ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO



Documentos relacionados
ESTUDO RADIOLÓGICO DA PELVE

01 - BRANCA PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA DA SBOT-RJ ORTOCURSO SBOT-RJ/QUADRIL CURSO PREPARATÓRIO PARA O TEOT 24 de Outubro de 2015

Teste de Flexibilidade

Banco de imagens Aparelho locomotor Semiologia Médica II. Espondilite Anquilosante

Avaliação radiológica do espaço articular na artrose do quadril: estudo comparativo em decúbito e ortostatismo *

PROVA ESPECÍFICA Cargo 18

TÉCNICAS RADIOLÓGICAS APLICADAS NOS ESTUDOS DAS INSTABILIDADES FEMOROPATELAR Abelardo Raimundo de Souza

Métodos por Imagem no Diagnóstico da Displasia Coxofemoral Canina

ESTUDO RADIOLÓGICO DA COLUNA LOMBAR

EXAME DO QUADRIL E DA PELVE

ANATOMIA HUMANA I. Educação Física. Prof. Me. Fabio Milioni. Introdução à anatomia Principais formas de estudar a anatomia

[251] 114. AVALIAÇÃO SISTEMÁTICA DE RADIOGRAFIAS DO TÓRAX

REAVALIAÇÃO DE POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS PARA A ARTICULAÇÃO DO QUADRIL EM SERES HUMANOS COM OSTEOARTROSE

Análise comparativa da mensuração do eixo anatómico do joelho

Princípios Gerais de Anatomia Veterinária

Fratura do Sacro no Adulto Jovem

INCIDÊNCIAS COMPLEMENTARES EM MAMOGRAGIA PROFESSORA KAROLINE RIZZON

Padronização do estudo radiográfico da cintura escapular *

Aula 12: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS LESÕES PERIODONTAIS

O que é Impacto Fêmoro-acetabular. Autores: O que é o quadril? Dr. Henrique Berwanger Cabrita

Cinesioterapia\UNIME Docente:Kalline Camboim

ANATOMIA RADIOLÓGICA DA REGIÃO CERVICAL

POSICIONAMENTOS DOS MEMBROS INFERIORES. Prof.ª Célia santos

SIMPÓSIO DE CIRURGIA GERAL

Exames Radiográficos de Membros Superiores e Cintura Escapular: Abordagem, Incidências e Posicionamentos do Usuário

Fraturas C1 / C2 Lucienne Dobgenski 2004

ESCOLIOSE. Prof. Ms. Marcelo Lima

DIAGNÓSTICO COLETA DE DADOS RACIOCÍNIO E DEDICAÇÃO

Dr. Adriano Czapkowski. Ano 2 - Edição 13 - Setembro/2010

Avaliação Goniométrica no contexto do Exame Fisioterapêutico

ANATOMIA. SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO Aula 3. Profª. Tatianeda Silva Campos

Displasia coxofemoral (DCF): o que é, quais os sinais clínicos e como tratar

Centro de Educação Integrado Curso Técnico em Radiologia CRN-90 Cleide Labor. 5º Módulo Noturno

POSICIONAMENTOS RADIOLÓGICOS DOS MEMBROS INFERIORES

DIÂMETRO ÓSSEO. Prof.Moisés Mendes

LESÕES TRAUMÁTICAS DA COLUNA VERTEBRAL LESÃO MEDULAR (CHOQUE MEDULAR)

Exames Radiográficos de Coluna: Abordagem, Incidências e Posicionamentos do Usuário

Aula 4: TÉCNICA RADIOGRÁFICA INTRA-ORAL

s.com.br Prof. Ms. José Góes Página 1

Jorge Storniolo. Henrique Bianchi. Reunião Locomotion 18/03/2013

Fraturas Proximal do Fêmur: Fraturas do Colo do Fêmur Fraturas Transtrocanterianas do Fêmur

Impacto Fêmoro Acetabular e Lesões do Labrum

ANÁLISE CINESIOLÓGICA DA PLANTA DO PÉ PELO TESTE DE PLANTIGRAMA EM UMA ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE VÁRZEA GRANDE - MT

Fraturas do Anel Pélvico: Bacia Generalidades: Representam 3% das fraturas nas emergências Mais freqüentes nos jovens Politraumatizado: Traumas de

CURSO DE MUSCULAÇÃO E CARDIOFITNESS. Lucimére Bohn lucimerebohn@gmail.com

INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA MUSCULO-ESQUELÉTICA

Imagem da Semana: Radiografia e Ressonância Magnética (RM)

Osteoporose transitória da gravidez

Disciplina: Aerofotogrametria e Tratamento de imagem

COLUNA CERVICAL - POCISIONAMENTO RADIOLÓGICO. Coluna Cervical (AP)

Técnicas radiográficas. Técnicas Radiográficas Intraorais em Odontologia. Técnicas Radiográficas Intraorais. Técnicas Radiográficas

Semiologia Ortopédica Pericial

Diretrizes Assistenciais TRAUMA RAQUIMEDULAR

Acta Ortopédica Brasileira ISSN versão impressa

Entorse do. 4 AtualizaDOR

( ) CONSULTA EM CIRURGIA ORTOPEDICA

Propedêutica ARTIGO radiológica DE REVISÃO do impacto REVIEW femoroacetabular

Instabilidade Femoropatelar INTRODUÇÃO

Manuseio do Nódulo Pulmonar Solitário

Lesões Traumáticas dos Membros Inferiores

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA CARTILAGEM

Protocolos coluna. Profº. Claudio Souza

Escoliose Idiopática no Adolescente: Instrumentação Posterior

Lesoes Osteoarticulares e de Esforco

Médico Neurocirurgia da Coluna

PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO HOSPITAL REGIONAL DO LITORAL DE PARANAGUA PROVA PARA TECNOLOGO EM RADIOLOGIA

DOENÇA DE LEGG-CALVÉ- PERTHES EM HAMSTER SÍRIO (MESOCRICETUS AURATUS) - RELATO DE CASO

ESTUDO DA REPRODUTIBILIDADE E COMPREENSÃO DA CLASSIFICAÇÃO DE JUDET E LETOURNEL

Ergonomia Corpo com Saúde e Harmonia

Tomografia Computorizada Dental

Luxação da prótese total do quadril em pacientes com fratura do colo do fêmur *

Programa de Especialização Cirurgia do Quadril (R4) Treinamento Avançado em Cirurgia do Quadril. Goiânia GO / Maio de 2015.

Síndrome do Conflito Femoroacetabular

Fratura do acetábulo que acomete a coluna anterior: alternativa na osteossíntese *

ÓRTESES PARA ESCOLIOSE E CIFOSE PROF : ALAN DE SOUZA ARAUJO

Pelve: Ossos, Articulações e Ligamentos. Dante Pascali

HUC Clínica Universitária de Imagiologia. Protocolos de Exames de Radiologia Geral. Orientação do Feixe. Região Anatómica. Critério de Qualidade Kv

Exames Radiográficos de Crânio e Face: Abordagem, Incidências e Posicionamentos do Usuário

Alternativas da prótese total do quadril na artrose Dr. Ademir Schuroff Dr. Marco Pedroni Dr. Mark Deeke Dr. Josiano Valério

Clínica de Lesões nos Esportes e Atividade Física Prevenção e Reabilitação. Alexandre Carlos Rosa alexandre@portalnef.com.br 2015

Artroscopia. José Mário Beça

AVALIAÇÃO POSTURAL. Figura 1 - Alterações Posturais com a idade. 1. Desenvolvimento Postural

1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCHA EM CASOS DE FRATURAS DO MEMBRO INFERIOR.

PLANOS E EIXOS E NOMECLATURA DOS MOVIMENTOS HUMANOS. RESUMO: o objetivo deste artigo é revisar a descrição dos planos de movimento e sua

Dr. Josemir Dutra Junior Fisioterapeuta Acupunturista Acupunturista Osteopata Especialista em Anatomia e Morfologia. Joelho

ESTUDO RETROSPECTIVO DE CIRURGIAS DESCOMPRESSIVAS DA COLUNA TORACOLOMBAR REALIZADAS APÓS RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

Cinesiologia Aplicada. Quadril, Joelho e tornozelo

/estudo preliminar análise da norma de acessibilidade ABNT NBR Gustavo Alves Rocha Zago Izabela Dalla Libera

Adutores da Coxa. Provas de função muscular MMII. Adutor Longo. Adutor Curto. Graduação de força muscular

CAMPANHA DE PREVENÇÃO DE FRATURAS NA OSTEOPOROSE FRATURAS NÃO PREVENÇÃO SIM

Alterações ósseas e articulares

MAT PILATES 1 ÍNDICE: PRE MAT- MAT PILATES 2 MAT PILATES 2

3B SCIENTIFIC PHYSICS

EXAME PRIVADO Encargo benef. ADSE

Sessão Cardiovascular

REFLEXÃO DA LUZ: ESPELHOS 412EE TEORIA

Imagem da Semana: Tomografia Computadorizada

ANÁLISE FUNCIONAL DA MUSCULATURA HUMANA (Tronco) Aula 9 CINESIOLOGIA. Raul Oliveira 2º ano músculos monoarticulares

POSICIONAMENTO DO PACIENTE PARA CIRURGIA: ENFERMAGEM CIRÚRGICA

Transcrição:

ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DO ESTUDO RADIOGRÁFICO DO QUADRIL E DA PELVE PROPOSAL FOR STANDARDIZATION OF RADIOGRAPHIC STUDIES ON THE HIP AND PELVIS Giancarlo Cavalli Polesello 1, Tarsila Sato Nakao 2, Marcelo Cavalheiro de Queiroz 3, Daniel Daniachi 3, Walter Ricioli Junior 3, Rodrigo Pereira Guimarães 4, Emerson Kiyoshi Honda 5, Nelson keiske Ono 6 Resumo O diagnóstico das afecções do quadril e da pelve é baseado em história clínica detalhada, exame físico e exames complementares adequados para cada afecção. A radiografia simples ainda constitui o exame inicial de escolha e, diante da sua importância, existe a necessidade da realização de estudos radiográficos padronizados, tanto na sua execução quanto nas séries radiográficas, de acordo com as diferentes afecções. O objetivo deste artigo é propor a padronização das principais incidências radiográficas do quadril e da pelve, realização de séries específicas para diferentes afecções e orientação técnica quanto à realização das mesmas. Descritores - Quadril/patologia; Quadril/radiografia; Pelve/patologia; Pelve/radiografia Abstract Diagnoses of hip and pelvis disorders are based on the detailed medical history, physical examination and laboratory tests, as appropriate for each condition. Plain radiography is still the initial examination of choice and, because of its importance, there is a need to standardize radiographic studies, both in relation to execution and in radiographic series, according to the different pathological conditions. The aim of this paper was to propose standardization for the main radiographic views of the hip and pelvis, and with regard to performing specific series for different pathological conditions, and to provide technical guidance for achieving these aims. Keywords - Hip/pathogy; Hip/radiography; Pelvis/pathogy; Pelvis/radiography INTRODUÇÃO O diagnóstico das afecções do quadril e da pelve é baseado em história clínica detalhada, exame físico e exames complementares adequados para cada afecção. A radiografia simples ainda constitui o exame inicial de escolha, apesar da tomografia computadorizada e da ressonância nuclear magnética serem úteis para confirmação diagnóstica (1,2). Diante da importância da radiografia, existe a necessidade da realização de estudos radiográficos pa- dronizados, tanto na sua execução quanto nas séries radiográficas, de acordo com as diferentes afecções. O objetivo deste artigo é propor a padronização das principais incidências radiográficas do quadril e da pelve, realização de séries específicas para diferentes afecções e orientação técnica quanto à realização das mesmas. INCIDÊNCIAS RADIOGRÁFICAS A) Série não traumática 1) Radiografia da bacia incidência anteroposterior (AP): 1 - Professor Assistente Doutor; Assistente do Grupo de Quadril da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo São Paulo, SP, Brasil. 2 - Médica Ortopedista; Ex-Estagiária do Grupo de Quadril da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo São Paulo, SP, Brasil. 3 - Médico Ortopedista; Assistente do Grupo de Quadril da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo São Paulo, SP, Brasil. 4 - Instrutor de Ensino Mestre; Assistente do Grupo de Quadril da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo São Paulo, SP, Brasil. 5 - Instrutor de Ensino Doutor; Membro Sênior do Grupo de Quadril da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo São Paulo, SP, Brasil. 6 - Professor Assistente Doutor; Chefe do Grupo de Quadril da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo São Paulo, SP, Brasil. Trabalho realizado no Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Diretor: Prof. Dr. Osmar Avanzi. Correspondência: Rua Dr. Cesário Motta Júnior, 112, Prédio Ortopedia, 2º andar, Sala Quadril 01221-020 São Paulo, SP, Brasil. E-mail: dot.quadril@hotmail.com Trabalho recebido para publicação: 11/01/2011, aceito para publicação: 25/03/2011. Os autores declaram inexistência de conflito de interesses na realização deste trabalho / The authors declare that there was no conflict of interest in conducting this work Este artigo está disponível online nas versões Português e Inglês nos sites: www.rbo.org.br e www.scielo.br/rbort This article is available online in Portuguese and English at the websites: www.rbo.org.br and www.scielo.br/rbort

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DO ESTUDO RADIOGRÁFICO DO QUADRIL E DA PELVE 635 - Paciente em decúbito dorsal ou posição ortostática; - Raio incidente na linha mediana logo acima da sínfise púbica, pés rodados internamente de 15 a 20 (para correção do ângulo de anteversão do colo), de maneira que o trocanter maior não se sobreponha ao colo femoral (Figura 1); - Deve ser visibilizado o cóccix alinhado com a sínfise púbica, distando 2,5cm cranial no sexo feminino e 1,5cm no masculino. Os forames obturados devem estar simétricos (3) (Figura 2); - Pode-se observar a linha iliopectínea, linha ilioisquiática ou de Köehler (4), gota de lágrima (limite inferior do acetábulo), teto acetabular e bordas das paredes anterior e posterior (Figura 3); e - A radiografia da bacia em AP é a principal incidência na série radiográfica do quadril e da bacia; no entanto, sua realização com carga é controversa na literatura. Conrozier et al (5) e Vanni et al (6) demonstraram que somente nos pacientes com coxartrose há diminuição do espaço articular comparando-se com a radiografia sem carga. No entanto, em pacientes com quadril normal ou em casos de artrose inicial, o uso da radiografia com carga não é necessário (6-8). Figura 2 Radiografia de bacia em incidência anteroposterior executada com técnica correta. Observar o alinhamento do cóccix com a sínfise púbica. O cóccix deve estar localizado cranialmente, não distando mais de 2,5cm da sínfise púbica. Figura 3 Radiografia de bacia em incidência anteroposterior e as principais estruturas identificadas. Figura 1 Radiografia de bacia em incidência anteroposterior: posicionamento do paciente em decúbito dorsal com os membros inferiores rodados internamente de 15 a 20 graus; raio incidente na linha mediana, logo acima da sínfise púbica. 2) Falso perfil de Lequesne (9) : - É um falso perfil, pois corresponde ao perfil da cabeça e do fêmur proximal e não do acetábulo (Figura 4); - Paciente em posição ortostática, com o dorso inclinado 65 anteriormente em relação ao chassi do filme, ambos membros inferiores em rotação externa, sendo o acometido (membro mais distante do chassi) perpendicular em relação ao chassi e o contralateral paralelo ao chassi (Figura 5); - Quando bem executada, observar entre as cabeças femorais a distância correspondente ao diâmetro de uma cabeça femoral (Figura 6); e - É uma incidência útil para a visibilização do pinçamento medial e anterossuperior da articulação coxofemoral. Portanto, é importante para a avaliação da coxartrose e displasia acetabular (2,10,11).

636 Figura 4 Radiografia falso perfil de Lequesne, denominado falso perfil pois corresponde ao perfil da cabeça e do fêmur proximal, e não do acetábulo. Figura 6 Radiografia falso perfil de Lequesne executada com técnica correta. Observar a distância entre as duas cabeças correspondente a um diâmetro das mesmas. 3) Perfil de Ducroquet: - Paciente posicionado em decúbito dorsal, quadril acometido com flexão de 90 e abdução de 45 (portanto, precisa de boa mobilidade do quadril para a realização) (Figura 7); - Raio centrado verticalmente na articulação coxofemoral; - Observa-se o perfil do colo femoral, com boa visibilização da região anterossuperior da transição cabeça- colo femoral, local mais frequente do impacto femoroacetabular tipo CAME. Além do colo, visibiliza-se o teto acetabular e pode-se identificar a presença de corpo estranho intra-articular (Figura 8); - A incidência de Dunn é um perfil semelhante, realizada com flexão do quadril de 45 e abdução de 20. Nessa incidência também observa-se bem o segmento anterossuperior da transição cabeça-colo femoral; e - Pode-se realizar a mensuração do ângulo alfa em ambas as incidências (ângulo formado entre o eixo longitudinal do colo femoral e uma linha passando pelo centro de rotação da cabeça femoral e pelo ponto da junção cabeça-colo a partir da qual a distância ao centro da cabeça excede o raio, ou seja, perde a esfericidade. Seu valor normal não deve exceder 55 ) (3,12,13) (Figura 9). Figura 5 Radiografia falso perfil de Lequesne. Observar posicionamento do paciente com o membro inferior esquerdo acometido mais distante do chassi. Paciente em posição ortostática, com o dorso inclinado 65 anteriormente em relação ao chassi do filme, ambos membros inferiores em rotação externa, sendo o acometido perpendicular em relação ao chassi e o contralateral paralelo ao chassi. 4) Perfil cirúrgico de Arcelin ou cross table: - Paciente em decúbito dorsal com flexão de 90 graus do quadril contralateral; - A ampola de raios-x deve ser angulada 45 cranialmente no plano horizontal, em direção à raiz da coxa (não necessita mobilização do quadril acometido, sendo ideal para pacientes traumatizados) (Figura 10); e - Observa-se o colo femoral em perfil e a transição cabeça-colo.

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DO ESTUDO RADIOGRÁFICO DO QUADRIL E DA PELVE 637 Figura 9 Mensuração do ângulo alfa (na incidência de perfil de Ducroquet: ângulo formado pelo eixo longitudinal do colo femoral e a linha AC (A ponto da perda de esfericidade da junção cabeça-colo, C centro da cabeça, r raio da cabeça femoral). Figura 7 Incidência perfil de Ducroquet. Paciente posicionado em decúbito dorsal, quadril acometido com flexão de 90 e abdução de 45. Raio centrado verticalmente na articulação coxofemoral. 5) Radiografia de bacia Lauenstein (posição de rã): - Paciente em posição supina com dupla abdução dos membros inferiores; raio incidente na linha mediana, logo acima da sínfise púbica, orientado verticalmente (Figura 11). Dada a superposição de imagens no lado femoral e no acetabular, trata-se de uma radiografia igual de bacia frente, sendo questionada sua utilidade no adulto. B) Série traumática Figura 8 Radiografia na incidência de perfil de Ducroquet. 1) Alar (14) : - Paciente em posição supina com rotação de 45 sobre o lado acometido; raio centrado verticalmente na raiz da coxa (Figura 12); - Evidencia a asa do ilíaco, articulação sacro-ilíaca, coluna posterior e parede anterior do acetábulo (Figura 13); - Indicado principalmente para traumatismos, em especial fraturas do acetábulo (15,16).

638 A B Figura 10 A) Incidência de perfil cirúrgico. Paciente em decúbito dorsal, a ampola de raios-x deve ser angulada 45 cranialmente no plano horizontal, em direção à raiz da coxa. B) Radiografia em incidência de perfil cirúrgico. A B Figura 11 A) Radiografia de bacia Lauenstein. Paciente em posição supina com dupla abdução dos membros inferiores; raio incidente na linha mediana, logo acima da sínfise púbica, orientado verticalmente. B) Radiografia de bacia Lauenstein. Figura 12 Incidência oblíqua alar da bacia. Paciente em posição supina com rotação de 45 sobre o lado acometido; raio centrado verticalmente na raiz da coxa.

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DO ESTUDO RADIOGRÁFICO DO QUADRIL E DA PELVE 639 Figura 13 Radiografia de bacia em incidência alar do quadril esquerdo. 2) Obturatriz ou foraminal (14) : - Paciente em posição supina rodado 45 sobre o lado não acometido; raio centrado verticalmente na raiz da coxa (Figura 14); - Evidencia coluna anterior e parede posterior do acetábulo (Figura 15); e - Indicado principalmente para traumatismos, em especial fraturas do acetábulo (15,16). 3) Inlet ou de entrada da pelve (17) ; - Paciente em decúbito dorsal horizontal, com raio incidente no sentido crânio-caudal com angulação de 60 (Figura 16); - Quando bem realizado, observar a sobreposição do promontório à cortical anterior do corpo vertebral de S1 (17) ; - Indicado principalmente para traumatismos (fratura da pelve); e - Permite avaliar a integridade do anel pélvico, assim como desvios anteroposteriores e rotacionais. 4) Outlet ou de saída da pelve (17) : - Paciente em decúbito dorsal horizontal, com raio incidente no sentido caudo-cranial com angulação de 45 (Figura 17); - Técnica bem realizada quando a parte superior da sínfise púbica está no mesmo nível do segundo corpo sacral; - Indicado principalmente para traumatismos (fratura da pelve); - Permite avaliar fraturas do sacro (observar o formato de cunha quando íntegro e avaliar o contorno dos forames), assim como fraturas da porção posterior da asa do ilíaco e do ramo púbico, disjunção sacroilíaca e desvios verticais (17). Figura 14 Incidência oblíqua foraminal da bacia. Paciente em posição supina com rotação de 45 sobre o lado não acometido; raio centrado verticalmente na raiz da coxa. Figura 15 Radiografia de bacia em incidência foraminal do quadril esquerdo.

640 A A B Figura 16 Incidência inlet da bacia. A) Paciente em decúbito dorsal horizontal, com raio incidente no sentido crânio-caudal com angulação de 60. B) Radiografia incidência inlet da bacia executada com técnica correta. Observar a sobreposição do promontório à cortical anterior do corpo vertebral de S1. C) Sugestões de incidências por afecção 1) Coxartrose: A radiografia de bacia em AP continua sendo o principal exame, sendo possível classificar o grau de artrose. Outra incidência muito útil, principalmente para casos iniciais de artrose, é o falso perfil de Lequesne, pois evidência pinçamento anterossuperior e medial, muitas vezes não observados claramente na incidência em AP (Figura 18), o que pode levar a indicações e cirurgias inadequadas. 2) Alterações na morfologia e profundidade acetabular: A radiografia de bacia em AP permite visibilizar alterações na versão do acetábulo, displasia, protrusão acetabular e coxa profunda. Alterações na profundidade acetabular devem ser baseadas na linha ilioisquiática, sendo denominada coxa profunda quando o fundo do acetábulo toca a linha e B Figura 17 Incidência outlet da bacia. A) Paciente em decúbito dorsal horizontal, com raio incidente no sentido caudo-cranial com angulação de 45. B) Radiografia em incidência outlet da bacia. protrusão acetabular quando a cabeça femoral ultrapassa tal linha (Figura 19). A incidência de Lequesne também é útil na avaliação da displasia acetabular, mensurando o ângulo de cobertura anterior da cabeça femoral, cujo valor normal é igual ou maior a 25 (2) (Figura 20). 3) Impacto femoroacetabular: Com a radiografia em AP podemos avaliar a presença de deformidade na porção proximal do fêmur, alterações na versão do acetábulo e displasia. As incidências de Lequesne, Ducroquet e Dunn são utilizadas para avaliação da esfericidade da junção cefalocervical, principalmente na porção anterolateral, assim como a cobertura acetabular da cabeça femoral. Pela incidência em falso perfil de Lequesne podemos visibilizar um eventual excesso de cobertura acetabular (impacto tipo Pincer) (18).

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DO ESTUDO RADIOGRÁFICO DO QUADRIL E DA PELVE 641 Figura 18 Incidência quadril esquerdo AP com discreto pinçamento anterossuperior. Incidência falso perfil de Lequesne do mesmo paciente com pinçamento anterossuperior mais evidente. Figura 19 Radiografia AP de bacia com coxa profunda do quadril direito e protrusão do quadril esquerdo. Como descrito anteriormente, a incidência de Dunn e a de Ducroquet são úteis para a mensuração do ângulo alfa, importante no estudo do impacto tipo CAME. 4) Fraturas: a) Pelve AP, inlet e outlet; b) Acetábulo AP, alar e foraminal; e c) Fraturas do terço proximal do fêmur AP, AP com tração e rotação interna (objetivo de prever o grau de instabilidade e, consequentemente, a dificuldade técnica cirúrgica), cross table (vantagem em pacientes traumatizados, uma vez que não se mobiliza o quadril afetado). Figura 20 Radiografia falso perfil de Lequesne. Visibilizado o ângulo de cobertura anterior da cabeça femoral. As linhas são traçadas passando pelo centro de rotação da cabeça femoral, sendo uma vertical e a outra passando na borda mais ossificada da porção acetabular.

642 REFERÊNCIAS 1. Clohisy JC, Carlisle JC, Trousdale R, Kim YJ, Beaule PE, Morgan P, Steger- May K, Schoenecker PL, Millis M. Radiographic evaluation of the hip has limited reliability. Clin Orthop Relat Res. 2009;467(3):666-75. 2. Godefroy D, Chevrot A, Morvan G, Rousselin B, Sarazin L. [Plain films of pelvis]. J Radiol. 2008;89(5 Pt 2):679-90. 3. Tannast M, Siebenrock KA, Anderson SE. Femoroacetabular impingement: radiographic diagnosis--what the radiologist should know. AJR Am J Roentgenol. 2007;188(6):1540-52. 4. Armbuster TG, Guerra J Jr, Resnick D, Goergen TG, Feingold ML, Niwayama G, Danzig LA. The adult hip: an anatomic study. Part I: the bony landmarks. Radiology. 1978;128(1):1-10. 5. Conrozier T, Lequesne MG, Tron AM, Mathieu P, Berdah L, Vignon E. The effects of position on the radiographic joint space in osteoarthritis of the hip. Osteoarthritis Cartilage. 1997;5(1):17-22. 6. Vanni GF, Stucky JM, Schwarstmann CR. Avaliação radiológica do espaço articular na artrose do quadril: estudo comparativo em decúbito e ortostatismo. Rev Bras Ortop. 2008;43(10):460-4. 7. Auleley GR, Duche A, Drape JL, Dougados M, Ravaud P. Measurement of joint space width in hip osteoarthritis: influence of joint positioning and radiographic procedure. Rheumatology (Oxford). 2001;40(4):414-9 8. Vignon E, Conrozier T, Piperno M, Richard S, Carrillon Y, Fantino O. Radiographic assessment of hip and knee osteoarthritis. Recommendations: recommended guidelines. Osteoarthritis Cartilage. 1999;7(4):434-6. 9. Lequesne MG, Laredo JD. The faux profil (oblique view) of the hip in the standing position. Contribution to the evaluation of osteoarthritis of the adult hip. Ann Rheum Dis. 1998;57(11):676-81 10. Lequesne M, Laredo JD. The faux profil view of the hip may detect joint space narrowing when lacking on the anteroposterior radiograph in incipient osteoarthritis. Arthritis Rheum. 1998;41(Suppl):145. 11. Conrozier T, Bochu M, Gratacos J, Piperno M, Mathieu P, Vignon E. Evaluation of the Lequesne s false profile of the hip in patients with hip osteoarthritis. Osteoarthritis Cartilage. 1999;7(3):295-300. 12. Meyer DC, Beck M, Ellis T, Ganz R, Leunig M. Comparison of six radiographic projections to assess femoral head/neck asphericity. Clin Orthop Relat Res. 2006;445:181-5. 13. Polesello GC, Queiroz MC, Ono NK, Honda EK, Guimarães RP, Ricioli W. Tratamento artroscópico do impacto femoroacetabular. Rev Bras Ortop. 2009;44(3):230-38. 14. Reilly MC. Fractures of the acetabulum. In: Bucholz RW, Heckman JD, Court- Brown CM, editors. Rockwood & Green s fractures in adults. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2006. p.1666-714. 15. Judet R, Judet J, Letournel E. Fractures of the acetabulum: classification and surgical approaches for open reduction. Preliminary report. J Bone Joint Surg Am. 1964;46:1615-46. 16. Letournel E. Acetabulum fractures: classification and management. Clin Orthop Relat Res. 1980;(151):81-106. 17. Starr AJ, Malekzadeh AS. Fractures of the pelvic ring. Bucholz RW, Heckman JD, Court-Brown CM, editors. Rockwood & Green s fractures in adults. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2006. p. 1585-664. 18. Crestani MV, Teloken MA, Gusmão PDF. Impacto femoroacetabular: uma das condições precursoras da osteoartrose do quadril. Rev Bras Ortop. 2006;41(8):285-93.