TRAVESTIS E PRISÕES: CICATRIZES CAUSADAS PELO SISTEMA Leticia Peters Rossato E-mail: (leticiapetters@gmail.com) Kamila Makurek E-mail (kamilamzk@gmail.com) Orientador: Prof. Mestre. Alexandre Almeida Rocha UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Resumo: Visa desenvolver a temática das alas especiais voltadas para o grupo GBT, em análise específica ao presídio Central de Porto Alegre. Também têm-se uma breve análise sobre diversidade e a busca pela efetivação de direitos dos indivíduos pertencentes a esse segmento da sociedade. Palavras-chave: Ala GBT, diversidade de gênero, prisões. Introdução O Brasil, um país de dimensões continentais, apresenta uma problemática complexa quando o assunto refere-se ao Grupo LGBT. Pois, todo o ano ocorre a maior parada gay do mundo, onde milhões de pessoas comemoram a diversidade de gênero e revindicam direitos para os homossexuais, mas em contrapartida ainda existe uma séria discriminação, intolerância e violência direcionada a esse segmento da sociedade. Logo, essa violência tem se tornado um tema constante nas mídias, porque ativistas exigem uma postura do Estado para que haja políticas protetivas voltadas para esses grupos. Nesse contexto surge a criação das alas GBT em presídios, como é o caso do presídio central de Porto Alegre, uma forma de atestar e assegurar a integridade física e moral destes indivíduos no sistema prisional. Ressalta-se que a própria análise da comunidade homossexual em sistemas carcerários já implica em reconhecer que direitos a eles são negados e suas necessidades não são correspondidas, pois o sistema é baseado no binário sexo/gênero, existindo um histórico de discriminação e repressão aos que nesse não se enquadram. Para tanto, discussões referentes a esse tema são válidas e necessárias, pois através de projetos, como o referente à ala GBT, torne-se possível que problemas sejam encarados, soluções encaminhadas e acima de tudo que direitos sejam garantidos. Sob uma análise que fez uso essencialmente de pesquisa bibliográfica indireta escrita e permeada pelo método analítico, o presente trabalho visa desenvolver o tema e as implicações deste.
Objetivos A pesquisa tem por objetivo suscitar o tema referente aos direitos da comunidade GBT, com análise especifica a ala especial do presídio central de Porto Alegre. Metodologia Fez-se uso primordialmente do método de pesquisa analítico com base na pesquisa indireta documental escrita. Resultados Em pesquisa realizada pela secretaria de segurança de Porto Alegre no ano de 2013, constatou-se a situação precária do presídio central da cidade, este o maior presídio de Porto Alegre e do Brasil, sendo o segundo maior da América Latina 1, onde a superlotação é apontada como um dos principais problemas e dele derivam outros tantos. A comissão parlamentar de inquérito do sistema carcerário relata que esse presídio não poderia estar em funcionamento, visto as condições desumanas em que se encontra. Verdadeira masmorra 2 foi o termo usado. Nesse contexto em abril de 2013 criou-se uma ala especial no presídio central de Porto Alegre, a chamada ala das travestis, situada no pavimento da galeria H. Recebe-se nessa área as travestis, homens homossexuais e seus respectivos companheiros. 3 Essa medida foi tomada ao se constatar a violência e opressão que o grupo GBT sofria dentro da prisão. As relações 4 dentro de uma penitenciária baseiam-se em relações de poder e alianças internas, logo os homossexuais que já viviam uma situação de estigma quando inseridos na sociedade, ao verem-se no sistema prisional sofriam um duplo estigma dos outros detentos, ficando estes sujeitos a todas as formas de violência. Antes da criação da ala especial, optava-se por deixar a comunidade pertencente a esses grupos nas alas reservadas para crimes sexuais, mesmo que o crime por eles cometido em nada tivesse relação com a temática, mas essa era a forma encontrada para preservar a vida destes. O preconceito relatado em pesquisas de campo, feitas por ONGs e pesquisadores, mostram que era relegado uma hostilidade também aos homens que se assumiam como parceiros das travestis, porém essa discriminação caracterizava-se nas formas de exclusão e violência psicológica. Com as travestis a violência tendia para a forma física, estas sofriam abusos, eram impedidas de usarem roupas femininas e tinham 1 INFOPEN, Ministério da Justiça. População prisional do Presídio Central de Porto Alegre. Disponível em: http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1376081734_presidio% 20Central%20de% 20Porto%20Alegre.pdf. Acesso em: 7 jul.2015. 2 DUTRAS, Domingos. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito do sistema carcerário. Brasília: Câmara dos Deputados, 2008. p. 166. 3 FERREIRA, Guilherme Gomes. Travesti e prisões: a experiência social e a materialidade do sexo e do gênero sob o lusco-fusco de cárcere. 2014, 144 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: file:///d:/downloads/pris%c3%a3o%20travestis.pdf. Acesso em: 7 jul. 2015. 4 JARDIM, Ana Caroline Montezano Gonsales. Famílias e prisões: (sobre)vivências de tratamento penal. 2008. 151f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) Faculdade de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
seus cabelos cortados. Logo, a criação da ala especial significou, sem dúvidas, um progresso no que tange a proteção dos direitos humanos. Sendo válido destacar que o primeiro Estado a implementar uma ala voltada para o grupo GBT foi o Estado de Minas Gerais. Discussão A existência da ala não significou um benefício ou uma disparidade de tratamento entre os detentos homossexuais e os outros detentos do presídio. A medida foi tomada por necessidade de inclusão e proteção aos indivíduos, porém isto não significou total respeito aos direitos dos envolvidos. A violência ainda se faz presente, porém de formas diversas das antes relatadas. Trabalhos são desenvolvidos por ONGs para orientação desses detentos e os ativistas ainda buscam a consolidação de direitos, como o direito das travestis serem chamadas pelo nome social, respeitando assim sua diversidade de gênero. A discriminação da identidade das travestis torna-se ponto principal na discussão quanto à efetivação dos direitos humanos no presídio central de Porto Alegre. 5 Também atenta-se para a discussão referente a nova forma de controle a que estas travestis, homossexuais e companheiros são submetidos, já que esse grupo é inexoravelmente mais vigiado pelo Estado, experimentando assim, novas formas de vigilância. E tomando como base a violência que permeia a prisão, este olhar deve ser atencioso. A questão que é presente na ala das travestis vai muito além de uma questão político institucional, ela coloca em foco questões culturais e tradicionalistas que devem ser repensadas, a realidade vêm se modificando e cabe a sociedade encarála, buscando possíveis mecanismos para dirimir conflitos advindos dessas novas relações. Considerações finais É de responsabilidade do Estado qualquer injúria, violência ou outros atos que sejam direcionados aos detentos, é ele tutor dos apenados e responde por qualquer desrespeito aos direitos humanos. Já é hora do Estado entender que a omissão também é uma forma violência. A ala GBT do presídio central de Porto Alegre é um exemplo de que direitos podem ser exigidos, ela significa uma relevante conquista da comunidade homossexual. Porém não significa que a violência contra o grupo GBT dentro do presídio parou de existir, muitas questões ainda precisam ser buscadas e a militância tem se mostrado o melhor instrumento. 5 FERREIRA, op. cit.
A prisão segundo Foucault 6 é uma instituição que busca o disciplinamento, no presídio central de Porto Alegre não é diferente, mas a criação da ala especial significa a possibilidade de um meio mais sustentável e humano para o cumprimento e posterior reinserção destes indivíduos na sociedade. Referências BORRILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. BRASIL. Conselho nacional de combate à discriminação. Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito do sistema carcerário. Câmara dos Deputados, Brasília, 2008. FERREIRA, Guilherme Gomes. Travesti e prisões: a experiência social e a materialidade do sexo e do gênero sob o lusco-fusco de cárcere. 2014, 144 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: file:///d:/downloads/pris%c3%a3o%20travestis.pdf. Acesso em: 7 jul. 2015. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. GUADAGNIN, Renata. Ensaio sobre os ruídos balbuciados na rigidez da sombra. A ala das travestis do presídio central de Porto Alegre. 2013, 12 f. Ensaio (Mestranda) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em: file:///d:/downloads/pris%c3%a3o%20travestis.pdf. Acesso em: 7 jul. 2015. INFOPEN, Ministério da Justiça. População prisional do Presídio Central de Porto Alegre. Disponível em: < 6 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Tradução de Raquel Ramalhete. 20. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.
http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1376081734_presidio%20central%20de%20por to%20alegre.pdf> acesso em 7 de jul. 2015. JARDIM, Ana Caroline Montezano Gonsales. Famílias e prisões: (sobre)vivências de tratamento penal. 2008. 151f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) Faculdade de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. PASSOS, Amilton Gustavo da Silva. Uma ala para travestis, gays e seus maridos: Pedadogias institucionais da sobrevivência no presídio central de Porto Alegre. 2014, 108 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: file:///d:/downloads/tcc%20travestis.pdf. Acesso em: 7 jul. 2015.