A PROFISSIONALIZAÇÃO DO SETOR CANAVIEIRO: QUALIFICAÇÃO E PESQUISA 1 José Roberto Nunes de Azevedo 2



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Transcrição:

A PROFISSIONALIZAÇÃO DO SETOR CANAVIEIRO: QUALIFICAÇÃO E PESQUISA 1 José Roberto Nunes de Azevedo 2 Antonio Thomaz Júnior 3 Resumo: O presente texto traz ao debate alguns rebatimentos da expansão da cana-de-açúcar e conseqüente instalação de novas agroindústrias canavieiras no território sul-mato-grossense. Particularmente enfoca a crescente demanda por profissionais qualificados, e conseqüentemente cursos preparatórios e pesquisas sobre os diferentes aspectos que envolvem a atividade produtiva da cana-de-açúcar. Vale salientar que para efetuar a presente investigação lançamos mãos, em primeira instância, dos Trabalhos de Campo junto aos municípios e unidades agroprocessadoras, além dos dados secundários junto as entidades de classe. Trabalho em andamento. Palavras-chaves: Cana-de-açúcar Agroindústrias Profissionalização. Os percursos da profissionalização do setor canavieiro no MS Temos percebido não apenas no Mato Grosso do Sul como em outras áreas de avanço do agronegócio canavieiro como o Oeste Paulista a crescente demanda por profissionais qualificados, e conseqüentemente cursos preparatórios e pesquisas sobre os diferentes aspectos que envolvem a atividade produtiva da cana-de-açúcar 4. No Mato Grosso do Sul, o objetivo é implantar uma rede de formação técnica dos trabalhadores para garantir mão-de-obra necessária para implantação das novas agroindústrias, sendo que às empresas cabe prover a estrutura física, com a ajuda 1 Esse texto é parte das reflexões que estamos realizando em nosso Projeto de Pesquisa intitulado Discurso e ação do agronegócio em nosso Doutorado. 2 Aluno do curso de doutorado em Geografia pela FCT/UNESP/Presidente Prudente-SP. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Membro de CEGeT. 3 Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação da FCT/UNESP/Presidente Prudente-SP. Coordenador do CEGeT. 4 Conforme pudemos apurar em 2007 junto ao representante da Funtrab são necessários no estado do Mato Grosso do Sul pelo menos seis centros de formação profissional para atender a demanda por cursos técnicos. Neste cenário a intenção é estabelecer uma parceria na qual o município ceda o terreno, as empresas providenciem a construção e equipem o local enquanto o governo assume a manutenção do ambiente.

de recursos federais, enquanto o custo dos cursos de formação técnica de profissionais ficaria a cargo do governo do estado. No Mato Grosso do Sul temos a Fundação do Trabalho (Funtrab), que é um órgão do governo estadual responsável pela formulação, em linhas gerais pela gestão da política pública do trabalho, isto é, fundamentalmente com as ações de qualificação profissional e intermediação de empregos. No estado tal relação é diretamente vinculada ao CIAT (Centro Integrado de Atendimento ao Trabalhador) que direciona os trabalhadores de acordo com o perfil dos candidatos às respectivas vagas de emprego. De acordo com o entrevistado Sr. Adriano Guariento da unidade de Bataguassú/MS em 01/10/2010 o objetivo do Centro é justamente reduzir o tempo de busca do trabalhador por oportunidade sendo que isto se dá através do cadastro do trabalhador, recrutamento e pré-seleção e conseqüente convocação dos mesmos. Como asseverou o Sr. José Corte Real Coelho, diretor executivo do trabalho de Ivinhema além de formalizar a contratação o Ciat tem promovido vários cursos para beneficiar os trabalhadores. Dentre as categorias atendidas estão a construção civil, eletricistas, tratoristas, artesanato 5 e setor têxtil. Neste último caso salienta que no município o setor emprega pelo menos 400 trabalhadores diretamente sendo que foi instaurado em meados de 2006. Segundo o entrevistado o que a administração pública tem buscado é justamente atender através de suas entidades aos clamores da população que no caso de Ivinhema é marcadamente por mais empregos. Nesse caso salienta que a situação da cidade é diferenciada se comparada a de outros municípios Sul-Mato-Grossenses, pois investe na promoção de vários setores da economia não ficando, portanto refém de um único meio de subsistência. Aliás, isto vem de encontro com a proposta de Pochmann (2007) que avalia ser necessário uma nova política pública para o trabalho no qual haja um sistema 5 Em Ivinhema são 17 núcleos de artesanatos formado sobretudo de mulheres que trabalham na lavoura de café e na mandioca mas que se dedica parte do seu tempo a confecção de artesanato os quais embora classificados na categoria informal recebem apoio direto da entidade. Nesse sentido chama atenção para o papel exercido pelo Banco da Gente criado com o fim específico de atender as demandas desse tipo de trabalhador que pelo seu perfil e caráter do empreendimento dificilmente é contemplado por outras agências de fomento.

democrático de relações de trabalho e a formação profissional voltada a diversidade produtiva. Para Cícero Ávila, presidente da Funtrab: A qualificação profissional é um instrumento importante principalmente nesse momento em que o estado se depara com um processo crescente de desenvolvimento econômico que o estado vive um boom de desenvolvimento e uma grande preocupação do nosso governo é com a diversificação da matriz econômica do nosso estado. (2007, p. 01) Para Ávila (2007), o grande desafio do governo Sul-Mato-Grossense é justamente trabalhar a questão da diversificação da matriz econômica expandindo a atividade industrial, destacando-se neste caso a implantação das usinas que impactam diretamente os demais setores econômicos. Destaca-se no estado o Plano Setorial de Qualificação Sucroalcooleiro (PlanSeq) o qual é uma iniciativa das empresas juntamente com o governo federal e as organizações representativas dos trabalhadores no Plano Nacional de Qualificação para o Setor Sucroalcooleiro e o Plano Territorial de Qualificação (PlanteQ/MS) os quais estão sob coordenação da Funtrab. Através do PlanSeq em parceria com a Biosul objetiva-se capacitar trabalhadores do setor que estejam desempregados, que buscam retornar à cadeia produtiva da cana-de-açúcar ou estejam sob risco de perder seus postos de trabalho em virtude da mecanização. O Plano abrange 16 municípios, são eles: Batayporã, Brasilândia, Caarapó, Chapadão do Sul, Costa Rica, Deodápolis, Dourados, Ivinhema, Maracaju, Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina, Naviraí, Rio Brilhante, Sidrolândia, Sonora e Vicentina. Em 2011 de acordo com a Biosul foram mais de 900 trabalhadores rurais capacitados nas cidades de Brasilândia, Caarapó, Costa Rica, Dourados, Nova Andradina, Sidrolândia e Rio Brilhante, sendo 70% deles oriundos de usinas e 30% da comunidade local. Segundo o MTE as cidades que receberam os cursos admitiram mais de 650 pessoas como tratoristas, operadores de colheitadeiras, etc.

Por sua vez o PlanteQ/MS tem a função de realizar a gestão direta das ações executando o programa de qualificação nos municípios do estado na medida em que faz o mapeamento das demandas de cursos, não se restringindo apenas ao setor sucroalcooleiro. Os municípios atingidos pelo presente plano são: Aquidauana, Miranda, Selvíria, Três Lagoas, Bonito, Guia Lopes de Laguna, Jardim, Maracaju, Costa Rica, Ribas do Rio Pardo, Caarapó, Iguatemi, Batayporã, Ivinhema, Nova Andradina e Antonio João. Temos que interpretar esse crescente número de cursos de qualificação profissional no Estado de Mato Grosso do Sul não apenas como uma maneira encontrada pelos empresários do setor canavieiro de obter mão-de-obra qualificada e hábil para o trabalho nas agroindústrias espacializadas pelo território, como também uma verdadeira manobra política do capital, para contornar os gargalos da industrialização forçada, num Estado sem tradição nesse setor. Percebe-se necessidade de trabalhadores com formação técnica e dispostos a desempenhar atividades nas agroindústrias, uma vez que há um grande déficit desse tipo de profissional no estado. É preciso dizer que há iniciativas das próprias unidades produtivas em relação a qualificação dos diferentes profissionais do seu quadro. Pudemos perceber isto mediante entrevista realizada com a Sra. Lúcia residente em Nova Andradina que foi contratada pela Adecoagro de Ivinhema/ Angélica para ministrar aulas de línguas aos funcionários da gerência e administrativo. Segundo a entrevistada serão dois dias por semana. A referida senhora que possui escola particular em Nova Andradina nos afirmou que foi indicada por funcionários da própria empresa. Para o CREA que tem acompanhado esse desenvolvimento tendo em vista propiciar melhorias para os profissionais que estão hoje nas usinas, a chegada de profissionais e de empresas de vários locais do Brasil é um fator de integração, todavia para entidade esses profissionais estão um tanto quanto desamparados. Daí ser necessário buscar parcerias, de tal forma que as empresas contatem profissionais da área para que os mesmos exerçam as suas funções dentro daquilo que a legislação prevê na sua plenitude em relação as funções, salários, etc. Em relação aos postos de trabalho, o representante da Funtrab destaca:

Entendemos que a prioridade deve ser para o trabalhador sul-matogrossense, até para gente não gerar esse fluxo migratório desregulado que acaba trazendo um ônus severíssimo para segurança pública, para a saúde, para assistência social para o setor da habitação. (ÁVILA:2007, p. 05) Por outro lado, o sistema FIEMS promove um conjunto de ações via SESI e SENAI para dar apoio integral a produção sucroenergética. Investimento que ultrapassa 5 milhões de reais para um total de 8.100 trabalhadores devidamente qualificados em 17 empresas, entre usinas e grupos corporativos. Além dessas ações estabelece-se no Mato Grosso do Sul parcerias entre os próprios municípios, assim, por exemplo, em Fátima do Sul a Associação Comercial e Industrial (ACIFAS) local firmou em 2011 convênio com o Senai tendo em vista qualificar trabalhadores da indústria. Vale ressaltar ainda que o SENAI Mato Grosso do Sul esta coordenando o Projeto Nacional de Qualificação Profissional para trabalhadores das agroindústrias. O referido plano será executado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com recursos do Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT), sendo que o mesmo faz parte das políticas públicas que integram o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-açúcar. O Projeto esta dividido em fases sendo que na primeira etapa serão oferecidas 12.600 vagas nos estados de Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia e São Paulo. Tais vagas serão destinadas aos trabalhadores desempregados (30%) e para empresas afetadas por processos de modernização tecnológica (70%), enquanto os cursos promovidos são direcionados para operador de máquina agrícola, operador de colheitadeira, operador e mantenedor de tratores agrícolas, operador de cristalização na refinação do açúcar, eletricista de colheitadeira, eletricista de manutenção industrial, mecânico de trator, mecânico de caldeira e operador de processo. A título de exemplo podemos lembrar de parceria estabelecida entre unidades produtivas e o Senai. Assim em Batayporã, na usina Laguna os trabalhadores

vinculados aos cursos da entidade são dispensados meio período e recebem pelo trabalho um auxílio de R$545,00. De acordo com a Engenheira Agrônoma da Prefeitura de Nova Andradina, Cornélia Cristina Nagel, a referida unidade do Sesi lança dois editais por ano mas raramente consegue preencher as vagas uma vez que os candidatos não apresentam condições mínimas para acompanhar os estudos. Nagel (2011) enfatizou ainda em entrevista realizada 18/08/2011 que a prefeitura local fornece incentivo de R$100,00 reais para atrair mais candidatos. Como iniciativa institucional devemos destacar a criação do Pólo de Desenvolvimento Sustentável da Região de Nova Andradina, a qual foi criada em 2008 e divide-se em dois setores: Qualificação e meio ambiente. Nesse espaço reúnem-se o sistema S juntamente com empresas situadas na região para discutir as demandas e perspectivas do setor. Por sua vez conforme pudemos apurar através de entrevista com Sra. Laura do Senai de Nova Alvorada do Sul em 28 de março de 2012 existe uma parceria da entidade com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC). Dentre os cursos oferecidos há os técnicos e os de Qualificação. Dentre os primeiros destacam-se Técnico em açúcar e Álcool e Técnico em Segurança do Trabalho já em relação aos cursos de Qualificação a procura é grande em relação ao Curso de Mecânico de Manutenção em Máquinas Agrícolas e de Operador de Máquinas e Implementos Agrícolas. No Mato Grosso do Sul, é importante destacarmos a ação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) o qual tem por missão promover a educação, a informação e o conhecimento em agronegócio à comunidade rural de Mato Grosso do Sul, com inovação e competência, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico do estado. (INSTITUCIONAL). O Senar esta presente em 68 municípios no qual desenvolve cursos ligados a formação profissional rural e a promoção social, particularmente atendendo aos interesses dos setores dominantes de cada porção do estado. Assim observamos, por exemplo, em Angélica/MS oferecimento do curso de manutenção de tratores a funcionários da usina Eldorado.

Através de cursos para capacitação Fetagri em parceria com o Senar leva também cursos aos assentamentos que variam de acordo com a demanda, como por exemplo: processamento do leite, aplicação e medicamento de bovinos, artesanato de palha de milho, administração de pequena empresa rural. Do mesmo modo vale destacar que Cursos técnicos estiveram reunidos durante toda Expo MS Industrial para traçar as diretrizes e ações 6 no estado o que revela o interesse do setor em articular esse que parece ser um dos principais problemas do setor a curto prazo. Vale destacar que em 2010 a Expo MS sediou a implantação do Comitê Técnico Setorial Nacional do Técnico em Açúcar e Álcool o qual visa traçar o perfil do trabalhador para atuar neste setor 7. Sobre esse assunto é interessante ressaltar a busca crescente por parte dos cursos profissionalizantes em estabelecer parcerias com agroindústrias canavieiras da região em que se encontra. Pudemos observar isso, por exemplo, em Bataguassu onde uma agência de formação profissional, denominada Prepara cursos profissionalizantes enfatizou em entrevista realizada em 01 de agosto de 2010 a necessidade de vincular o teórico aprendido no curso com a prática vivenciada no ambiente da usina. Conforme relatou a entrevistada Rafaela da Costa nesse caso específico os alunos(as) formados direcionam-se principalmente para as usinas situadas em Brasilândia (Debrasa), Batayporã (Laguna) e Anaurilândia (Aurora). segundo o qual: Nesse contexto cabe apontarmos a contribuição de Carvalhal (2004, p.210), O que temos é a própria consolidação, já a partir do momento da formação do trabalhador, das atividades laborais pré-definidas nas escolas profissionalizantes. Há, pois, a necessidade da divisão entre os saberes que o trabalhador deverá desenvolver ao longo de sua carreira profissional, à medida que amplia sua escolaridade. Maior especialização acompanha sua educação profissional, que por fim esta 6 Conforme informações coletadas durante 4º Canasul 2010. 7 A esse respeito ver matéria: MS recebe encontro que formaliza criação do Comitê Técnico Setorial Nacional em Açúcar e Álcool. Disponível em: <http://www.brasilagro.com.br/index.php?noticias/detalhes/3/27594>. Acesso em 12/07/2011.

intimamente ligada à própria divisão na produção do conhecimento com a disciplinarização do conteúdo escolar. Outra iniciativa de qualificação de trabalhadores pode ser observada em Maracajú/MS onde estabeleceu-se uma parceria entre a LDC e a Prefeitura local em torno do Pró Jovem o qual visa atender jovens na faixa de 28 a 29 anos inserindo-os na atividade sucroalcooleira. De acordo com o gerente regional de recursos humanos das unidades da LDC em Mato Grosso do Sul, Sr. Arnaldo Milan de Souza: Esta parceria entre a Louis Dreyfus e a Prefeitura de Maracaju, tem o objetivo de aproximar o jovem do mercado de trabalho, não só para trabalhar na LCD Bioenergia, mais preparar os mesmos para trabalhar em qualquer usina ou indústria do ramo, mais em especial para as usinas de açúcar e álcool, um dos mercados que mais cresce na região, e que há uma demanda por profissionais especializados na área muito grande 8. Em Ivinhema, foi apresentado ao sistema Fiems em agosto de 2011 algumas opções de locais para implantação de agência do Senai tendo em vista atender a demanda da agroindústria em instalação no local 9. Entretanto, antes mesmo de ser divulgada oficialmente a instalação da unidade do grupo Adecoagro foram promovidos cursos de eletricista de automóveis e mecânica de máquinas com vistas a atender as necessidades do setor. Isto por que o referido município fornece trabalhadores para outras agroindústrias da região, como Rio Brilhante e Nova Andradina. Nesse sentido como ressalta matéria publicada pelo Jornal Capital News, de 04 de maio de 2010 10, um diferencial dessas turmas é justamente a presença de mulheres. Em determinadas unidades produtivas como a Santa Luzia situada em Nova 8 Conforme matéria divulgada pela Prefeitura Municipal de Maracaju intitulada Cursos do Pro Jovem na reta final. 9 Estima-se que o Senai precise formar apenas para usina em questão 2,1 mil trabalhadores no período de 2011 a 2015 em cursos das modalidades de aperfeiçoamento profissional, aprendizagem industrial, qualificação profissional e educação técnica. 10 Matéria Disponível em: <www.capitalnews.com.br/ver_not.php?id=91913&ed=geral&cat=notícias> Acesso em: 14/06/ 2010.

Alvorada do Sul cerca de 30% das máquinas no campo são operadas por mãos femininas. Nesse caso são destacados valores como delicadeza e atenção como aspectos diferenciais em relação aos homens no trato com maquinário. Aliás, conforme pudemos apurar através de Trabalho de Campo realizado junto a ETH unidade Conquista do Pontal (Mirante do Paranapanema) em 10/05/2012 a contratação de mulheres nos pólos de atuação do grupo configuram-se da seguinte forma: Pólo SP 421 mulheres; Pólo MS 11 324 mulheres; Pólo GO 261 mulheres; Pólo Araguaia 218 mulheres e Corporativo- 73 mulheres. Como nos asseverou a Sindicalista Neusa da Silva Pereira em Trabalho de Campo realizado em 27 e 28 de março de 2012 a Nova Alvorada do Sul Na Santa Luzia tem bastante mulher principalmente nas máquinas, umas plantando outras cortando cana-de-açúcar. De fato, isto contrasta com a prática de unidades agroindustriais que não contratam mulheres para o trabalho no campo, tão somente para as funções relativas a gabinete, conforme pudemos atestar através de Thomaz Jr.( 2002a). Conforme pudemos verificar tem sido uma prática das unidades produtivas instaladas recentemente no Estado o treinamento de funcionários em outras empresas já consolidadas em São Paulo. É nesse cenário que percebemos em Caarapó que os trabalhadores candidatos aos postos de serviço considerados avançados pela unidade processadora são arregimentados de outras unidades do grupo, particularmente paulista. Esse é o caso, por exemplo, de Jessé dos Santos, eletricista da unidade de Tarumã/SP que se candidatou e venceu a seleção interna para a vaga de líder de manutenção elétrica na usina de Caarapó. De acordo com o mesmo [...] foi um desafio muito grande, porque a empresa não encontrou mão-de-obra para esse setor no Estado, então, todos vieram de fora. Somente depois de algum tempo é que conseguimos capacitar alguns profissionais para a função 12. A esse respeito Asevedo (2010) demonstra que já em 2000 com a compra da Destilaria Santa Quitéria, atual Alcoolvale em Aparecida do Taboado pelo grupo 11 Sendo 61% agrícola, 20% administrativo e 19% industrial. 12 Conforme matéria Setor sucroenergético é responsável por 5,6% dos empregos em MS publicado em 25/03/2011 pelo Jornal Canal da Cana.

Uniálcool tivemos a migração de trabalhadores ditos qualificados para funções requeridas da matriz paulista. Tais trabalhadores em relação ao cargo em sua maioria condiziam com o beneficiamento da cana-de-açúcar, departamento financeiro e recursos humanos. Enquanto isso no âmbito de alguns grupos e unidades agroindústrias tem se observado a redução de pessoal e enxugamento dos postos de trabalho. Domingues (2010) revela esse processo nas empresas pertencentes a LDC. De acordo com o autor em menos de um ano após a venda das empresas Passa Tempo e Maracaju pelo grupo Tavares de Melo ocorreu a redução de mais da metade dos funcionários existentes na área administrativa, além do que o mesmo trabalhador passou a desempenhar de forma articulada sua função nas três unidades do grupo existentes no estado. Do mesmo modo tem recebido destaque as iniciativas particulares envolvendo as próprias entidades de classe que viabilizam cursos de qualificação nos principais pólos canavieiros do país. É exemplo a parceria existente entre Udop, Biosul e Stab que através da UniUdop 13 promove a realização de curso agrícola em áreas de expansão do capital canavieiro, como por exemplo em Dourados/MS, Araçatuba/SP, Rio Verde/GO, Uberaba/MG e Maringá/PR 14. A Biosul é hoje símbolo da união do setor promovendo a profissionalização do setor na medida em que reuniu todos os sindicatos em uma mesma entidade. No município de Deodápois mantêm uma agência de formação profissional em parceria com a ETH Bionergia e a Prefeitura municipal inteiramente voltado para formação de mão-de-obra qualificada para usinas. Além de reforma, ampliação e modernização do Centro de educação de tecnologia em Dourados. De fato, o próprio setor através de seus mecanismos de comunicação tem destacado ultimamente o papel dos governos em diferentes estados da federação na preparação de mão-de-obra qualificada o que tem ocorrido através da promoção de cursos e infra-estrutura necessárias a exemplo do que tem-se assistido no tocante ao ensino de nível médio e superior através das Etcs e Fatecs no estado de São Paulo. 13 Trata-se de uma instância de ensino criada especificamente para a preparação de profissionais do setor sucroalcooleiro conforme a demanda do mercado. 14 Em 2010 teve destaque, por exemplo, em uma das etapas do curso o tema Plantio mecanizado da cana-de-açúcar: logística e planejamento.

Também é pertinente atentarmos para relação estabelecida entre o Sindicato dos Trabalhadores do Álcool e unidades produtivas inseridas no estado na medida em que esses têm mantido como elemento de ligação entre os trabalhadores e as referidas empresas. Pudemos apurar isto particularmente em Nova Andradina através do sindicato local que representa os trabalhadores vinculados a Adecoagro (Angélica), Debrasa (Brasilândia), Laguna (Batayporã) e Santa Helena (Nova Andradina). Associado a isto temos apreendido investimentos crescentes no âmbito de pesquisa e desenvolvimento no setor sucroalcooleiro. Como parte desse movimento foi inaugurada no Estado do Mato Grosso do Sul em 2010 a unidade Embrapa Cana 15. Nesse sentido, conforme temos acompanhado tem sido estabelecido conversações entre a Biosul e a Embrapa Agropecuária Oeste visando novas práticas no âmbito canavieiro. Observamos que a questão da qualificação é um elemento circunstancial para entendermos o agronegócio canavieiro no Mato Grosso do Sul haja vista que a alteração da situação vigente no tocante as relações de produção passa necessariamente pela possibilidade e incursão da preparação dos trabalhadores sob bases menos perversas. De fato a qualificação é parte desse processo, mas não é o suficiente para transformação das condições de exploração. Faz valer nesse sentido, o estímulo crescente no plano da produção por parte do Estado de situações concretas de sustentabilidade. Referências Bibliográficas ASEVEDO, T. R. A. Agroindustrialização canavieira em Aparecida do Taboado/MS. Três Lagoas: UFMS, 2010. (Monografia de Bacharelado) AVILLA, C. Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Transcrição mimeografada). Campo Grande, 27 p., julho de 2007. 15 Esta veio se juntar com outras unidades instaladas no estado, a saber: Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa gado de corte, Embrapa Pantanal e Embrapa Transferência de Tecnologia.

CARVALHAL, M. D. A dimensão territorializante da qualificação profissional em São Paulo: a ação dos sindicatos. Presidente Prudente: UNESP, 2004. Tese (Doutorado). POCHMANN, M. Emprego na globalização. São Paulo: Boitempo, 2007. THOMAZ JR., A. Por Trás dos Canaviais, os Nós da Cana. São Paulo/FAPESP, 2002a.