EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E PÓS-MODERNISMO MEDEIROS, Robson (UFPA) ramedeiros@ufpa.br Marisa Rosâni Abreu da Silveira (UFPA) marisabreu@ufpa.br Paulo Vilhena da Silva paulovilhena1@gmail.com Introdução O pós-modernismo afetou diversas áreas da educação por meio de modificações nos processos de aprendizagem e de socialização do conhecimento. A Educação Matemática, também, embarcou nas seduções pós-modernistas por intermédio de intelectuais que contribuíram com a manutenção da atual ordem econômica e social. Discutiremos algumas influências do pós-modernismo na Educação Matemática, reconhecendo sua vertente burguesa que apresenta manifestações na educação contemporânea de forma diversa, mas com os mesmos fins: o de negar o conhecimento acumulado pela humanidade, em sua forma mais desenvolvida, à classe trabalhadora com o intuito de mantê-la em condições de alienação. Metodologia Abordaremos o Manifesto dos Pioneiros principal documento de introdução do escolanovismo na educação brasileira mostrando que este corrobora com as ideias neoliberais e, por conseguinte, com a ideologia pós-modernista presente, também, na Educação Matemática. E finalmente proporemos uma Educação Matemática pautada em uma pedagogia marxista, ou seja, na pedagogia histórico-crítica. Pós-modernismo, escolanivismo, Pioneiros, Educação Matemática As ideais pós-modernistas penetraram na educação brasileira por meio da pedagogia do aprender a aprender que tem fortes alicerces no escolanovismo e no pragmatismo de John 1
Dewey. No Brasil, oficialmente, esta pedagogia se consolidou por meio do Manifesto dos Pioneiros da educação nova, em 1932, tendo como alguns de seus signatários: Anísio Teixeira e Lourenço Filho. O manifesto tinha como uma de suas principais concepções de educação a vida cotidiana, como modelo, e a orientação das disciplinas, eram inspiradas por um ideal que, modelado à imagem da vida, já lhe refletia a complexidade (AZEVEDO et al, 2010, p. 36). Chauí (apud ARCE, 2001, p. 256) nos diz algumas características essenciais do pósmodernismo: - A negação de que haja uma esfera da objetividade. Essa é considerada um mito da razão, e em seu lugar surge a figura da subjetividade narcisista desejante; - negação de que a razão possa captar núcleos de universalidade no real. A realidade é constituída por diferenças e alteridades, e a universalidade é um mito totalitário da razão; - negação de que o poder se realize a distância do social, através de instituições que lhe são próprias e fundadas tanto na lógica da dominação quanto na busca da liberdade. Em seu lugar existem micropoderes invisíveis e capilares que disciplinam o social. Tais aspectos estão muito presentes na educação atual e, por extensão, na Educação Matemática que sofre a influência desta concepção pautada na imagem da vida, que daria sentido ao conteúdo escolar. Essa foi uma das defesas dos pioneiros, além da desvalorização dos conteúdos. A bandeira de luta destes primeiros escolanovista era a de hostilizar o ensino que denominaram tradicional. Segundo Azevedo e colaboradores (2010, p. 40), um dos principais argumentos dos pioneiros era o de que [...] a educação nova não pode deixar de ser uma reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial e verbalista, montada para uma concepção vencida. Para os pioneiros, o ensino tradicional era algo totalmente sem sentido para quem estava sendo ensinado, assim, o sentido seria dado pela vida cotidiana de cada um. O conhecimento mais elaborado é fundamental para humanizar o homem. Por meio da apropriação das objetivações construídas pela humanidade nos humanizamos e tornamo-nos conscientes e ganhamos a força necessária para compreender a realidade e lutar por uma sociedade mais justa. As objetivações promovem o desenvolvimento do homem e de suas funções psicológicas superiores que permitem que ele possa ir para além do imediatismo. Os autores dizem, ainda que, para os pioneiros, a educação auxiliaria no nosso desenvolvimento natural a partir das etapas condicionadas biologicamente porque, segundo eles, 2
já estaríamos determinados só esperando para ser desenvolvidos naturalmente. A educação visaria, assim, unicamente a adaptação. A educação na atualidade é pautada nestes preceitos de educação para a adaptação a sociedade e defesa dos interesses individuais e de certos grupos; do relativismo epistemológico; da negação da realidade concreta e da objetividade; da supervalorização do cotidiano e do subjetivismo. O conhecimento escolar não tem significado, o que dá a este significado é a subjetividade do aluno, a partir de suas experiências prévias ou se é útil no seu cotidiano. O conteúdo, para determinadas vertentes, é algo opressor por ser de origem européia e logo: colonizador, alienante, branco, machista, burguês, racista, homofóbico, misógino, inclusive a razão e a ciência seriam os grandes vilões da humanidade É obvio que estas são ideais do neoliberalismo, que não seriam diferentes do liberalismo. Além da defesa das questões individuais não que sejamos contra o indivíduo, pelo contrário, somos totalmente a favor de que a individualidade de cada um se desenvolva nas suas máximas capacidades intelectuais percebemos, também, que o liberalismo nega a capacidade do indivíduo abarcar a totalidade, impossibilitando a compreensão da realidade concreta e sua possível transformação. Colabora Arce (2001): [...] neoliberalismo [...] teoria esta que não limitou-se à economia e cujo argumento central residia na incapacidade do ser humano de conhecer tudo e todos, bem como na valorização da particularização no ato de conhecer [...] conhecimento seria um atributo individual [...] em analisar sucessos particulares de empreendedores isolados, pois o individualismo provindo de seu conceito de como o conhecimento é adquirido pelo homem é a sua bandeira (p. 252). Inversamente, para a pedagogia histórico-crítica, de base marxista, o nosso desenvolvimento não é natural e sim auxiliado pelos conteúdos escolares, os clássicos, pois, a partir dos conteúdos clássicos, produz as máximas possibilidades de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente desenvolvidas nos indivíduos (SANTOS et al, 2015, p. 73). A classe trabalhadora, para esta pedagogia, deve se apropriar dos clássicos para que possa desenvolver-se plenamente. Visto que, apropriando-se dos clássicos promove-se objetivações e o desenvolvimento do aluno. Isso quer dizer que a educação nova, por pautar-se na desvalorização do clássico alegando que o ensino tradicional é conteudista e burguês e por considerar que cada um, por meio de seus esforços, seria o responsável pelos seus fracassos e conquistas não colabora com o nosso pleno desenvolvimento. Alia-se, portanto, aos interesses da classe dominante e colabora com a sociedade desigual estruturada e estabelecida. 3
A educação matemática não está livre destes preceitos, visto que todas suas tendências pedagógicas são pós-modernas. Porém, precisaríamos de mais cuidado no trato, o que não é possível neste trabalho, de cada uma das tendências da Educação Matemática, tais como: a Etnomatemática, Didática da Matemática, Modelagem Matemática, historia da Matemática e outras. O conteúdo matemático, para estas tendências, seria necessário para desenvolver habilidades e competências úteis ao cotidiano e seus significados estariam nas práticas cotidianas. O multiculturalismo, uma das vertentes pós-modernistas, tem por objetivo desviar o principal foco e problema do capitalismo a luta de classes para outras multiplicidades de questões como problemas relacionados a etnias, de gênero, religiosas e sexuais. A Etnomatemática é a presença do multiculturalismo na Educação Matemática. Tal vertente contribui para luta de vários grupos entre si, desarticulando a classe trabalhadora e valorizando o conhecimento do cotidiano alienado dos trabalhadores, contribuindo para sua permanência em estado de precariedade material e intelectual. Segundo Marx (2009), nenhum grupo irá se emancipar sozinho ou emancipará a humanidade, os grupos só serão emancipados quando a humanidade se emancipar e por meio da classe trabalhadora. Considerações Finais A pedagogia verdadeiramente científica e progressista deve ser capaz de analisar a atividade educadora com os métodos do materialismo histórico (SUCHODOLSKI, 2010, p. 54). Como podemos ler, é necessário que a pedagogia esteja pautada na defesa do conhecimento sistematizado e mais desenvolvido, ou seja, científico, artístico e filosófico. O conhecimento do cotidiano é importante para o aluno, mas ele necessita do conhecimento científico para que consiga conhecer a si mesmo, como resultado de um processo de formação sócio-histórico, e a estrutura da realidade, como construída historicamente, para, assim, transformá-la e torná-la justa a todos. Neste sentido, o que se almeja com o ensino da Matemática é que Na escola, os estudantes devem ter a possibilidade de aprender Matemática (CATANANTE et al, 2014, p. 53). Palavras-chave: Educação - Matemática Pioneiros - Pós-modernismo. Referências 4
ARCE, Alessandra. Compre o kit neoliberal para a educação infantil e ganhe grátis os dez passos para se tornar um professor reflexivo. Educação & Sociedade, ano XXII, nº 74, Abril, 2001. AZEVEDO, Fernando. et al. Manifestos dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos educadores 1959. Recife. Editora Massangana, 2010. CATANANTE, Ingrid. et al. E. Os limites do cotidiano no ensino da matemática para formação de conceitos científicos. Poiésis, Tubarão. Volume Especial, p. 45-63, Jan/Jun, 2014. MARX, Karl. Para a questão judaica. São Paulo. Expressão Popular, 2009. SANTOS, Cláudio. et al. O popular e o erudito na educação escolar. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 7, n. 1, p. 68-77, jun, 2015. SUCHODOLSKI, Bogdan. Teoria marxista da educação. IN: MAFRA, Jason. Bogdan Suchodolski. Recife. Editora Massangana, 2010, pp. 51-88. 5