulgar as dicas e informações sobre Jornalismo Digital para além do âmbito do grupo, em junho de 2006, o professor Marcos Palacios teve a iniciativa de criar um blog vinculado ao site, Jornalismo & Internet (http://gjol.blogspot.com), que já se transformou em uma importante fonte e ferramenta para troca de informações com outros pesquisadores. Pode-se perceber o delineamento da metodologia de pesquisa do GJOL, conforme comentado por Machado e Palacios (2007) pelo próprio avançar das pesquisas aprovadas a título de mestrado, de doutorado, bem como pelas propostas efetivadas pelos pesquisadores sêniores do grupo nas agências de pesquisa. Anos Tipo TÍTULO PESQUISA Pesquisador 1998-2000 JORNALISMO 1.2: características e usos da hipermídia no jornalismo, com estudo de caso do grupo Estado de São Paulo José Afonso da Silva Junior 1999-2003 Doutorado Jornalismo na Web: uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual Luciana Mielniczuk 2000 2001 Individual Um mapeamento de características e tendências no jornalismo on-line brasileiro Marcos Palacios 2000-2002 Jornalismo Online e a informação de proximidade: o caso dos portais regionais Suzana Barbosa 2001-2003 Individual A Estrutura da notícia nas redes digitais Elias Machado 2001 2003 O Radiojornalismo nas Redes Digitais - o caso da Central Brasileira de Notícias Raquel Porto Alegre dos Santos Alves 2002 2003 Iniciação Científica A estrutura da notícia no Correio On-Line Clarissa Borges 2002 2003 Iniciação Científica A estrutura da notícia em A Tarde On-line Milena Nunes de Miranda 2002 - Doutorado A relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo do jornalismo contemporâneo: agências de José Afonso da Silva Junior

2006 notícias como estudo de caso 2003-2004 Iniciação Científica Identificação e análise do jornalismo de terceira geração desenvolvido para a Web no Brasil Marla Barata 2003-2004 Individual O jornalismo digital em publicações regionais no Brasil e nos Estados Unidos: estudo comparado dos sistemas de produção de notícias em Salvador e Austin. Elias Machado 2003- Individual Jornalismo em Redes Digitais: problematizando a Internet enquanto suporte para a prática do Jornalismo Marcos Palacios 2003 - O comportamento do usuário de notícias na "Folha Online" e "A Tarde Online" Luciana Moherdaui 2003- Quebrando o Espelho - uma análise comparativa do jornalismo nas TV s UOL e UERJ online Leila Nogueira Kalil 2003- Individual Monitoramento e análise da evolução do jornalismo de terceira geração desenvolvido para a Web no Brasil: um estudo de características e gêneros. Luciana Mielniczuk 2003-2007 Doutorado O Uso de bancos de dados no jornalismo digital de terceira geração Suzana Barbosa 2004 - A Narrativa Webjornalística - um estudo sobre modelos de composição no ciberespaço Beatriz Ribas 2004 Modelo de Avaliação Ergonômica e Visual para Interfaces gráficas do Jornalismo On-line Luis Lordelo 2004- Fotojornalismo, Internet e Participação: Os Usos da Fotografia em Weblogs e Veículos de Pauta Aberta Paulo Munhoz 2004 2007 Doutorado Sistemas automatizados de publicação de conteúdo no Ciberjornalismo: modelos de composição e de arquiteturas da informação no desenvolvimento de produtos jornalísticos digitais. Carla Schwingel - 2006 Estratégias de Abertura: O Jornalismo de Fonte Aberta nos casos Indymedia, CMI, Slashdot, AgoraVox, Wikinotícias e Wikinews. André Holanda 2006 2010 Doutorado Proposta de mapeamento de mecanismos de produção de efeitos na blogosfera Jan Alyne Barbosa 2006-2007 Individual Redação Impresso, redação on line: aproximações e distanciamentos. O caso dos jornais e portais de Natal (RN). Gerson Martins 2007 2008 A construção do leitor na arquitetura da informação e estrutura discursiva dos especiais jornalísticos dos portais UOL e Terra Marcelo Souza 2007-2008 Estudo Comparado do Uso de Weblogs pela Grande Imprensa do Brasil, Espanha e Estados Unidos Lia Raquel Lima Almeida

2007 2008 Individual O estudo de recepção nas novas mídias Leonor Graciela Natansohn Tabela 1 Pesquisas realizadas no GJOL As temáticas tratadas pelos pesquisadores de Jornalismo Digital da Bahia advieram das discussões feitas no Ciberpesquisa (sobre comunidades virtuais, ciberespaço, cibercultura, interatividade, hipertexto, multimidialidade), portanto quando as pesquisas pioneiras do GJOL se iniciaram, os temas eram: 1) escrita hipertextual; 2) estrutura da notícia; 3) características do Jornalismo Digital; 4) fases históricas do Jornalismo Digital. Após, já com uma produção prévia, o foco passou a ser a tentativa de compreensão da produção do 1) radiojornalismo na internet; 2) telejornalismo na internet; 3) agências de notícias; 4) portais regionais e informação de proximidade. Em uma terceira etapa, podese dizer os temas encontram-se relacionados aos 1) sistemas automatizados de produção de conteúdos (blogs, CMS s, ferramentas de interação e publicação aberta), às 2) tecnologias associadas a bancos de dados; e o foco recai para a tentativa de compreensão de como as características diferenciadoras e constituintes do Jornalismo Digital passaram a ser aplicadas por produtos de terceira geração 5. Em termos de Brasil, a pesquisa de jornalismo digital pode ser estudada a partir de quatro grupos de pesquisadores, ou pode-se dizer, de acordo com Quadros, Mielniczuk e Barbosa (2006), que há quatro clusters : 1º) Nordeste (Bahia), como os pesquisadores do GJOL e principalmente a produção de Elias Machado e Marcos Palacios; 2º) Sul (Paraná e Rio Grande do Sul), com a producão de Cláudia Quadros (Universidade Tuiuti), bem como de professores das universidades Federal e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 3º) Sudeste (São Paulo), com a produção de Elizabeth Saad (Universidade de São Paulo) e Sebastião Squirra (Universidade Metodista); 4º) Centro-Oeste (Brasília), com a produção de Zélia Leal Adghirni (Universidade de Brasília). 5 De acordo com a produção do GJOL, a produção do Jornalismo Digital encontra-se sistematizada em 1º) a transposição dos veículos impressos, 2º) a metáfora do impresso (quando os produtos começaram a apresentar serviços e informações específicos para a internet, porém não se distanciavam da estrutura e da representação do jornal ou da revista impressos), 3º) jornalismo de terceira geração (quando os produtos e serviços são propostos de forma específica para a web). Esses períodos são denominados por fases ou classificados por gerações dos produtos elaborados.

Quadros, Mielniczuk e Barbosa (2006), ao mapear de forma qualitativa os trabalhos realizados nos primeiros 10 anos da pesquisa de Jornalismo Digital no Brasil (1995 a ), chegam aos seis principais pesquisadores acima mencionados. Além desses, há a recente produção da própria Mielniczuk (que defendeu a primeira dissertação da área, em 1998, e após terminar seu doutorado, em 2003, vinculou-se à Universidade Federal de Santa Maria (RS). 52 trabalhos de mestrado e doutorado, produzidos entre 1998 e 28 trabalhos orientados pelos 06 pesquisadores considerados mais representativos 24 outros trabalhos foram orientados por 18 doutores em 08 diferentes universidades Tabela 2 Resultados do levantamento de Quadros, Mielniczuk e Barbosa (2006) As temáticas tratadas pelos pesquisadores em destaque são: reconfigurações dos meios de comunicação; a ética, os novos formatos e práticas dos jornais digitais; as possibilidades proporcionadas pelo avanço tecnológico e os sistemas emergentes; sistematização das investigações em jornalismo digital; a falta da valorização da pesquisa aplicada no Brasil; os efeitos provocados pela tecnologia nos meios de comunicação; os novos sistemas de produção e distribuição da notícia e as novas formas de narrativas no ciberespaço; análise de modelos e processos estratégicos para a informação digital; ações de empresas de comunicação na era digital; importância da internet para a comunicação; tendências do jornalismo no ciberespaço; telejornalismo e internet; papel do jornalista nas rotinas produtivas das empresas de comunicação; as reconfigurações dos meios e da rotina devido a tecnologia, a evolução sociocultural, política e econômica. Este levantamento da área no Brasil apresentado e discutido pelas pesquisadoras, sem dúvida representa um esforço inicial de análise, mas precisa ser problematizado e aprofundado. A hipótese dos clusters pode ser interessante para uma divisão regional da produção científica, porém em uma época de redes de pesquisa e com iniciativas que buscam a integração e a produção conjunta (como foi a do próprio artigo em questão), talvez não venha a ser efetivada. O presente artigo pretendeu, de forma sucinta, apresentar o estado da pesquisa em jornalismo digital no Brasil, principalmente a partir das pesquisas e reflexões produzidas

no Grupo de Jornalismo Online, integrante do Ciberpesquisa - Centro Internacional de Pesquisa em Cibercultura - da Universidade Federal da Bahia, o principal expoente científico da área. Este trabalho foi desenvolvido exclusivamente para a apresentação no 27th Annual ILASSA Student Conference on Latin America, em fevereiro de 2007, em Austin, Texas. Referências Bibliográficas MACHADO, E. ; PALACIOS, Marcos. Um modelo híbrido de pesquisa: a metodologia aplicada ao GJOL. In: Machado, Marcia B., Lago, Claudia. (Org.). Metodologias de pesquisa em jornalismo. Petropolis: Vozes, 2007. MACHADO, Elias; PALACIOS, Marcos. La experiencia de la enseñanza del periodismo digital en la FACOM/UFBA (1995-). In CD V Congreso Iberoamericano de Periodismo en Internet. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 25/26 de Novembro de 2004. MACHADO, Elias; PALACIOS, Marcos. Modelos de Jornalismo Digital. Salvador. Calandra. 2003a. MACHADO, Elias; PALACIOS, Marcos. Manual de Jornalismo na Internet, Facom/UFBA, 1996, disponível em: http://www.facom.ufba.br/jol/producao.html. MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. Salvador. Calandra. 2003b. QUADROS, Cláudia; MIELNICZUK, Luciana; BARBOSA, Susana. Estudos sobre jornalismo digital no Brasil. In CD IV SBPjor - Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 05/07 de Novembro de 2006. SCHWINGEL, Carla. A Teoria na prática no jornal experimental Panopticon. In MACHADO, Elias e Palacios, Marcos. Modelos de Jornalismo Digital. Salvador. Calandra. 2003.