Boletim informativ Centro de Antropologia e Arqueologia Forense CAAF Unifesp

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Transcrição:

Boletim informativ Centro de Antropologia e Arqueologia Forense CAAF Unifesp VIOLÊNCIA DO ESTADO NO BRASIL: UM ESTUDO DOS CRIMES DE MAIO DE 2006 NA PERSPECTIVA DA JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E DA ANTROPOLOGIA FORENSE Técnica de análise forense em casos de lesão por arma de fogo: reconstrução 3D com software livre, a partir de informações do laudo necroscópico. A pesquisa intitulada Violência do Estado no Brasil: Uma análise dos crimes de maio de 2006 na perspectiva da Antropologia Forense e Justiça de Transição objetiva desenvolver um estudo sobre os Crimes de Maio de 2006, para evidenciar a forma de atuação das polícias e os procedimentos e instrumentos jurídicos adotados pelo Estado. Este é um projeto do CAAF desenvolvido em cooperação com a Universidade de Oxford e financiado pelo Newton Fund. Foram destacados os episódios de mortes por armas de fogo (execução de civis e de agentes do Estado) ocorridos no mês de maio de 2006, na região metropolitana da Baixada Santista, estado de São Paulo, Brasil, para realização da pesquisa antemortem, perimortem e pósmortem, com identificação da distribuição geográfica desses crimes e os caminhos burocráticos de consecução de laudos periciais e necroscópicos. Espera-se, com este projeto, apresentar dados que permitam evidenciar a situação de violação de Direitos Humanos vigente, considerando que foram registrados inúmeros casos de morte sem a devida investigação, identificação e punição de seus responsáveis, apesar das constantes manifestações dos familiares das vítimas e de organismos de defesa dos Direitos Humanos. Além disso, busca-se fortalecer as pautas dos movimentos das comunidades que são, atualmente e de forma sistemática, constrangidas pela violência de agentes do Estado com ações muito semelhantes àquelas cometidas durante a Ditadura militar no Brasil. Neste sentido, esta proposta pretende organizar um conjunto de protocolos que possam ser reconhecidos e implementados pelo Estado, com o objetivo de promover e desenvolver a democracia brasileira. Para tanto, foram estabelecidos os seguintes procedimentos metodológicos: 1. Estudo Bibliográfico e documental: a) Levantamento e estudo de artigos relevantes e atuais sobre os Crimes de Maio 2006; b) Estudo antemortem e perimortem a partir do cruzamento de informações de familiares e sobreviventes, de testemunhas e de documentação produzida nos Institutos de Criminalística; c) Protocolos de análise post-mortem na literatura internacional; d) Técnicas de análise forense em casos de arma de fogo a partir da reconstrução 3D com base nos laudos necroscópicos; e) Processos movidos por familiares (leitura integral de cada um). 2. Pesquisa para elaboração de mapeamentos e comparações, além de informar proposição de protocolos para o trato da violência policial. 3. Pesquisa do material midiático: a) Levantamento nos arquivos dos meios de comunicação (jornal local e nacional) sobre os crimes de maio e análise de conteúdo das reportagens. 4. Depoimento de familiares das vítimas (mortos e/ou desaparecidos) de maio de 2006 para construção de narrativas, contendo o contexto social, a história de vida, circunstância da morte, procedimentos após a morte e informações sobre as respostas obtidas. Um dos desafios desta pesquisa é elaborar uma narrativa sobre os Crimes de maio de 2006 na Baixada Santista, a partir das vozes dos familiares das vítimas. A memória construída e revelada pelos depoentes comporá a narrativa histórica referente aos crimes. A construção da narrativa é, portanto, uma articulação de vidas e visões de mundo. Nesse sentido, o cuidado metodológico é o de não silenciar ou hierarquizar conteúdos, sentimentos, expressões; como também, de observar os movimentos da memória operados pelo depoente - tanto de domesticação como de irrupção. Assim, a narrativa histórica em construção fundamenta-se na rela- 1

ção entre Memória e História. Busca-se continuidades, relações e nexos, para a constituição de um quadro explicativo, a partir do diálogo entre as narrações dos depoentes e os conjuntos documentais. A partir dos pressupostos e procedimentos metodológicos definidos para esta pesquisa, serão realizados três encontros com os familiares para convidá- -los a compartilhar suas memórias. No primeiro encontro será apresentada a proposta do projeto e a metodologia de coleta do depoimento, incluindo o roteiro investigativo. A coleta do depoimento será realizada no segundo encontro, momento em que esperamos conseguir a autorização do sujeito para a gravação em áudio. O familiar terá tempo livre de fala para narrar não somente os fatos, mas também para falar sobre a história de vida e situação de morte da vítima. Ao término de cada depoimento o pesquisador terá a oportunidade de dialogar com o familiar sobre quaisquer informações que não tiverem sido apresentadas no depoimento. O terceiro encontro terá o objetivo de apresentar a narrativa escrita pelos pesquisadores e obter a aprovação, por parte dos depoentes, do produto final. Para obtermos os depoimentos, tanto dos familiares das vítimas que estão organizados no Movimento Mães de Maio como daqueles que não estão, será imprescindível a presença de uma representação do Movimento no primeiro encontro dos pesquisadores com os familiares. Também definimos que pelo menos um dos pesquisadores presente no primeiro contato acompanhará o processo da coleta do depoimento e a interlocução com o familiar durante o decorrer da pesquisa. Tal cuidado se fez necessário para fortalecer a manutenção de vínculos entre depoentes, pesquisadoras(es) e o movimento popular. De modo geral esta pesquisa estabeleceu procedimentos metodológicos que implicam na construção e interpretação de uma narrativa que gere conhecimento, a partir da atuação conjunta da universidade e movimento social pesquisadores e depoentes são reconhecidos como sujeitos, sobre a violência policial e o desrespeito dos Direitos Humanos no Brasil na atualidade. 1. THOMPSON, Paul. A voz do passado História oral. R. J.: Paz e terra, 2002. 2. KOSELLECK, R. Los estratos del tiempo: estudios sobre la historia. Barcelona: Paidós, 2000. JUSTIÇA MAIS ALÉM DOS LIMITES DAS FRONTEIRAS OS CRIMES TRANSNACIONAIS DA OPERAÇÃO CONDOR Depois de quarenta anos, conseguir justiça para os crimes transnacionais cometidos nas décadas de 1970 e 1980 pela coordenação repressiva conhecida como Operação Condor continua sendo, ainda e em grande medida, uma conta pendente na América do Sul. É fundamental enfrentar os crimes do passado para garantir a proteção dos direitos humanos no futuro, e isso requer esforços concertados a nível regional. O Centro Latino-Americano (LAC Latin American Centre) da Universidade de Oxford lançou um relatório de análise política, Justiça mais além dos limites das fronteiras: Os crimes transnacionais da Operação Condor. Este relatório está baseado em um estudo sobre a investigação dos crimes da Operação Condor que foi realizado entre 2013 e 2016. Nesse período, também foram feitos dois workshops de trabalho nos quais participaram acadêmicos/ as, advogados/as, juízes, promotores, especialistas/as em políticas públicas e ativistas da sociedade civil da Argentina, 2 do Brasil, do Chile e do Uruguai. O relatório destaca os principais desafios e obstáculos que tem atrasado até o momento a investigação dos crimes transnacionais na América do Sul. Também se apresentam três propostas de políticas públicas que se consideram necessárias para poder superar essas dificuldades em toda a região: Estabelecer equipes multidisciplinares dedicados a investigar as violações dos direitos humanos; Criar uma base de dados ou reposição, a nível regional, que contenha informação sobre os crimes da Operação Condor; Gerar circuitos mais ágeis de transmissão da informação, documentação e provas para os processos penais. Este relatório é um dos principais resultados do projeto de colaboração e intercâmbio de conhecimento realizado pelo LAC, com o Ministério da Justiça e Direitos Humanos do Chile e com o Observatório Luz Ibarburu do Uruguai, ocorrido entre 2015 e 2016. O relatório pode ser acessado no site do CAAF (https://goo.gl/ttsl1h).

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE VIOLÊNCIA DE ESTADO: DIREITOS HUMANOS, JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E ANTROPOLOGIA FORENSE N o Brasil, o campo da Antropologia Forense pouco se desenvolveu para o desvelamento da verdade sobre as graves violações de Direitos Humanos cometidas pela ditadura. O país segue sem capacitação para a resolução dessas violações, que continuam a ocorrer no período pós-autoritário. Realizado em parceria com a Universidade de Oxford e com financiamento do Fundo Newton do Conselho Britânico, o evento Seminário Internacional sobre Violência do Estado faz parte do projeto Violência do Estado no Brasil: um estudo dos Crimes De Maio de 2006 na perspectiva da Antropologia Forense e da Justiça de Transição, que conta com diversas linhas de ação, desde a pesquisa de campo para a busca da verdade sobre parte dos crimes de maio de 2006 até a pesquisa sobre a Justiça de Transição e a continuidade autoritária. O evento, que será realizado de 27 a 29/03 no Campus São Paulo da Unifesp, tem como objetivo trazer pesquisadores, militantes, membros ou ex-membros do Estado ou governo em áreas correlatas, reconhecidos no campo da Justiça de Transição, no debate sobre a violência de Estado e na área da Antropologia Forense e Direitos Humanos. As inscrições podem ser feitas até o dia 26/03 nesse link https://goo.gl/ptkrrg. WORKSHOPS Responsabilidade corporativa e justiça de transição A construção da narrativa histórica em periódicos Operação Condor em julgamento na América do Sul: processos de responsabilidade em perspectiva comparada Para que(m) serve a ciência? A produção de conhecimento científico junto aos movimentos populares na perspectiva da justiça de transição 3

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ANTROPOLOGIA FORENSE E DIREITOS HUMANOS Profa. Dra. Cláudia Plens (CAAF/UNIFESP), coordenadora do curso, Dr. Celso Perioli (Secretário Nacional de Segurança Pública) e Samuel Ferreira, perito médico-legista (SENASP/MJC) e coordenador Cientfco do Grupo de Trabalho Perus (GTP). No intuito de desenvolver e consolidar o conhecimento na área de Ciências Forenses no Brasil, o CAAF promoverá um curso de especialização em Antropologia Forense e Direitos Humanos com a participação de especialistas nacionais e internacionais. O objetivo do curso é ampliar o conhecimento e aplicação das áreas de Direitos Humanos e em Antropologia Forense, e capacitar e especializar profissionais de modo a refletir modos como a sociedade brasileira possa encontrar meios para lidar com a diversas formas de violência sobre os indivíduos. Apesar do crescimento da luta pelos Direitos Humanos em todos os quadrantes do planeta, indiferentemente de nacionalidade, raça, sexo, etnia, religião ou outra condição, em todo o mundo vítimas de violências contra os direitos essenciais do indivíduo acontecem contínua e recorrentemente. Os órgãos internacionais de defesa dos Direitos Humanos postulam que vítimas de violações de seus direitos essenciais à vida têm direito a justiça, à verdade e à memória. Em países onde a violência contra os indivíduos é recorrente e ofensiva, as Ciências Forenses são fundamentais para se elucidar os processos que levaram à morte de indivíduos e se iniciar tratativas para reconciliar a sociedade. No Brasil o cerceamento do direito à vida e bem-estar social vem ocorrendo de maneira ininterrupta e contundente. Perpetrado por diferentes agentes sociais assistimos a um processo de violência contínuo, que se perpetua com o genocídio de grupos indígenas, se alastrando por outros segmentos mais frágeis da sociedade. Além disso, a violência e opressão originárias no período da Ditadura Militar se prolonga nos dias atuais no Brasil e, por essa razão, é essencial que as explicações das causas de mortes sejam divulgadas e explicadas aos familiares das vítimas. Mas mais do que isso, é incisivo mostrar para a sociedade como um todo que crimes podem ser apurados para que 4 seus agentes sejam responsabilizados. Problemas de violência demandam um esforço coletivo e o papel da universidade é acreditar na possibilidade de mudarmos, de nos recriarmos como sociedade. Queremos ousar e ajudar a pensar o modo de enfrentar o problema de violência e desaparecimento de pessoas. É nesse intuito que o curso vem sendo organizado, explica a arqueóloga Profa. Dra. Cláudia Plens (CAAF/UNIFESP), coordenadora do curso. As Ciências Forenses necessitam recorrer a uma ampla gama de disciplinas que possibilitem lidar com diferentes vestígios, como por exemplo a arqueologia forense, medicina, genética, balística, botânica, tafonomia. Destaca-se entre as disciplinas a Antropologia Forense, ponto essencial para a identificação do indivíduo. Por essa razão, um curso dessa dimensão requer um corpo de professores especialistas em áreas bastante específicas do conhecimento. Do ponto de vista da perícia, o outro

coordenador do curso, Samuel T. G. Ferreira, perito médico-legista (SENASP/ MJC) e coordenador Científico do Grupo de Trabalho Perus (GTP), acredita que a promoção desse curso será de extrema importância para a perícia em Antropologia Forense no Brasil. O país necessita cada vez mais de profissionais especializados nessa área, seja em razão de trabalhos de perícia em casos de desaparecimentos políticos do passado, seja em casos de desaparecimentos do presente em que um número elevado de restos mortais não identificados necessita de perícia altamente qualificada nos Institutos de Medicina Legal. O curso terá em seu corpo docente professores universitários, pesquisadores e peritos oficiais nacionais e internacionais com experiência reconhecida em Antropologia Forense, Ciências Forenses, investigações criminais, direitos humanos e identificação de pessoas desaparecidas, com participação ativa em pesquisas acadêmicas e trabalhos científicos. O modelo como esse curso foi estruturado é inédito no país, proporcionando capacitação diferenciada de recursos humanos em Antropologia Forense, bem como troca de experiências entre profissionais e instituições nacionais e internacionais. Dessa forma, entendemos que esse curso terá profunda importância na Perícia Oficial do País, no meio acadêmico e universitário e na produção de conhecimento, ganhando com isso a Antropologia Forense, as investigações, a Justiça e, sobretudo, a Sociedade, conclui Samuel. A promoção desse curso de especialização, que visa o ensino e extensão universitária, é um desdobramento do projeto de pesquisa em vigência no CAAF, em parceria com a Universidade de Oxford, Violência de Estado no Brasil: o estudo dos Crimes de Maio de 2016 na perspectiva da justiça de Transição e Antropologia Forense, que conta com apoio do Newton Fund do Conselho Britânico. O curso se desenvolve de uma parceria do CAAF com a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) do Governo Federal e conta também com o apoio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). 5