CONTENCIOSO INTERNACIONAL: MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS (JUDICIAIS, SEMIJUDICIAIS E DIPLOMÁTICOS). SANÇÕES, MEIOS COERCITIVOS E GUERRA.

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Transcrição:

CONTENCIOSO INTERNACIONAL: MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS (JUDICIAIS, SEMIJUDICIAIS E DIPLOMÁTICOS). SANÇÕES, MEIOS COERCITIVOS E GUERRA. PROFA. ME. ÉRICA RIOS ERICA.CARVALHO@UCSAL.BR

SISTEMA JURÍDICO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS Não existe, no cenário internacional, uma autoridade suprema capaz de ditar regras de conduta e fazer exigir o seu cumprimento por parte dos Estados e das organizações internacionais. Busca por meios e soluções a priori pacíficas dos conflitos. Conceito de controvérsia internacional, segundo a Corte Internacional de Justiça (CIJ): todo desacordo existente sobre determinado ponto de fato ou de direito, ou seja, toda oposição de interesses ou de teses jurídicas entre dois ou mais Estados ou Org. Int. Pode ser de natureza econômica, política, cultural, científica, religiosa etc. Org. Int. podem se envolver em conflitos, mas não se submetem à jurisdição contenciosa da CIJ.

HISTÓRICO DA BUSCA POR SOLUÇÕES PACÍFICAS Conferências de Paz da Haia (1899 e 1907): além de promoverem uma sofisticação do direito e do conhecimento vigente até então sobre como resolver pacificamente as controvérsias, também avançaram no que se refere ao que seria admitido no campo de batalha se a guerra fosse inevitável. Convenção sobre a Resolução Pacífica de Controvérsias Internacionais (1899), art. 1 : A fim de evitar tanto quanto possível o recurso à força nas relações entre os Estados, as Potências signatárias acordam em empregar todos os esforços para assegurarem a solução pacifica das pendências internacionais. Pacto da Liga das Nações: se um membro recorresse à guerra, este ato beligerante seria considerado contra todos os membros, que iriam romper relações comerciais, financeiras e diplomáticas. Tratado De Renúncia À Guerra (1928), art 1 : As Altas Partes contratantes declaram solenemente, em nome dos respectivos povos, que condenam o recurso à, guerra para a solução das controvérsias internacionais, e à ela renunciam como instrumento de política nacional nas suas mútuas relações.

FINALIDADES DO SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS Impeditiva: solucionar as controvérsias entre Estados e Org. Int. Preventiva: prevenir que os Estados recorram ao uso privado da força no plano internacional (proibido pela Carta da ONU art. 2 3. Todos os membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçada a paz, a segurança e a justiça internacionais.[...] 4. Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.) Em Direito Internacional geral "não existe qualquer obrigação de resolver litígios, assentando os processos de resolução por meio de procedimentos formais e jurídicos no consentimento das partes. (BROWLIE apud MAZZUOLI, p. 1042)

USO DE PODER BÉLICO Eventual uso (devidamente regrado, regulamentado etc.) do poder público bélico (ou seja, daquele poder bélico comunitário ou coletivo) cabe apenas à ONU ou a entidades por ela habilitadas, máxime por decisão do Conselho de Segurança. poder público bélico em sentido estrito e uso privado habilitado.

ILEGALIDADE DA GUERRA Proibição do recurso à guerra exceto em legítima defesa ou se aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU.

MEIOS DE SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONFLITOS Diplomáticos (não judiciais) Políticos Jurisdicionais ou jurídicos Coercitivos Capítulo VI da Carta da ONU: Solução Pacífica de Controvérsias (art. 33 em especial)

Art. 33. 1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha. 2. O Conselho de Segurança convidará, quando julgar necessário, as referidas partes a resolver, por tais meios, suas controvérsias. Art. 36. 1. O conselho de Segurança poderá, em qualquer fase de uma controvérsia da natureza a que se refere o Art. 33, ou de uma situação de natureza semelhante, recomendar procedimentos ou métodos de solução apropriados. 2. O Conselho de Segurança deverá tomar em consideração quaisquer procedimentos para a solução de uma controvérsia que já tenham sido adotados pelas partes. 3. Ao fazer recomendações, de acordo com este Art., o Conselho de Segurança deverá tomar em consideração que as controvérsias de caráter jurídico devem, em regra geral, ser submetidas pelas partes à Corte Internacional de Justiça, de acordo com os dispositivos do Estatuto da Corte. Art. 37. 1. No caso em que as partes em controvérsia da natureza a que se refere o Art. 33 não conseguirem resolve-la pelos meios indicados no mesmo Artigo, deverão submetê-la ao Conselho de Segurança. 2. O Conselho de Segurança, caso julgue que a continuação dessa controvérsia poderá realmente constituir uma ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais, decidirá sobre a conveniência de agir de acordo com o Art. 36 ou recomendar as condições que lhe parecerem apropriadas à sua solução.

Não existe, em princípio, uma obrigação especial de utilização de um ou de outro meio de solução pacífica de controvérsias por parte dos Estados-membros de tais organizações internacionais. Às partes cabe a livre escolha dos métodos ali elencados no cumprimento do dever que elas têm (segundo a Carta das Nações Unidas) de concordar em fazer uso deles. Isso não significa que exista um campo inteiramente aberto ao voluntarismo estatal, pois pode o Conselho agir por sua própria iniciativa, a pedido de qualquer membro da ONU, ou em decorrência de iniciativa do Secretário Geral. (MAZZUOLI, p. 1044)

HIERARQUIA DOS MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS À exceção do inquérito, que busca apurar a verdade dos fatos ocorridos no território de determinado Estado e, portanto, é sempre prévio à via de solução de conflitos escolhida, os demais meios figuram dentro de um mesmo plano de igualdade jurídica, não havendo hierarquia entre eles. Não há um roteiro ou ordem predeterminados. Caminhos alternativos e concomitantes.

MEIOS DIPLOMÁTICOS Foro de diálogo entre as partes, buscando consenso. São vários tipos: Negociação direta (oral ou escrita) = meio mais simples, informal e comum Concessões mútuas Renúncia de uma das partes Reconhecimento do direito/razão do outro Bons ofícios = 3º (Est., Org. Int. ou alto funcionário como o Secretário Geral da ONU) se oferece ou é chamado para fazer uma intervenção benévola, aproximando as partes e facilitando o diálogo. Ex: No âmbito da OEA existe a Comissão Interamericana da Paz, criada pela Reunião de Consulta de Havana (1940), para funções de bons ofícios no sistema interamericano. Sistema de consultas = Est. ou Org. Int. consultam-se mutuamente sobre os pontos de controvérsia dos seus interesses, ao longo do tempo, preparando terreno para uma futura negociação. Geralmente as consultas são previstas em tratados e vão ocorrendo em períodos/prazos predeterminados. Ex: Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, ocorrida em Buenos Aires (1936),que deu origem a 2 convenções.

Mediação = semelhante aos bons ofícios, mas a ONU tem permitido instituições privadas como mediadoras. Além disso, tem rito mais longo e solene. O mediador não só aproxima as partes e facilita o diálogo, como participa mais ativamente, propondo até mesmo soluções. O mediador tem que ser aceito pelas partes. Conciliação = meio mais solene e formal. Tem uma comissão de conciliadores, composta por representantes dos Est. envolvidos no litígio e também de pessoas neutras. Inquérito = muito comum no interior de organizações internacionais, por meio do qual forma-se uma comissão de pessoas que têm por encargo apurar os fatos (ainda ilíquidos) ocorridos entre as partes, preparando-as para o ingresso num dos meios de solução pacífica de controvérsias internacionais, implicando o dever dos Estados em suportar a presença de pessoas ou comissões em seus territórios, bem como o dever de fornecer-lhes os dados necessários ao bom termo das investigações.

MEIOS POLÍTICOS Diferentemente da mediação, os meios políticos de solução de conflitos, dentro do seio da ONU, podem se dar sem o conhecimento de uma das partes envolvidas na controvérsia, quando a outra recorre à Assembleia-Geral ou ao Conselho de Segurança. Não é toda controvérsia que poderá chegar lá, apenas as graves e de difícil solução. A ONU poderá emitir recomendações e resoluções a serem cumpridas pelos Estados em conflito. O teor delas (neste caso, provindas do Conselho de Segurança) irá depender da gravidade do caso, podendo variar desde a tomada de medidas mais brandas até previsão de um cessar-fogo imediato. A ONU poderá também, em último caso, utilizar-se da força armada militar que os seus membros têm disponibilizado a seu favor (muito raro).

Há uma indiferença face às recomendações e resoluções do CS-NU: já que o seu descumprimento não configura um ato ilícito internacional (o que só ocorre em caso de descumprimento de uma sentença judicial ou de um laudo arbitral). Alega-se a obrigação de não ingerência/intervenção (art. 2, 7 da Carta da ONU): finalidade de impedir que Estados com maior poderio (militar, econômico etc.) subjuguem Estados mais fracos e a eles imponham sua autoridade a qualquer custo. A ONU não deve intervir somente se a questão for de jurisdição interna. Direitos humanos e qualquer tema de Tratado não são questões de mera jurisdição interna. Segundo Caçado (p. 04), a determinação das obrigações de um Estado constitui uma função internacional. Quem deve, portanto, interpretar o art. 2, 7 da Carta da ONU é a ordem internacional, e não o Est. Nac. [...] o conceito de jurisdição doméstica encontra-se atualmente subordinado às obrigações internacionais contraídas (por meio de tratados) pelos Estados, os quais passam a não mais poder invocar o art. 2, 7 da Carta da ONU como meio de impedir que as Nações Unidas resolvam politicamente (por meio de suas recomendações ou resoluções) os conflitos ali existentes. (MAZZUOLI, p. 1056)

MEIO SEMIJUDICIAL: ARBITRAGEM O tribunal arbitral não tem jurisdição permanente, é formado para o caso específico (ad hoc) Consta na maioria dos tratados atualmente e, se houver previsão, obriga as partes Compromisso: ato jurídico internacional pelo qual os Est. interessados submetem determinado litígio à arbitragem internacional, obrigando-se a acatar o que vier a ser decidido pelos árbitros. Nele se estabelece o processo arbitral a ser seguido, se designam os árbitros com seus poderes respectivos. Cláusula arbitral: pode constar em qualquer Tratado, prevendo a arbitragem como meio de solução Laudo arbitral: obrigatório e definitivo, dele não cabe recurso. As partes podem somente pedir esclarecimento (pedido de interpretação) ou arguir nulidade. Porém não há coercibilidade para a execução, que vai depender única e exclusivamente da boa-fé e honradez das partes litigantes.

MEIOS JUDICIAIS Necessidade cada vez maior de um tribunal de jurisdição internacional. Soberania como um grande óbice à efetivação da justiça internacional permanente. O Preâmbulo da Carta da ONU não se refere aos "Estados", mas sim aos "povos das Nações Unidas", o que já foi considerado, à época, um sinal de um novo conceito de soberania. Os tribunais internac. são criados por tratados e depois criam seus regimentos internos. Acórdão: obrigatório e definitivo, dele não cabe recurso. As partes podem somente pedir esclarecimento (pedido de interpretação) ou arguir nulidade. Art. 94, 2 da Carta da ONU: Se uma das partes num caso deixar de cumprir as obrigações que lhe incumbem em virtude de sentença proferida pela Corte, a outra terá direito de recorrer ao Conselho de Segurança que poderá, se julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre medidas a serem tomadas para o cumprimento da sentença".

CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA (HAIA) Principal órgão judiciário da ONU. Somente Estados podem se submeter à jurisdição da corte, outras entidades ou indivíduos não Só decide com base no direito internacional, não pode usar direito interno de nenhum Estado. Jurisdição facultativa: a Corte só funciona com o consentimento expresso das partes. O aceite pode ser renunciado a qualquer tempo, inclusive diante de sentença desfavorável (ex.: EUA em 1985, devido à decisão no sentido de indenizar Nicarágua). Composto por 15 juízes, eleitos pela maioria absoluta de votos na Assembleia-Geral e no CS-ONU por um mandato de 9 anos, não podendo ter 2 da mesma nacionalidade.

OUTROS TRIBUNAIS INTERNACIONAIS Tribunal de Justiça da União Europeia (1952) Corte Europeia de Direitos Humanos (1959) Corte lnteramericana de Direitos Humanos (1979) Tribunal Internacional do Direito do Mar (1982) Tribunal Penal Internacional (1998)

SANÇÕES OU MEIOS COERCITIVOS Fracassados os meios pacíficos de solução de controvérsias, ou caso não tenham sido aplicadas as medidas judiciais cabíveis para a solução do conflito entre as partes, estas poderão se utilizar de certos "meios coercitivos" para pôr fim ao litígio, antes do início de uma luta armada (guerra). (MAZZUOLI, p. 1072) São considerados meios de solução pacífica dos conflitos, apesar das críticas. O CS-ONU, nos termos do art. 41 da Carta da ONU, poderá aplicar "as medidas que, sem envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas decisões poderá convidar os membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas". que poderão incluir "a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer espécie e o rompimento das relações diplomáticas".

SANÇÕES OU MEIOS COERCITIVOS Retorsão: meio mais moderado. Consiste no emprego de medidas correspondentes àquelas que motivaram as reclamações não atendidas de um Estado. Ex: adoção de mesmos tributos, dificuldades específicas para migrantes. Represálias: diferente da retorsão somente porque as medidas empregadas são mais duras, violentas e arbitrárias. São reações a atos ilícitos, mas devem ser pacíficas e proporcionais. Embargo: um Estado, em tempo de paz, sequestra navios e cargas de nacionais de país estrangeiro, ancorados em seus portos ou em trânsito nas suas águas territoriais, a fim de fazer predominar a sua vontade em relação à vontade do Estado embargado. Trata-se de prática frontalmente contrária aos princípios e regras do moderno Direito Internacional, que deve ser abolida do contexto das relações internacionais contemporâneas. Boicote: interrupção de relações comerciais (partindo de indivíduos ou do Estado) Bloqueio pacífico: um Estado, sem declarar guerra ao outro, mas por meio de força armada, impede que este último mantenha relações comerciais com terceiros Estados. Ex: EUA em relação a Cuba. Rompimento das relações diplomáticas: suspensão (normalmente temporária) das relações oficiais dos Estados em conflito

CARTA DA ONU Artigo 41. O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas decisões e poderá convidar os Membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer espécie e o rompimento das relações diplomáticas. Artigo 42. No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas. Sanção coletiva

GUERRA CONTEMPORÂNEA Definição jurídica: conflito armado entre 2 ou mais Estados durante um certo período de tempo e sob a direção dos seus respectivos governos, com a finalidade de forçar um dos adversários a satisfazer a(s) vontade(s) does) outro(s),ela normalmente se inicia com uma declaração formal de guerra e termina com a conclusão de um Tratado de Paz, ou outro ato capaz de por termo às hostilidades e findá-la por completo. A guerra vem se tornando cada vez mais um meio político do que jurídico, graças aos meios econômicos de coerção e conflito de interesses. O uso da tecnologia e da ciência como meios de guerra também escapa a balizas jurídicas. Proibida pela Liga das Nações (somente entre seus membros) e pela Carta da ONU (entre quaisquer Estados). Antes do século XX, não havia proibição de guerra na ordem jurídica internacional. Carta da ONU proíbe uso da força, que é expressão mais abrangente do que guerra. Recurso à guerra é atualmente considerado um ato ilícito internacional, não podendo ser utilizado pelos Estados, a não ser em casos de legítima defesa dos seus direitos, comprovada por uma agressão injusta ou por um perigo de dano atual e iminente.

DECLARAÇÃO DE GUERRA Exigência do art. 3 da Convenção de Haia (1907) sobre abertura das hostilidades. Normalmente por nota diplomática, evitando um ataque traiçoeiro. Foram 56 na 1ª GM. Exceções: Japão atacou a esquadra Russa ancorada em Porto Arthur (1904), bem como agrediu violentamente os EUA em Pearl Harbour (1941). Da mesma forma, a Alemanha atacou repentinamente a Polônia (1939) sem qualquer aviso. Pode ser precedida do ultimatum, que é a última chance que um Estado dá a outro de atender a suas exigências sem declaração de guerra. Ex: Inglaterra em relação à Alemanha retirar suas tropas da Polônia (1939).

TERRORISMO [...] atos violentos de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, praticados de surpresa e geradores de terror, contra pessoas inocentes ou alvos normalmente sem interesse militar, voltados à demonstração de insatisfação para com os poderes constituídos, a fim de modificar ou substituir por outro o regime político existente. Pode também ser praticado para chamar a atenção da opinião pública sobre determinado ponto de interesse ou, ainda, para manter um regime (normalmente antidemocrático) vigente em determinado Estado e em vias de ser alterado. Trata-se de uma forma extrema de ação política, normalmente ligada a conflitos regionais, em que se busca o avanço de uma determinada causa e o restabelecimento do equilíbrio perdido no quadro do conflito em que se insere. (MAZZUOLI, p. 1094)