O Diálogo Florestal Brasileiro Empresas + Ambientalistas = Conservação e Restauração Florestal Miriam Prochnow 1 Edilaine Dick 2 Marcos Alexandre Danieli 3 A conservação e restauração dos ambientes naturais tem sido um grande desafio no Brasil e no mundo. Apesar de se ter ainda um longo caminho a ser trilhado e muito trabalho a ser feito, várias iniciativas, envolvendo governos e sociedade, tentam enfrentar esse desafio e oferecer diferentes oportunidades para se alcançar com sucesso o tão sonhado desenvolvimento sustentável. O Diálogo Florestal é uma dessas iniciativas. Um movimento inédito, que existe no Brasil desde 2005 e que reúne empresas do setor florestal e organizações socioambientalistas, com o objetivo de discutir agendas comuns e implantar ações conjuntas em prol da qualidade de vida e da sustentabilidade ambiental, social e econômica. O Diálogo Florestal Brasileiro foi estimulado pelo The Forests Dialogue (TFD), iniciativa internacional que existe desde 1999, criada pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável e pelo World Resources Institute. O TFD conta com a participação das maiores empresas do setor florestal mundial, grandes organizações ambientalistas, pesquisadores das ciências ambientais e representantes de movimentos sociais. Sua secretaria executiva está baseada na Universidade de Yale (EUA). Foi durante o primeiro encontro do The Forests Dialogue no Brasil, em outubro de 2003,na Bahia e que teve como tema a biodiversidade, que os convidados brasileiros começaram a conversar sobre a idéia de implantar uma iniciativa similar no Brasil, reunindo empresas e organizações ambientalistas. O Diálogo Florestal visa promover ações efetivas associadas à produção florestal, ampliar a escala dos esforços de conservação e restauração do meio ambiente, gerando benefícios para os participantes do Diálogo e para a sociedade em geral. Está organizado em um Fórum nacional e nove Fóruns Regionais e conta na sua estruturação com um Conselho de Coordenação, um Comitê Executivo (que reúne todos os Fóruns Regionais) e uma Secretaria Executiva. A secretaria executiva do Diálogo está baseada em Brasília (DF), sob a supervisão da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), sediada em Santa Catarina. Criado com enfoque voltado para a 1 Miriam Prochnow Pedagoga, Especialista em Ecologia Aplicada. Coordenadora de Polítics Públicas da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) e Secretária Executiva do Diálogo Florestal. Miriam@apremavi.org.br 2 Edilaine Dick - Bióloga, Especialista em Educação no Campo e Desenvolvimento Territorial. Coordenadora de Projetos da Apremavi e Secretária Executiva do Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina. edilainedick@yahoo.com.br 3 Marcos Alexandre Danieli - Biólogo, Mestrando em Ciências Ambientais. Técnico Ambiental da Apremavi. marcosdanieli@yahoo.com.br
Mata Atlântica, mais recentemente incorporou em suas discussões, o Pampa, o Cerrado e a Caatinga. Os temas prioritários do Diálogo Florestal são: 1 - Fomento florestal, como vetor de desenvolvimento e conservação ambiental; 2 - Ordenamento territorial, como oportunidade de pactuar o uso e a ocupação do solo na escala de paisagem; 3 - A relação entre florestas plantadas, água e biodiversidade e 4 - Áreas protegidas particulares, como fator fundamental na conservação. O Diálogo Florestal tem como metas: manter e consolidar um espaço de diálogo pró-ativo entre ambientalistas e empresas do setor florestal; gerar resultados concretos, em campo e em larga escala, para a conservação dos recursos naturais; contribuir para a melhoria da qualidade de vida humana, a partir do aprimoramento das relações da sociedade com os recursos naturais; e propor e influenciar a adoção de políticas públicas que favoreçam a proteção e a sustentabilidade dos recursos naturais. No campo das políticas públicas, em 2010, um dos temas que entrou na pauta do Diálogo Florestal, por sua indiscutível relevância, foi o da modificação do Código Florestal (Lei Federal 4771/65), em curso no Congresso Nacional. Após meses de discussões, 64 empresas, sendo 28 do setor de base florestal, construíram em conjunto com 36 das principais organizações socioambientais em atuação no Brasil, uma proposta de consenso contendo 16 pontos específicos para o Projeto de Lei que estava em discussão na Câmara dos Deputados. Apesar de somente poucas propostas terem sido acatadas pelos parlamentares a iniciativa do Diálogo Florestal mostrou que é possível haver acordo sobre pontos sensíveis para ambos os lados, abrindo caminho para uma reforma responsável da legislação. Em 2008 o Diálogo Florestal recebeu o Prêmio Expressão de Ecologia, na categoria Prêmio Especial Ação Ambiental Especial, por seu ineditismo em trazer para a mesma mesa de discussão dois setores importantíssimos para o desenvolvimento florestal e a conservação ambiental no país. Um dos desafios é transportar o modelo do Diálogo Florestal para outros setores, como por exemplo, o do agronegócio e da energia. Sempre existirão antagonismos, mas a possibilidade de diálogo é maior do que o preconceito e as oportunidades de se gerar bons frutos é enorme. Os Fóruns Regionais Cada Fórum Regional tem uma pauta específica de discussão, levando em conta as peculiaridades e necessidades locais. Fórum Florestal do Sul e Extremo Sul da Bahia Existe desde 2005. Desenvolveu diretrizes para o Fomento Florestal, que foram assumidas pelo Fórum Nacional e que estão servindo como referência para os outros Fóruns. Recentemente realizou um diagnóstico sobre a aplicação das diretrizes do fomento para a região e está desenvolvendo outros dois temas: o
Ordenamento Territorial e o Monitoramento Independente de Impactos Socioambientais da Silvicultura. Fórum Florestal do Rio Grande do Sul Iniciado em 2007, tem como principal desafio discutir a expansão da silvicultura para o Pampa de acordo com regras e zoneamento que respeitem a legislação e favoreçam a conservação da biodiversidade. Tem discutido também a questão da criação de Unidades de Conservação no Rio Grande do Sul. Fórum Florestal de São Paulo Em funcionamento desde 2008, tem como temas: Planejamento da Paisagem; Gestão Socioambiental; Parcerias Florestais; Conservação em Áreas Privadas; Água, Floresta e Biodiversidade; e Políticas Públicas. A prioridade de atuação tem sido o desenvolvimento de atividade no Corredor Ecológico Vale do Paraíba. Fórum Florestal do Espírito Santo Teve sua primeira reunião em setembro de 2008 onde definiu que um dos temas principais para a discussão no Espírito Santo é o Fomento Florestal. Realizou um diagnóstico inicial sobre plantios florestais em duas comunidades do município de Santa Teresa. Fórum Florestal Mineiro Suas primeiras reuniões aconteceram em 2008 com a elaboração do Manifesto em apoio à produção e consumo de florestas plantadas, com responsabilidade ambiental, social e econômica. Os temas principais envolvem a questão do consumo de lenha e abastecimento de carvão vegetal para siderúrgicas e guseiras, e a conservação da biodiversidade nos mosaicos florestais. Atua na Mata Atlântica e no Cerrado. Fórum Florestal Fluminense Existe desde 2008. Tem como temas prioritários: Produção: mercado florestal e produção de sementes. Licenciamento: agilidade, eficiência e descentralização. Incentivos: serviços ambientais e crédito/fomento. Legislação e Educação Ambiental. Contribuiu para o estabelecimento de normas estaduais para a implantação da silvicultura no Rio de Janeiro. Fórum Florestal do Paraná e Santa Catarina Existe desde 2008. Tem 03 grupos de trabalho em andamento: Fomento Florestal, Planejamento de Paisagem e Conservação e Socioambiental. Tem procurado influenciar a elaboração e consolidação de políticas publicas dos dois estados, o planejamento territorial e divulgação de boas práticas relacionadas ao setor, através da realização de seminários técnicos. Fórum Florestal do Piauí Em 2009 iniciaram as discussões para a instalação de um Fórum Florestal no Piauí. O primeiro trabalho foi a assinatura de um Termo de Compromisso entre a empresa Suzano Papel e Celulose e a Rede de ONGs local, sobre a implantação de atividades silviculturais no estado. O monitoramento deste termo é a principal atividade da iniciativa.
Fórum Florestal do Mato Grosso do Sul A primeira reunião do Fórum Florestal do Mato Grosso do Sul aconteceu em 2011. Os temas prioritários que estão sendo trabalhados são: Gestão dos Impactos Sociais na Silvicultura; Arranjos Produtivos Locais e Pagamento por Serviços Ambientais; e Planejamento da Paisagem. Princípios do Diálogo Florestal O Diálogo Florestal apóia seu trabalho nos seguintes princípios: Integração: as ações do Diálogo Florestal devem promover a integração dos ativos das organizações ambientalistas e das empresas. Transparência: os processos, as ações e os resultados do Diálogo Florestal devem ser difundidos amplamente, por diversos meios. Confiança: os participantes se relacionam no Diálogo Florestal sob a premissa que todos os posicionamentos e informações ali apresentados se pautam pela honestidade e pela integridade. Não exclusão: embora, por questões logísticas e orçamentárias, não seja possível incluir todos os participantes do Diálogo Florestal no fórum nacional, os fóruns regionais devem promover a participação de todas as empresas e todas as organizações que atuam com silvicultura e meio ambiente na região de sua influência. Pró-atividade: sem esconder problemas, conflitos e desafios, a participação no Diálogo Florestal é pautada pelos posicionamentos com foco na busca por soluções efetivas e resultados concretos. Respeito à diversidade: o Diálogo Florestal é um espaço onde todas as posições e opiniões são valorizadas e consideradas, prevalecendo o respeito mútuo entre todos os participantes. Compromisso: todos os participantes do Diálogo Florestal estão comprometidos com a análise crítica e responsável sobre os problemas abordados e com a construção de soluções efetivas e concretas que superem os desafios apresentados. Sobre o Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina O Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina é um espaço que está consolidado e está baseado na cooperação, resolução de problemas e consolidação de oportunidades, de maneira a gerar benefícios tangíveis para a conservação ambiental. Pretende ser não apenas um espaço de discussão, mas sim um coletivo capaz de trazer ações efetivas para influenciar o ordenamento territorial nas regiões dos plantios florestais, a elaboração e implementação de políticas públicas voltadas ao setor florestal e à conservação ambiental, e a
discussão de assuntos demandados pelas comunidades diretamente influenciadas pelos processos de produção. Este Fórum está pautado nos seguintes objetivos específicos: Influenciar positivamente em ações de conservação de remanescentes florestais e campos nativos. Ser um espaço de diálogo e planejamento que influencie políticas públicas voltadas à conservação ambiental (ICMS ecológico, plantio com espécies nativas, créditos financeiros para conservação, Pagamento por Serviços Ambientais - PSA). Desenvolver e divulgar boas práticas voltadas a conservação de remanescentes da Mata Atlântica. O Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina se reúne periodicamente a cada 04 meses, através de reuniões itinerantes que são realizadas na sede de alguma das empresas, ou de alguma ONG participante do Fórum. Parte da programação do encontro é destinada a realização de uma visita técnica, visando a troca de experiências voltadas a projetos socioambientais realizados pela entidade/empresa hospedeira do encontro. Além das reuniões coletivas, quando necessário são realizadas reuniões dos grupos de trabalhos, que possuem pautas específicas. Atualmente o Fórum conta com três grupos de trabalho: Fomento Florestal, Planejamento de Paisagem e Conservação e Socioambiental. O Fórum também definiu uma área para o desenvolvimento de um projeto piloto denominado Planejando Paisagens: Conservação e Restauração da Mata Atlântica no Paraná e Santa Catarina. O projeto tem como objetivo principal o desenvolvimento de atividades integradas de conservação e restauração de remanescentes da Mata Atlântica, através do planejamento da paisagem, educação ambiental, promoção de serviços ambientais e auxílio do desenvolvimento de políticas públicas na área de abrangência do Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina, envolvendo a comunidade local, administrações regionais, entidades governamentais e da sociedade civil e empresas florestais. O projeto abrangerá prioritariamente 12 (doze) municípios catarinenses, e um município do estado do Paraná, e a seleção destes municipios aconteceu durante as reuniões do Fórum atendendo os seguintes critérios: Áreas de Preservação Permanente (APPs) existentes no município e a restaurar, áreas do setor florestal e atuação das ONGs nesses municípios, remanescentes florestais importantes e indice de desmatamento segundo dados de 2008 da SOS Mata Atlântica/INPE, e áreas nativas prioritárias indicadas pelo PROBIO no ano de 2006. Além da elaboração deste projeto, o Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina elencou alguns desafios que estão orientando as ações deste coletivo: Necessidade de divulgar para as empresas e agricultores que não participam do Fórum a importância de se seguir a normas ambientais atuais para o plantio de exóticas, incluindo princípios de sustentabilidade em seus plantios e considerando o planejamento da paisagem.
Necessidade de manter os remanescentes florestais existentes elaborando estratégias e desenvolvimento de mecanismos que possam auxiliar na minimização do desmatamento. Levar as discussões do Fórum para a sociedade em geral e discutir demandas desta população, através do Grupo de Trabalho Socioambiental. Como forma de divulgar o objetivo e ações desenvolvidas pelo Fórum foram realizados seminários técnicos, objetivando também debater os assuntos elencados acima com a sociedade e outras empresas que não participam do fórum. O próximo seminário técnico será realizado em outubro de 2012 e terá como tema a Certificação e o Fomento Florestal. A aproximação com governos estaduais e federais, também é uma das ações realizadas pelo Fórum, o que motivou um grupo de trabalho a elaborar uma carta propositiva que foi entregue ao governo do Paraná, ressaltando a importância de definições de políticas públicas concretas para conservação da biodiversidade no estado e ações efetivas nesse sentido.15 empresas e instituições do Fórum subscreveram a carta entregue ao Governador. Os membros do Fórum entendem que são necessárias ações por parte do estado, como: fortalecer as estruturas responsáveis pela fiscalização no Estado, implantação de uma política de pagamento por serviços ambientais, criação de mecanismos de estímulo à iniciativa privada, para que realize investimentos em ações voltadas à conservação da biodiversidade; revisão do mecanismo de repasse do ICMS Ecológico aos municípios, entre outras ações. E ainda, o grupo se dispôs a participar de discussões e grupos de trabalho que visem ajudar o Estado a pensar em uma agenda ambiental sólida e propositiva. Atualmente o grupo está trabalhando na elaboração de uma carta propositiva a ser entregue para o governo de Santa Catarina, que também objetiva ressaltar a importância de políticas públicas e programas de governo que efetivamente promovam a conversação ambiental. Até o momento destaca-se como principal resultado do Fórum o estabelecimento das diretrizes do Fomento Florestal, que tem como premissas a incorporação de conceitos de sustentabilidade, respeito à legislação ambiental e respeito aos recursos naturais. Essas diretrizes estão sendo incorporadas e divulgadas aos fomentados pelas empresas participantes do Fórum Outro destaque pode ser dado à criação de um banco de dados que está em fase de elaboração, visando servir de fonte de informações sobre os participantes do Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina, bem como servir de base para a realização de projetos conjuntos de planejamento da paisagem, restauração e ações socioambientais. A criação de grupos de trabalho, foram importantes para que pautas especificas sejam discutidas no âmbito desses grupos, assim como
informações e colaborações da sociedade civil sejam trazidas para dentro do Fórum e discutidas. A realização de seminários técnicos possibilitou um estreitamento nas relações do Fórum com a sociedade, entidades e empresas que não participam efetivamente do Fórum, sendo que foram visitadas as prefeituras e secretários de meio ambiente e agricultura, visando divulgar os seminários, o Fórum, as ações desenvolvidas e ouvido opiniões especificas da sociedade sobre o setor florestal, que geraram pautas e a necessidade de criação de um grupo de trabalho socioambiental. Através desses seminários foi possível divulgar para empresas e demais atores que não participam deste coletivo a importância de seguir a normas ambientais atuais para o plantio de exóticas, incluindo princípios de sustentabilidade em seus plantios e considerando o planejamento da paisagem. Como resultado esperado, tem-se a arrecadação de fundos para a execução do projeto piloto Planejando Paisagens: Conservação e Restauração da Mata Atlântica, que permitirá elaborar estratégias e desenvolvimento de mecanismos que possam auxiliar na minimização do desmatamento. Destaca-se também que outras iniciativas e projetos que envolvem empresas e ONGs estão em curso e contam com a participação de membros deste Fórum. Assim como outras estão nascendo a partir desse envolvimento entre esses setores, sendo iniciativas essas que tem como objetivo garantir a proteção e conservação dos recursos naturais de maneira aliada com o setor produtivo. Estrutura do Diálogo Florestal Brasileiro Conselho de Coordenação Edegold Schäffer (Apremavi) Eduardo Figueiredo (Instituto BioAtlântica) Estevão Braga (Suzano Papel e Celulose) Giovana Baggio (The Nature Conservancy) Ivone Satsuki Namikawa (Klabin) Jeferson Rocha de Oliveira (Instituto Eco Solidário) João Carlos Augusti (Fibria) Marco Antônio Brito (Rigesa S.A.) Maria Dalce Ricas (Amda) Paulo Henrique de Souza Dantas (Cenibra S.A.) Secretaria Executiva Miriam Prochnow Comitê Executivo Carlos Alberto Bernardo Mesquita (Fórum Florestal Fluminense) Edilaine Dick (Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina) Elizabete Lino (Fórum Florestal Mineiro) Flávio Ojidos (Fórum Florestal de São Paulo) Julia Correa Boock (Fórum Florestal do Mato Grosso do Sul)
Thiago Belote Silva (Fórum Florestal do Espírito Santo) Maurem Kayna Lima Alves (Fórum Florestal do Rio Grande do Sul) Miriam Prochnow (Secretaria Executiva Nacional) Paulo Dimas (Fórum Florestal do Sul e Extremo Sul da Bahia) Tânia Martins (Fórum Florestal do Piauí) Contatos Diálogo Florestal Email secretariaexecutiva@dialogoflorestal.org.br www.dialogoflorestal.org.br Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina Email edilaine@apremavi.org.br