NOTA DE APRECIAÇÃO DO DOCUMENTO ESPANHOL Linhas Estratégicas para a Internacionalização do setor agroalimentar ANÁLISE COMPARATIVA COM O DOCUMENTO PORTUGUÊS Estratégia Nacional para a Internacionalização do Agroalimentar Com o objetivo de melhorar a coordenação interministerial em matéria de internacionalização e na sequência de uma decisão de Julho de 2012 do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente de Espanha, foi criado um Grupo de Trabalho para definição das Linhas Estratégicas para a Internacionalização do Setor Agroalimentar, documento apresentado recentemente e o qual se aprecia não apenas no seu conteúdo e orientações expressas, mas também em comparação com trabalho similar desenvolvido pelo MAMAOT em Portugal, com a intervenção da PORTUGAL FOODS, da FIPA e da VINIPORTUGAL (Proposta do MAMAOT relativa às orientações estratégicas e às políticas públicas para o fomento da internacionalização do sector Agroalimentar para o período 2014-2020). 1. A Importância de uma estratégia conjunta e única para o setor agroalimentar O Documento espanhol realça a importância estratégica da internacionalização para o setor agroalimentar. Quer no que se refere ao diagnóstico, quer nas razões apontadas para a internacionalização, não existem diferenças significativas que distingam a Estratégia espanhola daquela que, há alguns meses, foi proposta pelo GPP à Tutela após os trabalhos de preparação da PORTUGAL FOODS e da concertação havida com outras organizações do setor, nomeadamente, FIPA e 1
VINIPORTUGAL. Com efeito, a necessidade de internacionalização do agroalimentar espanhol assenta nos mesmos vetores estratégicos: o incremento da economia com base na produção de bens transacionáveis; a atual e esperada por algum tempo contração da procura interna; a relativa saturação e elevado nível de concorrência nos mercados europeus; as oportunidades que se abrem com a dinâmica económica e social de mercados emergentes e as qualidades diferenciadoras dos produtos que potenciam boas oportunidades de mercado. 2. Setores em Análise O documento opta por uma exposição esquematizada com base em avaliações do setor, na sua globalidade e nas fileiras mais importantes, nomeadamente, as do azeite, das frutas e legumes, da carne, do vinho e da pesca e aquicultura. 3. Dificuldades de Desenvolvimento versus Necessidades de Investimento Como maiores fragilidades/dificuldades ao desenvolvimento da internacionalização são apontadas as seguintes: Necessidade de eliminar barreiras comerciais, Necessidade de coordenação e colaboração entre os organismos estatais e municipais e as organizações setoriais, Necessidade de melhorar a informação relativa à internacionalização, Insuficiente dimensão empresarial. Como se constata, estes constrangimentos são sensivelmente os mesmos que se apontam na análise das possibilidades portuguesas de internacionalização. O documento dá especial relevo à problemática das barreiras, sobretudo as barreiras não alfandegárias, as quais constituem o principal obstáculo nos processos de abertura de novos mercados em países fora da Europa. No quadro da avaliação das necessidades das empresas apresentam-se as que estão associadas à intensificação do investimento em promoção e marketing, designadamente, na melhoria da visibilidade e poder de atração da Marca Espanha, bem como na indução de maior coordenação entre os diferentes organismos estatais e autonómicos nesta área. Também é evidenciado como crítica a necessidade de adaptação dos produtos aos novos mercados o que passa por acentuados investimento nas áreas da inovação e desenvolvimento tecnológico. 4. Metodologias adotadas nos Diagnósticos Em termos de análise e perspetivas setoriais, o Documento, como já foi referido, centra-se em apenas cinco fileiras as quais representam, sem dúvida, o mais importante grupo de produtos exportados por Espanha e também aqueles que tem uma relação mais próxima com a agricultura. Neste particular, 2
distingue-se substancialmente do trabalho elaborado pela PORTUGAL FOODS o qual tem um perfil mais integral do agroalimentar nacional o que resulta, sem dúvida, da própria natureza da entidade que o realizou. Para cada um dos setores analisados, o Documento em apreço apresenta o diagnóstico sobre a produção, o comércio externo, a balança comercial, os destinos atuais e em expansão e o perfil empresarial. Em função destes, aponta as barreiras e necessidades e as respetivas ações a implementar. Socorrendo-nos ainda do trabalho efetuado pela PORTUGAL FOODS, também aqui não são muitas as diferenças entre o tipo de abordagem feito por uns e por outros. As vantagens existentes na Estratégia para Portugal que resultam de um tratamento mais aprofundado e medido das perspetivas de internacionalização (a procura externa, os mercados internacionais e as vantagens comparativas são mais desenvolvidas) são contrabalançadas por um maior detalhe das barreiras que o texto espanhol efetua, assim como das ações a desenvolver agrupadas por mercados, empresas e produtos. 5. Estratégia Espanhola De seguida e de forma sintetizada, elencam-se as principais ações identificadas pela Estratégia espanhola: MERCADOS Impulsionar acordos comerciais que permitam a abertura de novos mercados Efetuar estudos e análises de mercado sobre países de destino Assessoria às empresas nos países de destino Desenvolver campanhas de promoção com o objetivo de fomentar a imagem de qualidade Assessoria e informação sobre barreiras à importação dos países de destino Melhorar a coordenação de diferentes instituições sediadas em países terceiros Simplificar legislação conexa com a internacionalização EMPRESAS Melhoria do financiamento nos investimentos destinados a aumentar a dimensão empresarial, incrementar a investigação e o desenvolvimento tecnológico para a melhoria de qualidade e criação de novos produtos Formação para capacitação dos recursos humanos Apoio às iniciativas coletivas para a exportação: consórcios, agrupamentos, cooperativas. Reforçar a colaboração entre Administração e empresas PRODUTOS Incrementar a orientação comercial e desenvolver missões empresariais Maior promoção da Marca Espanha Apoio ao financiamento de I&D 3
6. Eixos de Intervenção Estratégica Espanhola Em termos de perspetivas de internacionalização o Documento estabelece quatro eixos de intervenção e um conjunto de medidas. Cada um dos eixos e medidas é, posteriormente, detalhado em ações mais concretas. Pese embora o detalhe das mesmas todas convergem, afinal, para os seguintes fatores-chave: Coordenação efetiva entre Departamentos da Administração Pública e entre estes e as empresas Capacitação técnica e de gestão das empresas em internacionalização Criação de plataformas de informação e partilha Incremento do investimento em promoção e marketing Incrementos dos apoios financeiros e de garantia às empresas em processo de internacionalização. 7. Estratégia e Eixos de Intervenção Portugueses Quando se contrasta com a proposta nacional (ver PRIORIDADES ESTRATÉGICAS) que, grosso modo, as mesmas preocupações e propostas revestem a proposta estratégica apresentada por Portugal sendo que aquilo que no texto espanhol é mais detalhado é compensado por propostas mais instrumentais no documento português. Vejamos as principais prioridades estratégicas apontadas para Portugal: 4
Providenciar políticas públicas de apoio à internacionalização Alinhar a oferta às reais necessidades de um mercado global Posicionar Portugal e as suas marcas Consolidar e explorar novas geografias Reforçar a diplomacia económica Criar um plano de comunicação e promoção, Investir na capacitação tecnológica e no capital humano, Criação de um modelo de business Intelligence e Criar um modelo de coordenação e supervisão da Estratégia excecional. Estas prioridades estratégicas concretizam-se em propostas concretas de gestão e operação materializadas, fundamentalmente, em quatro instrumentos fundamentais: Um INSTRUMENTO FINANCEIRO (e um balcão único para as candidaturas) para a internacionalização, onde os projetos de investimento se apresentam de forma integrada e articulada, Um PORTAL único de informação, Uma UNIDADE de business intelligence e Um CONSÒRCIO privado de gestão e coordenação da Estratégia. 8. Gestão e Acompanhamento da Estratégia Espanhola e Portuguesa Em matéria de coordenação e acompanhamento, como se pode constatar no extrato, a estratégia espanhola tem muitas semelhanças com a portuguesa. 5
9. Conclusão Em conclusão, pode referir-se que o texto estratégico espanhol e igual documento elaborado em Portugal se aproximam bastante quer nos propósitos de elegerem a Internacionalização como alavanca das economias internas face aos efeitos das crises sucessivas verificadas e ainda não solucionadas, quer nas perspetivas de consolidação nos mercados tradicionais e de expansão nos mercados com taxas de crescimento importantes e estáveis. Também se pode afirmar que existe uma similitude ampla no diagnóstico dos principais setores, salvaguardas as diferenças de dimensão e de vocação tradicional exportadora, assim como nas principais ações a desenvolver para melhorar o desempenho da economia do setor agroalimentar em termos de internacionalização. Neste contexto, destacam-se, pelo menos, as áreas de coordenação público-privada das ações e investimentos, do aprofundamento e maior empenho da diplomacia política e económica para ultrapassar constrangimentos e entraves administrativos na abertura de novos mercados extra europeus e, finalmente, do reforço e convergência de recursos financeiros para promover as iniciativas de exportação e internacionalização. Os resultados esperados do investimento em internacionalização vão depender, daqui para a frente, do modelo de gestão dos instrumentos de política e de apoio à internacionalização, da capacidade de gerir as perspetivas das partes envolvidas e da flexibilidade em ajustar as estratégias à evolução dos mercados, uma vez que o pensamento e o planeamento estratégicos para 2014/20 estão traçados, pelas partes envolvidas. 6