O IDEARIO REPUBLICANO E A PROPAGAÇÃO DA EDUCAÇÃO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA (1870 A 1930).

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Transcrição:

O IDEARIO REPUBLICANO E A PROPAGAÇÃO DA EDUCAÇÃO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA (1870 A 1930). Eixo Temático: História e Historiografia da Educação. RESUMO Dr.Jorge Uilson Clark- Unespar Dra Elisabeth Streisky de Faria-Unespar O presente estudo analisa a difusão do ideário republicano partir de 1870, ou seja, em pleno Império ocorria o Movimento Republicano e os debates pelos seus ideólogos junto às elites, com objetivo de atraí-los. Até o último momento, a velha Monarquia procurou ajustar a sua política com intuito de permanecer mais tempo no poder, porém, a crise política e econômica vivida pelo Império e sua inadequação aos novos tempos fez com que esse sistema ruísse. Após a consolidação da República e a elaboração da Constituição de 1891, no qual o Brasil adotou o regime presidencialismo representativo, os problemas continuaram, uma vez que o Estado, dominado por forças políticas elitistas, constituída a partir de um modelo oligárquico representados pelos proprietários de café dos Estados mais ricos, permaneceu no poder até as vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). As dificuldades de importação de mercadorias levam os capitalistas brasileiros a investir no setor industrial, o que favoreceu para que novas classes sociais emergissem no setor urbano. Com o tempo eles passam a exigir o direito de participação nas eleições, mas para isso, havia a necessidade de instruí-los uma vez que a grande maioria eram analfabetos. Com a criação das escolas públicas a partir de 1891, o governo republicano pretendia implantar sua ideologia mudando a sociedade, formando os novos cidadãos dentro de uma mentalidade progressista e inovadora. Palavra Chave {Política, Império, República; Educação. Escolarização}

O IDEARIO REPUBLICANO E A PROPAGAÇÃO DA EDUCAÇÃO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA. (1870 A 1930). Dr. Jorge Uilson Clark- Unespar Dra. Elisabeth. S. de Farias- Unespar Introdução. O presente estudo visa analisar a difusão do ideário iluminista republicano e a propagação da educação durante a Primeira República também conhecida como República Velha A divisão da República em ordem cronológica tem como intuito facilitar o trabalho de quem estuda História e a História da Educação Brasileira. Entre as dificuldades que a ciência histórica apresenta, uma das maiores relaciona com a periodicidade, pois não dá para simplesmente dizer: a partir desse momento interrompemos o estudo realizado sobre a Monarquia e iniciamos o estudo sobre a República, já que em diferentes momentos os fatos históricos se interpenetram. Não é pelo fato que a República tenha sido proclamado em 1889, que a vida econômica e social ocorreu a partir daí, pelo contrário, já em 1870, ou seja, em plena Monarquia iniciava o Movimento Republicano. Durante esse período muitas das mudanças pretendidas já vinham sendo promovidas pelos diferentes gabinetes ministeriais do Império. Era a velha Monarquia buscando ajustar a sua política com intuito de permanecer mais tempo no poder. Entretanto, isso não aconteceu, devido, principalmente a crise econômica e política vivida pelo Império que fez com que uma parte das elites descontentes com o Império engrossasse as fileiras republicanas. Para o desenvolvimento desse trabalho utilizamos como aporte teórico autores como: Bello (1972); Felizardo (1980); Love (1975) entre outros. O pressuposto teórico de que partimos é de que o ideário republicano apresentava como proposta de mudança diferenciando do modelo do Império tornandose um dos seus principais pilares, porém, para diferenciar do modelo do Império cujo

objetivo era a instrução das elites com poucos investimentos voltados para as classes populares e nas instituições públicas do ensino elementar. Os republicanos procuravam defender o interesse público, as mudanças sociais dando maior importâncias a escolarização pública, principalmente com o advento da urbanização e da industrialização quando a cultura letrada passa por valorização e torna uma exigência do mundo moderno, cujo a escola torna-se o local privilegiado para a disseminação do conhecimento técnico e cientifico. O desenvolvimento desse trabalho deu-se a partir da organização e análise de material já elaborado com relação ao tema estudado, constituído por publicações avulsas, jornais, revistas, livros, artigos e teses, trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfica. Procuramos estruturar o trabalho da seguinte maneira: 1.0- Inicio do Movimento Republicano (1870), onde aparece o ideário republicano com base no iluminismo, as mudanças que ocorre nesse período com crescimento urbano e surgimento das primeiras fábricas e dos operários nas principais cidades. 2.0- Educação, Escolas na Primeira República, quando é analisado a educação a partir da Constituição Republicana e as Reformas empreendidas com o objetivo de reestrutura-la. E, finalmente, 3.0- A criação e funcionamento das escolas graduadas ou dos grupos escolares. A partir de 1893, em São Paulo até 1930, quando inicia a Era Vargas e se promove a renovação educacional. 1.0-Início do Movimento Republicano (1870 a 1889). O Governo Imperial que foi instituído com a Independência do Brasil (1822) pretendia manter intocável o latifúndio escravista e preservar os privilégios da elite rural, porém com o passar dos anos, essa estrutura montada nos pilares social e econômico demonstrou sua incapacidade de acompanhar a evolução pelo qual o Brasil passava, notadamente, a partir de 1870, quando evoluíram os meios de transportes com o seguimento da rede ferroviária e a navegação a vapor. No campo, mais precisamente no Oeste Paulista, as fazendas de café adquiriram caráter de empresa com os seus proprietários mecanizando a sua produção, e nas regiões onde antes produziam cana de açúcar nos velhos engenhos, aos poucos foi sendo

substituídas por usinas mais modernas. Contribuíram para mudanças, o crescimento populacional nos centros urbanos, a crise do sistema escravista e a introdução de imigrantes como trabalhador assalariados. Em 1870, entre o eixo Rio de Janeiro e São Paulo, surgem pequenas indústrias Segundo RIBEIRO (1980): A indústria de chapéus foi uma das primeiras a aparecerem no País, veio logo depois da indústria de tecidos grosseiros para escravos. As primeiras fábricas estabeleceram-se no Rio de Janeiro, produziam chapéus de feltros e de seda. A matéria prima vinha inteiramente do exterior. No início, o processo de produção era manual e empregava um grande número de trabalhadores: em 1856, no Rio de Janeiro as 14 fábricas de chapéus empregavam 433 operários das quais 141 eram escravos e 186 estrangeiros, imigrantes portugueses (1980, p.5). As primeiras indústrias funcionavam de forma rudimentar utilizando o sistema manual já que a mecanização do processo produtivo começou por volta de 1860/1870, com a introdução da máquina de costura, melhorando a qualidade do produto. Já na década seguinte 1880/1890, a indústria chapeleira cresce e se expande para São Paulo, Bahia, além do Rio de Janeiro. Esta fase de mudanças e crescimento vivida pelo Brasil com: o surgimento das indústrias, o advento da urbanização, o aparecimento da estrada de ferro, do telegrafo, da locomotiva e, nas cidades, a emersão de uma nova classe social, não foi acompanhado pelo Regime Imperial que além de demonstrar pouco vigor político para continuar dirigindo o Brasil, afundava-se em crise determinado por fatores como o movimento republicano, os conflitos entre o governo imperial com a Igreja e o exército e, principalmente, o processo abolicionista. A não adequação do Regime Imperial a nova realidade e a crise econômica que viveu o País em 1877, contribuíram para que os ideais republicanos fizessem presente acentuando o antagonismo entre os tradicionais senhores de terras que governavam o país como se governassem suas fazendas e a burguesia comercial (COSTA, 1974, p.77). Na medida em que os republicanos avançavam e ganhavam espaço na sociedade, novas instituições surgiam comprometida com seus ideais, como a fundação no Rio de Janeiro do Clube Republicano em 3 de dezembro de 1870. Nesse mesmo ano surge o Jornal A República, principal responsável pela

publicação do Manifesto, que contou com a colaboração de, com intelectuais comprometidos com a causa republicana, como: Quintino Bocaiúva, Saldanha Marinho e Salvador Mendonça, assinavam também O Manifesto representantes liberais das mais variadas profissões, dentre os quais haviam 12 advogados, 9 médicos, 5 engenheiros, 5 jornalistas, 3 advogados jornalistas, 3 funcionários públicos, 3 professores, 1 fazendeiro e 1 capitalista (QUEIROZ, 1974, P.19). Entre as críticas feitas pelos republicanos ao regime imperial, a que mais pesava era contra o poder moderador, que concedia plenos poderes ao Imperador, atendendo sua vontade pessoal e servindo ao seu despotismo. Embora outras questões fossem denunciadas pelos republicanos como, diferença de raça, posição econômica e a manutenção dos privilégios das elites em relação à sociedade, continuou prevalecendo a desigualdade social, pois não tinha os republicanos a intenção de alterar a ordem econômica, muito menos a ordem social, mas atrair novos adeptos para sua esfera fortalecendo politicamente a causa republicana, daí evitar discutir assuntos polêmicos, como, por exemplo a Abolição da Escravatura, pois não desejavam comprometer-se com os ricos agricultores do Sul. Sem prever que os elementos mais inteligentes da grande lavoura seriam os primeiros a antecipar-se a escravidão, inaugurando por conta própria, o trabalho livre do colono estrangeiro (BELLO, 1972, p.17) Nas vésperas da Proclamação da República o Movimento estava estruturado da seguinte maneira em todo país: 77 jornais e 273 clubes republicanos. Mas enquanto as elites participavam das mudanças políticas, participando dos debates, a população permaneceu alienada desse processo. A justificativa dada pelos republicanos é que a população pouco leitura tinha, portanto, tinham dificuldades de entender o processo. Sendo assim, as informações sobre o Movimento para a população só podiam ser difundidas oralmente. A respeito do Assunto afirmava SILVA JARDIM [...] tinha-se em verdade passado o tempo das revoluções feitas somente à força da espada ou à força do dinheiro: o essencial era preparar a opinião pública e com alguns niqueis no bolso para a estrada de ferro e com uma garganta para os discursos, também se

podia abrir caminho para a República. (SILVA JARDIM, in: QUEIROZ 1947, p.7) Seguindo uma linha doutrinária liberal democrática, os republicanos procuravam afastar os elementos mais radicais do partido, fortalecendo o pensamento moderado que acreditavam no uso das palavras como meio de persuasão, condenando a pretensão da ala mais revolucionária ligada a Silva Jardim que pretendiam chegar ao poder mesmo que fosse necessário o uso da força Acreditavam os ideólogos moderados que não havia a necessidade de derramamento de sangue, pois a revolução desde a muito se encontrava amadurecida e podia ser realizadas com palavras, considerada por eles como importante arma de discussão, instrumentos pacíficos da liberdade, da qual se promove à revolução moral e que ampliavam os direitos políticos (MANIFESTO A REPÚBLICA, 3/12/1870). Os republicanos ao colocar o Regime Imperial sob constante acusações pretendiam promover seu desgaste político junto à opinião pública e com isso abalar a confiança dos que defendiam o Império no Congresso, como era o caso do Senador Francisco Gonçalves Martins, Barão de São Lourenço, que utilizou uma das sessões do senado para assim declarar: A força e o prestígio com que tanto trabalha os partidos tinham ganhado para o governo do país estão mortos, e as províncias começaram a perder a fé no Governo do Império, nada esperando em seu bem antes contínuos obstáculos a seu programa pelas más administrações. (ANAIS DO IMPÉRIO DO BRASIL, 1808, V.II, p.155). Com a implantação da República em 1889, evidenciaram duas correntes dentro do Partido Republicano na disputa pelo poder. A primeira, representada pelos republicanos históricos liderados por Quintino Bocaiúva e que pregava uma ação política moderada; e a segunda, representada pelos radicais do partido, liderado por Silva Jardim que pregava a tomada do poder pelo uso de força. No confronto entre ambas venceu a ala moderada. Durante a implantação da República, assim se manifestou Quintino Bocaiúva A República como nós a queremos e como a temos proclamado em vários dos nossos manifestos, tem de ser e deve ser um governo de liberdade, de igualdade, de fraternidade, de justiça, de paz, de progresso e de ordem, de garantia para todos, os direitos e de respeitos

para todos os interesses legítimos. Na alma nacional, fixou-se com a inspiração da ideia republicana a ideia de que o fim da Monarquia deve fatalmente coincidir com o fim do Segundo Reinado. Julgo poder assegurar que somos chegados ao período agudo da crise social e política da nossa pátria e que a nação brasileira tem demonstrado a sua firme intenção de repelir energicamente a hipótese do Terceiro Reinado Rio de Janeiro, 22 de maio de 1889 Quintino Bocaiúva (O País, 22 de maio de 1889). A consolidação da República seguido pela elaboração da Constituição de 1891, deu ao Brasil um regime presidencialista e representativo. Apesar dela ser anunciada como de tendência liberal e democrático, foi esse regime dominado por força política elitistas, constituída a partir de um modelo de Estado Oligárquico, no qual prevaleceu os interesses dos grupos dominantes dos Estados mais ricos, isto é, às oligarquias cafeeira de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro. A ingerência desse grupo no Estado levou a Primeira República a não avançar com seu projeto de modernização, pelo contrário, fez com que a Primeira República se tornasse um sistema político estagnado e viciado sob os quais as elites regionais controlavam desde as eleições, os partidos, as autoridades e também o povo. Alternando-se no poder esse modelo político ficou conhecido como a política do café com leite, em razão dos seus representantes ser oriundos de Minas Gerais ou de São Paulo, Estados responsáveis por indicarem os candidatos a presidência da República. Com a República do café com leite iniciou um sistema que tinha por objetivo incrementar o programa financeiro, fortalecendo o poder pessoal do presidente, ao mesmo tempo em que buscava promover o equilíbrio político através da instauração do regime federativo. A partir de 1900, inaugurava a Política dos Governadores ou dos Estados, no qual buscava empreender o entrosamento entre União e Estados. Esse modelo refletiu diretamente na atuação do Congresso que assumiu papel de submissão perante aos desígnios presidenciais, e sujeito a troca de favores, atendendo, principalmente aos grupos oligárquicos das unidades federativas assegurando seus interesses, tipo de prática política que perpetuaria as grandes famílias oligárquica no poder.

A esse respeito afirma LOVE (1975): A base desse sistema estava a mecânica eleitoral excludente e corrupta. Os analfabetos não votavam; num país quase sem escolas, apenas 6% da população constituía o eleitorado. E a maior parte desse eleitorado era manipulado. Primeiro pelo voto de curral, predominante no interior, onde o incontestado poder dos coronéis agrupava os submissos eleitores em grupos fechados, votando em quem o potentado escolhesse. Segundo, pelo voto de cabresto, na cidade e no campo, voto comprado por meio de favores ou mesmo através de dinheiro vivo. Finalmente, nas mesas eleitorais os coronéis e seus propostos faziam votos fantasmas, ausentes; falsificavam as atas e fazia sumir o menor traço de oposição. Se algum coronel dissidente da política estadual conseguisse fazer representantes no Congresso a degola se encarregava do resto (LOVE, 1975, P.63). O voto de cabresto foi um sistema de controle de poder utilizado no começo da República Velha pela oligarquia dominante como forma de assegurar o controle político: através da compra de votos e da intimidação. Esse mecanismo ficou conhecido como coronelismo : os coronéis eram os grandes fazendeiros que utilizavam seu poder econômico para garantir a eleição dos seus candidatos. Uma forma de controle era o uso do voto de cabresto, onde o coronel obrigava e usava até mesmo de violência para que os eleitores de seu "curral eleitoral" votassem nos candidatos apoiados por ele. Como o voto era aberto, os eleitores eram pressionados e fiscalizados por seus capangas. O coronelismo fazia parte de um sistema político complexo, cuja relação de poder se iniciava nos munícipios e chegava até aos governadores e ao Presidência da República, envolvendo compromissos com base em interesses de natureza política e. também econômico. O político foi através a adoção do federalismo pelos republicanos, substituindo o centralismo imperial. Com a sua implantação, amplos poderes foram dados aos governadores de Estado que, depois de eleitos tornava-se a figura central da política em seu estado. É em torno dele é que se agrupavam as oligarquias locais, das quais sobressaiam os coronéis como representantes locais. O domínio das oligarquias na política permaneceu até as vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), é quando o Brasil, devido a contingência dos conflitos passa por mudanças. Com as dificuldades de importar mercadorias estrangeiras e de exportar o nosso principal produto, o café, os capitalistas brasileiros e estrangeiros resolvem investir no polo brasileiro estimulando o desenvolvimento interno,

principalmente o setor industrial, localizado entre Rio de Janeiro e São Paulo. Esta situação favoreceu para que novas classes sociais urbanas emergissem. Porém, naquele momento essas ainda eram incapazes de elaborar uma ideologia própria para se chegar ao poder, daí atuarem ligadas aos proprietários agrários. Com o tempo e com mais força, passaram a exigir suas participações no pleito eleitoral, mas para isso houve a necessidade de se instruírem, uma vez que grande parte da população eram constituídas de analfabetos. De acordo com VANILDA DE PAIVA (1990): A questão do analfabetismo no Brasil emerge com a reforma eleitoral de 1882, da Lei Saraiva, que derruba a barreira de renda, mas estabelece a proibição do voto de analfabetos, critérios mantidos pela primeira Constituição Republicana. Ela se fortalece com uma maior circulação de ideias ligadas ao liberalismo e se nutre também de sentimento patriótico. A divulgação dos índices de analfabetismo em diferentes países do mundo na virada do século revelava a importância que a questão vinha adquirindo nos países centrais e, certamente tocou os brios nacionais. Entre os países, o Brasil ocupava a pior posição... De acordo com o censo de 1890...que indicava a existência de 83,21% de iletrados, considerando-se a população total [...]. (PAIVA, p.8 e 9, n.2, julho.1990). A explicação para o grande número de analfabetos existente no Brasil quer no Governo do Império quer no governo republicano das primeiras décadas. É que durante o Governo Imperial pouca importância se deu a instrução pública, essas funcionavam de forma ineficiente e em número de escolas insuficiente para atender a demanda populacional, Em razão disso, muitas crianças em idade de instrução permaneciam fora das escola, situação que se agravou à medida que o tempo passava, Apesar da inúmeras propostas de reformas educacionais apresentadas essas não avançaram. Com o objetivo de retirar o Brasil do atraso educacional e promover o desenvolvimento, os liberais republicanos buscaram respostas na ideologia positivistas criada por Augusto Comte (1798-1857). O positivismo que havia surgido na França espalhou depois por toda a Europa, entre a metade do século XIX e começo do XX, e tinha por objetivo exaltar o progresso das ciências experimentais. No Brasil, alguns dos ideais positivistas estiveram presentes no Movimento Abolicionista (1850), no Manifesto Republicano (1870) e na Constituição Republicana (1891). No que se refere a educação, Comte considerou como relevante apenas os fenômenos empíricos, quanto aqueles organizados através do processo mentais ele classificou como anticientífico.

Para Comte, a instituição escolar tem uma importância fundamental, pois é nela que se desenvolvesse o conhecimento sistematizado, é também, onde ocorre os questionamentos, dá-se as reflexões e s aprofundamento das ciências e técnicos. 2.0- Educação e Escolarização na Primeira República Durante a Primeira República embora o aspecto político e econômico tenha ocupado maior espaço nos debates e discussões, percebem os intelectuais republicanos que o projeto de modernização e civilizador só ocorreria com a criação de mais instituições educativas e com a instrução da população. A respeito da instrução popular, manifestou Rangel Pestana em São Paulo através do Jornal A Província de São Paulo (1890): Quanto mais solidamente é o povo instruído, tanto mais forte e produtor se torna. É preciso, porém que a instrução prepara homens úteis, capazes de aumentar as forças progressivas do país e alimentar em alto grau sua riqueza que essa seja integral, concreta, tão completa quanto possível, como recapitulação das verdades afirmadas pelas ciências. (PESTANA, A PROVÍNCIA DE SÃO PAULO, 1890). Nas afirmações de Pestana nota-se que havia uma confiança no papel que a educação desempenhava diante da sociedade, sobressaindo como aquela capaz de redimir o homem da sua ignorância, encaminhando-o em direção a sabedoria e riqueza impulsionado- o ao trabalho. Percebe-se nitidamente a influência positivista, e capitalista Na expressão do principal interlocutor do jornal de tendência liberal A Província de São Paulo, segundo o qual à escola cabia o papel de fomentar no homem a ideia de desenvolvimento e progresso, sendo que essa segue uma base fundamentada no pensamento racionalista que toma como base a ciência, pois o papel das escolas era formar os primeiros alicerces das sociedades modernas, a melhor garantia da paz, da liberdade,, da ordem e do progresso social (PESTANA, A PROVÍNCIA DE SÃO PAULO, 1876).. Com base nos ideais liberais e positivista foi elaborado a Constituição de 1891, que se instituiu a descentralização do ensino, no qual reservava a União o poder de criar nos Estados instituições de ensino secundário e superior. No Distrito Federal (Rio de

Janeiro) a instrução secundária. Nos Estados (antigas províncias estaduais) coube o cuidado com a instrução primária e do ensino profissional. Influenciado pelos ideais liberais, as escolas valorizavam a liberdade de culto, a coeducação dos sexos, a laicidade e gratuidade. O tempo-de duração de curso era de 8 anos. O ensino primário, secundário, superior e profissional, que será obrigatório e gratuito no primário, e livre em todos os graus, ministrados por indivíduos ou associações, subvencionadas ou não pelo Estado (CONSTITUIÇÃO, 1891). A modelo seguida de escola secundária era a do Colégio D. Pedro II, que após a Proclamação da República passou a ser chamado de Ginásio Nacional e seguiu as mesmas regras do Colégio D. Pedro II, tornou-se escola padrão, servindo de modelo para todo o país. Quanto às escolas primárias, permaneceu as mesmas funcionando que foram anteriormente organizadas. Em 1891, criou-se em São Paulo A Escola Normal Dr. Antônio Caetano de Campos nos moldes do College Americano de São Paulo (futuro Mackenzie). Os cursos oferecidos tinham a duração de 8 anos e foi organizado com um plano de estudos onde aparecia um elenco de disciplinas que de longe superava o programa da escola tradicional. A metodologia era o da observação de como as crianças aprendia, o da escola ativa. Em 1892, o Presidente do Estado de São Paul seus o, Dr. Bernardino José Campos Junior (1892 a 1896), promove reforma na educação pública paulista em seus três níveis. Com respeito a educação primária, essa substituiu as escolas de primeiras letras, criando as escolas preliminar e complementar. A organização desse complexo de escolas dava da seguinte maneira. A escola preliminar recebia o auxílio da intermediária e da provisória, e se voltava para ambos os sexos com idade de 7anos aos 12 anos, sendo a frequência as aulas obrigatórias, gratuito laico. Segundo GHIRALDELLI Jr. (2009): As escolas intermédias e as provisórias representavam uma espécie de primas pobres das escolas preliminares e dos grupos escolares. Seus professores estavam dispensados da posse da habilitação dada pela Escola Normal, embora tivessem de prestar exame no Palácio do Governo, no caso de trabalharem nas escolas preliminares, ou concurso promovido pelos inspetores de distritos no caso de estarem em grupos escolares. (...). (2009, p.17 e18).

A organização escolar do ensino primário dava-se através da escola preliminar e a escola complementar. Ao município cabia a incumbência de construir o prédio escolar, enquanto o estado ficava com a responsabilidade do pagamento dos professores e funcionários. O curso tinha a duração de quatro anos, sendo as aulas ministrada das 9 horas às 14 horas, sendo a frequência obrigatória. A escola complementar possuía um currículo formado por Leitura Escrita, Caligrafia, Moral Prática, Educação Cívica, Geografia Geral, Cosmografia e Geografia do Brasil, Noções de Químicas Física e História Natural, além de Música e Ginastica. O diretor era um professor normalista nomeado pelo governo. E para a sua seleção esse passava por um rigoroso exame oral e escrito. A junção de quatro a dez escolas (ou classes) preliminares formavam um grupo escolar. Em 1893, os dirigentes paulistas implantaram o ensino primário preliminar na modalidade de grupo escolar, antecedido da escola-modelo nos moldes da escola graduada preconizada, em 1890, pelo educador Caetano de Campos, diretor da Escola Normal. Para Souza (1996), o grupo escolar era, então criado, mediante artifício legal constante na Lei nº 169, de 7 de agosto de 1893, nos lugares onde, devido ao aumento populacional houvesse a necessidade do funcionamento mais de uma escola. O Conselho Superior de Instrução Pública, então, autorizaria a funcionar no mesmo edifício duas ou mais escolas ou classes referentes a uma série; para cada classe por sexo, um professor. 3.0- A criação e funcionamento das escolas graduadas ou dos grupos escolares (1893 a 1940). Com a criação em São Paulo dos grupos escolares alterava-se o curso da história do ensino público no Brasil que, pela primeira vez contava com um projeto de instrução que apresentava uma organização curricular, contava com um método de aprendizagem inovador, no qual o ensino desenvolvia numa só escola em séries e contava com diversas salas de aulas e professores. Essas alterações não somente ocorriam no campo pedagógico ou na infraestrutura escolar, mas também na forma de administrar essas escolas, que passaram a contar na sua direção com um professor diretor. Dessa maneira, pretendia os republicanos apresentar a escola primária como símbolo de seus valores

morais, ideológicos e seus princípios fundados na racionalidade cientifica e de divisão de trabalho. A primeira, transparecia na classificação dos alunos, através do estabelecimento de um plano de estudo e de uma jornada de estudo com intuito de padronização. O segundo, com objetivo de habilitá-los para que pudessem ser inseridos no campo do trabalho, uma vez que na sua maioria eram analfabetos. A escola graduada ou grupo escolar foi inserido em nossa realidade escolar visando atendimento da população urbana, embora a sua implantação (1893), tinha como intenção o atendimento de todas as classes sociais, a classe majoritária que a frequentava foi a popular, pois para os filhos dos fazendeiros e dos oriundos da classe média haviam as escolas particulares confessionais católicas ou protestantes que funcionavam na forma de internato, semi-internato ou ensino regular. Portanto, predominou a dualidade de ensino que fora utilizado no Império e que prevaleceu na Constituição Republicana de 1889, na qual estabelecia que a União tinha a responsabilidade em criar instituições de ensino superior e secundário. Enquanto aos Estados competia controlar o ensino primário e profissional (compreendendo também as escolas normais). De acordo com TENÓRIO (2009)...devido a essa formulação, é instituído e reconhecido como sendo o sistema a ser seguido, o modelo dual de ensino, que já era utilizado no período imperial. Oficializou-se dessa forma a separação das classes sociais, ou seja, entre a educação da classe dominante, escolas secundárias acadêmicas e escolas superiores, da educação do restante da população, ou seja, escola primária e profissional. O que ocorre é que a sociedade brasileira já não tinha sua estratificação social tão definida, pois já havia uma nova classe social que despontava, isto é, uma classe emergente que já dominava os setores comerciais e intelectuais, além de se aventurar na pequena indústria que despontava. A medida que no centro urbano aparece novas classes sociais e que as indústrias foram se firmando como principal meio produtivo, levando os trabalhadores e elementos da classe média a reivindicar por escolas e por uma cultura letrada, isto exigiu do Governo Republicano e dos Estados mais investimento no setor educacional, além de promoção de reformas visando sua modernização. Para isso fez necessário a implementação de uma política educacional que visasse a criação de outros grupos

escolares, disseminando-os, que organizasse a estrutura escolar, a didática, que se preocupasse com a formação dos professores, com a organização da escola, com o método pedagógico, com a questão da higiene das crianças, com a cientificidade da escolarização, dos saberes e afazeres sociais e a exaltação do ato de observação, na construção do conhecimento do aluno (VIDAL, 2000, p.510). A preocupação republicana no que diz respeito a educação, ia desde a definição de um método de aprendizagem, passava pela questão da formação dos professores, com a infraestrutura da escola: com a salas de aula, a sala dos professores, a sala do diretor, espaço para recreio e alojamento para os alunos, com a utilização dos materiais didáticos apropriados, com a mobília adequada aos alunos, escola para meninos e meninas no mesmo espaço físico, porém com seções ainda divididas. Neste período sobressai como figura importante na parte administrativa da escola, Apesar das escolas públicas ou grupos escolares apresentarem mais estruturados e um estudo ativo e renovador ainda se deparava com a precariedade e deficiências dos alunos, principalmente dos alunos pobres que além de apresentarem deficiência com a aprendizagem, em virtude disso retiravam mais cedo das escolas ou eram reprovados A esse respeito SOUZA (1998) faz o seguinte comentário: A presença do povo na escola não tardaria a refletir a questão social. A precariedade das condições de vida das crianças pobres era apontada como um dos fatores responsáveis pela baixa frequência, o abandono da escola e pela dificuldade de assimilação mental do ensino. A pobreza tornava-se objeto de assistência social. (...) (1998, p.81). A escola pública como objeto de assistência social assumia uma outra função que ia além do pedagógico, o de filantropia e, para cumprir esse papel criou-se a caixa escolar com intuito de arrecadar fundos junto à população para doação de roupas, alimentos e material escola para os alunos carentes de recursos. Segundo ainda SOUZA (1998): As caixas escolares foram concebidas como ação benemérita, humanitária e filantrópica. Uma forma de caridade pública... A manutenção dessas associações devia ser feita pela população por meio de subscrição de doações ou arrecadações adquiridas em festas e quermesses promovidas pelas escolas. (1998, p.82).

Durante o período de 1914 a 1920, cresce o número de escolas públicas em São Paulo e no interior paulista, e também, o número de alunos, porém, o aumento de instituições públicas não traduziu no aumento de eficiência da escola, do professor, muito menos efetivou a capacidade dos alunos, uma vez que muitos desses alunos tão logo aprendiam a ler, escrever e contar abandonavam a escola, não chegando nem concluir o quarto ano, dedicando ao campo do trabalho. Oscar Thompson enquanto Inspetor Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo alarmou-se com o elevado número de crianças em idade escolar (7 anos aos 12 anos) que não frequentavam tanto a escola pública como as escolas particulares. Para contornar essa situação, buscou criar novos métodos de alfabetização com vista à sua erradicação O problema mostrava-se tanto mais grave quando se considerava que, de um total de aproximadamente quinhentas crianças nessa faixa etária, residentes nas zonas rurais ou nas regiões mais afastadas dos centros urbanos, um percentual que ultrapassava os 50% encontrava-se fora da escola. Com a finalidade de contornar essa situação é que se criou o tempo mínimo de instrução escolar, ou seja, em vez de quatro anos, reduziu para dois anos, pois se não resultava numa formação adequada pelo menos garantia o mínimo de aprendizagem. Entretanto, mesmo com essa medida o analfabetismo continuou num crescente entre as crianças com idade escolar. Era preciso mudar esse quadro. Dois movimentos ocorreram com esse intuito. O primeiro denominou-se entusiasmo pela educação Ocorrido em 1910, tendo como propósito a erradicação do analfabetismo, para isso, solicitava a abertura de mais escolas. O entusiasmo tinha também um fim político, o voto. Já o otimismo pedagógico preocupava-se com o método e conteúdo de ensino. Conforme NAGLE é o entusiasmo pela educação que viria a ser seguido na década de 1920 pelo que chamou de otimismo pedagógico (1976, p. 95).. Há nas reformas empreendidas no Estado de São Paulo, uma estreita relação entre ensino e política, consubstanciada na afirmação de que [...] a instrução pública bem dirigida é o mais forte e eficaz elemento do progresso e que cabia ao governo o rigoroso dever de promover o seu desenvolvimento (REIS FILHO, 1981, p. 179). Em 1920, vários grupos escolares foram inaugurados na capital como interior paulista, porém, essas escolas pecavam pela falta de mestres, o que levou

Sampaio Dória a propor ao Presidente do Estado de São Paulo. Washington Luis a empreender reformas no ensino primário. Reformas essa que de modo semelhante ocorreu em diferentes estados da federação. Essas reformas, resultantes do ensino primário e normal, ocorreu dentro do espírito liberal e dos movimentos anteriormente mencionado chamado de entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico. De um modo geral, a real preocupação era ampliar as oportunidades educacionais e renovar os métodos de ensino nos termos do movimento da Escola Nova. Consideração Final O presente estudo analisou o contexto histórico econômico e educacional, na transição do Império para a República, pois o mesmo repercute diretamente no movimento de instrução Neste sentido à criação de escolas no início do período republicano tinha como objetivo desenvolver um projeto de modernização e que fosse ao mesmo tempo civilizador, onde o estado como principal responsável pela educação criavam as diversas instituições com o objetivo de formar o cidadão brasileiro, os habilitando-os,, também, formavam os novos professores que atuaria dentro de uma nova visão pedagógica. A partir de 1890, diversas instituições surgem, porém, a mais impactante foi a escola graduada ou grupo escolar, que utilizando método inovador fora estruturado nos moldes das instituições norte-americana e europeia. Entre as considerações que pode ser feita com relação a escola graduada. Primeiro, que essa escola não tinha por objetivo o atendimento de todos. Embora fosse anunciado essa possibilidade, preferiam os elementos originários das classes médias e altas em matricularem seus filhos nos colégios particulares. Esta situação abriu espaço para que mais alunos vindos das classes populares frequentassem as escolas, porém, o grau de exclusão permaneceu alto, uma vez que cerca de 50% desses alunos considerados pobres retiravam da instituição pública mais cedo, quer pelo motivo de trabalhar e ajudar no orçamento familiar, quer porque haviam aprendido a ler, escrever e contar e, isso já ória ensino, consequência da divisão social de trabalho e do desnível econômico existente na sociedade. A partir de 1930, com o início da Era Vargas lançouse o Programa de reconstrução nacional, em que aparece a difusão intensiva do ensino público, principalmente técnico profissional, mas para sua implantação necessitava promoção de reformas

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