EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO DOS IDOSOS NAS UNIVERSIDADES ABERTAS PARA A TERCEIRA IDADE A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES

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Transcrição:

EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO DOS IDOSOS NAS UNIVERSIDADES ABERTAS PARA A TERCEIRA IDADE A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES Paola Andressa Scortegagna Universidade Estadual de Ponta Grossa Rita de Cássia da Silva Oliveira Universidade Estadual de Ponta Grossa Resumo: As discussões acerca do envelhecimento estão em evidência, pois este processo é uma tendência mundial. No Brasil há 25 milhões de idosos (IBGE, 2013). Embora o contingente de idosos seja significativo ainda persistem preconceitos por meio de um estereótipo negativo da velhice, que ressalta incapacidade, improdutividade, doenças e marginalização. Houve a implantação de políticas públicas voltadas ao idoso (assistência, saúde, alimentação e processos educativos). A existência de políticas não garante sua efetividade, porém, dentre as ações prescritas no Estatuto do Idoso, destacase a importância de instituições de ensino superior oferecer projetos/cursos para este segmento. Estes projetos/cursos têm se disseminado pelo país, por um lado para responder ao princípio legal e por outro, para o processo educacional. A educação possibilita a problematização da realidade e a instrumentalização a partir do conhecimento. Destaca-se a importância da educação permanente, que acompanha o sujeito em toda a sua trajetória de vida. A pesquisa qualitativa, fundamentada a partir da dialética materialista, tem como objetivo: analisar as ações educacionais para o idoso desenvolvidas por projetos/cursos das Instituições de Ensino Superior Públicas Paranaenses a partir da percepção dos professores. Foi utilizado para coleta de dados um questionário com questões abertas e fechadas. Os professores que atuam nestes projetos/cursos apontam que estas ações extensionistas possibilitam ao idoso a atualização, elevação de autoestima, melhoria na qualidade de vida, a inserção social do idoso e contribui para o processo de emancipação política do idoso. Embora com limitações, a educação para a terceira idade contribui para a conscientização do idoso, podendo-se vislumbrar a emancipação política a partir da relação dialética entre educação, homem e sociedade. Palavras-chave: Professor. Emancipação política. Universidades Abertas para a Terceira Idade. Introdução A sociedade atual é marcada por inúmeras questões sociais, políticas e econômicas, que influenciam diretamente no cotidiano dos sujeitos. E dentre as questões sociais de grande impacto na atualidade destaca-se o processo de envelhecimento humano, que está presente em todos os países, inclusive no Brasil. De acordo com as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no Brasil há cerca de 25 milhões de idosos, o que representa 12% da população brasileira (IBGE, 2013). Todo este segmento da população já supera a quantidade de crianças de 0 a 6 anos e mantém-se em constante crescimento, o que repercute diretamente na necessidade de ações para além da constatação demográfica. Diante do envelhecimento, considerando-o na sociedade capitalista, torna-se fundamental a aplicabilidade de ações que garantam ao menos condições mínimas de sobrevivência e interação social. Embora com muitas limitações, a implementação de políticas públicas para este segmento pode ser uma alternativa para minimizar os 9530

2 preconceitos e estereótipos negativos ligados à velhice e ao envelhecimento, considerando que o idoso é um sujeito incapaz de produzir, de interagir, de aprender e inclusive de se relacionar (OLIVEIRA, 1999). Dentre as políticas públicas voltadas para o idoso, destacam-se a Constituição Federal de 1988, que traz a garantia de direitos fundamentais para todos os cidadãos, a Política Nacional do Idoso (Lei 8842/1994) e o Estatuto do Idoso (Lei 10741/2003). As duas legislações específicas para o idoso apresentam em suas prescrições a garantia de direitos como saúde, trabalho, previdência, assistência, cultura, lazer e educação. Ao se considerar as prescrições das legislações específicas e a realidade da população idosa, torna-se fundamental considerar a necessidade de um processo formativo, em que o idoso tenha condições de analisar o contexto em que está inserido e discernir sobre os processos de alienação a qual está submetido. A educação ocupa um importante papel, ao ser uma alternativa para possibilitar que o idoso entenda o envelhecimento e a velhice, discuta e perceba-se enquanto sujeito social e consiga avançar em seu processo de conscientização, levando-o a perceber-se nas diversas formas de alienação (SCORTEGAGNA, 2016). Neste sentido, a educação para o idoso ocupa um importante espaço no processo de formação deste sujeito, tendo como princípio norteador a educação permanente, que ocorre em todas as etapas de vida do sujeito (FURTER, 1976). Dentre as ações educativas para a terceira idade, podem-se destacar as Universidades Abertas para a Terceira Idade (UATI), que são atividades extensionistas desenvolvidas pelas universidades e atuam no processo formativo do idoso, tendo caráter político, social e educacional. Estas ações mais do que resposta às prescrições legais, como a do Estatuto do Idoso (Artigo 25), correspondem a atuação com fins para a emancipação do idoso. A presente pesquisa qualitativa, apresenta como problemática: As Universidades Abertas para a Terceira Idade das Instituições de Ensino Superior Públicas Paranaenses contribuem para emancipação do idoso? Como os professores das UATI percebem este processo? O objetivo da pesquisa é analisar, a partir da percepção dos professores, como as Universidades Abertas para a Terceira Idade das Instituições de Ensino Superior Públicas Paranaenses contribuem para a emancipação do idoso. Foi utilizado para coleta de dados um questionário com questões abertas e fechadas para professores de 7 UATI, totalizando um total de 25 pessoas. Metodologia A presente investigação pressupõe uma relação entre o idoso, o processo educacional e a emancipação política, considerando a inserção numa realidade política, econômica, cultural e social, bem como a historicidade que permeia tal realidade. Para a realização do processo investigativo, considera-se o movimento e a transformação da realidade, que se dá ciclicamente na oscilação entre ir e vir, os quais apontam e fortalecem-se a partir de uma análise dialética, captando as articulações entre o problema proposto, a fim de alcançar uma nova exterioridade, realizando a captação do objeto em toda sua totalidade e complexidade, considerando-o a partir do contexto histórico-social a que está inserido, bem como a que conexões estabelece com este contexto. A presente investigação encontra amparo na dialética materialista, considerando que o envelhecimento está diretamente relacionado ao movimento, que avança do real aparente para a busca do real concreto, por meio da síntese. Segundo Konder (2012, p. 36), A síntese é a visão de conjunto que permite ao homem descobrir a estrutura 9531

3 significativa da realidade com que se defronta, numa situação dada. E é essa estrutura significativa que a visão de conjunto proporciona que é chamada totalidade. A presente pesquisa ocorreu em quatro momentos: no primeiro momento foi realizada a revisão de literatura; no segundo foi efetivado o mapeamento das IES que possuíam UATI; na terceira fase foram aplicados questionários para os professores; o quarto momento destinou-se para a análise dos dados. Discussão e resultados As UATI fundamentam-se na concepção de educação permanente e auto realização do idoso. Estrutura-se numa abordagem multidisciplinar, priorizando o processo de valorização humana e social da terceira idade, analisando constantemente a problemática do idoso nos diversos aspectos (biológicos, psicológicos, filosóficos, político, espiritual, religioso, econômico e sociocultural). Preocupam-se em proporcionar ao idoso uma melhor qualidade de vida, tornando-o mais ativo, participativo e integrado à sociedade, por meio da educação enquanto processo de formação e que contribui para a conscientização e a emancipação do sujeito. Dentro da perspectiva da educação permanente e sendo a universidade um lugar por excelência para o aprimoramento, a pesquisa, a busca do conhecimento e também a democratização do saber, timidamente surge em seu âmago um espaço educacional para o idoso. As universidades ampliam sua função social, buscando integrar aqueles que se encontram à margem do processo de desenvolvimento (OLIVEIRA, 1999, p.240). Os diferentes programas oferecidos pelas Instituições de Ensino Superior são formas alternativas de atendimento ao idoso, visando além da valorização dessa faixa etária, maior conscientização do idoso da sociedade em geral a respeito do processo de envelhecimento da população do nosso país que é uma realidade. Com a inserção do idoso na comunidade universitária, a integração entre gerações ocorre necessariamente, fomentando debates sobre as questões que envolvam essa faixa etária, analisando preconceitos e discriminações ora sustentados socialmente e que se apresentam sem fundamentação científica. O próprio idoso, ao se conscientizar sobre si e sobre o seu espaço na sociedade, terá uma visão mais otimista, considerando-se produtivo, útil e sem incapacidades, tendo condições de buscar seu processo emancipação política, por meio da superação de sua condição de alienação. A emancipação política representa a luta para que o homem se torne um cidadão, considerando a relação deste com o Estado e com os demais membros da sociedade. Significa importantes avanços no que diz respeito às conquistas sociais, que vão se consolidando no decorrer dos séculos, como igualdade perante a lei, liberdade de ação e expressão, propriedade privada, seguridade, trabalho, saúde, educação, entre outros. Logo, representa a emancipação da sociedade civil em relação à política, pela concessão de direitos (embora na condição individual). Embora parcial e limitada, Marx (2009) em seu livro Questão Judaica, afirma que esta emancipação significa um avanço importante 1. Representa o que se pode atingir a partir da ordem social vigente. A emancipação política não representa um estágio inicial para a emancipação humana. É uma liberdade limitada, que separa o ser privado do ser coletivo, porém não significa apenas a superação da pobreza ou melhoria da qualidade de vida. Representa a capacidade de o indivíduo interpretar e compreender a totalidade em que vive. Volta-se 1 A emancipação política é, sem dúvida, um grande progresso; ela não é, decerto, a última forma da emancipação humana, em geral, mas é a última forma da emancipação política no interior da ordem mundial até aqui. Entende-se: nós falamos aqui de emancipação real, de [emancipação] prática (MARX, 2009, p. 52). 9532

4 para o entendimento e o processo de conscientização do sujeito referente ao trabalho, a alienação, a ideologia e ao capitalismo (SCORTEGAGNA, 2016). A partir do momento em que o sujeito adquire conhecimentos e se aproxima da participação no meio social, ele começa a adquirir representatividade e refletir sobre o que lhe é impossibilitado. A educação assume um importante papel para que a emancipação política possa ocorrer, mesmo sendo um processo contraditório e que colabora para a reprodução da sociedade vigente. Os processos educativos efetivados nas UATI contribuem não apenas para a aquisição de conhecimentos dos idoso, mas possibilita um olhar frente à totalidade, em que o sujeito passa a dimensionar quem é e quais relações estabelece, num processo emancipatório, que visa à formação do homem de modo integral, buscando a superação da fragmentação. Ao considerar a ação educativa para o idoso, cabe destacar que o professor ao realizar o processo de mediação do conhecimento, encontra-se aproximado do seu aluno e tem subsídios para avaliar não apenas o processo educativo, como também o desenvolvimento social, político e cultural. Desta maneira, foi considerado para esta pesquisa, a percepção dos professores que atuam nas UATI sobre o processo educativo e de emancipação do idoso. O questionário para os professores que atuam nas UATI das IEs públicas paranaenses apresentava questões abertas e fechadas. As primeiras voltavam-se ao perfil e as demais sobre as ações educacionais e sobre como estas contribuem para a emancipação do idoso. Dos 25 professores que responderem o questionário, há 9 com idade entre 50 e 59 anos (36%), outros 5 com idade entre 20 e 29 anos (20%), os demais estão distribuídos em outras faixas etárias. Há 13 professoras e 12 professores. No que diz respeito à formação, há 10 professores com Doutorado (40%), outros 14 com Graduação e Especialização (52%) e apenas 1 com Ensino Médio (4%). Há 10 professores que atuam nas UATI dentre 1 a 3 anos (40%) e 8 professores que atuam entre 4 a 6 anos (32%). Como a pesquisa considerou todas as UATIs das IES públicas paranaenses, a atuação também corresponde ao tempo de existência destas ações extensionistas. A mais antiga tem 25 anos, enquanto a mais nova tem 3 anos de atividade. Dos 25 professores, apenas 4 (16%) possuem formação específica para atuar com o idoso e outros 21 professores não possuem formação na área da gerontologia (84%). Sobre o processo de ensino, os professores apontam que as dificuldades estão na falta de materiais específicos (11 44%) e nas dificuldades de aprendizagem do idoso, pois o critério de ingresso nas UATI é ser alfabetizado (10 40%). Apesar das dificuldades, apontam que os idosos são participativos (22 88 %) e que se sentem realizados em atuar na UATI (19 76%). Os professores apontam que após o ingresso nas UATI, os idosos se tornam mais comunicativos (22 88%) e ampliaram o círculo social (18 72%). De acordo com os docentes, o processo educativo contribui para: inserção social, segurança, autoestima, participação, valorização e conscientização. Além disso, a UATI contribui para aquisição de novos papeis sociais (23 92%). Como também possibilita a atuação política do idoso, por meio da transformação, espaço de discussão, esclarecimento que potencializa a participação e consciência dos direitos. A partir das respostas dos professores, pode-se considerar que o ingresso nas UATI possibilita melhorias na qualidade de vida do idoso, que pode ser expressa pela 9533

5 educação que torna o idoso mais atuante; o idoso que se percebe capaz, mais útil; pela socialização; melhoria de habilidades; melhoria da autoestima. De acordo com os professores, a inserção do idoso em ações educacionais contribui para importantes avanços para o processo de conscientização, o que permite vislumbrar a emancipação política deste sujeito. Dentre os avanços, destacam-se: participação; mudanças de comportamento; idosos mais comunicativos; ampliação do círculo social; idosos mais questionadores; conquista de novos papeis sociais; espaço de discussão; esclarecimento e consciência dos direitos. Considerações finais As ações da Universidade Aberta da Terceira Idade pressupõem a integração e a participação do idoso, não apenas no contexto individual, mas também na coletividade. Embora com limitações, a educação para a terceira idade contribui para a conscientização do idoso, podendo-se vislumbrar a emancipação política a partir da relação dialética entre educação, homem e sociedade. Por meio da UATI, os idosos podem integrar-se à sociedade e percebem que há a possibilidade de novos papéis sociais, e que ao contrário dos estereótipos negativos enraizados culturalmente no contexto social, estas pessoas podem manter-se ativas e produtivas, tem capacidade de discernir o que está correto ou não, e são capazes de atuar nos espaços sociais e políticos, denunciando suas dificuldades e limitações, além de reclamar seus direitos e buscar sua emancipação. De acordo com a percepção dos professores sobre o processo educativo nas UATI, a educação sozinha não irá emancipar os idosos, mas pode promover o despertar às contradições. Embora o processo seja complexo e possibilitará pequenos avanços, a educação representa um caminho para a conquista de espaço pelo sujeito. Referências BRASIL. Lei nº 10741 de 3 de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Brasília, 2003. BRASIL. Lei º 8842 de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso. Brasília, 1994. FURTER, P. Educação e vida. Petrópolis: Vozes, 1976. IBGE. Projeção da População por Sexo e Idade para o Período 2000 2060. Revisão 2013, Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2013. KONDER, L. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 2012. MARX, K. Para a questão judaica. São Paulo: Expressão Popular, 2009. OLIVEIRA, R. C. S. Terceira Idade: do repensar dos limites aos sonhos possíveis. Campinas: Papirus, 1999. SCORTEGAGNA, P. A. Emancipação política e educação: ações educacionais para o idoso nas Instituições de Ensino Superior públicas paranaenses 2016. 275 f. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Estadual de Ponta Grossa PR. 2016. 9534