SER POLICIAL MILITAR NO NORTE DE GOIÁS: O COTIDIANO DE TRABALHO EM UM UNIVERSO DE CARENCIAS E RISCOS ( )

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1 SER POLICIAL MILITAR NO NORTE DE GOIÁS: O COTIDIANO DE TRABALHO EM UM UNIVERSO DE CARENCIAS E RISCOS ( ) Nome dos autores: Adriano dos Anjos Alves 1 ; Mariseti Cristina Soares Lunckes 2 ; 1 Aluno do Curso de História-UFT; Campus de Araguaína-TO; adriano_anjos16@hotmail.com PIBIC/CNPq 2 Orientador(a) do Curso de História-UFT; Campus de Araguaína-TO; lunckes@oul.com.br RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar e evidenciar o cotidiano dos policiais militares no norte goiano registrado nos Boletins Internos do 3 BPM Batalhão Tocantins, de 1977 até Para tal, levar-se-á em consideração sua formação, a imposição de condutas, a disciplina, as exclusões, a precariedade, as doenças, os riscos enfrentados pelos policiais, problematizando e contextualizando o modo como esses policiais enfrentavam e lidavam com as mais diversas situações. Ao evidenciar, registrar e analisar as fontes documentais do Batalhão Tocantins, buscou-se apresentar a história dos policiais militares em ação no cenário de trabalho através da reconstrução dos fragmentos deixados na documentação pesquisada (Boletins Internos). A sua leitura criteriosa possibilitou verificar os desdobramentos do trabalho policial que se efetivaram, assim como os meandros de sua ação cotidiana. Os registros organizados e problematizados a partir de um aporte teórico metodológico e pesquisa historiográfica oportunizaram enxergar as condições de trabalho e as carências vivenciadas por estes homens de farda. Palavras-chave: Cotidiano; Polícia Militar; Riscos. INTRODUÇÃO Ao trabalhar as fontes documentais do Batalhão Tocantins, buscou-se apresentar a história dos policiais militares do círculo de praças 1 em ação no cenário de trabalho através da reconstrução dos fragmentos deixados na documentação pesquisada (Boletins Internos). A possibilidade de uma leitura criteriosa permitiu verificar os 1 Círculo de Praças refere-se aos policiais das mais baixas patentes, como soldados, cabos e sargentos. Página 1

2 desdobramentos do trabalho policial que se efetivaram, assim como os meandros de sua atuação cotidiana. Os registros organizados foram problematizados a partir de um aporte teórico metodológico e da pesquisa historiográfica, de modo a enxergar as condições de trabalho e as carências vivenciadas por estes homens de farda e suas histórias de vida. Assim, no decorrer da pesquisa, procurou-se identificar os ajustes efetivados pelos policiais militares de baixa patente para sobreviver e atender as demandas pela ordem no sertão do norte goiano. Dentro do contexto apresentado, o trabalho com as fontes policiais que compõe o acervo documental do atual 2º Batalhão de Polícia Militar de Araguaína/TO, possibilitou a organização de dados relativos a temas específicos do cotidiano da história da Polícia Militar do norte de Goiás. MATERIAL E MÉTODOS Com relação às fontes primárias, o trabalho está direcionado para os Boletins Internos da Polícia Militar do antigo norte goiano, produzidos no período de 1977 até Os Boletins Internos são documentos oficiais que se encontram disponíveis no CDH (Centro de Documentação Histórica) da Universidade Federal do Tocantins UFT, campus de Araguaína. Trata-se de documentos que expressam parte do cotidiano dos policiais militares, assim como as relações de poder existentes entre as diferentes camadas hierárquicas da corporação. Também estão voltados para o registro de todas as questões internas do próprio batalhão, como os casos de arbitrariedades cometidos pelos policiais militares; os inquéritos para apurar esses casos; o quadro de policiais escalados para o trabalho do dia; as práticas de exercícios físicos e os cursos de formação para os policiais, entre outros. Dessa forma, o trabalho com estas fontes significa trazer para a pesquisa histórica as temáticas que tratam das práticas e experiências de vida de um grupo de trabalhadores diferenciados da sociedade. A base para a execução da pesquisa é o método indiciário de Ginzburg (1989), que acredita ser necessário ampliar métodos e fontes a serem trabalhadas pelo historiador, de modo que o mesmo deve fazer um trabalho do tipo detetivesco, analisando até os pequenos fragmentos do seu objeto de pesquisa. Com isso, durante a pesquisa foi preciso captar as pequenas pistas presente nas fontes e, consequentemente, os vestígios. Dentro deste contexto, o método indiciário de Ginzburg possibilitou uma investigação através da observação, da leitura e da interpretação de evidências. Página 2

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto à produção bibliográfica, foram selecionados alguns autores que ajudaram a pensar as diferentes dimensões do objeto de pesquisa. Dentre essas leituras destacam-se as publicações de Bretas (1998), como na revista Estudos Históricos, quando o autor trabalha o tema: A polícia carioca no Império. A formação do que conhecemos hoje como polícia teve início no Brasil Império, quando se instaurou uma junta de homens com a finalidade de manter a ordem pública. Com o passar dos anos esta foi se aperfeiçoando, ganhando mais espaço e tendo mais efetividade no meio social. Em um estudo mais recente sobre a polícia, Bretas (2013) faz um balanço do universo policial no Brasil, abordando a repercussão do tema nas universidades e o aumento do interesse por parte dos acadêmicos. O assunto gradativamente vem sendo objeto de estudos e trabalhos na academia. No livro Padrões de Policiamento, David Bayley (2001), faz uma abordagem sobre o policiamento ao redor do mundo. O autor procura mostrar algumas particularidades da polícia em diferentes países, como as variações e os padrões, o seu desenvolvimento, a estrutura do policiamento, o poder e o trabalho, suas relações com a sociedade e com as demais instituições. Apesar de o autor trabalhar mais precisamente a polícia moderna, o mesmo retorna aos primórdios do seu objeto de pesquisa, desde os mecanismos de manutenção da ordem pública até o que conhecemos hoje por polícia militar, estabelecendo, consequentemente, as relações de todo o processo. Muniz (1999), em sua tese de doutorado, dá ênfase à cultura e ao cotidiano da polícia do Estado do Rio de Janeiro. A autora divide o trabalho em duas partes. Na primeira procura enfatizar os aspectos que dizem respeito ao trabalho da polícia, tanto na sua formação e organização, como em suas ações e modos de agir como agentes do Estado. Na segunda parte a autora dá ênfase aos aspectos relacionados à formação da cultura policial das ruas, que viabiliza o trabalho ativo do policial no seu dia-a-dia. Tem-se, com isso, as relações dos policiais militares com a sociedade e a forma como estes realizavam seu trabalho, sendo agentes da lei, da ordem e do Estado. Os mesmos eram responsáveis pela construção da imagem do policial associada à sua missão e à sua conduta profissional. Dessa forma, para que o trabalho policial tivesse efetividade era preciso todo um aparato que o legitimasse como mantenedor da ordem pública. E isso Página 3

4 implicava vários aspectos na esfera de suas atribuições, pois, para saber a consecução dessa efetividade, era preciso vigiar aqueles que vigiam. Ou seja, era preciso saber se o trabalho policial estava sendo feito de acordo com os regimentos legais, sem infringir os direitos humanos e civis. Foucault (1987) foi um dos autores trabalhados para entender como o policial foi construído, uma vez que as punições disciplinares no interior das instituições de polícia são evidenciadas pelas autoridades como pedagógicas. Assim, as punições formam o bom policial e devem ser vistas pelo historiador como uma função social complexa (FOUCAULT, 1987, p. 24). A vida militar é cheia de regras e normas que devem ser respeitadas. Caso essas regras não sejam cumpridas, o soldado é punido. Viver sob essa rigidez militar gera certo descontentamento, ocorrendo a burla e os desvios que são punidos pelas autoridades através dos castigos disciplinares. Para o autor, é necessário estudar não só as formas gerais de um dado objeto ou centrar apenas em seus efeitos negativos, mas coloca-los na ordem dos acontecimentos, mesmo que isso leve ao lado mais obscuro das punições (...) suas fraquezas e seus excessos, entre seus exageros e suas lacunas (FOUCAULT, 1987, p. 68). LITERATURA CITADA Fontes Documentais POLICIA MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS: 3º Batalhão de Polícia Militar - Batalhão Tocantins. Araguaína. Boletins Internos. Quartel do 3º BPM em Araguaína ( ). Bibliografia BAYLEY, David H. Padrões de Policiamento: uma análise internacional comparativa. São Paulo: Edusp, Série Polícia e Sociedade. BRETAS, Marcos Luiz. A polícia carioca no Império. Revista Estudos Históricos: Polícia. Rio de Janeiro, vol. 12, nº 22, 1998, p BRETAS, Marcos Luiz; ROSEMBERG, André. A História da Polícia no Brasil: balanço e perspectivas. Topoi: Revista de História. Rio de Janeiro, v. 14, n. 26, p , jan./jun Página 4

5 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, p. GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, MUNIZ, Jaqueline. Ser policial é, sobretudo, uma razão de ser : cultura e cotidiano da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro p. Tese (Doutorado) IUPERJ: Rio de Janeiro. AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil" Página 5