Chuva intensa em parte do leste de PE ocorrida entre 08 e 10 de maio de 2016 Entre os dias 08 e 10 de maio de 2016 áreas da faixa litorânea de PE registraram chuvas intensas, com volumes expressivos, que acarretaram em muitos pontos de alagamentos, enxurradas, deslizamentos de terra e queda de árvores. Nestas 48 horas as estações automáticas do CEMADEN contabilizaram 261 mm em Olinda, onde a média climatológica para maio é entre 260 e 300 mm, em Paulista registrou 225 mm, em Umuarama 224 mm e na região metropolitana de Recife contabilizou 203 mm, quase 65% da média climatológica para maio, que é de 318 mm. Toda a região metropolitana registrou pontos de alagamentos. A defesa civil orientou 572 famílias que moram em áreas de risco a deixarem suas residências. Um prédio de dois andares mal conservado desabou após a chuva forte. Ainda foi necessário desapropriar um imóvel vizinho e mais dez casas. Fonte: g1.globo.com Abaixo seguem algumas fotos dos diversos transtornos causados pela chuva intensa destes dois dias em áreas do Estado de Pernambuco: Recife-PE Fonte:g1.globo.com Cabo de Santo Agostinho-PE Fonte:g1.globo.com Olinda-PE Fonte:TV Globo Jaboatão-PE Fonte:g1.globo.com
As figuras a seguir ilustram a precipitação observada nos dias 09 e 10 sobre o Estado. Nota-se que os maiores valores foram observados sobre a faixa leste no dia 10. Nestes dias, a Ilha de Itamaracá foi o local onde registrou o maior volume de chuva. Figura 1: Acumulados de precipitação dos dias 09/05 e 10/05. Fonte: APAC. As próximas figuras mostram as imagens de satélite entre a tarde do dia 08/05 e a tarde do dia 10/05. Nota-se que a instabilidade vinda do oceano, caracterizada por nuvens quentes principalmente, começou a se aproximar do Estado a partir do final da tarde do dia 08/05. Esta
instabilidade começou a ganhar força no decorrer do dia 09/05, quando adquiriu topos mais frios e característicos de convecção em alguns pontos. Apesar da convecção mais significativa atuar principalmente sobre o oceano, também se observa este padrão no continente, sobre a faixa leste entre o sul do RN e PE. No dia 10/05 pode-se notar que a instabilidade mais intensa ainda persistiu boa parte do dia, enfraquecendo no final da tarde, por volta das 16 horas. Figura 2: Imagens de satélite no canal infravermelho realçado nos dias 08/05 (às 17,18 e 23 h), 09/05 (às 08, 11 e 23 h) e 10/05 às 02,08 e 16 h).
Análise Sinótica: A seguir segue uma análise sinótica como uma tentativa de justificar o evento significativo sobre parte do litoral leste do Nordeste, mais especificamente sobre o leste de PE. Pode-se sugerir que o escoamento próximo à superfície estava ondulatório, uma vez que se observa a isóbara, próxima da área atingida, ondulatória, com a dianteira do cavado sobre parte da costa do Nordeste Brasileiro (NEB). Figura 3: Cartas de superfície correspondentes aos dias 9 e 10 de maio de 2016 às 00 e 12 UTC. Linhas amarelas: pressão ao nível do mar. Linhas vermelhas tracejadas: espessura 500/1000.
Nas cartas sinóticas de 850 hpa (figuras abaixo), também nota-se o escoamento ondulatório, através da linha de geopotencial, além de uma intensificação dos ventos associados a este escoamento, principalmente no dia 09/05 às 12Z. Figura 4 : Linhas de corrente em 850 hpa (em laranja), direção e intensidade dos ventos (barbelas azuis), altura geopotencial (isolinhas em amarelo) correspondente aos dias 9 e 10 de maio de 2016 às 00 e 12 UTC.
No nível de 700 hpa nota-se um reflexo do campo de 850 hpa quando se diz respeito ao campo de geopotencial. Observa-se um escoamento ondulatório e uma intensificação dos ventos às 12Z do dia 09/05 e às 00 e 12Z do dia 10/05, embora os ventos estejam mais fracos em relação ao nível de 850 hpa. Figura 5: Linhas de corrente em 850 hpa (em laranja), direção e intensidade dos ventos (barbelas azuis), altura geopotencial (isolinhas em amarelo) correspondente aos dias 9 e 10 de maio de 2016 às 00 e 12 UTC.
Nas cartas de 500 hpa, sobre parte da faixa leste do NEB, entre PE e RN, observa-se o escoamento de leste quase zonal, levemente ondulado a partir de 12Z do dia 09/05que de certa forma, contribui para o alinhamento da instabilidade observada, gerada principalmente pelo padrão observado nos baixos níveis. Figura 6: Carta de altura geopotencial em 500 hpa correspondente aos dias 9 e 10 de maio de 2016 às 00 e 12 UTC, respectivamente. Linhas brancas: altura geopotencial em 500 hpa, linhas azuis claras: linhas de corrente em 500 hpa, linhas laranjas tracejadas: isotermas em 500 hpa.
Nas cartas de altitude nota-se difluência no escoamento nos dias 09/05 às 00Z e às 12Z e no dia 10/05 às 00Z. Esta difluência em altitude gera divergência de massa neste mesmo nível, que por sua vez induz a convergência em baixos níveis, o que na presença de umidade, auxilia na formação da instabilidade, que pode ser vista nas imagens de satélite. Figura 7: Carta de altura geopotencial em 250 hpa correspondente aos dias 9 e 10 de maio de 2016 às 00 e 12 UTC, respectivamente. Linhas brancas: altura geopotencial em 250 hpa. linhas azuis claras: linhas de corrente em 250 hpa. Áreas sombreadas em verde: isotacas em 250 hpa acima de 70 Nós. Conclusão: Através das análises das cartas sinóticas nos diferentes níveis mostrados acima, se pode sugerir que, a forte instabilidade observada sobre o leste de PE se deve principalmente aos níveis baixos, onde atuou um Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL). Por outro lado, nos níveis acima, em 500 e 250 hpa, o padrão de escoamento contribuiu para reforçar esta instabilidade.
Desempenho dos modelos numéricos de previsão de tempo: Nas figuras a seguir se podem visualizar as previsões dos diferentes modelos numéricos de previsão de tempo utilizados no CPTEC para o campo de precipitação acumulada em 24 horas para até 120 horas de previsão, referente à precipitação entre 9 horas do dia 09/05 e às 9 horas do dia 10/05. Para colaborar com a avaliação deste parâmetro, as figuras mostram também a precipitação observada através do sistema MERGE. Nota-se que o modelo BRAMS 05Km não indicou a área preferencial de chuva, além de subestimar os valores de precipitação acumulada. Por outro lado, em áreas do interior do Nordeste o modelo indicou valores de precipitação acumulada onde não ocorreu chuva. Figura 8: Previsão de precipitação acumulada em 24 horas do modelo BRAMS 05Km de 24 h até 72 h.
O Ensemble médio do modelo Global do CPTEC indicou uma área preferencial de chuva mais ao sul da área atingida, com valores subestimados aos ocorridos. Em 72 horas de previsão, este modelo captou o maior acumulado de chuva em relação aos demais horários. Figura 9: Previsão de precipitação acumulada em 24 horas do modelo Ensemble Global CPTEC de 24 h até 120 h.
O modelo Eta 15Km indicou uma área preferencial para chuva significativa em 24 horas e 48 horas de antecedência em diferentes áreas, que foram mais abrangentes em relação à área em questão. Nas previsões anteriores o modelo não indicou chuva significativa. Vale ressaltar que este modelo não apresenta um comportamento persistente em relação a esta previsão. Para cada dia de previsão indicou uma área e valores de precipitação diferentes, o que diminui a previsibilidade. Figura 10: Previsão de precipitação acumulada em 24 horas do modelo Eta 15Km de 24 h até 120 h.
O modelo GFS do NCEP indicou uma área preferencial para chuva mais significativa ao sul da área em questão, porém também abrangia o litoral de PE. Dois aspectos são interessantes de se notar, este modelo indica a precipitação mais volumosa principalmente no oceano, abrangendo um pouco do litoral e mantém uma persistência no padrão de chuva em até 120 horas de previsão. Este segundo aspecto aumenta a previsibilidade e a confiabilidade para se emitir um aviso meteorológico. Figura 11: Previsão de precipitação acumulada em 24 horas do modelo GFS de 24 h até 120 h.
O modelo BAM do CPTEC indicou uma área preferencial para chuva dentro da área atingida em 96, 72 e 48 horas de previsão, embora com valores subestimados. Em 120 horas de previsão não indicou chuva alguma para a região onde se observou a chuva mais significativa. Em 24 horas a área indicada por este modelo deslocou um pouco para sul, mas também incluiu o litoral de PE. Por não apresentar uma persistência do padrão de previsão, a previsibilidade se torna mais baixa. Em relação aos valores subestimados, não permite uma conclusão de se emitir um aviso meteorológico. Figura 12: Previsão de precipitação acumulada em 24 horas do modelo BAM de 24 h até 120 h. Conclusão: Para este evento de chuva intensa em parte do leste de PE, os modelos numéricos de previsão de tempo que apresentaram desempenho satisfatório foram o GFS, seguido pelo BAM e depois ETA15, apesar de ambos os modelos não indicarem nem a área preferencial, nem a quantidade de precipitação exata. Dentre os modelos utilizados aqui, foram a partir destes citados que se identificou um padrão favorável para a chuva significativa, com o diferencial da uma análise subjetiva do meteorologista, que complementa as informações objetivas com conhecimento e
experiência. Sabe-se que a maioria dos modelos numéricos apresenta dificuldade de prever precipitação na região tropical, uma vez que utilizam teoria desenvolvida para latitudes médias. Este caso mostra a necessidade de desenvolver técnicas diferentes para a modelagem de sistemas atmosféricos nesta região. Elaborado pela meteorologista Caroline Vidal