27 de Janeiro 2016 Área de Prática de Direito Público & Ambiente DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL N.º 27/2015/A, DE 29 DE DEZEMBRO: O REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS PÚBLICOS NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES I. O âmbito O Decreto Legislativo Regional n.º 27/2015/A, de 29 de Dezembro procede à transposição parcial da Directiva 2014/24/UE do Parlamento Europeu e do Conselho de 26 de Fevereiro, relativa aos contratos públicos, sendo que a sua aplicação à Região Autónoma dos Açores ( RAA ) não prejudica a aplicação, no remanescente, do Código dos Contratos Públicos ( CCP ) e demais legislação nacional da contratação pública. Este diploma aprova assim o novo regime jurídico dos contratos públicos na RAA celebrados por entidades adjudicantes regionais, define a disciplina aplicável à contratação pública e o regime substantivo dos contratos públicos que revistam a natureza de contrato administrativo. Revoga-se portanto o anterior Decreto Legislativo Regional n.º 34/2008/A, de 28 de Julho, na sua redacção actualizada (que regulava as regras especial da contratação pública na RAA), bem como um conjunto de legislação dispersa sobre diversas matérias correlacionadas 1. O diploma entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2016 e aplica-se apenas aos procedimentos de formação de contratos públicos iniciados após esta data e à execução dos contratos celebrados após esta mesma data (Parte III). II. Os objectivos das alterações propostas As alterações constantes do citado Decreto Legislativo Regional n.º 27/2015/A destinam-se a acautelar os seguintes objectivos: 1.1 Transparência e da celeridade processual; 1.2 Adequabilidade à realidade da Região Autónoma dos Açores; 1.3 Impulso económico que pode ser transmitido às pequenas e médias empresas que compõem maioritariamente o universo do mercado regional. 1 Revoga: a) O Decreto Regulamentar Regional n.º 11/77/A, de 16 de abril, que adota medidas definidoras da competência para a autorização de despesas com obras e com a aquisição de bens e serviços; b) O Decreto Legislativo Regional n.º 8/88/A, de 28 de março, que regulamenta os concursos públicos de empreitadas de obras públicas e de aquisição de bens e serviços; c) O Decreto Regulamentar Regional n.º 19/89/A, de 22 de maio, que estabelece regulamentação da realização e dispensa de concursos públicos e limitados, bem como as condições da celebração de contrato escrito; d) O Decreto Legislativo Regional n.º 14/2009/A, de 29 de julho, que aprova o regime excecional de liberação da caução nos contratos de obras públicas; e) Os artigos 24.º do Decreto Legislativo Regional n.º 3/2012/A, de 13 de janeiro, 25.º do Decreto Legislativo Regional n.º 2/2014/A, de 29 de janeiro e 24.º do Decreto Legislativo Regional n.º 1/2015/A, de 7 de janeiro. 1/5
1.1 Da transparência e da celeridade processual 1.1.1 Celeridade Encurtam-se os prazos para a qualificação dos concorrentes e para a apresentação de propostas, sem diminuição das garantias dos particulares, reduzindo-se o prazo entre o início do procedimento e a efectiva concretização da contraprestação. 1.1.2 Transparência Promove-se uma redução do valor admitido para os trabalhos a mais, fixando-se a percentagem em 20 % do valor contratual, por oposição aos anteriores 25 % (diferentemente dos 40 % presente no actual Código dos Contratos Públicos) artigo 78º. Fixa-se, na falta de disposição expressa nas peças do procedimento, o preço total anormalmente baixo em preço correspondente a 40% ou mais inferior ao preço base artigo 30º. 1.2 Da adequabilidade à realidade da Região Autónoma dos Açores 1.2.1 Introdução a título permanente do regime de liberação de caução, o qual encontra previsão nos artigos 80.º a 82.º do diploma, sendo de salientar o seguinte: O regime deve estar previsto especificamente no contrato, estando vedada a possibilidade de enxertar o mesmo na fase de execução do contrato, salvo quando haja uma alteração superveniente das circunstâncias com impacto sobre esta matéria (com respeito pelas normas do CCP) artigo 80.º; Caso estejamos perante um contrato em que não haja obrigações de correcção de defeitos a caução deve ser libertada pelo contraente público no prazo 30 dias, após o cumprimento de todas as prestações do contrato artigo 81.º, n.º 1; Se estivermos perante um contrato em que haja obrigações de correcção de defeitos 2, pode o contraente público promover a liberação da caução no prazo de um ano após a execução do contrato 3 artigo 81.º, n.º 2. Neste caso, está a mesma dependente de requerimento do co-contratante, o qual deve ser instruído 30 dias antes do termo do prazo de liberação ou a qualquer altura depois disso, tendo o contraente público 30 dias para proferir decisão artigo 82.º, n ºs 1 e 2. 1.2.2 Introdução de novos impedimentos à participação em procedimentos de formação de contratos 4 e novos Anexos I, II e III (correspondentes respectivamente aos Anexos I, V e II do CCP) artigos 33.º, n.º 1, alínea d), 36º e 40º. 1.2.3 Introdução da possibilidade de exigir, em sede de habilitação, documentos relativos à capacidade económico-financeira e profissional do adjudicatário para executar o contrato artigo 40º. 2 Neste caso, a liberação está dependente da inexistência de defeitos da contraprestação, salvo se estes forem de pequena monta e o contraente público dispensar a sua correcção artigo 81.º, n.º 3. 3 Ou no caso das empreitadas de obra pública na data da entrega provisória da obra. 4 Exemplificativamente por deficiências persistentes na execução contratual. 2/5
1.3 Do impulso económico que pode ser transmitido às pequenas e médias empresas. 1.3.1 Introdução da figura das Parcerias para a Inovação, que funciona como um novo procedimento. Este é o procedimento pelo qual uma entidade adjudicante regional visa obter um produto, serviços ou obras que não existem para aquisição no mercado, exigindo-se o seu desenvolvimento ex novo. A sua aplicação depende de três requisitos: i) Descrição dos requisitos mínimos para que todos os candidatos a parceiros devem preencher; ii) Indicação de um conjunto de informações suficientemente precisas e que permitam aos candidatos a parceiros compreender o âmbito e a natureza do serviço; iii) Se a parceria será desenvolvida com um ou mais candidatos artigos 47 e segs.º 1.3.2 Institucionaliza-se a regra da divisão em lotes para contratos cujo objecto possa ser dividido em prestações iguais, correspondendo a cada uma um contrato diferente artigo 24.º. 1.3.3 Dá-se início à rotulagem, como ferramenta importante na fundamentação da decisão de contratar com base em critérios de sustentabilidade social e ambiental, parametrizados nas referências internacionais. Esta rotulagem carece de diploma próprio e determinará o conjunto de requisitos a preencher pelos co-contratantes artigo 22.º, n.º 2. 1.3.4 Prevê-se a possibilidade da entidade adjudicante promover pagamentos, directamente para os subcontratados, pelo adjudicatário artigo 74.º. 1.3.5 Cria-se um regime que favorece as pessoas com deficiência ou em estado de carência social, dado que as entidades adjudicantes regionais podem reservar a contratação a entidades em que 30% dos trabalhadores sejam trabalhadores com deficiência ou desfavorecidos artigo 34.º, n.º 1. III. A contratação excluída Contratos excluídos 1. O regime jurídico definido pelo diploma não é aplicável aos contratos que, com incidência especial sobre a RAA, sejam celebrados: i) ao abrigo de uma convenção internacional (em que seja parte o Estado Português) ao previamente comunicada à Comissão Europeia, que tenha por objecto obras, fornecimentos ou exploração conjunta de serviços; 3/5
ii) quando seja seguido o procedimento específico de uma organização de que Portugal seja parte; iii) quando seja seguido o procedimento específico de uma instituição ou organização financeira internacional, sendo o contrato financiado por esta; iv) quando estejam em causa convenções internacionais em matéria de defesa, nomeadamente no que toca ao estacionamento de tropas nos Açores. 2. Por outro lado, o diploma enumera um conjunto de contratos específicos que não podem ser sujeitos a este regime, nomeadamente contratos individuais de trabalho e em funções públicas, serviços jurídicos, ou mesmo serviços de defesa e protecção civil e prevenção de riscos artigo 5º. Exclusão de aplicação da Parte II (tipos de procedimento) do diploma i) Quando o objecto do contrato não esteja, nem seja susceptível de estar sujeito à livre concorrência de mercado; ii) Independentemente do seu objecto, quando seja parte uma entidade adjudicante regional e esta exerça sobre o co-contratante influência semelhante à que exerce sobre os seus próprios serviços, e que mais de 80 % da actividade da referida co-contratante corresponda a funções confiadas pelas entidades adjudicantes regionais ou por outras por elas controladas. iii) Quando o contrato estabeleça um regime de cooperação entre duas entidades adjudicantes regionais e objecto do contrato tenha o propósito de desenvolver fins comuns a estas, bem como, quando a cooperação mencionada seja regida por considerações de interesse público, ou ainda, quando as entidades adjudicantes exerçam no mercado livre menos de 20 % das funções abrangidas pela cooperação 5. Exclui-se igualmente a aplicação da Parte II a alguns tipos específicos de contratos: i) Contratos celebrados com outra entidade adjudicante em virtude de ser esta titular de um direito de exclusividade na disposição do direito; ii) Contratos de alienação de bens ou serviços, excepto quando o contrato seja celebrado entre entidades adjudicantes; iii) Atribuição de subsídios ou subvenções de qualquer tipo; iv) Contratos de Sociedade; v) Alienação de valores mobiliários e contratos de prestação de serviços com o BdP, FEEF e o MEE; vi) Empréstimos de qualquer tipo. 5 O cálculo das percentagens referidas é feito nos termos a definir em diploma próprio. 4/5
IV. Os sectores especiais O regime previsto no diploma não é aplicável aos contratos públicos relativos aos sectores da água, da energia, dos transportes, dos serviços postais e da exploração de redes públicas de comunicações ou serviços de comunicações electrónicas, seguindo o regime do CCP, salvo nas seguintes especificidades: i) Em relação ao sector da água estende-se a aplicação do regime do CCP à produção, venda por grosso e venda a retalho; ii) No que toca ao sector da energia exclui-se a aplicação da Parte II do CCP a esses contratos, excepto se não for adjudicado por entidade adjudicante regional que exerça essa actividade; No que respeita a contratos de objecto múltiplo, o diploma estabelece critérios para determinar qual dos objectos seria relevante para a escolha do procedimento de formação aplicável artigo 12º. Sem novidade, o diploma mantém a não obrigatoriedade de contratação electrónica, clarificando-se que a mesma pode ser adiada até 18 de Abril de 2016 ou eventualmente até 18 de Outubro de 2018 e a possibilidade de recorrer ao ajuste directo simplificado para contratos de empreitada de obras públicas até 25.000,00 e contratos de aquisição e locação de bens e serviços de valor não superior a 15.000,00, ainda que agora com um prazo de vigência de três anos (e já não de um ano). Esta newsletter Analysis contém informação e e opiniões de de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para mais informações, informações: por apdpa@abreuadvogados.com. favor contacte-nos através do email apdt@abreuadvogados.com ABREU ADVOGADOS JANEIRO MARÇO 2013 2016 LISBOA PORTO MADEIRA Lisboa Porto Funchal Av. das Forças Armadas, 125-12º 1600-079 Lisboa, Portugal Tel.: (+351) 21 723 1800 Fax.: (+351) 21 7231899 E-mail: lisboa@abreuadvogados.com Rua S. João de Brito, 605 E - 4º 4100-455 Porto Tel.: (+351) 22 605 64 00 Fax.: (+351) 22 600 18 16 E-mail: porto@abreuadvogados.com Rua Dr. Brito da Câmara, 20 9000-039 Funchal Tel.: (+351) 291 209 900 Fax.: (+351) 291 209 920 E-mail: madeira@abreuadvogados.com ANGOLA (EM PARCERIA) BRASIL (EM PARCERIA) (EM PARCERIA) CABO VERDE (EM PARCERIA) CHINA (EM PARCERIA) CHINA (EM PARCERIA) MOÇAMBIQUE (EM PARCERIA) TIMOR-LESTE (EM (JOINT PARCERIA) OFFICE) WWW.ABREUADVOGADOS.COM