museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes



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ÍNDICE APRESENTAÇÃO 02 HISTÓRIA 02 OBJECTIVOS 02 CURSOS 04 CONSULTORIA 06 I&D 07 DOCENTES 08 FUNDEC & IST 09 ASSOCIADOS 10 PARCERIAS 12 NÚMEROS 13

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Transcrição:

museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes AT museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

câmara municipal de abrantes Presidente Nelson Augusto Marques de Carvalho fundação estrada Presidente João Lourenço Sigalho Estrada promotor Câmara Municipal de Abrantes museologia e história da arte Fernando António Baptista Pereira Colaboração (História da Arte) Luís Manuel Araújo Rui Oliveira Lopes arqueologia Luiz Oosterbeek (coordenação) Davide Delfino Gustavo Portocarrero colaboração Luís Jorge Gonçalves Manuel Calado Instituto Politécnico de Tomar restauros Justina Borralho textos Fernando António Baptista Pereira Luiz Oosterbeek Davide Delfino Gustavo Portocarrero Luís Manuel Araújo Luís Jorge Gonçalves Rui Oliveira Lopes arquitectura João Luís Carrilho da Graça Colaboração Susana Rato Nuno Barros Clara Bidorini comunicação P-06 atelier, ambientes e comunicação catálogo Paulo Passos Divisão de Comunicação / CMA fotografia Fernando Sá Baio Paulo Passos Divisão de Comunicação / CMA montagem museográfica de peças José Manuel Frazão construção Construções António Martins Sampaio, Lda produção de lettering Demetro a Metro, Lda impressão Tipografia Central do Entroncamento, Lda

museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes O Convento de São Domingos, peça central do património edificado da cidade de Abrantes, procurava uma vocação e um destino. A colecção de arqueologia do Senhor João Estrada (a que se juntaram as colecções da pintora Maria Lucília Moita e do escultor Charters de Almeida, entretanto doadas ao Município) procuravam um local para serem oferecidas à cidade, às pessoas, à comunidade. Saúdo este bom encontro, que me permite agora o privilégio de apresentar, em exposição de antevisão, o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes. Este vai ser o grande museu central da região, rica em património edificado, mas sem um grande museu de referência. Este Museu vai, com o Museu de Arte Pré-Histórica de Mação e o Centro de Interpretação de Arqueologia de V.N. Barquinha, definir um eixo patrimonial que constituirá uma marca territorial de referência e se juntará, nos incluirá e valorizará, o arco patrimonial norte de Lisboa (Sintra, Mafra, Óbidos, Alcobaça, Batalha, Tomar, Almourol). Este Museu constituiu, na política da cidade de Abrantes, um factor central de identidade, diferenciação e atractividade capaz de aprofundar a competitividade da cidade e do seu território. E é bom, e devemos orgulhar-nos disso, que uma marca da nossa identidade e diferenciação, um factor central da nossa atractividade e competitividade, se construa em torno deste riquíssimo património cultural e da introdução e reforço de funções tão nobres como o património e a cultura, a investigação e o conhecimento, a educação e a pedagogia, o turismo cultural e a integração em redes de colaboração internacional. E é com este projecto, com o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes, com estas novas e qualificadas funções, que o nosso Centro Histórico, e com ele todos nós, se re-encontra com a História e se projecta no futuro. Foi com esta certeza e esta responsabilidade que quisemos pôr-nos a caminho com uma grande equipa de projecto, com a qualidade, o prestígio e o reconhecimento público do Arquitecto Carrilho da Graça, do Museólogo Professor Fernando António Batista Pereira e do Arqueólogo Professor Luíz Oosterbeek. Caminho feito e a fazer - com grandes parceiros. O Senhor João Estrada e a Fundação Ernesto Lourenço Estrada, Filhos. A pintora Maria Lucília Moita. Mestre Charters de Almeida. A Cidade de Abrantes tem convosco uma grande dívida e está-vos reconhecida. Dívida que, todavia, só mesmo a abertura do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte virá saldar. Desde já, obrigado. Nelson de Carvalho Presidente da Câmara Municipal de Abrantes museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

raízes, orientação e resultados de uma actividade coleccionista Fundação Ernesto Lourenço Estrada, Filhos João Lourenço Estrada Final e felizmente, a colecção de arte e arqueologia da Fundação Ernesto Lourenço Estrada, Filhos encontrou um destino, um, de entre os muitos possíveis, sempre almejado pelo promotor da sua recolha e reunião, o Senhor João Lourenço Estrada. As colecções agora apresentadas através desta mostra preliminar foram reunidas com o empenho e a paixão do coleccionador que não tem por móbil a posse mas a partilha. E é por isso que aqui estão. Cada objecto, artefacto ou obra-pima foi para ele uma lição viva de história e de cultura humana que quis partilhar com todos. Foi, já desde há muito, na partilha e comentário que foi suscitando com aqueles que o acompanhavam, que o espírito refinado da selecção e da opção se foi construindo e reconstruindo. O mínimo que podemos dizer do espírito com que o Senhor João Estrada reuniu esta colecção é que foi a sua humildade e o seu ensejo de saber que edificou os critérios que presidiram à sua orientação. Ao tomar em mãos a iniciativa de gerar o contexto em que estas colecções são oferecidas à partilha e fruição da comunidade, a Câmara Municipal enobrece-se, bem como os restantes parceiros que intervêm na iniciativa. Ganha Abrantes, ganha a Nação, ganha a cultura. Nunca foi outro o intento almejado pelo Senhor João Estrada e pela Fundação Ernesto Lourenço Estrada & Filhos à qual foi doada. Um dia saber-se-á o que está por detrás da recolha de uma colecção como a que agora se apresenta. Os dilemas, o sacrifício, o prescindir muitas vezes do efémero que muitos almejam, para dedicar o coração e os terrenos bens a um intuito, a um programa, a um fim. E nunca houve vaidade. Pelo contrário, estava sempre por cumprir o objectivo, que era sempre mais longínquo. Que aqueles a quem agora se entregam estas colecções as saibam transformar numa plataforma dinâmica para ir mais além, na sua preservação, na sua valorização, nos estudos e explorações de sentido que pode suscitar. Porque é já neste patamar que ela se transformará, derradeiramente, num bem e numa aquisição cultural. Temos a certeza de que a Câmara Municipal de Abrantes e as entidades que colaboram neste projecto serão os herdeiros do espírito e dedicação que presidiu à diligência do Senhor João Estrada ao recolher estas colecções. Ele cumpriu o seu árduo papel. Cumpramos nós o nosso. José Henriques

um novo pólo de investigação e de didáctica do conhecimento A organização de um novo Museu, localizado em Abrantes mas inscrito numa lógica de rede regional e de projecção nacional, corresponde a uma necessidade há muito pressentida. O Alto Ribatejo, espaço de confluência entre a Estremadura, o Ribatejo, o Alentejo e as Beiras, ocupa o essencial do que em tempos foi designado por polígono Tomar Abrantes Torres Novas, e integra não apenas importantes conjuntos arqueológicos e históricoartísticos, mas também relevantes infra-estruturas de investigação e de valorização patrimonial, com destaque para o Instituto Politécnico de Tomar. Não existe, no entanto, um grande Museu central nesta região. Certamente que existem espaços patrimoniais de grande relevância (como o Convento de Cristo, em Tomar), mas apesar da sua enorme importância eles não são Museus globais e não dispõem de recursos laboratoriais e humanos vocacionados para a investigação (coluna vertebral de qualquer Museu). Existem também importantes núcleos museológicos (com destaque, na arqueologia, para o Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, MAP, e para o Centro de Interpretação de Arqueologia em Vila Nova da Barquinha, CIAAR), mas apesar de estes possuírem forte atractividade e uma componente de investigação de projecção internacional, são tematicamente muito especializados. A consciência da necessidade de criar um Museu com uma vocação ampla e adequado à nova dinâmica sóciocultural e económica (que polarizou a região em torno da A23), gerou um primeiro projecto há poucos anos, no quadro do 3º Quadro Comunitário de Apoio, que no entanto não se chegou a concretizar. O crescimento geométrico do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, com o apoio da autarquia, do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e da Comissão Europeia, demonstrou no entanto que a necessidade permanece. A feliz parceria que se estabeleceu entre a Fundação Estrada e a Câmara Municipal de Abrantes vem, desde logo, colmatar essa necessidade. Mas ela representa mais do que isso. Apoiado numa paixão pelo passado do território hoje Português anterior à Nacionalidade, o Sr. João Estrada consagrou grande parte dos seus recursos financeiros à organização de uma colecção de objectos que seleccionou pela sua múltipla valia arqueológica, histórica e artística, com especial relevância para a primeira e última destas dimensões. E reuniu essa colecção com o intuito não de mero usufruto pessoal, mas de disponibilização social. É isso que significa a abertura anunciada do novo Museu em Abrantes: uma parceria entre os sectores público e privado, pela qual um acervo reunido com meios privados é colocado ao dispor de toda a sociedade e com uma co-tutela pública. A reunião de uma tão ampla colecção como a que o Sr. João Estrada reuniu (cerca de cinco milhares de objectos) colocou desafios específicos ao Museu. Não se tratando de peças provenientes de escavações arqueológicas, e sim de aquisições pontuais (especialmente em leilões no País e no Estrangeiro), a definição de conjuntos coerentes do ponto de vista arqueo-histórico não é tarefa fácil. A estratégia definida desde o início, por acordo com os parceiros mencionados, foi a de realizar um inventário crítico sistemático, constituindo uma equipa multidisplinar de base e envolvendo diversos especialistas (para as temáticas específicas que aquela equipa foi identificando). Todo o trabalho de organização do Museu foi, por isso, orientado desde logo para a estruturação de um pólo de investigação, que se pretende rigoroso e aberto ao escrutínio académico. 6 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Este pólo de investigação tem uma orientação conceptual e três prioridades estratégicas. No plano conceptual, trata-se de um pólo que promove o estudo dos artefactos na sua dupla dimensão arqueológica e artística. De facto, foram estes os critérios que presidiram à formação da colecção, e o valor desta decorre deles. Nestes termos, a equipa que tem vindo a trabalhar sobre a colecção apoia-se, também, nos recursos, por um lado, do Grupo de Quaternário e Pré-História do Centro de Geociências, sedeado no Museu de Arte Pré-Histórica de Mação (para a vertente arqueológica) e, por outro, no Instituto Francisco de Holanda, secção de Ciências da Arte e do Património do Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA), sedeado na Faculdade de Belas Artes de Lisboa (para a vertente artística e museológica). Desta opção conceptual, decorrem quatro grandes prioridades. Em primeiro lugar, a focalização na tentativa de contextualizar os materiais, recorrendo não apenas a estudos de estilo (essenciais), mas também a caracterizações dos processos e técnicas de produção e dos constituintes, visando sempre que possível uma datação rigorosa dos objectos (envolvendo diversos laboratórios, no País e fora dele, por forma a cruzar resultados e potenciar a acreditação dos resultados analíticos). Esta prioridade, que foca os aspectos da proveniência dos objectos, tem permitido reunir algumas competências e protocolos de análise, que deverão permitir a criação, no futuro Museu, de um núcleo de avaliação crítica de objectos arqueológicos recolhidos fora de contexto conhecido. Em segundo lugar, o Museu definiu a preocupação de desenvolver componentes analíticas menos disponíveis no País. Neste campo, manterá estreitas relações com os laboratórios que na região e no País possibilitam a realização de estudos arqueométricos (com especial articulação com os laboratórios do IPT), e investirá especialmente na organização de laboratórios no sector dos metais, já que estes constituem uma componente especialmente relevante do acervo do Museu.

Em terceiro lugar, foi assumida como essencial a criação futura de um pólo de investigação permanente no Museu, gerido em parceria pelos dois Centros de Investigação antes mencionados. Este pólo, especialmente vocacionado para a arqueologia proto-histórica e histórica e para a história da arte, museologia e peritagem artística, deverá acolher, também, pesquisadores e estudantes de Mestrado e de Doutoramento, no âmbito dos referidos Centros. Em quarto lugar, e em estreita conexão com a prioridade anterior, foi decidido criar um núcleo bibliográfico de referência para as temáticas dominantes do Museu que permita precisamente apoiar os investigadores que se desloquem a Abrantes com um interesse nelas centrado. Este núcleo, já em estruturação, será um pólo da rede bibliográfica que já integra o MAP e o CIAAR, que tem com o objectivo atingir, globalmente, os 10.000 títulos até 2013. A exposição que agora se apresenta ilustra, como se diz no texto do Professor Doutor Fernando António Baptista Pereira, coordenador de todo o projecto, as principais temáticas das colecções do futuro Museu, que assume como componente central as colecções reunidas pelo Sr. João Estrada, mas integrará também outras, provenientes de trabalhos desenvolvidos pela Câmara Municipal de Abrantes, pelo Instituto Politécnico de Tomar e por outras entidades, além das doações de João Charters de Almeida e de Maria Lucília Moita. A selecção das obras para exposição evidencia o interesse cultural da colecção, embora não inclua diversas peças de grande relevância cujo estudo ainda decorre e que serão reveladas apenas na inauguração do Museu. É, no entanto, uma selecção já estruturada segundo o eixo programático central do Museu: promover o conhecimento e o debate alargado sobre o passado humano no Ocidente Peninsular e no Mediterrâneo, incluindo nesse debate a didáctica dos métodos e critérios de investigação. Pretendese, com efeito, que os visitantes tomem consciência da complexidade da investigação arqueo-artística, envolvendo-se no rigor dos estudos de contextualização e atribuição cultural dos objectos individualmente considerados. Nestes termos, a selecção inclui peças com claros paralelos em contextos arqueológicos escavados e bem conhecidos, mas integra também outras peças que levantam interrogações, e mesmo algumas sem paralelos. Como acontece em muitos museus que possuem colecções arqueológicas não provenientes de escavações, o MIAA tem no seu acervo muitas peças de difícil atribuição ou de, por vezes, contraditória filiação. O Museu assume como opção estratégica a exposição progressiva dessas peças, apoiada em estudos críticos, promovendo assim uma didáctica do conhecimento global, e não apenas a disseminação de interpretações histórico-culturais. Pretende-se assim escapar das soluções fáceis que seriam ou a não exposição de tais objectos (com a consequente demissão do dever de investigação) ou a sua exposição acrítica (que em nada contribuiria para fomentar o juízo crítico dos visitantes). Com a opção que agora se assume, o Museu espera concitar o interesse de investigadores externos, cuja colaboração é desejada e será acarinhada num espaço de pesquisa contínua, colectiva, transparente e academicamente rigorosa. Luiz Oosterbeek Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Tomar museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

o edifício caracterização sumária do edifício do convento de s. domingos Um antigo convento dominicano foi fundado ainda no século XV (1472), nos arredores de Abrantes, por iniciativa de D. Lopo de Almeida, 1º Conde de Abrantes, mas a insalubridade do local motivou o seu abandono, anos depois, e a transferência da comunidade para uma nova construção, junto ao centro urbano. Esse novo Convento de S. Domingos, que se tornaria um dos complexos edificados religiosos mais importantes de Abrantes, foi mandado construir por iniciativa da coroa, pelos anos de 1509-17, e sofreu obras de remodelação em 1542-47, dirigidas por Pêro Fernandes, que lhe conferiram o interessante carácter classicizante que conserva até aos dias de hoje. O convento contou com o alto patrocínio do Infante D. Fernando, filho de D. Manuel, que se faria sepultar, com sua mulher, D. Guiomar Coutinho, na capelamor da igreja. A estrutura do convento encontra-se adaptada com felicidade ao terreno de implantação, um planalto sobranceiro ao vale do Tejo. Planimetricamente, todas as dependências se encontram organizadas em redor do vasto claustro rectangular de dois andares, com arcarias assentes em elegantes colunas toscanas típicas do Renascimento português. O bloco que originalmente constituía a igreja (de nave única) encontra-se adossado à fachada poente, com frontaria saliente, e foi redesenhado pelo Arquitecto Duarte Castel-Branco para servir de entrada à Biblioteca Municipal. As fachadas poente e nascente prolongam-se para sul fazendo crer que se previa um segundo claustro ou, pelo menos, um pátio, sob o qual se situa a cisterna. De acordo com o levantamento de 1866, feito pelos militares, a fachada poente (em que se abre a portaria conventual) era mesmo a mais longa de todas, criando um vasto corpo com algumas das características dos restantes, mas avançando para sul, já completamente fora do perímetro construído, num possível projecto de alongamento enorme do segundo claustro ou pátio. Esse corpo seria muito aumentado pelos militares no sentido poente, exteriormente ao perímetro original, oferecendo actualmente um aspecto arquitectónico sem qualquer interesse, o que propicia a sua demolição com vista à implantação dos corpos de ampliação do edifício para instalação do museu. A utilização do edifício do convento pelo exército começou muito antes da extinção das Ordens Religiosas, decretada em 1834, e do próprio abandono por parte da comunidade religiosa, ocorrido no ano anterior, pois, desde os finais do século XVIII, se aquartelaram tropas em parte do convento e, a partir de 1810, se instalou mesmo um hospital militar. O mais antigo levantamento do edificado data de 1866, antes das grandes alterações promovidas pelo exército para adaptar o imóvel a hospital e a quartel. As obras modificaram profundamente a igreja, ainda hoje identificável na planimetria e volumetria do conjunto, e acrescentaram construções em vários pontos do edifício, nomeadamente no segmento sul da ala poente, como atrás se disse. Contudo, grande parte da estrutura planimétrica e da volumetria originais do convento se conservou quase intacta. Na área da portaria conventual, servida por um portal de desenho setecentista, nota-se uma reorganização espacial dessa época, envolvendo revestimentos decorativos em azulejo. Subsistem no mesmo local lápides referentes a acontecimentos marcantes da história das unidades militares sedeadas no convento ou na cidade.

Estes e outros elementos que se referem à história do edifício ou da cidade serão conservados. O rico recheio escultórico e pictórico do extinto convento foi distribuído, em 1847, pelas igrejas paroquiais de S. João Baptista e de S. Vicente da cidade, onde ainda hoje se reconhece, muito mal integrado nos altares laterais ou nas capelas-mores, e, na maioria dos casos, em sofrível estado de conservação. Pensamos que deverá ser considerada, com a abertura do museu, a hipótese do seu restauro e eventual incorporação no seu acervo. No início da década de 70 do século XX, o imóvel, entretanto parcialmente devoluto e ameaçado de demolição, sustida por intervenção do então ministro Arantes e Oliveira, foi classificado como Imóvel de Interesse Público, por decreto de Dezembro de 1974. Quatro anos antes, fora minimamente arranjado para albergar a Exposição Mestres do Sardoal e Abrantes, importante mostra de Pintura Portuguesa dos finais do século XV e primeira metade do XVI, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Só nas décadas de 80 e 90 do século passado, novas e profundas obras foram realizadas no edifício. Com projecto do Arquitecto Duarte Castel-Branco, o conjunto do que outrora fora a igreja, parte do claustro e algumas dependências contíguas foram adaptados para neles ser instalada a Biblioteca Municipal António Botto, inaugurada em 1993. Originalmente, o arquitecto pensara recuperar a totalidade do imóvel com vista à sua reutilização para fins culturais. Foi com esse objectivo em mente que procedeu à recuperação da totalidade da arcaria e das colunas do claustro, algumas delas entaipadas desde os tempos da utilização do imóvel pelo exército. Os restantes espaços do convento foram entretanto ocupados pelo Instituto Politécnico de Tomar, que aí tem vindo a ministrar diversos cursos, designadamente de Comunicação Social, tendo igualmente mandado construir, em áreas limítrofes, uma cantina. O vasto espaço que, na origem, estaria destinado a um pátio ou segundo claustro nunca construído, encontra-se actualmente utilizado, na sua maior parte, como parque de estacionamento, com uma das entradas pelo portal que liga os dois corpos da fachada poente. Trata-se de um espaço amplo, com excepcional vista sobre o vale do Tejo, que permitirá o natural prolongamento do edificado, tal como se prevê no Projecto do Ateliê do arquitecto Carrilho da Graça. Em termos artísticos, o convento apresenta alçados de alguma modéstia, à excepção do claustro, mas em quase todos eles há uma certa regularidade de implantação dos vãos que permite reconhecer a autenticidade da esmagadora maioria dos mesmos, que será respeitada. Há evidentes acrescentos relativamente recentes (séculos XIX e XX), de muito fraca qualidade, que deverão ser demolidos, para deixar o edifício respirar na sua dimensão mais próxima da construção histórica original. Também irão ser restituídos os circuitos originais de ligação entre os pisos e renovados ou aumentados esses acessos de acordo com as exigências museológicas, numa expressão claramente diferenciada. Os tectos e as coberturas apresentam diversos tipos de materiais quase sempre perigosamente combustíveis e, em muitos casos, em precário estado de conservação, pelo que terá ser encarada, no seu conjunto, a sua preservação ou substituição face às exigências e necessidades museológicas. De igual modo, serão reavaliados os pavimentos e tomadas medidas quanto à sua conservação, substituição total ou parcial e eventual alteração de cotas, tendo em atenção a circulação museológica. É aconselhável completar o fecho em vidro do claustro, nos dois pisos, para potenciar os circuitos museológicos, embora mantendo um sistema de circulação controlada entre a Biblioteca e o futuro museu. Fernando antónio baptista pereira 10 11 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

arquitectura museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Introdução O Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, a instalar no edifício do convento de S. Domingos em Abrantes, é promovido pela Câmara Municipal de Abrantes e pela Fundação Estrada. Tem como vocação fundamental apresentar as colecções de Arqueologia, de História e de Arte, desde a Pré História até à Época Contemporânea, reunidas pelas duas instituições. A proposta engloba o restauro e conservação do edifício existente e a sua ampliação, de forma a possibilitar a adaptação a Museu. Trata-se do desenvolvimento de um projecto de recuperação/ reestruturação/ ampliação com componente museológica, oferecendo condições físicas e técnicas apropriadas tornando assim possível o acesso a bens culturais, actualmente inacessíveis ao público por falta de espaços condignos, respondendo ao papel social, cultural e educativo a que um museu aspira. Situação Actual Implantado num planalto dominante sobre o vale do Tejo, localizado na Praça da Republica, O Convento de S. Domingos, edificado no séc XVI, tem uma localização e um carácter arquitectónico que à partida o individualiza e lhe confere um lugar de destaque relativamente ao centro histórico de Abrantes. O edifício alberga a Biblioteca Municipal António Botto que ocupa o conjunto do que outrora fora a igreja. Os restantes espaços do convento estão ocupados pelo Instituto Politécnico de Tomar, que irá em breve ser transferido para um novo edifício. Ao longo dos anos o convento foi alvo de obras de consolidação, nomeadamente a nível estrutural. Praticamente em todas as alas os pavimentos originais foram substituidos por lajes de betão. Apenas a ala Poente mantém ainda a sua configuração original. O edifício apresenta sinais evidentes de degradação. Para além da cobertura, que será necessário substituir, os rebocos e pavimentos estão muito deteriorados.

museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes data início projecto 2008/... Programa Projecto João Luís Carrilho da Graça, arquitecto O projecto contempla quatro grandes áreas: espaços museológicos núcleos temáticos permanentes, galeria de exposições temporárias. espaços interdisciplinares centro de investigação, centro de restauro de arqueologia e arte espaços de apoio ao funcionamento interno do museu serviços administrativos e de direcção, reservas, armazém. espaços comuns, de apoio e acesso ao público recepção, cafetaria/ restaurante, auditório (150 lug), loja/ livraria, serviço educativo, instalações sanitárias. Intervenção A proposta teve como preocupação prioritária a explicitação dos valores patrimoniais do conjunto, da mesma forma que procurou responder, com uma solução adequada e flexível, às exigências programáticas solicitadas pelo Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de que Abrantes carece. A instalação de um Museu Ibérico de Arqueologia e Arte no Convento de S. Domingos pressupõe distintas operações: convento Restauro e reabilitação do edifício existente incluindo a introdução de sistemas de infraestruturas adequados a espaços museológicos e de apoio. A nível programático propõe-se que o piso 0 do convento, seja ocupado maioritariamente por espaços de apoio ao museu. O piso 1 será destinado a núcleos expositivos. torre Proposta de um edifício novo, que integrará de forma racional e eficaz todos os sistemas (climatização, iluminação, segurança contra incêndios e intrusão, entre outros) fundamentais a um espaço expositivo, para apresentação da colecção Estrada - Arqueologia e Arte da Pré-história e da Antiguidade. Um volume de planta quadrada, com 23x33m e sete pisos - seis de exposição e um, o último, destinado a cafetaria - revestido com uma tela textil. O volume é intersectado por um vazio coleante que atravessa todos os pisos, perfurando-os. Cria-se um espaço uno de exposição inundado pela luz natural. A vista para o exterior é pontuada por uma janela em cada piso direccionada para pontos essenciais da paisagem - o castelo, o rio, a cidade. baluarte Proposta de desaterro de área envolvida pela antiga muralha para introdução do piso principal de entrada no museu (espaços comuns, de apoio e acesso ao público) e da galeria de exposições temporárias; espaços exteriores e estacionamento Requalificação da envolvente exterior, com o objectivo de servir o museu numa vertente de lazer, associada à fruição dos espaços públicos; reestruturação dos acessos viários e pedonais e do estacionamento existente à superfície. João Luís Carrilho da Graça arquitecto Colaboradores Susana Rato, Yutaka Shiki, Vanessa Pimenta, Nuno Pinho (arquitectos) Paulo Barreto e Vanda Neto (maquetistas) Vasco Melo ( fotografia) Fundações e Estrutura ADF, Engenheiros Consultores, Lda. / António Adão da Fonseca e Pedro Morujão Instalações Mecânicas Natural Works, Projectos de engenharia e optimização energética / Guilherme Carrilho da Graça Fisica dos Edifícios Natural Works, Projectos de engenharia e optimização energética / Guilherme Carrilho da Graça Acústica Natural Works, Projectos de engenharia e optimização energética / Guilherme Carrilho da Graça Instalações Hidráulicas, Gás ADF, Engenheiros Consultores, Lda. / Ferrnanda Valente Instalações Eléctricas, Telecomunicações e Segurança GPIC, Projectos de Instalações e Consultadoria, Lda. / Fernando Aires e Alexandre Martins Arquitectura Paisagista Global Lda. / João Gomes da Silva design gráfico P06 Atelier, Ambientes e comunicação Lda. Fotografia FG+SG Fotografia De Arquitectura / Fernando Guerra e Sérgio Guerra João Silveira Ramos Museologia e História de Arte Fernando António Baptista Pereira Arqueologia Luiz Oosterbeek Área Bruta 10 698 m 2 Promotor Câmara Municipal de Abrantes e Fundação Estrada 12 13 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

planta do piso -2 [cota 149,26] planta do piso -1 [cota 155,02]

FG+SG fotografia de arquitectura (Fernando Guerra e Sérgio Guerra) planta do piso 0 [cota 161,50] 1. recepção / bilheteira / loja 2. foyer/átrio 3. exposição permanente núcleo Estrada 4. exposições temporárias 5. exposição permanente: núcleo Maria Lucília Moita núcleo João Charters de Almeida núcleo história do convento 6. auditório 7. recepção serviço/central de segurança 8. centro de investigação 9. administração 10. serviço educativo 11. gabinetes técnicos 12. centro de restauro de arqueologia e arte 13. reservas 14. cargas e descargas 15. instalações de pessoal 16. pátio 17. claustro 14 15 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes planta do piso 1 [cota 167,10] a. entrada museu b. acesso núcleo estrada c. acesso convento d. acesso exposições temporárias e. entrada de serviço f. entrada centro de investigação / convento g. entrada administração

Vasco Melo

João Silveira Ramos Vasco Melo FG+SG fotografia de arquitectura (Fernando Guerra e Sérgio Guerra) 16 17 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes corte transversal

as colecções o museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes do conceito à exposição de antevisão O Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes (MIAA) tem por missão apresentar as colecções de Arqueologia, de História e de Arte, desde os tempos Pré-Históricos até à Época Contemporânea, tanto de origem local, regional e nacional como de origem internacional, recolhidas por iniciativa do Senhor João Estrada e da Câmara Municipal de Abrantes, que permitam uma visão amplamente contextualizada da sucessão, no tempo e no espaço, de culturas e de formas artísticas que se reportem às origens e evolução do que é hoje a realidade portuguesa, quer como ponto de encontro entre o mundo ibérico, o mediterrânico e o norte europeu, quer numa dimensão de expansão pluricontinental. Dada a natureza e a abrangência temática, geográfica e cronológica das colecções recolhidas, será dado o devido relevo à questão da remota individualidade das culturas que se sucederam no território do ocidente peninsular. A designação adoptada de Museu Ibérico de Arqueologia e Arte justifica-se plenamente, devido, em especial, à representatividade das colecções e à possibilidade de com elas se contextualizar o mundo ibérico no universo mais vasto do Mediterrâneo. Destaca-se, no acervo, a colecção relativa à Pré e Proto-história, assim como à Antiguidade Clássica, recolhida principalmente no antigo território da Lusitânia e regiões limítrofes, que, não temos dúvidas, suscitará, logo que seja cientificamente divulgada, pedidos para exposição e intercâmbio com outros museus nacionais e estrangeiros. Esta esperada projecção internacional justifica, desde logo, a concepção dupla de Museu e de Centro de Investigação que será implementada. O MIAA não conta apenas com colecções de Arqueologia, mas também de Arte, que se estendem desde os tempos Pré-Históricos até à Época Contemporânea, tanto de origem local, regional e nacional como de origem internacional, recolhidas por iniciativa do Senhor João Estrada e também por parte da Câmara Municipal de Abrantes, sobretudo as que integravam o antigo museu D. Lopo de Almeida, instalado na igreja de Nossa Senhora do Castelo, Panteão dos Almeidas, espaço que passará a funcionar como um anexo do novo museu. O MIAA vai ser instalado num edifício que é propriedade da edilidade, o antigo convento de S. Domingos de Abrantes, cuja caracterização histórica e artística fazemos noutro capítulo deste catálogo. Esse edifício deverá, para esse fim, sofrer obras de recuperação e de adaptação, envolvendo também uma significativa ampliação, que estão confiadas ao Ateliê JLCG, chefiado pelo Arquitecto João Luís Carrilho da Graça, recentemente galardoado com o prestigioso Prémio Pessoa. O Projecto do MIAA, que se afirma como intervenção arquitectónica autoral de excelência no centro histórico de Abrantes, é objecto de extensa e documentada apresentação nesta exposição e no catálogo que a acompanha. O signatário, que é, por escolha da Câmara Municipal de Abrantes, o autor do conceito e programa museológicos do MIAA, contou com a colaboração científica, para os períodos da Pré-História e da Antiguidade, do Prof. Doutor Luís Oosterbeek, do Instituto Politécnico de Tomar, que, desde a primeira hora, se encontra integrado na equipa multidisciplinar que irá desenhar e realizar o Museu e que assina o texto seguinte deste catálogo, sobre a importância da investigação na instituição que agora se apresenta. 18 19 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Essa equipa conta com vários colaboradores de relevo no meio académico português, alguns dos quais assinam os textos científicos deste catálogo. O MIAA irá contar com as seguintes colecções cedidas pelo Sr. João Estrada, que ascendem, de momento, a cerca de cinco mil entradas de catálogo: 1. Artefactos arqueológicos pré e protohistóricos em pedra, cerâmica, bronze e outros materiais, representativos da vida económica e social de várias culturas e povos que ocuparam diversas áreas do território nacional; 2. Escultura, artefactos militares e peças de adorno com a mesma cronologia e proveniência; 3. Exemplares de Arte da Antiguidade Oriental e Clássica, com destaque para peças egípcias, gregas, etruscas e romanas; 4. Conjuntos de ourivesaria e objectos de adorno, recolhidos no que foi o antigo território da Lusitânia, que se estendem do Calcolítico à Época Romana Tardia e à Alta Idade Média; 5. Exemplares de Arte Islâmica e das Artes Asiáticas, com especial destaque para as culturas da China antiga; 6. Numismática; 7. Fragmentos de Arquitectura Romana, Medieval e Moderna; 8. Arte Sacra dos séculos XIII a XVIII; 9. Pintura dos séculos XVII a XX; 10. Relógios de várias épocas. Por seu turno, a Câmara Municipal de Abrantes inclui no MIAA não apenas as colecções de Arte Antiga que integravam o Museu D. Lopo de Almeida (em que se destacam várias esculturas em pedra e em madeira do Renascimento ao Barroco e uma pintura quinhentista da oficina do pintor luso-flamengo Francisco Henriques), mas também os acervos de Arqueologia e História Local que têm vindo a ser recolhidos, mediante escavações arqueológicas, no território do concelho, assim como as colecções de Arte Contemporânea legadas pela Pintora Maria Lucília Moita e pelo Escultor João Charters de Almeida. Estas colecções poderão e deverão ser enriquecidas com outros depósitos, doações ou aquisições, de particulares ou de entidades locais, de acordo com a política de incorporações que vier a ser definida. A título de mero exemplo, pode dizer-se que o MIAA tem todas as condições para vir a ser o locar de conservação e restauro e de depósito, mantendo a propriedade original, com vista a uma condigna exposição, do rico património de Pintura Antiga das igrejas da cidade e da sua Misericórdia. Em termos de vocação, o MIAA será um museu interdisciplinar de Arqueologia- História e de Arte, de abrangência territorial regional-internacional e de tutela mista público-privada, que assentará em protocolos estabelecidos entre a Fundação Estrada e a Câmara Municipal de Abrantes. Relaciona-se, pela sua vocação, com os museus locais, regionais e nacionais de arqueologia, história e arte. Procurará traçar, graças à originalidade da composição dos seus acervos, um percurso programático, quer expositivo, quer de actividades, profundamente singular no panorama nacional e peninsular. Por outro lado, o MIAA não se limitará a ser um importante pólo expositivo de uma colecção que será, a vários títulos, de referência não apenas nacional mas internacional, vai também integrar, como já foi dito e extensamente se desenvolve no texto seguinte, um Centro de Investigação que irá aprofundar o estudo das suas colecções, promover novas exposições e estabelecer parcerias para projectos de investigação com Universidades, Autarquias e outros museus nacionais e estrangeiros.

Em suma, o MIAA tem todas as condições para vir a tornar-se um decisivo pólo de desenvolvimento cultural, científico e social numa região interior do País, invertendo a tendência de concentração dos equipamentos e das oportunidades na faixa litoral do território e nos grandes centros que aí se encontram. Beneficiará também dos bons acessos de que já dispõe a Cidade de Abrantes e da ligação próxima com centros monumentais, turísticos e religiosos de referência que atraem grandes fluxos de visitantes como são Tomar, Fátima, Batalha, Alcobaça ou mesmo Santarém, criando novas centralidades e novas dinâmicas de desenvolvimento sustentado. A exposição Antevisão do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes pretende, como o título indica, apresentar o Projecto de Arquitectura que o Ateliê de João Luís Carrilho da Graça concebeu para o MIAA, incluindo a recuperação do convento de S. Domingos, assim como uma visão panorâmica das principais Colecções que vão integrar o museu. O espaço escolhido foi a igreja de Santa Maria do Castelo, notável edifício dos séculos XV e XVI, relativamente bem conservado, que integra um valioso património artístico aplicado, constituído por escultura monumental (portas, arcos, púlpito), excepcionais exemplares de tumulária dos séculos XV e XVI, vestígios de frescos e revestimentos azulejares de raras tipologias arcaicas («corda seca») e, ainda, um exemplar quase único de moldura gótico-manuelina de um retábulo quinhentista, ainda in situ, subsistindo uma das pinturas que o integrou, uma Adoração dos Magos que julgamos poder filiar na oficina do pintor luso-flamengo Francisco Henriques (act. 1509-1518). A igreja alberga, desde 1931, o Museu D. Lopo de Almeida, cujas colecções passarão a integrar o MIAA, funcionando o espaço eclesial, no futuro, como anexo monumental do novo museu, como já se disse. É, portanto, nesta casa-mãe da museologia abrantina, que se apresenta o novo museu, numa exposição que valoriza, em primeiro lugar, o espaço e os seus valores monumentais e, de seguida, conduz o visitante pela descoberta do Projecto, num eixo central que parte da nave e se prolonga pela capela-mor, e pelas colecções de escultura, que se distribuem pelos quatro cantos da nave, seguindo o movimento dos ponteiros do relógio, da época romana à época barroca. Em salas anexas que completam o circuito apresenta-se uma significativa selecção de artefactos arqueológicos e artísticos: na da esquerda, numa vitrina de grandes dimensões, peças egípcias, romanas, chinesas e indoportuguesas, além de uma peça islâmica; na da direita, numa vitrina de oito metros de comprimento, um contínuo de testemunhos que se estendem do Neolítico à Idade Média. Finalmente, no Coro-Alto, uma selecção de obras do Escultor João Charters de Almeida (três maquetes de projectos recentes) e da Pintora Maria Lucília Moita (uma síntese de momentos fundamentais do seu percurso). O catálogo segue a sequência cronológica em que se arrumam as colecções. A abertura desta exposição de antevisão do MIAA, permitindo um claro vislumbre sobre a importância deste novo museu, deverá constituir o ensejo para a devida homenagem ao Senhor João Estrada, coleccionador apaixonado e visionário e notável benemérito da cidade e da região, ao disponibilizar para usufruto público esta magnífica colecção que reuniu ao longo de décadas. Desde já anunciamos que, no próximo Outono, no quadro desta exposição, será organizada uma sessão de homenagem, em que será publicado um livro reunindo estudos sobre peças relevantes das colecções que legou ao MIAA. Maio-Junho 2009 Fernando antónio baptista pereira Professor Associado da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa 20 21 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

neolítico e calcolítico Os modos de vida tal como os conhecemos actualmente são fruto duma evolução social e tecnológica que se iniciaram com a grande mudança climática que ocorreu no final do período glaciar e o inicio do actual período climático. No decurso do VI e do V milénio a.c. as comunidades humanas tornam-se mais estáveis e levam a cabo uma série de descobertas e inovações técnicas: a agricultura e a pastorícia dum lado, que permitem também criar uma estrita relação com o território, e a invenção da cerâmica por outro, que constitui o primeiro momento em que os humanos conseguem transformar quimicamente o material oferecido pela natureza. A paisagem é modificada sensivelmente pela primeira vez, abrindo-se clareiras nas florestas para se criarem campos de cultivo através do uso de instrumentos de pedra polida (CE03457). A maior produção de alimentos favorece um aumento da população juntamente com a concentração dos excedentes alimentares nas mãos de elites, possibilitando assim, sobretudo na área Atlântica Europeia, grandes trabalhos colectivos como os monumentos megalíticos, vulgo antas, que assumem o papel duplo de sítios de sepulturas dos grupos dominantes e de marcadores do território das comunidades.

Na Península Ibérica, nos adereços funerários do megalitismo alentejano e estremenho do IV milénio a.c., são muitos frequentes objectos votivos denominados placas de xisto (ce02036), que com varias evoluções de forma e decoração, chegam até meados do III milénio a.c.: a interpretação do seu significado ainda não é seguro, sendo vistas quer como uma figuração do defunto, quer como uma divindade protectora. Nos adereços funerários nas antas do final do Neolítico encontra-se algumas vezes, representações duma afirmação de poder, como os báculos de xisto (CE02035), que lembram simbolicamente o báculo de comando dos chefes. A representação da figura humana nos objectos votivos que acompanham os mortos durante o Neolítico é bastante esquemática (CE01209), abandonando progressivamente o naturalismo típico das épocas anteriores. Esta mudança do estilo figurativo observa-se também nas figurações humanas em xisto, quer em grandes placas (CE02115), quer nas mais habituais placas de menor dimensão. Mais tarde, entre o Neolítico final e o inicio do Calcolítico (III milénio a.c.), aprecem placas de xisto com uma representação ligeiramente mais humana, mas ainda abstracta (CE02034) e, já em pleno Calcolítico, no sul de Espanha aparecem figuras, raras, entre o abstacionismo e o naturalismo (CE01877). O Calcolítico, que toma o seu nome da palavra grega calcós que significa cobre, caracterizou-se por uma maior complexificação das sociedades humanas e pela descoberta da metalurgia do cobre e do ouro: o cobre, em particular, prestava-se bem para o fabrico de armas, instrumentos e adornos pessoais, dado poder ser trabalhado facilmente e ser reciclável. Os instrumentos mais característicos são os machados (CE03891), que, por vezes, ultrapassam as suas características meramente instrumentais, assumindo-se quer como objectos simbólicos de poder, quer como lingotes para as trocas de cobre (CE01824). Em Portugal, durante o Calcolítico, os monumentos megalíticos como as antas neolíticas são reutilizados como lugar de sepultura, aparecendo também estruturas de sepulcros colectivos, não megalíticas, e que tomam o nome de tholoi, edificadas frequentemente no mesmo lugar das antas neolíticas. Finalmente, a chamada Cultura do Vaso Campaniforme, que caracterizou o final do Calcolítico em várias partes da Europa, da Península Ibérica ao Sul da Inglaterra e ao Mediterrâneo; adereços funerários com o típico vaso em forma de campana, juntamente com braçais de arqueiro, botões em osso e pontas de seta de cobre do tipo Palmela (CE00222, CE01868 e CE01869), caracterizam as sepulturas duma sociedade guerreira, com um novo conjunto de armas e com o poder concentrado nos grupos familiares. Na armaria aparecem também, no período entre o final do Calcolitico e a Idade do Bronze Antiga os primeiros punhais em cobre (CE01871) que irão substituir os velhos punhais de sílex neolíticos. Biblio grafia Joáo Luís Cardoso, Pré-história de Portugal, Lisboa: Verbo, 2002 Vítor Gonçalves, Reguengos de Monsaraz; territórios megalíticos, Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, 1999 Vera Leisner, Die megalithgraber der Iberischen Halbinsel, band1/3, Erster Teil: Der Süden, Römisch-Germanische Forshungnum, 17, Berlin. Luiz Oosterbeek (ed), Territórios da Pré-História em Portugal, série ARKEOS, vols. 6-9, Tomar: Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, 2006 Davide Delfino 22 23 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Ídolo. Figura humana estilizada Sudoeste da Peninsula Ibérica, 1.ª metade do IV Milénio a.c. Osso altura (5,3 cm) comprimento (1,7 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE01209 Idol. Stylized human stylized Southwest of Iberian Peninsula, first half of 4th Millennium BC Bone height (5,3 cm.) length (1,7 cm.) width (0,2 cm.) Inv. CE01209 Machado Europa Ocidental, meados do IV Milénio a.c. Pedra, serpentina altura (10,2cm) comprimento (5,4 cm) largura (4,2cm) Inv. CE03547 Axe Western Europe, middle of 4th Millennium BC Stone, serpentine height (10,2 cm) length (5,4 cm) width (4,2 cm) Inv. CE03547

Ídolo funerário Sul do Portugal, IV Milénio a.c. Pedra, xisto. altura (10,2 cm) comprimento (7,4 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE02036 Funerary idol Southern Portugal, 4th Millennium BC Stone, schist height ( 10,2 cm) length (7,4 cm) width (0,9 cm) Inv. CE02036 24 25 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Placa Sul de Portugal?, IV-III Milénios a.c. Pedra, xisto altura (36,5 cm) comprimento (11,5 cm) largura (0,5 cm) Inv. CE02115 Plaque Southern Portugal?, 4th - 3rd Millenniums BC Stone, schist height ( 36,5 cm) length (11,5 cm) width (0,5 cm) Inv. CE02115

26 27 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Báculo Sul do Portugal, III Milénio a. C. Pedra, xisto altura (23,2 cm) comprimento (11 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE02035 Baton Southern Portugal, 3rd Millennium BC Stone, schist height (23,2 cm) length (11 cm) width (0,9 cm) Inv. CE02035

Ponta de flecha, tipo Palmela Sul de Portugal, início do III Milénio a.c. Cobre altura (1,6 cm) comprimento (7 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE00222 Arrowhead, Palmela type Southern Portugal, early 3rd Millennium BC Copper height (1,6 cm) length (7 cm) width (0,2 cm) Inv. CE02035 Ponta de flecha, tipo Palmela Sul de Portugal, final do III Milénio a.c. Cobre altura (1,9 cm) comprimento (6,2 cm) largura (0,2 cm) Ponta de flecha, tipo Palmela Sul de Portugal, final do III Milénio a.c. Cobre altura (2,1 cm) comprimento (6,7 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE01868 Arrowhead, Palmela type Southern Portugal, late 3rd Millennium BC Copper height (1,9 cm) length (6,2 cm) width (0,2 cm) Inv.CE01869 Arrowhead, Palmela type Southern Portugal, late 3rd Millennium BC Copper height (2,1 cm) length (6,7 cm) width (0,2 cm) Inv. CE01868 Inv. CE01869 28 29 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Machado Peninsula Ibérica, III Milénio a.c. Cobre altura (7,5 cm) comprimento (21 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE01824 Axe Iberian Peninsula, 3rd Millennium BC Copper height (7,5 cm) length (21 cm) width (0,9 cm) Inv. CE01824 Punhal Europa Ocidental, 2200-1800 a.c. Cobre (arsenical?) altura (11,9 cm) comprimento (3,4 cm) largura (0,4 cm) Inv.CE01871 Dagger Western Europe, 2200-1800 BC Copper (arsenical?) height (11,9 cm) length (3,4 cm) width (0,4 cm) Inv. CE01871

Ídolo funerário Sul do Portugal, III Milénio a.c. Pedra, xisto altura (15,6 cm) comprimento (7,3 cm) largura (1,1 cm) Inv. CE02034 Funerary idol Southern Portugal, 3rd Millennium BC Stone, schist height (15,6 cm) length (7,3 cm) width (1,1 cm) Inv. CE02034 30 31 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

Ídolo Sudeste da Peninsula Ibérica, final do III Milénio/início do II Milénio a.c. Osso altura (5,6 cm) comprimento (2,5 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE01877 Idol Southeast of the Iberian Peninsula, late 3rd Millennium/early 2nd Millennium BC Bone height (5,6 cm) length (2,5 cm) width (0,6 cm) Inv. CE01877

Machado Europa Ocidental, início do II Milénio a.c. Bronze altura (4,6 cm) comprimento (12,6 cm) largura (1,2 cm) Inv. CE03891 Axe Western Europe, early 2nd Millennium BC Bronze height (4,6 cm) length (12,6 cm) width (1,2 cm) Inv. CE03891 32 33 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

idade do bronze O período que compreende o IIº milénio e os primeiros séculos do Iº milénio a.c. designa-se por Idade do Bronze devido ao uso maciço que se fazia desta liga de cobre e estanho. O bronze, depois de séculos de experimentação, desenvolveuse a tal ponto que veio a substituir gradualmente outras matérias até então utilizadas no artesanato, como o sílex, pedras duras, o osso e o corno. O segredo do seu sucesso estava nas suas propriedades físicas e na possibilidade de poder ser reciclado. A procura dos metais necessários para a criação desta liga metálica levou ao nascimento fortes dinâmicas de interacção entre as populações: juntamente com os metalurgistas e os comerciantes de bronze, viajavam objectos, mas também conhecimentos técnicos e idéias. Os objectos de bronze vão assumir, portanto, um valor comercial mas também de prestígio e simbólico: os chefes que mais conseguiam acumular uma grande quantidade deste metal na forma dos artefactos, ficavam em boa posição de obter mais poder militar e político. Observa-se neste contexto uma grande difusão em toda a Europa de depósitos de objectos de bronze com diferentes funções: deposições rituais por parte da elite guerreira de oferendas aos deuses, sobretudo de espadas, normalmente em rios (gewasserfunde), e ainda depósitosreserva dos grupos de metalurgistas com objectos gastos ou de fresca moldagem, normalmente em lugares ocultos e de acesso dificultoso. Do primeiro grupo de depósitos, interpretáveis como oferendas aos deuses dos rios, fazia provavelmente parte a espada do tipo pistilliforme (CE01808), assim nomeada devido ao alargamento da lâmina na sua zona central, havendo vários exemplos de depósitos semelhantes no Bronze Final Francês. Estas armas foram introduzidas a partir do séc. XI a. C. na Europa Atlântica sobretudo por influência da Cultura dos Campos de Urnas e usadas no combate de infantaria;