Decisão Processo 0806916120164058300 O Município de Recife ajuizou a presente ação ordinária em desfavor da União, representada pela Procuradoria da Fazenda Nacional, alegando em síntese que em 13.01.2016, foi publicada a lei 13254, que dispõe sobre o regime especial de regularização cambial e tributária de recursos, bens ou direitos de origem lícita, não declarados ou declarados incorretamente, remetidos, mantidos no exterior ou repatriados por residentes ou domiciliados no País, que vários países já possuem programa semelhante, que de acordo com os artigos 6º e 8º da lei ao aderir ao regime especial o contribuinte deverá recolher aos cofres federais o imposto de renda e a multa, sendo que esta última incidirá sobre o valor do imposto no percentual de 100%, explica que o prognostico de recolhimento fiscal com impacto na formação do Fundo de Participação dos Municípios,que a lei determinou então a inclusão do imposto de renda arrecadado na base de cálculo das transferências destinadas ao FPM em atendimento ao disposto no artigo 159, I da CF, previsão legal que não foi estipulada para a multa que não está sendo computada na base de cálculo do PFM, fala do direito e pede antecipação de tutela para que seja determinada a inclusão do montante arrecadado pela União, a título de multa prevista no artigo 8º da lei 13.254/16 na base de cálculo das transferências constitucionais previstas no artigo 159, I, alíneas b, d e e da CF de forma a repercutir tanto no montante de 22,5%, artigo 159, I alínea b da Constituição nos adicionais de 1% devidos nos meses de julho e dezembro de cada exercício, artigo 159, I alíneas d e e, posto se tratar de multa moratória ou adicional na forma do artigo 160 da mesma Carta Magna. A União falou nos autos. É o relatório. Decido.
O instituto da antecipação de tutela tem como principal objetivo assegurar a efetividade da jurisdição naquela mesma demanda onde está formulado ou é possível formular o pedido de antecipação. Note-se que para que se cogite do instituto em questão, é imprescindível que o objeto do pedido, ou coincida exatamente, ou se ache contido no objeto próprio da mesma ação em que é formulado o pedido de antecipação de tutela. Não havendo tal coincidência, deve-se fazer menção ao pedido através de medida cautelar, com a competente ação cautelar, mas não pedido de antecipação de tutela. Na verdade, só é possível antecipar aquela mesma prestação jurisdicional (ou parte dela que se pretende obter em definitivo. Devo ressaltar que a concessão da antecipação de tutela exige a presença de determinados pressupostos perfeitamente discriminados no Código de Processo Civil. Assim devem estar presentes a prova inequívoca, a verossimilhança da alegação e também os pressupostos dispostos em lei. A prova inequívoca há que ser considerada como o elemento aplicador do Direito suficientemente forte para gerar a verossimilhança, para que reste sem dúvida a probabilidade de o bem a ser antecipado ser o mesmo do final da demanda. Em verdade, a prova apresentada deverá ser suficiente para que o Juiz, dentro da cognição sumária, se convença ou não da verossimilhança da situação em questão. Na antecipação de tutela faz-se presente uma cognição menos aprofundada, não conferindo um grau de certeza suficiente à emissão de um juízo definitivo, havendo a necessidade de o Juiz procurar um equilíbrio entre os interesses dos litigantes. A questão passa pela intepretação da Carta Constitucional de 1988 que explicitou os entes federativos, suas
atribuições no sistema nacional com os recursos que teriam direito para efetivação de seus misteres. Cito logo o artigo 159 A União entregará: I - do produto da arrecadação dos impostos sobre a renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 49% na seguinte forma, b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Municípios; d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; e) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de julho de cada ano; A lei federal 13254/2016 que trata da repatriação deixou evidenciada que a inclusão do Imposto de Renda (artigo 6º 1º) arrecadado na base de cálculo das transferências destinadas ao FPM seriam repassadas dentro da dicção constitucional, o que não foi efetivado em relação à multa prevista no artigo 8º da mesma norma legal. Por sua vez, o artigo 160 da Constituição Federal deixou evidenciado que " É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos. " O artigo 161 " "Cabe à lei complementar II - estabelecer norma sobre a entrega dos recursos de que trata o artigo 159, especialmente sobre os critérios de
rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o equilíbrio econômico-financeiro entre Estados e Municípios." A Lei Complementar 62/89 ao estabelecer os critérios que balizam a entrega e o controle das liberações dos recursos dos Fundos de participação dos Estados e Municípios, deixa claro em seu artigo 1º, parágrafo único a base de cálculo do Fundo de Participação dos Municípios e destaca que "...integrarão a base de cálculo das transferências, além do montante dos impostos ali referidos, inclusive os extintos por compensação ou dação os respectivos adicionais, juros e multa moratória cobrados administrativa ou judicialmente, com a correspondente atualização monetária paga." Em seu preceito original a lei de repatriação mencionava a distribuição da multa, porém o dispositivo foi vetado por S Exa. então Presidente da República e nas razões do veto mencionou-se exatamente a questão da natureza jurídica da multa. O questionamento sobre tal natureza jurídica deve ser efetivado no decorrer da presente instrução processual, mas, no atual momento, torna-se necessário garantir a verba em questão, resguardando o sistema federativo instituído pelo legislador constituinte de 1988, e, considerando os princípios da isonomia (diante de recente decisão da Exa, Sra Ministra Rosa Weber no STF em relação ao processo que tramita naquela Colenda Corte ajuizada por Estados Membros da Federação) e o da razoabilidade, devo deferir de modo parcial a antecipação de tutela nos exatos termos do pedido do Município do Recife, determinando o depósito em conta judicial dos valores à disposição do juízo enquanto tramita a presente ação. Posto isso, pela presença dos devidos pressupostos, concedo a tutela de modo parcial para deferir o pedido do Município do Recife no sentido de inclusão do montante arrecadado pela União, a título de multa prevista no artigo 8º da
lei 13254/16, na base de cálculo das transferências constitucionais previstas no artigo 159, I, alíneas b, d, e c da Constituição Federal - Fundo de Participação dos Municípios, determinando o depósito em conta judicial dos valores à disposição do juízo enquanto tramita a presente ação. Cite-se a Procuradoria da União diante da petição da Procuradoria da Fazenda Nacional juntada aos presentes autos. Intime-se a União para o imediato cumprimento. Recife, em 11 de novembro de 2016. Frederico José Pinto de Azevedo Juiz Federal da 3ª Vara/PE