Ana Lisa Silva Cátia Cristina Santos. Sónia Isabel Ferreira Vanessa Guapo

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Transcrição:

A depressão na 3ª idade Trabalho elaborado por: Ana Lisa Silva Cátia Cristina Santos Rui Santos Sónia Isabel Ferreira Vanessa Guapo

Envelhecimento O envelhecimento bem sucedido Por volta de 1960 começaram a desenvolver-se esquemas acerca do envelhecimento bem sucedido: sucessfull aging (Havighurst, 1961) Ambiguidade id d do termo sucesso: não há uma definição i consensual. Definição de Palmore (1995); sucesso como combinação de 3 factores: Sobrevivência (longevidade) Saúde (ausência de doença) Satisfação com a vida (felicidade)

Teorias gerais sobre o envelhecimento Teoria da desvinculação (Cumming & Henry, 1961) Recolhimento e desinvestimento dos papeis sociais devido a diminuição das capacidades Para Havighurst, tal constitui uma tarefa desenvolvimental Segundo alguns autores já se encontra desactualizada Teoria da actividade (Lemon, Bengston & Peterson, 1972) Melhor envelhecimento participando em muitas actividades: busy ethic Teoria restrita: dá relevo apenas a um determinado estilo de vida, que nem todos querem ou podem seguir.

Teorias gerais sobre o envelhecimento Teoria da continuidade (Athley, 1972) Melhor envelhecimento mantendo hábitos, preferências e estilo de vida da meia idade Importância do exercício, boa nutrição e actividades interessantes para manter o corpo e mente saudáveis Importância de na meia idade: Aprenderem técnicas de redução de stress Aprenderem estratégias de coping face à mudança Actividades de lazer não muito exigentes Manter um sistema de apoio social Manutenção da auto-estima

Factores que colocam em causa a associação de passividade/perda id d d ao envelhecimento Distinção entre envelhecimento normal/patológico e óptimo O número de de doenças aumenta com a idade, mas o declínio físico e mental não tem que acompanhar o envelhecimento normal Selectividade de esforços e utilização de estratégias para compensar perdas devidas ao envelhecimento optimal aging

Factores que colocam em causa a associação de passividade/perda id d d ao envelhecimento Resultados das investigações sobre o paradoxo do bem-estar subjectivo: Não há um tempo para ser feliz, mesmo na velhice. Apesar de perdas e limitações, os idosos podem ser felizes. Reconhecimento da importância de outras variáveis, que não a idade, no risco de declínio na velhice: Pobreza, pouca escolarização ou solidão Birren & Schaie (1996): efeito da idade, do sobrevivente e de corte Constatação de menor prevalência da depressão e doenças mentais nos idosos mais velhos Vários sub-estádios: idoso jovem (65 aos 75-80anos); idoso (75-80 aos 90 anos) e idoso velho (dos 90 anos em diante)

A depressão A natureza da depressão A depressão clínica é denominada como a vulgar patologia da psiquiatria (Seligman, 1975) A qualquer momento das suas vidas, 15 a 20% dos adultos sofrem de sintomatologia depressiva significativa A média da depressão entre as mulheres das nações civilizadas do ocidente é duas vezes maior do que a dos homens (Brown & Harris, 1978) D ã l d i ã á i f i bi ló i Depressão resulta da interacção entre vários factores, entre os quais biológicos, históricos, ambientais e psicológicos

A depressão Estes factores incluem: Distúrbios no funcionamento dos neuro-transmissores História clínica familiar de depressão ou alcoolismo Acontecimentos de vida negativos recentes Ausência de suporte social adequado e baixa auto-estima, entre outros Depressão clínica é bem diferente das experiências transitórias de mau-humor Alguns sintomas mais comuns de depressão: Tristeza e choro Sentimentos de culpa Irritabilidade, ansiedade e tensão Indiferença Desinteresse pelas actividades normais Energia reduzida Concentração difícil Insónia e perda de apetite Desejo de morrer; pensamentos de suicídio

A depressão Cerca de 15% dos deprimidos suicidam-se (Coryell & Winokur, 1982) Na maioria dos casos, a depressão desenvolve-se por tempo limitado (3-6 meses) As recaídas são frequentes e 15 a 20% das pessoas tornam-se doentes crónicos O tratamento deve ter como objectivo: Acelerar a recuperação Manutenção dos aspectos positivos Redução da probabilidade de ocorrência

O modelo cognitivo da depressão Modelo cognitivo da depressão de Beck Experiência conduz as pessoas a formarem esquemas sobre si mesmas e sobre o mundo Esses esquemas vão ser utilizados na organização preceptiva, no controlo e avaliação do comportamento Capacidade para prever e atribuir significado às experiências individuais é uma grande ajuda para o funcionamento normal. Alguns esquemas, no entanto, são rígidos, extremos, resistentes à mudança e disfuncionais Esquemas disfuncionais isolados não são relevantes para o desenvolvimento da depressão. Os problemas surgem quando incidentes críticos ocorrem combinados com o sistema de crenças das pessoas.

O modelo cognitivo da depressão Uma vez activados, os esquemas disfuncionais originam uma sobre-produção de Pensamentos Automáticos Negativos Provêm inconscientemente do sujeito, sem processo deliberativo Associados a emoções desagradáveis

O modelo cognitivo da depressão Estes pensamentos podem constituir interpretações de experiências correntes, previsões relacionadas com futuros ou recordações de eventos passados e podem levar a outros sintomas de depressão: Sintomas comportamentais, motivacionais e emocionais Sintomas cognitivos e físicos À medida que a depressão se desenvolve, os pensamentos automáticos negativos tornam-se cada vez mais frequentes e intensos Ciclo vicioso: Mais grave a depressão Maior número de pensamentos depressivos e crença neles Mais depressivos os sujeitos se tornam

O modelo cognitivo da depressão Alguns pontos gerais relativos ao modelo cognitivo: 1. Foi desenvolvido e tem sido extensivamente estudado, de modo prioritário, para a depressão 2. O facto de que as cognições influenciam o humor não implica que o pensamento negativo cause depressão 3. A depressão pode ser vista como o resultado de variáveis predisponentes e precipitantes (biológicas, desenvolvimentais, sociais e psicológicas) 4. O pensamento depressivo não causa depressão; é, sim, parte dela. 5. As cognições podem contribuir para despoletar, expandir e manter os sintomas, pelo que formam um ponto ideal para a intervenção.

O modelo cognitivo da depressão Depressão Experiências (prévias) Formação de esquemas disfuncionais Incidentes críticos Esquemas activados Pensamentos automáticos negativos Sintomas depressivos

O modelo cognitivo da depressão Sintomas depressivos comportamentais motivacionais afectivos cognitivos somáticos

A depressão na terceira idade Sinais e sintomas da depressão em idosos O distúrbio depressivo afecta uma em cada dez pessoas acima dos 65 anos É o mais comum no que toca a saúde mental em idosos Importante distinguir a depressão major. Critérios da depressão na DSM IV A depressão nos idosos tem essencialmente as mesmas características que noutra fase da vida Provas insuficientes no sentido da existência de um sub-tipo de depressão única para idosos

A depressão na terceira idade Mas, por outro lado, existem algumas evidências que apontam para um subtipo O envelhecimento pode acentuar algumas caracteristicas da depressão, mas pode suprimir outras. Alguns aspectos que modificam a manifestação da depressão na terceira idade:: 1. Reduzidas queixas de tristeza 2. Hipocondria e preocupações somáticas em vez de tristeza 3. Ansiedade marcada 4. Apatia e fraca motivação

Prevalência da depressão na terceira idade Cerca de um em cada oito idosos terá sintomas clinicamente depressivos Vários estudos acerca da prevalência da depressão em idosos: 1. Cuidados médicos primários: 17 a 30% 2. Idosos hospitalizados: 10 a 45% 3. Lares ou cuidados médicos domiciliários: 30 a 45%

Prevalência da depressão na terceira idade A prevalência aumenta com a idade? Estudos Usando critérios para depressão Major Usando critérios de uma depressão menor Taxas mantêm-se ou diminuem Taxas aumentam com a idade

A etiologia da depressão na terceira idade Envelhecimento Não existem estudos que provem que seja, por si só, um factor de risco O risco está na sua associação ao aumento de problemas de saúde Factores predisponentes: 1. Mulheres mais predispostas para a depressão 2. Historial de depressões anteriores 3. História i familiar de depressão

A etiologia da depressão na terceira idade Viuvez ou divórcio Mudanças nos neuro-transmissores Comorbilidade médica, incapacidade ou deficiência Medicação Falta de suporte social, entre outros Factores precipitantes Acontecimentos de vida adversos (roubo, separação, doenças) Stress crónico (diminuição da saúde, declínio sócio-económico económico, isolamento ou solidão)

A etiologia da depressão na terceira idade Factores protectores 1. Qualidade dos cuidados médicos 2. Comportamentos t de coping positivos 3. Suporte social

Comorbilidade e depressão A interacção entre saúde e doença e os distúrbios depressivos é complexa e bidireccional. Deste modo: 1. A depressão pode ser um factor de risco para as doenças do coração, nos idosos 2. Sintomas depressivos associados a incapacidade e ao declínio físico 3. O estado nutricional pode afectar e é afectado pela depressão 4. A depressão coexiste frequentemente com outros sintomas psiquiátricos 5. Os profissionais de saúde devem focar-se tanto nos problemas médicos como nos sintomas psiquiátricos

FIM DA APRESENTAÇÃO