fls. 328 Registro: 2014.0000830168 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000, da Comarca de, em que é agravante GILDA MICHELINA MAIORANA DE FAZIO, é agravado DIRETOR EXECUTIVO DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA DA SECRETÁRIA DA FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores TORRES DE CARVALHO (Presidente) e ANTONIO CELSO AGUILAR CORTEZ., 15 de dezembro de 2014. MARCELO SEMER RELATOR Assinatura Eletrônica
fls. 329 Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 Agravante: Gilda Michelina Maiorana de Fazio Agravado: Diretor Executivo de administração Tributária da secretária da Fazenda do Estado de Comarca: Voto nº 2187 AGRAVO DE INSTRUMENTO ARROLAMENTO DE BENS BASE DE CÁLCULO DO ITCMD VALOR VENAL DO IMÓVEL VALOR CONSTANTE DO IPTU. Incidência do artigo 38 do CTN e artigos 9º, 1º e 13, inciso I, da Lei Estadual nº 10.750/00. Decisão reformada. Recurso provido. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão de fls. 169/170 que, em sede de mandado de segurança, indeferiu o pedido de medida liminar, ante a ausência do fumus boni iuris, sob o argumento que a base de cálculo do ITCMD é e sempre foi o valor de mercado do bem na data da abertura da sucessão. Em razões recursais, a agravante alega que: i) não tem o condão de derrogar a legislação de regência o Ofício Circular DEAT nº 27/2009, que determinou a alteração da base de cálculo do ITCMD para imóveis situados no Município de, de forma a ser adotado o valor de mercado para cálculo do ITBI; ii) o referido ofício definiu critério não igualitário, posto que modificou a base de cálculo do tributos apenas no tocante aos imóveis da cidade de, ferindo os princípios constitucionais da legalidade e da igualdade; iii) a obrigação tributária foi extinta com o recolhimento da GARE, estando o ato jurídico perfeito e acabado; iv) a tabela de referência do ITBI provém do Decreto nº 46.228/05, do Município de, de forma que se mostra ilegal e inconstitucional a majoração do tributo por instrumento normativo diverso Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 2
fls. 330 da lei, nos termos do artigo 150, I, da Constituição Federal, e do artigo 97, I e II, do CTN; v) o citado Decreto foi declarado inconstitucional por julgamento do C. Órgão Especial deste Tribunal de Justiça. O efeito ativo foi concedido (fls. 298). Recurso tempestivo. Contraminuta às fls. 311/320. É O RELATÓRIO. Inicialmente, cumpre lembrar que a medida liminar é provimento cautelar admitido pela própria lei de mandado de segurança quando sejam relevantes os fundamentos da impetração e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da ordem judicial, se concedida ao fim (art. 7º, I I, da Lei n. 12.016/09). Assim, para a concessão da liminar devem concorrer os dois requisitos legais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante, se vier a ser reconhecido na decisão de mérito. A agravante é única herdeira do Espólio de Luiz Antonio Carneiro, nos autos de arrolamento sumário, processo nº 1052562-72.2014.8.26.0100, em trâmite perante a 1ª Vara da Família e Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 3
fls. 331 Sucessões da Comarca da Capital de. A agravante procedeu ao recolhimento do ITCMD, por intermédio do sistema e programa eletrônico da Secretaria da Fazenda do Estado de, informando a relação dos bens e direitos declarados em juízo, sendo que, em relação aos bens imóveis, foram os valores declarados de acordo com o valor venal do lançamento do IPTU da Prefeitura Municipal de e da Municipalidade de Guarulhos, onde estão situados os bens. A guia foi emitida pelo programa e paga pela agravante. Todavia, por meio da Notificação Fiscal nº 1908/14, nova declaração de ITCMD, demonstrativo de cálculo e nova GARE devidamente recolhida foram exigidos, com o dever de que a base de cálculo do tributo, no tocante aos imóveis, seja o valor de mercado na data da sucessão, sob pena de lançamento de ofício do imposto e multa. A agravante impetrou mandado de segurança e requereu a concessão de medida liminar, para o fim de ser declarada sem efeito, ou, ainda, suspensa a Notificação Fiscal nº 1908/2014, assim como, qualquer exigência do Fisco Estadual no sentido do recolhimento complementar do ITCMD, em razão de diferenças verificadas entre o valor venal utilizado para cálculo do IPTU e o valor venal de referência adotado de forma ilegal pela autoridade coatora, de forma a possibilitar o Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 4
fls. 332 prosseguimento do arrolamento sumário. O MM. Juízo de primeiro grau indeferiu a medida liminar, sob o fundamento de que a legislação tributária estadual adota como base de cálculo do ITCMD o valor de mercado do bem na data da abertura da sucessão (fls. 169/170). A r. decisão merece reforma. O Código Tributário Nacional, ao tratar do imposto de transmissão sobre bens, no artigo 38, estipula que a base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos. No estado de, conforme o determinado no artigo 155, I, da CF, o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações foi instituído pela Lei Estadual nº 10.705/00 (regulamentado pelo Decreto nº 46.655/02 RITCMD). Para a transmissão hereditária de bens imóveis, a base de cálculo para o recolhimento do imposto está prevista nos artigos 9º, 1º e 13, inciso I, da lei, nestes termos: Artigo 9º: a base de cálculo do imposto é o valor venal do bem ou direito transmitido, expresso em moeda nacional ou em UFESPs (Unidades Fiscais do Estado de ). 1º - Para os fins de que trata esta lei, considera-se valor venal o valor de mercado do bem ou direito na data da abertura da sucessão ou da realização do ato ou contrato de doação.... Artigo 13 No caso de imóvel, o valor da base de Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 5
fls. 333 cálculo não será inferior: I em se tratando de imóvel urbano ou direito a ele relativo, ao fixado para o lançamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana IPTU. (g. n.) Na Notificação nº 1908/2014 (fls. 166/167), o Fisco determinou a complementação da quantia recolhida, conforme as diferenças por ele apuradas. No aludido documento consta que a base de cálculo do imóvel urbano é o valor de mercado, conforme disposto no 1º do artigo 9º, da Lei nº 10.705/00, alterada pela Lei nº 10.992/2011. O valor apurado pelo Fisco foi obtido por meio de consulta de dados para o cálculo do ITBI, cuja base de cálculo reflete o valor venal de imóveis situados no Município de. Comentando o art. 38 do CTN, na obra Código Tributário Nacional Comentado (Coordenação Vladimir Passos de Freitas, Ed. Revista dos Tribunais, 6ª edição, p. 1165), Odmir Fernandes preleciona que: A base de cálculo do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação, a título gratuito, de competência estadual, é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos. Normalmente a lei aceita os valores fixados para lançamento de outros impostos, a exemplo do Imposto Predial e Territorial Urbano IPTU, do Imposto Territorial Rural ITR ou do próprio Imposto de Renda, mas, não havendo um valor efetivo ou não sendo aceitos os valores apresentados Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 6
fls. 334 pelo contribuinte deve-se realizar avaliação administrativa ou judicial, com o contraditório, na forma do art. 148 do CTN e do art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal de 1988. (g. n.) E também Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira, na obra Inventários e Partilhas Direito das Sucessões Teoria e Prática, 17ª ed., 2004, discorreram sobre o assunto, em arremate: A base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos, conforme o cadastro oficial. Dispensa-se, pois, avaliação dos bens a menos que exigida pela lei local. No caso, a lei paulista aceitou como valor para lançamento do ITCMD aquele fixado no IPTU, de sorte que qualquer modificação nesse sentido dependeria de alteração legislativa, conforme determina o princípio da legalidade (artigo 97, II, 1º, do Código Tributário Nacional), o que não se coaduna com a hipótese dos autos. decidiu a questão, como se vê: Neste sentido esta E. Corte de Justiça também já Agravo de instrumento. Base de cálculo do ITCMD que é o valor venal do imóvel, da data da abertura da sucessão, devidamente atualizado. Inteligência dos arts. 38, do CTN e 9º, da Lei Estadual nº 10.705/2000. Impossível a utilização de atual valor de mercado. Afronta aos princípios da irretroatividade e da anterioridade. Recurso provido (Apelação nº 0019591-31.2012.8.26.0000. Relator(a): Fábio Quadros. Comarca:. Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 01/03/2012. Data de registro: 05/03/2012). Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 7
fls. 335 APELAÇÃO MANDADO DE SEGURANÇA - IMPOSTO SOBRE TRANSMISÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO DE QUAISQUER BENS OU DIREITOS (ITCMD) - BASE DE CÁLCULO ITBI - INADMISIBILIDADE ADOÇÃO DE CRITÉRIO DIVERSO DAQUELE ESTABELECIDO PELA LEI QUE CONFIGURA MALTRATO AO POSTULADO DA RESERVA LEGAL - SEGURANÇA CONCEDIDA SENTENÇA MANTIDA. A base de cálculo do ITCMD, nos termos da lei é o valor venal do bem ou direito transmitido na época da abertura da sucessão. RECURSOS DESPROVIDOS. (Apelação nº 0038644-04.2010.8.26.0053. Relator: Amorim Cantuária. Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Público. Data do julgamento: 13/12/2011). CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO MANDADO DE SEGURANÇA LIMINAR CRÉDITO TRIBUTÁRIO SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE ITCMD BASE DE CÁLCULO VALOR VENAL DE REFERÊNCIA DO ITBI CONCORRÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. 1. Para concessão de liminar em mandado de segurança é necessária a concorrência dos requisitos da relevância da fundamentação e da irreparabilidade do dano (art. 7º, III, da Lei nº 12.016/09). 2. Impetração visando afastar a exigência de ITCMD com base no valor de referência do ITBI. Concorrência dos requisitos legais. Liminar deferida. Admissibilidade. Decisão mantida. Recurso desprovido. (Agravo de Instrumento nº 2041454-72.2013.8.26.0000. Relator: Décio Notarangeli. Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Público. Data do julgamento: 13/12/2013) Também assim decidido em acórdão que relatei (Apelação nº 4004575-98.2013.8.26.0269. Órgão julgador: 10ª Câmara de Direito Público. Data do julgamento: 28/07/2014). Assim, o ITCMD deve ser calculado com base no valor venal da data do falecimento, ou seja, na abertura da sucessão, Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 8
fls. 336 devidamente atualizado. Destarte, sendo relevante o fundamento, é o caso de concessão de medida liminar, nos termos do artigo 7º, III, da Lei nº 12.016/09. Portanto, de rigor a reforma da decisão agravada, confirmando-se o despacho de fls. 298, que suspendeu a Notificação Fiscal nº 1908/2014. Ante o exposto, dou provimento ao recurso. MARCELO SEMER Relator Agravo de Instrumento nº 2172687-61.2014.8.26.0000 -Voto nº 2187 9