PROCESSO : 0051559-54.2016.4.01.3400 CLASSE AUTOR INTELIGENCIA RÉU : AÇÃO ORDINÁRIA / SERVIÇOS PÚBLICOS : ASSOCIACAO DOS SERVIDORES DA AGENCIA BRASILEIRA DE : GEAP AUTOGESTAO EM SAUDE, UNIAO FEDERAL DECISÃO Trata-se de ação submetida ao rito comum ordinário ajuizada pela ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES DA AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA - ASBIN em face da UNIÃO FEDERAL e do GEAP AUTOGESTÃO EM SAÚDE, em que pretende provimento judicial, em sede de tutela de urgência, para i) suspender de imediato o reajuste operado pela Resolução n. 99/2015/CONAD/GEAP, restabelecendo-se o valor de contribuição individual anteriormente pago pelos Beneficiários filiados à ASBIN e dependentes e agregados; ou, subsidiariamente, para ii) limitar o reajuste operado pela Resolução n. 99/2015/CONAD/GEAP ao valor de 20% (vinte por cento). Para tanto, aduz, em síntese, que seus filiados são beneficiários do Plano de Saúde gerido pela GEAP, com fundamento no Convênio por Adesão de nº 1/2013 firmado entre a UNIÃO e a GEAP, cujo objeto é a prestação de assistência à saúde suplementar, na modalidade coletivo empresarial, de abrangência nacional. Relata que foi autorizado aumento na ordem de 37,55% (trinta e sete vírgula cinquenta e cinco por cento) sobre a contribuição mensal dos beneficiários, com efeitos a partir de 1º de fevereiro de 2016. Complementa que, a depender da faixa etária dos beneficiários, o reajuste pode chegar a aproximados 54,65% (cinquenta e quatro vírgula sessenta e cinco por cento) da contribuição individual. Pág. 1/6
Insurge-se porquanto desarrazoado aumento representa violação a isonomia, boa-fé objetiva e razoabilidade, entre outros. A inicial veio instruída com procuração e documentos (fls. 23/112). Custas devidamente recolhidas (fl. 114). Relatório de prevenção (fls. 115/122). É o relatório. DECIDO. O deferimento da antecipação dos efeitos da tutela jurídica pressupõe a presença concomitante da prova inequívoca da verossimilhança das alegações autorais, consubstanciada na probabilidade de que o autor tenha mesmo o direito que assevera ter, segundo o magistério sempre atual do eminente professor Luiz Rodrigues Wambier 1, de sorte que o direito a ser tutelado se revele apto para seu imediato exercício, bem como que exista o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Isso porque, com a tutela antecipada, há ao adiantamento (satisfação) total ou parcial da providência final, ao contrário da tutela cautelar em que se busca, tão somente, salvaguardar ou conservar uma situação até o julgamento final. A par de que o CPC/15 unifica as atuais tutela antecipada e tutela cautelar sob o nome de tutela provisória, ainda hoje necessário se faz a distinção de ambos os institutos. O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o RESP 2006011290563, entendeu que não se pode admitir qualquer reajuste abusivo na contribuição paga pelos beneficiários de plano de saúde, a caracterizar abuso comercial. Nesse sentido, confiram-se os seguintes arestos: 1 Wambier, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, volume 1 / 15ª Ed. - São Paulo, pág. 458. Pág. 2/6
DIREITO CIVIL. CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.CLÁUSULA DE REAJUSTE POR MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. INCREMENTO DO RISCO SUBJETIVO. SEGURADO IDOSO. DISCRIMINAÇÃO. ABUSO A SER AFERIDO CASO A CASO. CONDIÇÕES QUE DEVEM SER OBSERVADAS PARA VALIDADE DO REAJUSTE.1. Nos contratos de seguro de saúde, de trato sucessivo, os valores cobrados a título de prêmio ou mensalidade guardam relação de proporcionalidade com o grau de probabilidade de ocorrência do evento risco coberto. Maior o risco, maior o valor do prêmio.2. É de natural constatação que quanto mais avançada a idade da pessoa, independentemente de estar ou não ela enquadrada legalmente como idosa, maior é a probabilidade de contrair problema que afete sua saúde. Há uma relação direta entre incremento de faixa etária e aumento de risco de a pessoa vir a necessitar de serviços de assistência médica.3. Atento a tal circunstância, veio o legislador a editar a Lei Federal nº 9.656/98, rompendo o silêncio que até então mantinha acerca do tema, preservando a possibilidade de reajuste da mensalidade de plano ou seguro de saúde em razão da mudança de faixa etária do segurado, estabelecendo, contudo, algumas restrições e limites a tais reajustes.4. Não se deve ignorar que o Estatuto do Idoso, em seu art. 15, 3º, veda "a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade". Entretanto, a incidência de tal preceito não autoriza uma interpretação literal que determine, abstratamente, que se repute abusivo todo e qualquer reajuste baseado em mudança de faixa etária do idoso. Somente o reajuste desarrazoado, injustificado, que, em concreto, vise de forma perceptível a dificultar ou impedir a permanência do segurado idoso no plano de saúde implica na vedada discriminação, violadora da garantia da isonomia.5. Nesse contexto, deve-se admitir a validade de reajustes em razão da mudança de faixa etária, desde que atendidas certas condições, quais sejam: a) previsão no instrumento negocial; b) respeito aos limites e demais requisitos estabelecidos na Lei Federal nº 9.656/98; e c) observância ao princípio da boa-fé objetiva, que veda índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia o segurado.6. Sempre que o consumidor segurado perceber abuso no aumento de mensalidade de seu seguro de saúde, em razão de mudança de faixa etária, poderá questionar a validade de tal medida, cabendo ao Judiciário o exame da exorbitância, caso a caso.7. Recurso especial provido. (REsp 866.840/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Pág. 3/6
Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 07/06/2011, DJe 17/08/2011) CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.REAJUSTE DE MENSALIDADE. PLANO DE SAÚDE. CLÁUSULA ABUSIVA. AGRAVO IMPROVIDO. Não se conhece de matéria que o Tribunal de origem, a despeito dos embargos de declaração suscitados, não se manifestou expressamente. Inafastável a incidência da Súmula n. 211 do STJ.2. Não cabe a análise de ofensa a resoluções ou instruções normativas em recurso especial, por não se enquadrarem no conceito de lei federal previsto no art. 105, III, a, da Constituição Federal.3. "O reajuste de mensalidade de plano de saúde em razão da mudança de faixa é admitido, desde que esteja previsto no contrato, não sejam aplicados percentuais desarrazoados, com a finalidade de impossibilitar a permanência da filiação do idoso, e seja observado o princípio da boa-fé objetiva" (EDcl no AREsp n. 194.601/RJ, Relatora a Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe de 9/9/2014).4. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1523036/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/06/2015, DJe 16/06/2015) Quanto ao pedido de limitação ao percentual do reajuste em 20% (vinte por cento), adoto as razões de decidir do Agravo de Instrumento de nº 0008182-48.2016.4.01.0000/DF, em que figura como agravante a GEAP, proferidas pelo Rel. Desembargador Federal Jirair Aram Meguerian: 11. Parecem-me relevantes, ademais, as alegações de que (a) a ANS, juntamente com a PREVIC, interviu na GEAP buscando melhor controle econômicofinanceiro para garantir a manutenção econômica dos planos de saúde, já que em 2012 sua dívida era superior a R$ 500.000.000,00; (b) ter sido elaborado Plano de Adequação Econômico-Financeira (PLAEF), que não considerou premissas que Pág. 4/6
impossibilitariam seu cumprimento, como as decisões na ADI nº 5086/DF e Representação no TECU Nº 0003.038/2015-7, que impediram a adesão de novos beneficiários aos planos ofertados pela GEAP; (c) imputou-se à agravante a absorção de carteira financeiramente comprometida da extinta operadora de planos de saúde FASSINCRA; (d) atualmente, a GEAP encontra-se em regime de direção fiscal, que tem como objetivo recuperar a saúde financeira da operadora de saúde; e (e) o prejuízo acumulado pela GEAP é de cerca de R$ 234.000.000,00, havendo a exigência de um ativo garantidor no valor de R$ 150.000.000,00. 12. Amparado em tais fundamentos, e sendo certo, ainda, que ambas as partes formulam, como pedido subsidiário, a observância do reajuste de 20% de inflação médica indicado pela ANS para o ano de 2016, entendo deva ser acolhido em parte o inconformismo da agravante a fim de que, não obstante a suspensão dos efeitos do reajuste incidente sobre a contribuição individual perpetrada pela Resolução GEAP/CONUD nº 099/2015, lhe seja assegurado adotar o reajuste de 20% de inflação médica indicado pela ANS para o ano de 2016, na obstante a suspensão da Resolução GEAP/CONAD Nº 099/2015. Portanto, em que pesem as alegações da GEAP referidas, tenho que se mostra razoável e proporcional um reajuste de 20% (vinte por cento) nas contribuições ao plano de saúde, ao passo que, se por um lado onera demasiadamente os segurados, por outro viabiliza a continuidade do atendimento por parte da operadora. Em sendo assim, diante da notória probabilidade de que o reajuste implementado pela GEAP venha a inviabilizar a permanência dos segurados e seus dependentes no plano de saúde, bem como pelos indícios de um reajuste abusivo a onerá-los em excesso, vislumbro, em juízo preliminar, presentes os requisitos a ensejar a concessão da medida vindicada. Forte em tais razões, DEFIRO PARCIALMENTE o pedido de antecipação dos efeitos da tutela jurídica, para limitar o reajuste operado pela Resolução nº 99/2015/CONAD/GEAP ao patamar de 20% (vinte por cento) sobre a contribuição mensal dos beneficiários filiados da Autora. Pág. 5/6
Publique-se. decisão. Intimem-se, com urgência, as Rés para ciência e imediato cumprimento da presente Transcorrido o prazo recursal, remetam-se os autos ao Centro Judiciário de Conciliação, tendo em vista a manifestação da parte Autora quanto ao interesse na autocomposição da controvérsia (fl. 20). Decisão registrada eletronicamente. Brasília/DF, 10 de novembro de 2016. (assinado digitalmente) BRUNO ANDERSON SANTOS DA SILVA Juiz Federal Substituto da 3ª Vara/SJDF Pág. 6/6