AÇÃO NEUTRALIZANTE DOS EXTRATOS DE Byrsonima crassifolia E Sebastiana hispida NO TRATAMENTO DAS ATIVIDADES BOTRÓPICAS INDUZIDAS PELO VENENO DE Bothrops moojeni sp EM CAMUNDONGOS BARROS, F. P 1,2 ;MACHADO, A. P 2 ;MATIAS, R. 3 ;PEREIRA, D 2 ; SILVA, B. A. K 2 ; DOURADO, D. M 2 1 Bolsista CNPq do curso de Ciências Biológicas; 2 Laboratório de Toxinologia e Plantas Medicinais; 3 Laboratório de Produtos Naturais - Universidade Anhanguera-Uniderp Campo Grande/MS RESUMO Os acidentes ofídicos são importantes devido à sua freqüência e gravidade. O procedimento terapêutico utilizado é a soroterapia, porém esse método não neutraliza de modo eficiente os efeitos locais acarretados pelas peçonhas botrópicas. Por este motivo as plantas medicinais são utilizadas como terapia alternativa, devido também ao alto custo dos medicamentos alopáticos e à busca da população por tratamentos menos agressivos ao organismo humano. Partindo deste princípio o presente trabalho objetivou avaliar a ação neutralizante do extrato metanólico das folhas de Byrsonima crassifólia (BcE) e Sebastiana hispida (ShE) no coxim da pata direita de camundongos Swiss inoculados com o veneno bruto de Bothrops moojeni sp nos intervalos de 1h; 3hs; 5 e 6hs. Para o procedimento experimental os animais (n=3) foram divididos em quatro grupos: Controle (SS); Grupo veneno (V); Grupo veneno+planta (VPI) tratado com BcE; Grupo veneno+planta (VPII) tratado com o ShE; Grupo Planta I (GPI) somente com BcE e grupo planta (GPII) com ShE.Cortes histológicos foram realizados e corados com Hematoxilina- Eosina e Tricrômico de Gomori. Conclui-se que o extrato dessas plantas consideradas medicinais foi benéfico e minimizou a maioria dos efeitos causados pela peçonha. PALAVRAS-CHAVE: acidentes ofídicos; soroterapia; veneno bruto. INTRODUÇÃO Os acidentes ofídicos representam grave problema de saúde pública. No Brasil, ocorrem entre 19 e 22 mil, acidentes ofídicos por ano. Dentre os casos em que a serpente é informada, o gênero Bothrops é o responsável por 80,5% das notificações. Bothrops moojeni é conhecida popularmente como Jararaca e pertencente à família Viperidae que tem cerca de 250 espécies distribuídas pelo mundo e são registrados anualmente 17.000 acidentes botrópicos com letalidade em torno de 0,6% (ALBUQUERQUE et al, 2005). Os venenos botrópicos possuem uma potente ação inflamatória, afetando drasticamente o tecido muscular, vasos sangüíneos e pele, induzindo lesões que podem levar a seqüelas permanentes (GUTIERREZ; LOMONTE, 2003; ROSENFELD, 1971). No local da inoculação ocorre intensa reação inflamatória que se reconhece por edema firme, dor, rubor e hemorragia local que pode ser seguida de necrose (ARAÚJO, 2006), que compromete além do músculo, tendões e ossos, causando distrofia e deixando sequelas (LOMONTE et al., 2003). O uso de plantas medicinais é uma alternativa ao alcance de todos devido seu baixo custo, por ser uma grande fonte rica de estudos farmacológicos e apresentar produtos biologicamente ativos (YUNES et al., 2001), como também a atividade de seus componentes que podem atuar como antivenenos de ofídios (OLIVEIRA, 2005). As plantas utilizadas nesse trabalho foram a Byrsonima crassifolia (Murici) e Sebastiana híspida (Capim-do-mato), ambas provenientes do Pantanal e com propriedades terapêuticas como as frações flavonoides, taninos, triterpenos entre outros. O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial neutralizante desses extratos frente às toxinas liberadas pelo veneno bruto de B. moojeni.
MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 63 camundongos da linhagem Swiss provenientes do biotério da Universidade Anhnaguera-Uniderp, mantidos com água e alimentação ad libitum. Este trabalho foi aprovado pelo comitê de ética no uso de animais (CEUA) ANHANGUERA EDUCACIONAL com parecer: 64-006/09-MS. O veneno utilizado foi uma mistura liofilizada resultante da extração de vários espécimes adultos de serpentes Bothrops moojeni sp., fornecido pelo Laboratório de Zoologia da Universidade Anhanguera-Uniderp. Foi mantido e preparado em concentração final de 50µl. As plantas B. crassifolia e S. hispida foram obtidos no Instituto de Pesquisa do Pantanal (IPPAN) Universidade Anhanguera-Uniderp, pantanal do Negro, Aquidauana, Mato Grosso do Sul, e seus extratos foram preparados pelo laboratório de Produtos Naturais provenientes da instituição. O processo inflamatório foi induzido pela administração intraplantar (i.p.) de veneno de B. moojeni (GV) na dose de 50 µg/pata direita em períodos de 1h, 3hs, 5 e 6 hs. O grupo VPI/BcE foi administrado com veneno (50 µg/ml) e extrato de B.crassifolia (40 µg/ml). O grupo VPII/ShE foi administrado na mesma proporção. O grupo Planta I (GPI/BcE) recebeu somente o extrato de B. crassifolia ((40 µg/ml)). O grupo planta II (VPII/ShE) recebeu 40 µg/ml do extrato de S. hispida na pata direita (i.m). O grupo administrado com solução salina (0,9 %) foi utilizado como controle. A pata direita foi coletada nos períodos estipulados, após procedimentos laboratoriais foi seccionada e corada com Hematoxilina-Eosina. Para a análise estatística do edema de pata induzido pelo veneno bruto, os dados foram tabulados e a hipótese de normalidade foi definida pela aplicação do teste de Shapiro Wilk. O nível de decisão foi estabelecido em p<0,05. Para os dados avaliados constatou-se predominância de valores com distribuição normal (p>0,05). Foi utilizado o teste de análise de variância de Kruskall-Wallis com pós-teste de Student-Newman-Keuls, também com nível de significância em p 0.05. RESULTADOS E DISCUSSÃO A B C Figura 1 : Fotomicrografias da morfologia da pata direita de camundongos Swiss injetados com solução salina a 0,9 %. Seta: A e C: Fibras musculares;b: tecido epitelial de aspecto organizado. HE/400/100X. Observou-se no grupo SS que a estrutura das fibras musculares apresentava aspecto habitual, sem alterações. GV 3horas GV 6horas A B C D Figura 2 : Fotomicrografias da morfologia da pata direita de camundongos Swiss injetados com veneno bruto de B. moojeni. Setas: A e D indicando derme e epiderme desorganizada; B e C: hemorragia e células inflamatórias. HE/400/100X.
No GV constatou-se em todos os períodos, infiltrado inflamatório persistente, hemorragia branda, fibras musculares em processo de degeneração, processos já descritos na literatura, de acordo com Souza (2006) e Cardoso et al (1993). Essas alterações foram mais visíveis nos períodos de 3hs e 6hs. VPI 3 horas VPI 6 horas VPII 3horas VPII 6horas A B C D Figura 3 : Fotomicrografias da morfologia da pata direita de camundongos Swiss injetados com veneno bruto de B. moojeni e tratado com BcE (VPI) períodos de 3 e 6 horas e grupo (VPII) injetado com veneno de B. moojeni e tratado com ShE, períodos de 3 e 6 horas. Setas: A: células inflamatórias;b; C e D: edema. HE/400/100X. No VPI o processo inflamatório manteve-se com proporção menor ao veneno e a hemorragia era branda. O edema também se mostrou com discreta diminuição. No VPII no período de 3hs o edema persistia e o processo inflamatório estava diminuído. Hemorragia estava ausente em 6hs. GPI 3 horas GPI 6 horas GPII 3horas GPII 6horas A B C D Figura 4 : Fotomicrografias da morfologia da pata direita de camundongos Swiss injetados com extrato metanólico de B. crassifolia (GPI), períodos de 3 e 6 horas; GPII injetado com extrato metanólico de S. hspida, períodos de 3 e 6 horas. Setas: A, B e C: pele com células inflamatórias;d:músculo evidenciando edema e infiltrado inflamatório. HE/400/100X. Borges et al (2000) descreveu que extratos ricos em compostos fenólicos reduzem em até 50 % o edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Em GPI, houve o acúmulo de células inflamatórias, mais visível nos períodos de 3 e 6 horas. No GPII, o acúmulo foi reduzido, porém o edema manteve-se em maior proporção. Análise estatística O efeito edematogênico mostrou que no grupo V, no período de 1h, o peso da pata aumentou significativamente em relação aos outros intervalos de tempo do mesmo grupo (1.64±0.05), seguido pelo intervalo de 3 horas (1.23±0.02); 5 horas (1.21±0.01); e 6 horas (1.29±0.06). No grupo VPI na primeira hora da inoculação do veneno tratado com o extrato de B. crassifolia houve uma diminuição drástica do peso da pata (1.24±0.05). Nos intervalos de 3 e 5 horas a média foi de 1.30±0.02 e 1.25±0.01, ultrapassando a média do grupo V no mesmo período. No período de 6 horas a média foi de (1.27±0.03), um pouco abaixo quando comparada com o grupo V. O grupo planta II mostrou um maior potencial edematogênico do que o grupo planta I, a sugerir que há componentes no extrato que não neutralizam o efeito edematogênico causado pelo veneno.
Figura 5 : Peso em gramas das patas dos animais pertencentes aos grupos: veneno, veneno e planta I, veneno e planta II e solução salina nos tempos 1, 3, 5 e 6 horas. Valores expressos em média e desvio padrão. 1.00 20 0.75 0.50 10 0.25 0.00 0 Figura 6: Comparação entre o comprimento transversal entre os vários momentos do estudo para o grupo Byrsonima crassifolia Figura 7: comparação entre o comprimento longitudinal entre os vários momentos do estudo para o grupo Sebastiana hispida 25 20 15 10 5 0 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 Figura 8: Comparação entre o comprimento longitudinal entre os vários momentos do estudo para o grupo Byrsonima crassifolia Figura 9: Comparação entre o comprimento transversal entre os vários momentos do estudo para o grupo Sebastiana hispida CONCLUSÃO O Extrato metanólico de Sebastiana hispida mostrou uma melhor neutralização no processo hemorrágico e inflamatório induzido pela peçonha de Bothrops moojeni em comparação com o extrato aquoso de Byrsonima crassifolia, porém o extrato de B. crassifolia mostrou-se mais eficaz em relação a diminuição do edema. AGRADEDICMENTOS Ao CNPq, aos meus colegas do laboratório de Toxinologia e Plantas Medicinais e ao laboratório de Plantas Naturais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, H. N.; COSTA, T. B. G.; CAVALCANTI, M. L. F. Estudo dos Acidentes Ofídicos Provocados por Serpentes do Gênero Bothrops Notificados no Estado da Paraíba. Revista Biociência. 5: 1-7, 2005. ARAÚJO, S. D. Associação de antiinflamatórios à soroterapia no tratamento do edema de pata induzido pelo veneno de Bothrops jararaca em camundongos. 2006. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 2006. BORGES, M. H. et al. Effects of aqueous extract of Casearia sylvestris (Flacourticeae) on action of snake and bee venoms and on activity of phospholipases A2. Comparative Biochemistry and Physiology. Parte B 127: 21-30, 2000. CARDOSO, J. L. C.; FAN, H. W.; FRANÇA, F. O. S.; JORGE, M. T.; LEITE, R. P.; NISHIOKA, S. A. et al. Randomized comparative trial of three antivenoms in the treatment of envenoming by lance-headed vipers (Bothrops jararaca) in São Paulo, Brazil. The quart Journal of Medicine. 86: 315-325, 1993 GUTIÉRREZ, J. M.; LOMONTE, B. Phospholipase A2 myotoxins from Bothrops snake venoms. Toxicon, 33: 1405-1424, 2003. LOMONTE, B.; ANGULO, Y.; CALDERÓN, L. An overview of lysine-49 phospholipase A2 myotoxins from crotalid snake venoms and their structural determinants of myotoxic action. Toxicon; 42: 885-901, 2003. OLIVEIRA, C. Z. et al. Anticoagulant and antifibrinogenolytic properties of the aqueous extract from Berutinia forticata against snake venoms. Journal of Ethnopharmacology. 98: 213-216, 2004. ROSENFELD, G. Symptomatology, pathology and treatment of snakes bites in South América. Venomous Animals and Their Venoms. New York: Academic Press, 2: 345-362, 1971. SOUZA, S. M. C. EFEITO DO EXTRATO HIDROALCOOLICO DA Eclipta prostrata EM MODELO DE INFLAMAÇÃO IN VIVO, INDUZIDA PELO VENENO DA SERPENTE Bothrops moojeni. Tese de dissertação São josé dos campos, 2006. YUNES, A. R.; PEDROSA, R. C.; FILHO, V. C. Fármacos e fitoterápicos: a necessidade de desenvolvimento da indústria de fitoterápicos no Brasil. Química Nova. 24: 146-152, 2001.
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