1 ASSESSORIA EM FINANÇAS PÚBLICAS E ECONOMIA PSDB/ITV NOTA PARA DEBATE INTERNO (não reflete necessariamente a posição das instituições) N : 189/2009 Data: 12.03.09 Versão: 1 Tema: Título: Mercado de Crédito Evolução Recente do Spread Bancário no Brasil Resumo: Um dos determinantes da evolução do mercado de crédito no Brasil é o spread bancário ou seja, a diferença entre a taxa de captação de recursos e a taxa de empréstimo de recursos ao público. É sabidamente divulgado que o spread bancário brasileiro é um exageradamente elevado quando comparado a de outros países. Este apresentou uma tendência de redução bem delineada a partir de meados de 2003 e só teve essa trajetória interrompida em meados de 2007, quando surgiram os primeiros sinais da crise mundial. Obviamente, a explicação básica para essa retomada do aumento do spread bancário é o maior risco que as instituições financeiras estão incorrendo ao realizar empréstimos em um cenário tão incerto. Porém, uma explicação mais plausível para o elevado spread no Brasil é o elevado patamar da taxa básica de juros. Uma Selic alta torna a aplicação de títulos públicos, por parte dos bancos, muito atrativa, aumentando o custo de oportunidade das operações de crédito. Evolução Recente do Spread Bancário no Brasil Um dos maiores pilares de sustentação do crescimento de uma economia capitalista é o crédito, como é bem sabido por todos. A disponibilidade e o custo envolvido nos empréstimos acabam por determinar, em alguma medida, a disposição do empresariado realizar investimentos produtivos e conseqüentemente permitir a expansão econômica. No Brasil, apesar da relação Crédito/PIB ter apresentado uma evolução significativa nos últimos anos, este indicador ainda está muito aquém do que poderia ser principalmente se comparamos com outros países como a China ou até mesmo o Chile. Dentre os principais responsáveis pelo modesto desempenho do mercado de crédito no Brasil estão as elevadas taxas de juros e a alta diferença entre a taxa de captação e a taxa de juros dos empréstimos
2 realizados pelos bancos mais conhecida como spread bancário. Este último é o foco da presente nota. O spread bancário brasileiro usualmente tem a característica de ser muito elevado quando comparado a outras economias, o que certamente contribui negativamente para o nível de crédito na economia. Apesar disto, desde meados de 2003 que o nível de spread no Brasil mostrou uma tendência de queda, especialmente o spread das operações voltadas para pessoas físicas o crescimento da modalidade de crédito consignado (com menor risco para os bancos) ajudou neste processo. Esta queda no spread foi um dos fatores que contribuíram para o aumento da relação Crédito/PIB recentemente. A queda pode ser notada no gráfico adiante: Evolução do Spread Bancário - jun/00 a dez/06 Ponto Percentual 70 60 50 40 30 20 10 0 jun/00 set/00 dez/00 mar/01 jun/01 set/01 dez/01 mar/02 Apesar de se desenrolar com menor intensidade, este processo continuou ao longo do ano de 2007 e só foi ser interrompido em 2008, chegando nos últimos meses do ano e no primeiro mês de janeiro a patamares similares ao do período em que se iniciou a redução do spread, em 2003. jun/02 set/02 dez/02 mar/03 jun/03 set/03 Em janeiro de 2009 o spread bancário geral (pessoa física mais pessoa jurídica) chegou a um nível de pouco mais de 30 pontos percentuais. As operações apenas de pessoas física apresentaram dez/03 Mês Pessoa Física Pessoa Jurídica Geral mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06
3 este indicador na ordem de 43,6 pontos percentuais bem superior a média geral, como historicamente se apresenta. Já o spread das pessoas jurídicas ficou em 18,75 pontos percentuais no primeiro mês deste ano. O gráfico abaixo mostra a evolução a partir de 2007 do spread nos três níveis (geral, pessoa física e pessoa jurídica): Evolução do Spread Bancário - jan/07 a jan/09 Ponto Percentual 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 jan/07 fev/07 mar/07 abr/07 mai/07 jun/07 jul/07 A explicação mais plausível para o crescimento do spread em 2008 é, obviamente, a intensificação da crise mundial. A partir de um cenário de instabilidade seria natural esperar que os fornecedores de crédito ficassem mais temerosos passassem a cobrar mais pelo empréstimo, haja vista o aumento do risco. Além disso, o número de inadimplências cresceu a partir do auge da crise internacional isso contribuiu para que os bancos aumentassem ainda mais a sua margem de segurança. ago/07 set/07 out/07 nov/07 dez/07 jan/08 Existem ainda outras teorias para a explicação do elevado spread bancário brasileiro. Por exemplo, Oliveira e Carvalho (2007)1 têm um teoria bastante interessante e afirmam que o principal fator a determinar o spread no Brasil é a alta taxa básica de juros (Selic) praticada por aqui: [...] além de implicar maior risco de inadimplência nas operações de empréstimos, a prática de altas taxas fev/08 Mês Pessoa Física Pessoa Jurídica Geral mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 1 OLIVEIRA, Giuliano Contento de; CARVALHO, Carlos Eduardo. (2007). O componente custo de oportunidade do spread bancário no Brasil: uma abordagem pós-keynesiana. Economia e Sociedade, Campinas, v. 16, n. 3 (31), p. 371-372 404, dez. 2007.
4 básicas de juros, ao tornar a aplicação em títulos públicos muito atrativa para os bancos, faz com que o custo de oportunidade envolvido nas operações de crédito seja também muito elevado. Isso faz com que os bancos embutam um prêmio de risco suplementar nas margens cobradas para a concessão de empréstimos, além de aumentarem o grau de exigências junto aos mutuários, seja sob a forma de colaterais, seja de prazo de pagamento, já que terão como base o retorno obtido a partir da aquisição de papéis do governo, ativos de risco quase nulo e liquidez e remuneração elevadas. Esta é uma explicação bastante pertinente e que é comprovada pelas estatísticas, pelo menos para as operações de pessoas físicas e para o total de operações (pessoa física mais pessoa jurídica). Quando se calcula o grau de correlação entre o spread bancário e a taxa Selic over obtém-se os seguintes resultados: CORREL Selic x Spread Total 0,749702 CORREL Selic x Spread PJ 0,155655 CORREL Selic x Spread PF 0,779104 Na comparação Selic x Spread Geral a correlação atingiu 0,75 resultado bastante elevado e que pode ser considerado uma forte explicação para o fenômeno. O mesmo ocorre com o crédito para pessoas físicas, que apresenta uma correlação até um pouco maior: 0,78. Apenas o caso da pessoa jurídica que a Selic parece não ter tanta influência no spread. De qualquer forma, direta ou indiretamente, a explicação básica para o elevado spread bancário acaba sendo a taxa de juros. A inadimplência é oriunda do elevado custo do crédito, que começa a se formar a partir da determinação da taxa básica de juros da economia. A política monetária altamente conservadora do atual governo está
5 contribuindo para que este problema se perpetue no Brasil. Em tempos de crise o mínimo que se espera é que o governo se mexa. Não parece que o nosso não está se mexendo...