Álcool, Cigarro e Drogas

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Álcool, Cigarro e Drogas

Este livro segue as normas do novo Álcool, Cigarro e Drogas Ilustrações de Adão Iturrusgarai 6 a impressão ACORDO ORTOGRÁFICO

Jairo Bouer Diretor editorial Marcelo Duarte Diretora comercial Patty Pachas Diretora de projetos especiais Tatiana Fulas Assistentes editoriais Vanessa Sayuri Sawada Juliana Paula de Souza Ana Luiza Candido Assistentes de arte Alex Yamaki Daniel Argento Projeto gráfico e edição de arte A+ Comunicação Preparação de texto Vera Lúcia Emidio Revisão Daniela Bessa Puccini Alessandra Miranda de Sá Cristiane Goulart Ana Maria Barbosa Colaboração Ana Paula Corradini Fernanda Wendel Consultoria Dr. Marcelo Ribeiro Psiquiatra e diretor clínico da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Impressão Bartira Gráfica DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL) Bouer, Jairo Álcool, Cigarro e Drogas/ Jairo Bouer. 1. ed. São Paulo: Panda Books, 2004. 80 pp. ISBN: 978-85-87537-65-2 1. Alcoolismo 2. Dependência química 3. Drogas Abuso Prevenção 4. Drogas I. Abuso Tratamento Título 04-3949 CDD-158 Índices para catálogo sistemático: 1. Dependência química: Psicologia aplicada 158 2012 Todos os direitos reservados à Panda Books. Um selo da Editora Original Ltda. Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 São Paulo SP Tel./Fax: (11) 3088-8444 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br twitter.com/pandabooks Visite também nossa página no Facebook. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Original Ltda. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

S U M Á R I O 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Por que falar sobre drogas?, 6 O jovem e as drogas, 9 Cigarro: fácil de tragar, difícil de largar, 19 Álcool: sem exagerar na dose, 27 A maconha e seus mitos, 33 Outras drogas: viagens diferentes, 39 Drogas e sexo: uma dupla nada dinâmica, 47 Formas de tratamento, 51 Que drogas são essas?, 57 Toques finais, 77 Sobre o autor, 80

Por que falar Achar o tom ideal para falar sobre drogas é um de safio para especialistas do mundo todo. Mesmo nos consultórios, o diálogo do psicólogo ou do psiquiatra com o pa ciente que apenas experimentou ou que já é usuário de al gum tipo de droga é, muitas vezes, difícil. Qual seria, então, o melhor jeito de abordar essa questão? Adotar um discurso moralista, proibitivo, que não explica nem informa, não funciona. Não basta também usar slogans simplistas, do tipo Drogas? Tô fora!. Por outro lado, não se pode adotar um tom li beral e irresponsável para falar do assunto. Uma coisa é certa: não é possível abrir mão da informação. É importante esclarecer quais são os riscos envolvidos na questão das drogas, ressaltando que cada um é livre para fazer suas opções, mas é responsável por elas. Quanto mais informada, mais condições a pessoa terá de tomar uma decisão acertada. Porém, em se tra tando de comportamento, a informação é só o pri meiro passo. Conta muito como está a nossa ca be ça, como é o grupo que nos cerca, a nossa família, o mundo de hoje... Em média, 25% dos estudantes já experimentaram algum tipo de droga, excluindo o cigarro e o álcool. 6

sobre drogas? Nos últimos anos os jovens ficaram muito mais perto das drogas. Quem é que nunca ouviu um amigo, um colega de escola ou mesmo alguém da família falando do assunto? Muitos deles já chegaram a ter nas mãos um inalante ou um cigarro de maconha, sem falar nas drogas lícitas (o álcool e o cigarro), cuja venda é permitida para maiores de 18 anos. Em média, 25% dos estudantes já experimentaram algum tipo de droga, excluindo o cigarro e o álcool. Isso quer dizer que, de cada quatro jovens que estão na escola, um já usou droga pelo menos uma vez na vida. Em primeiro lugar, vêm os solventes, seguidos da maconha, dos ansiolíticos (calmantes), das anfetaminas e da cocaína. A adolescência é uma fase de mudanças. E toda mudança gera algum grau de angústia, de medo. Insegurança, timidez, problemas com autoestima podem levar o jovem a procurar a droga. Muitas vezes, ele não consegue perceber que conversar, fazer amigos, aprender a superar seus limites são alternativas muito mais saudáveis para lidar com suas dificuldades. Nessa fase a descoberta de novas possibilidades, a curiosidade, a inquietação, a pressão do grupo podem trazer a ilusão de que as drogas abrirão novas portas. Será que a vida já não é suficientemente rica em emoções e riscos? Pesquisas sobre o contato dos jovens com as drogas revelam alguns pontos em comum. Se você nunca 7

ÁLCOOL, CIGARRO E DROGAS experimentou droga, tente manter essa postura. A maioria dos jovens também ainda não usou. É bom você não ter tido essa experiência. Na adolescência, o risco de alguém que experimenta drogas se tornar um usuário frequente é maior do que na idade adulta. Quem já experimentou e usa eventualmente precisa prestar atenção no impacto que a droga causa em sua vida, além das complicações legais que podem surgir pelo uso de substâncias proibidas. Um usuário eventual de maconha, por exemplo, pode ter sua atenção e seus reflexos comprometidos. E, às vezes, sem se dar conta, pode se colocar em situação de risco ao dirigir um carro ou atravessar a rua. O álcool também pode trazer complicações para a vida do adolescente. Quem faz uso de droga com certa frequência deve buscar a ajuda de um especialista. Assim será mais fácil entender os comprometimentos que a droga pode causar. Quem já é dependente não deve perder tempo. Precisa de suporte. Em mais de dez anos de trabalho com adolescentes, recebi centenas de e-mails e cartas com dúvidas sobre drogas. Publiquei alguns, respondi outros, porém muitos ficaram sem resposta. Decidi, então, reunir neste livro as dúvidas e as pesquisas mais recentes para trazer um pouco mais de informação sobre o assunto. Faça bom proveito! Jairo Bouer 8

CAPÍTULO 1 O jovem e as drogas Será que faz mal experimentar uma vez só? O efeito é o mesmo para todo mundo? O que fazer quando alguém passa mal por causa de droga? Como essas dúvidas são muito comuns hoje em dia, vamos tentar responder.

Em busca do novo Drogas causam efeitos nocivos ao nosso organismo. Então, por que será que, mesmo sabendo disso, as pessoas insis tem em experimentar? O jovem quer sentir novas emoções, novas sensações. E a droga, às vezes tão perto, é um convite para ele satisfazer essas expectativas. Além disso, muitos grupos usam o álcool ou algum outro tipo de droga como um fator de identificação. O adolescente quer fazer parte do grupo e sente que precisa da droga para ser aprovado. Tanto que, nas baladas, é comum encontrar gente que nem pensava em usar droga e acaba experimentando. Muitos jovens estão inseguros ou com a autoestima abalada. A droga parece oferecer uma espécie de muleta para aliviar esses problemas. Outros querem desafiar e testar limites e veem as drogas como um campo propício para essa exploração. Eles acham cha to ser careta. Muita gente pensa que tem controle sobre o corpo e acredita que nunca vai ficar dependente. Grande engano! É importante lembrar que dá para fazer tudo isso: ser parte de um grupo, buscar novos limites e lidar

O JOVEM E AS DROGAS com as inseguranças sem precisar de drogas. Viagens, cultura, esportes, amizades, relacionamentos... São tantas as alternativas que as descobertas estão garantidas por décadas a fio. Cada cabeça, uma sentença Existe um efeito esperado para cada tipo de droga, mas nem sempre duas pessoas se sentem de maneira idêntica ao usar a mesma droga; às vezes, nem a própria pessoa se sente da mesma forma ao consumir a mesma droga em situações diferentes. Cada substância age de forma particular. Depende do tipo de droga, de quem está usando e da situação em que ela é consumida. A mesma droga pode ter concentrações dife rentes, e cada pessoa pode ter um grau de sensibilidade. Além disso, o grupo ou as expectativas da pessoa po dem influenciar no que ela sente. Homem x Mulher As reações também podem ser diferentes de acordo com o sexo a mulher, por exemplo, é comprovadamente mais sensível ao álcool. Mas, além das dife renças biológicas, existem as diferenças sociais. Mui tas vezes os homens são mais pressionados a usar algum tipo de droga para que sejam aceitos no grupo (a frase Beber é coisa de homem diz muito!). Mulheres podem iniciar o uso para agradar o parceiro. O consumo de álcool e drogas ilícitas é maior entre os homens. Já o uso de drogas prescritas (calmantes e remédios para emagrecer) é mais comum entre as mulheres. 11